As premonições de Natália
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."
Natália Correia
Nota: Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
Biografia:
Natália de Oliveira Correia nasceu na Fajã de Baixo na ilha de São Miguel – Açores, em 13 de Setambro de 1923.
Veio ainda criança estudar para Lisboa, iniciando muito cedo a sua actividade literária.
Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou se como poetisa, ensaísta, romancista, passando pelo teatro e investigação literária, Natália foi também uma figura destacada da luta contra o fascismo. Vários livros seus foram apreendidos pela censura, tendo sido condenada a três anos de prisão com pena suspensa, por abuso de liberdade de imprensa. Foi também deputada depois do 25 de Abril e também nesse papel foi uma figura marcante e inesquecível.
Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.
Faleceu em Lisboa em 1993 no dia 16 de Março
A sua obra está traduzida em várias línguas.
Obras poéticas: "Rio de Nuvens" (1947), "Poemas" (1955), "Dimensão
Encontrada" (1957), "Passaporte" (1958), "Comunicação" (1959), "Cântico do
País Imerso" (1961), "O Vinho e a Lira" (1966), "Mátria" (1968), "As Maçãs
de Orestes" (1970), "Mosca Iluminada" (1972), "O Anjo do Ocidente à Entrada
do Ferro" (1973), "Poemas a Rebate" (1975), "Epístola aos Iamitas" (1976),
"O Dilúvio e a Pomba" (1979), "Sonetos Românticos" (1990), "O Armistício"
(1985), "O Sol das Noites e o Luar nos Dias" (1993), "Memória da Sombra"
(1994).
Ficção: "Anoiteceu no Bairro" (1946), "A Madona" (1968), "A Ilha de Circe"
(1983).
Teatro: "O Progresso de Édipo" (1957), "O Homúnculo" (1965), "O Encoberto"
(1969), "Erros meus, má fortuna, amor ardente" (1981), "A Pécora" (1983).
Ensaio: "Poesia de arte e realismo poético" (1958), "Uma estátua para
Herodes" (1974).
Obras várias: "Descobri que era Europeia" (1951 viagens), "Não Percas a
Rosa" (1978 diário), "A questão académica de 1907" (1962), "Antologia da
Poesia Erótica e Satírica" (1966), "Cantares Galego Portugueses" (1970),
"Trovas de D. Dinis" (1970), "A Mulher" (1973), "O Surrealismo na Poesia
Portuguesa" (1973), "Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco"
(1982), "A Ilha de São Nunca" (1982).
In: Truca de Luis Gaspar
Maria Ivone Silva Nunes, nasceu em 1935 em Paio Mendes, perto de Ferreira do Zêzere, faleceu em Lisboa em 1987.
Estreou-se no ABC, em 1963 na “Revista Vamos à Festa” contratado pelo empresário José Miguel, o espectáculo agradou e, em Setembro, a mesma equipa produziu a “Revista Chapéu Alto”, já então Ivone aparecia como cabeça de cartaz.
O público, com o seu julgamento implacável, elevou Ivone Silva, passou a reinar sobre o Parque Mayer, deslocando-se apenas do ABC para o Maria Vitória e do Maria Vitória para o ABC, como quem reconhece os seus domínios, sem temer confronto. A sua carreira é segura, sem solavancos, sendo rara a revista em que não consegue uma boa actuação. E nunca fez menos de duas revistas por ano.
Com o seu sorriso aberto, os olhos saltitantes, mal Ivone entra em cena o público sabe logo que vai chegar o melhor momento. E ela, ou ri alegremente ou barafusta, gesticula, atravessa o palco de uma ponta a outra, falando com incrível rapidez. Tão bem caricatura a elegância afectada da Senhora de bem-fazer em (Lábios pintados, 1964), como a burguesa dona de casa, nas suas aflições diárias, em números do fôlego de (Diário de Uma Louca), (Sete Colinas, 1967) ou (Angústia para o jantar), (O Bombo da Festa, 1976).
Os pequenos cantores de Viana do Castelo em (Mini-saias, 1966) ficou como o tipo de rábula em que Ivone Silva consegue grande brilho. Talvez por isso os autores lhe escrevem, às vezes, textos demasiado pretensiosos, como A operário da fábrica das lâmpadas em (Pronto a despir, 1972) ou A Guerra Santa em (P´ra trás mija a burra, 1975), que em nada a beneficiam. Porque o que dá mesmo gozo é vê-la imitar Amália Rodrigues, recém-chegada da Rússia e só a pensar "no dela" (Ena, já fala, 1969), ou a “fellineana" Corista de outros tempos, cole ante e com uma patética reforma em (O Zé aperta o cinto, 1971).
No pós 25 de Abril, Ivone compôs, com imensa graça, a chique Madame Salreta, socialista de recente data em (O Bomba da Festa, 1976) e a inquieta alívio-alívio, empregada-patroa, posta ante o dilema terrível de se sanear a si própria em (P´ra trás mija a burra, 1975).
In Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos
CHEGOU A HORA
Letra e música de Jorge Fernando
Chegou a hora de dizer
Chegou a hora de afirmar
Que o Fado é canto genuíno português
E não há nada que estranhar
Chegou a hora de dizer
Chegou a hora de afirmar
Que o seu encanto, é quem o canta uma só vez
Não mais o deixa de cantar
Porque é que tantos teimam em dizer
Dum modo descuidado
Que o Fado não nasceu em Portugal
Que não é nosso Fado
E buscam sua origem na distancia
Trazido pelas marés
Mas eu sei que o Fado
Só é cantado em português
Por mais que eu tente o jeito de entender
Confesso que não posso
Porque é que a gente tarda em afirmar
Que o Fado é só nosso
Talvez por isso o Fado seja triste
Fatalista talvez
Mas eu sei
Que o Fado só é cantado em português
Chegou a hora de dizer
Chegou a hora de afirmar
Que o Fado é canto genuíno português
E não há nada que estranhar
Chegou a hora de dizer
Chegou a hora de afirmar
Que o seu encanto, é quem o canta uma só vez
Não mais o deixa de cantar
Porque é que tantos teimam em dizer
Dum modo descuidado
Que o Fado não nasceu em Portugal
Que não é nosso Fado
E buscam sua origem na distancia
Trazido pelas marés
Mas eu sei que o Fado
Só é cantado em português
João José Silva Tenreiro, nasceu em Elvas a 28 de Janeiro de 1951 Desde muito miúdo que demonstrava gosto pela música e aos 12 anos começa por frequentar a escola de guitarra clássica.
Aos 15 anos pisa pela 1ª vez um palco na antiga sede do clube de futebol "Os Elvenses" (1ª filial de "Os Belenenses"), foi o inicio de uma longa carreira artística, que já dura há cerca de 45 anos.
Fez parte de vários grupos musicais de baile como vocalista, tendo integrado o conjunto "Os 5 do Alentejo", ao qual também pertencia o seu conterrâneo Paco Bandeira.
Actuou em bares, discotecas e até em circos, mas tinha o Fado no ouvido, e simultaneamente começa a cantá-lo, verifica que é esta a musica com que mais se identifica, e dedica-se só ao Fado.
Começa a frequentar e a cantar em casas que foram autenticas escolas de Fado, o "Galito, Arreda, Kopus Bar e outros sediados entre o Estoril e Cascais, onde conhece e cria amizades e canta com Carlos Zell, João Braga, Teresa Silva Carvalho, Teresa Tarouca, Vitor Marceneiro, Lúcio Bamond, Xico Madureira, Rodrigo, Carlos Guedes de Amorim, entre outros.
Nesta altura, conhece também alguns dos grandes poetas e letristas de Fados, criando grande cumplicidade com Carlos Escobar e Azinhal Abelho, que lhe escrevem vários temas que ainda interpreta.
Obviamente que passa também a frequentar a maioria das casas de Fado de Lisboa, convivendo e criando amizade com os grandes interpretes e fadistas do meio, sempre solicitado para cantar, quer por Lucília do Carmo e Carlos do Carmo no Faia, no Lisboa a Noite da Fernanda Maria, no Senhor Vinho com Maria da Fé, Argentina Santos na Parreirinha de Alfama, na Taverna D´El-Rey com a Maria Jojo, na Adega Machado onde conhece o grande monstro do fado Alfredo Marceneiro, e seu filho Alfredo Duarte Júnior, actuou também no Timpanas, no Forcado, na Cesária, no Mil e Um, no Solar da Madragoa, Forte de D. Rodrigo, Solar da Hermínia, etc.
Fez parte do elenco em espectáculos com Artur Batalha, Gil Costa, Alexandra, Cidália Moreira, Lenita Gentil, Corina, Maria Dilar, Fernanda Batista, Nuno da Câmara Pereira, José da Câmara, Vicente da Câmara, Moniz Trindade, Beatriz da Conceição, etc.
Em 1994 grava em parceria com Antonio Vieira o seu primeiro trabalho em estúdio, intitulado "Somos Elvas", com poemas de Francisco Rasquilha e Azinhal Abelho, foi acompanhado à guitarra por Paulo Jorge, à viola por Carlos Macieira e José Vilela na viola baixo.
Em 1995 grava um CD ao vivo num espectáculo em Mérida (Espanha), conjuntamente com Manuela Roque e Ana Carvalho, com o genérico " Mujeres" espectáculo para comemorar o dia internacional da mulher.
Mais recentemente gravou o CD, "ASAS NO TEMPO" com a especial participação da grande cantadeira de Fados, BEATRIZ DA CONCEICAO, com poemas da autoria de Carlos Escobar e Maria José Rijo, acompanhado pelo do guitarrista Paulo Jorge, Vital D’Assunção na viola e no baixo Rui Garrido, teve ainda arranjos no acordeão de Tiago Afonso.
João Tenreiro tem sido solicitado para levar o seu Fado ao estrangeiro, nomeadamente em Espanha, Bélgica, Luxemburgo, África e mais recentemente na Finlândia , onde fez 10 espectáculos para um público essencialmente Finlandês, onde teve enorme êxito.
A VOZ DE JOAO TENREIRO NAO SE CONFUNDE COM MAIS NENHUMA, NAO É MAIS FADISTA NEM MENOS FADISTA, MAS E FADISTA, daí que os seus amigos e admiradores o apelidem “ O FAIA DO ALENTEJO”.
Vítor Marceneiro
Nota:
Conheço o João Tenreiro há vários anos, assim como a sua simpática família, a distancia que nos separa não impede que a nossa amizade se mantenha. Foi-lhe pedido pela RTD um Video-Clip sobre um dos seus Fado, o João convidou-me a realizá-lo, o que fiz com todo o prazer.
Esta versão para colocar na internet não tem a qualidade de imagem como original já enviado em HDTV, pelas razões que todos sabem. Espero que gostem.
João Tenreiro
Canta: Recordando O Alentejo
Letra de Carlos Escobar e música de Filipe Pinto
Realização de Vítor Duarte Marceneiro
Filmado em Elvas em Setembro de 2010
Canção Dolente, um bonito poema de Maria Eugénia Tiago, cantado na música de Casimiro Ramos pelo Castiço -Fadista João Ficalho.
Tive o prazer de filmar e realizar dois video-clips para este meu amigo.
João Manuel Compoête Ficalho , nasceu no Alentejo na cidade de Borba, no dia 6 de Março de 1951.
Desde muito novo,,tomou gosto pela música de tal modo que improvisava baterias musicais no
balcão da taberna de que o pai era proprietário. O bombo eram garrafões, as panelas os tachos e as tampas dos mesmos, as baquetas eram as colheres, garfos e facas compunham, era assim a sua imaginária bateria.
O pai, Miguel Ficalho tocava guitarra, e vendo o gosto que o filho tinha pela música resolveu mandá-lo aprender a tocar guitarra, mas o jovem João, como o professor também dava aulas de viola, é por este instrumento que se sente atraído, com alguma decepção no inicio pela parte do pai, mas passados poucos meses já o João o acompanhava.
Tinha oito anos quando os elementos da conferências de S. Vicente Paulo, de Borba, organizaram um espectáculo no Cine-Teatro de Borba, e o João alcançou enorme êxito ao cantar um tema que ainda hoje é de referência quando pisa palcos, “Vila de Borba”.
A vida na terra não era fácil e os pais quando fez 13 anos mandaram-no para Lisboa-Moscavide, ficando a cargo de familiares, para começar a trabalhar.
Deixa de poder dedicar-se de alma e coração ao instrumento e à música de que tanto gostava.
Aos 17 anos, volta para Borba, e logo se integra no grupo musical 1X2, como viola
e vocalista. Quando o grupo não tem actividade, actua em simultâneo em vários tipos de festas com o teclista João Varela, com quem já mantinha uma grande amizade.
Aos 19 anos cantava e tocava a solo, animando festas, realizando alguns espectáculos e convívios amigáveis.
Ainda com 19 anos casou com a jovem Nazaré , que lhe deu três filhos
É chamado para cumprir o serviço militar e foi mobilizado para a Guiné, onde se mantém de
Janeiro de 1973 a Maio de 1974. Mas na Guiné continua a sua progressão na música, fez parte do grupo musical da Polícia Militar como viola ritmo e vocalista, foi convidado a cantar em directo à rádio de Bissau, a sua actuação não passou despercebida ao proprietário do Bar Gato Negro, que logo o contrata, passando a fazer parelha com o seu amigo João Varela.
Ferido em serviço é evacuado para o continente e internado no Hospital Militar à Estrela onde permaneceu durante 3 meses.
Passa à disponibilidade e de volta a Borba integrou o grupo musical Star Melodia de Vila Viçosa, durante 12 anos, sem nunca deixar de realizar espectáculos de fados.
Mais tarde, e após a extinção deste último grupo musical, fez parte do grupo de Borba Honda-Média, sempre com o fado a ser aquilo que mais gostava de cantar.
Em 1990 começa a compor poemas e a musicar, tornando-se sócio da Sociedade Portuguesa de Autores, onde foi registando os seus trabalhos, e passa a dedicar-se única e exclusivamente ao fado, cantando e tocando na sua viola.
Os anos passam, continua a escrever, mas guarda os seus poemas e músicas numa "caixa de papelão".
Foi convidado a participar no CD de homenagem ao João Rita com 3 poemas de sua autoria, onde também participaram o filho Joaquim Ladeiras e D. Vicente da Câmara.
Em 1996 surge um projecto para formar o Grupo Delta por iniciativa do Sr. Comendador Rui Nabeiro, que se tornou realidade no mesmo ano, estando ainda no activo sempre que é solicitado.
Entretanto, vai levando o nome de Borba por todo o Alentejo, e a outros locais, tais como Espanha, Bélgica, onde cantou ao lado de grandes nomes do fado e da música portuguesa, esteve também na Finlândia, mas a tocar viola, acompanhando João Tenreiro, lembrando sempre com saudade os nomes do Tóquim, Carlos Zel e Maria Leopoldina da Guia, entre outros.
Em Março de 2006, decide editar um CD, com os poemas e músicas que vinha arquivando na sua"caixa de papelão". Fez mais poemas, dedicados a amigos e familiares, e é neste contexto que surge o projecto, "Orgulhoso por ti, Vila de Borba”.
Em Março de 2010, celebra 40 anos a cantar os mais variados géneros de música, rodeado por todos aqueles que o acompanharam e partilharam os bons e os maus momentos ao longo da sua carreira, enquanto amador.
A 30 de Outubro de 2010, apresenta o seu segundo CD “ Fados Novos”. A modéstia, simplicidade e amizade são marcas do João Ficalho. O apoio, o carinho, as palavras de conforto foram referências que nunca lhe faltaram. Não sendo de admirar, a grande afluência de grande parte dos seus amigos, assim como, de grupos musicais, música de baile, de música de ambiente, das fadistices e das boémias.
Já conheço há uma série de anos o João Ficalho, já actuámos os dois, e agora aqui estou com muito gosto a apresentá-lo no meu blogue.
Tive o grato prazer de lhe realizar dois video-clips, que espero que apreciem este grande (compadre) fadista alentejano.
Vítor Marceneiro
Video Clipe de João Ficalho
Canta versos de sua autoria " Ser amigo é ser alguém
Música de Joaquim Campos
SER AMIGO, É SER ALGUÉM
AMIZADE P’RA SER PURA
VAI ALÉM DE SER AMIGO
É RESPEITO E TERNURA
É TER UM OMBRO DE ABRIGO
É ESTAR LONGE, SEMPRE PERTO
O CHEGAR NÃO TEM DEMORA
É CORAÇÃO SEMPRE ABERTO
QUE NOS OUVE A QUALQUER HORA
DIZER AMIGO, HÁ ESPERANÇA
EM TOM MEIGO, DOCEMENTE
AMIGO NUNCA SE CANSA
SENTIR O QUE A GENTE SENTE
O CARINHO QUE SE TEM
É PODEM CRER, AFINAL
O AMIGO, É SER ALGUÉM
É SER ALGUÉM ESPECIAL
É ALGUÉM A QUEM ABRIMOS
TOTALMENTE O CORAÇÃO
ONDE CHORAMOS OU SORRIMOS
SEJA QUAL FOR A RAZÃO
SER AMIGO É COM CERTEZA
MAIS ALENTO P’RA VIVER
SENDO A MAIS BELA RIQUEZA
QUE NA VIDA PODE HAVER
João Ficalho
Borba 2010
JOSÉ LUÍS GORDO Nasceu em Vila de Frades, Vidigueira, a 13 de Abril de 1947, embora tivesse sido registado a 26 de Julho seguinte. Nasceu na sua casa de família, tendo sido sua avó materna quem deu assistência ao parto. Aos 13 anos veio para Lisboa a fim de trabalhar na antiga Casa Quintão, entretanto desaparecida e que era famosa pelos tapetes de Arraiolos que comercializava. Estudou na Escola Veiga Beirão à noite, onde frequentou o Curso Comercial. Devido ao contraste entre o Alentejo e Lisboa, criou primeiramente um sentimento de rejeição em relação à capital. Mais tarde diria que Lisboa é o seu coração. Começou a escrever poesia muito jovem e aos 17/18 anos encarou essa tendência mais a sério. O seu primeiro poema para Fado intitula-se Há Tanta Amargura, Tanta, que foi escrito inicialmente para Beatriz Ferreira, mas o destino trocou-lhe as voltas e seria Maria da Fé, na altura Maria da Conceição, a cantá-lo quando actuava na Taverna do Embuçado. Mais tarde casaria com ela. Os primeiros contactos de José Luís com o Fado sucederam na Viela, que já não existe. Durante alguns anos usou o pseudónimo de Luís Alçaria, em virtude de junto da sua aldeia natal existir a Serra de Alçaria. Como bom alentejano que se preza, mais tarde desistiu daquele nome e assumiu Refachinho e Gordo. Ao longo da sua vida de poeta do Fado escreveu cerca de trezentos poemas, sendo uma grande parte cantados e gravados em discos, sobretudo por Maria da Fé. António Mello Corrêa e Ada de Castro. Profundo admirador e amigo dejosé Carlos Ary dos Santos, dele sofreu grande influência literária, tal como de Gabriel de Oliveira, João Linhares Barbosa, Carlos Conde, Vasco de Lima Couto ou Joaquim Frederico de Brito Britinho ou Poeta Chofer. É um admirador de Mário Raínho. Sempre preferiu escrever primeiro os poemas e depois serem musicados, a fim de não se cair na facilidade de se adaptarem constantemente os fados tradicionais. Muitos têm sido os fadistas que têm cantado poemas seus, entre os quais destaca Maria Armanda, Fernando Maurício, Carlos Zel, Camané, Filipe Duarte, Carlos Macedo, Ada de Castro, Maria da Nazaré, Argentina Santos, Lina Maria Alves, Mariajôjô, Celeste Rodrigues, José Manuel Osório, Marina Mota, Nuno de Aguiar, Vasco Rafael, Lenita Gentil, Alexandra, Jorge Fernando, Machado Soares, Paulo Saraiva, Maria Dilar, Manuel Azevedo Coutinho, Odete Santos, Tina Santos, João Chora, António Mello Corrêa, Marisa, Cristina Branco, TóZé Zambujo e sobretudo Maria da Fé. Em 1975 inaugurou o primeiro Sr. Vinho, na Rua das Trinas. Porque o espaço era exíguo, em 1981 a casa passou para a Rua do Meio à Lapa, igualmente no Bairro da Madragoa, sendo considerada uma das três melhores Casas de Fado de Lisboa. Em 1980 adquiriu o Solar da Hermínia, casa de grande tradição e que pertenceu a Hermínia Silva. Na década de 90 tornou-se sócio do Restaurante Típico O Faia que deixaria alguns anos depois. Da sua imensa produção poética destaca-se o fado Até Que A Voz Me Doa, que imortalizou Maria da Fé. José Luís Gordo escreveu um dia uma quadra que dedicou a sua mãe, onde revela sem dúvida grande sensibilidade poética nas metáforas utilizadas. É autor do livro de poemas Recados ao Fado, editado pela Miosótis em Novembro de 2004, com prefácio de José Manuel Osório. Em 2005 a Fundação Amália Rodrigues atribuiu-lhe o prémio Poeta do Fado.
Em 2008 é o vencedor no concurso para a melhor letra para a Grande Marcha de Lisboa de 2008, que poderá ouvir num Video-Clip de Lisbao no Guiness em
http://www.youtube.com/watch?v=lwm5sU9Vo8w |
José Luis Gordo
Delama o inicio do poema
Maria da Fé canta
O Teu Nome Meu Amor
ERMELINDA VITÓRIA, nasceu em Lisboa no bairro da Mouraria, em 1892.
Viveu durante algum tempo em Setúbal. Aos nove anos já cantava ao lado do velho fadista Calafate.
Em dada fase da sua vida andou a cantar pelas ruas com cegos, mas veio a tornar-se depois uma das primeiras cantadeiras do seu tempo sendo muito apreciada pelos assíduos do fado nos anos 20 e 30 do século passado.
Tomou parte em descantes com cantadores afamados, como Jorge Cadeireiro, Júlio Janota, Carlos Harrington, Ginguinha, António Rosa, Armando Barata, António Lado, Fortunato Coimbra e outros. Cantou na maior parte dos retiros de Fado da época, Bacalhau, Ferro de Engomar, José dos Pacatos, Perna de Pau, da Fonte do Louro e Quinta da Montanha.
Nunca faltava nas esperas de toiros em Vila Franca de Xira e na Azambuja.
Foi uma das primeiras fadistas a profissionalizar-se. Em 1928, actuou no Salão Jansen, no Solar da Alegria, nos teatros Ginásio, S. Luís, Maria Vitória, Apolo, Trindade e Capitólio, e ainda nos teatros de província.
Foi companheira do violista Georgino de Sousa. Teve a sua festa de homenagem em 1930 no Salão Jansen.
Gravou discos, cantou em directo na Rádio Luso, na Rádio Peninsular.
Depois decaiu, ficando numa situação difícil de sobrevivência, mas passou a ser solidáriamente protegida, pela sua colega e amiga Maria Emma Ferreira, tendo vivido até cerca dos 90 anos de idade.
Um dos fados da sua criação que obteve maior sucesso foi "Meu Portugal" de autores desconhecidos, e “O Fado Altaneiro” com letra de Carlos Conde na música do Fado Mouraria:
© Vítor Duarte Marceneiro
O FADO ALTANEIRO
Cantar o Fado altaneiro,
Erguê-lo como um padrão,
É ter Portugal inteiro
Metido no coração.
Há quem me ponha em baixeza
E me tenha censurado
Por eu ter cantado o Fado
Sendo mulher portuguesa;
Porém, a nobre defesa
Para o dito traiçoeiro,
É ter por forte guerreiro
O som do Fado imortal,
E por todo o Portugal
Cantar o Fado altaneiro.
Uma guitarra a gemer
Por alguém ao Fado atreito,
Geme a aquecer-nos o peito
Para também se aquecer.
Quero cantar e viver
Nesta sonhada ilusão,
Porque o Fado é a canção
Calmante de quem padece,
Rezá-lo como uma prece,
Erguê-lo como um padrão.
Assim, nas notas bem-vindas,
Onde vibram mocidades,
Quero cantar as saudades
Doutras saudades infindas;
Desprezar as mal-avindas
Línguas do povo embusteiro,
Porque ter o lisonjeiro Fado
profundo e dolente,
Não é ter alma somente,
É ter Portugal inteiro.
Cantar o Fado que encanta
Desde o mais sábio ao mais rude,
É ter a santa virtude
Sobre a virtude mais santa.
Toda a mulher que não canta
Por devaneio ou paixão,
Perde toda a sedução,
Toda a ternura e valor
Por não ter um puro amor
Metido no coração.