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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Segunda-feira, 30 de Junho de 2014

Fernanda Batista - Actriz e Fadista

Fernanda Baptista nasceu em 1920. Já com dez anos o seu amor pelo teatro era bem visível: a jovem Fernanda adorava mascarar-se e entrara já em peças infantis.

Foi como fadista que se revelou publicamente, no Café Luso, pela mão de Filipe Pinto, no início dos anos quarenta, abandonando a sua carreira de modista.
A sua estreia profissional ocorreu em 1945, na sequência de um convite do maestro João Nobre para participar na revista Banhos de Sol, substituindo Leónia Mendes. Foi apenas a primeira de mais de trinta revistas em que participou.

Um dos seus maiores sucessos foi em 1969 na revista “Ena Pá Já Fala” com o fado Saudades da Júlia Mandes, entre outros êxitos contam-se o "O fado está-lhe nas veias", "Ai, ai, Lisboa", "Fado para esta noite", "Trapeiras de Lisboa", "Fui ao baile", "Fado das sombras", "Um fado para Stuart" e "Fado da carta", etc.

A sua gravação mais recente é de 1981, "Meus amigos, isto é fado", um êxito seu na revista "Dentadinhas na maçã" no Teatro Laura Alves, em Lisboa, em 1974.

Actuou também no Brasil, em Angola e na Argentina e, em 1968, viajou até aos Estados Unidos.

Ao longo de 56 anos de palcos, Fernanda Baptista participou em mais de 45 espectáculos de revista e opereta.

Fernanda Baptista integrou recentemente o elenco do musical de Filipe la Feria "A Canção de Lisboa".

"Fernanda Baptista é um exemplo de longevidade do êxito.

Em 2003 o Presidente da República condecorou-a com a Ordem de Mérito.

Fernanda Batista faleceu em Lisboa no dia 25 de Julho de 2008

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa: Grande Mulher
publicado por Vítor Marceneiro às 13:17
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Sexta-feira, 27 de Junho de 2014

Francisco Faria Pais - Médico & Artista Plástico

 

 

Francisco Faria Pais ,nasceu em Portalegre.

Veio para a capital e licenciou-se em medicina e cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi assistente da cadeira de Química Fisiológica da mesma Faculdade.

Dedicou-se  e fez vida profissional na especialidade de Estomatologia ,  tendo sido um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Ortopedia Dento-Facial ,  onde desempenhou os lugares de Secretário Geral , Vice-Presidente  da Direcção e Presidente da Assembleia Geral.

É membro da  Academia Portuguesa da Medicina Dentária.
Há cerca de  quarenta anos que tem como "hobby" a pintura em tela a escultura em cerâmica, tendo já participado em mais de 26 exposições do Norte ao Sul do país.
Executou uma serie de Imagens Marianas em terracota policromada, que apresentou em duas  exposições, fazendo algumas delas parte actualmente do património de algumas Igrejas.
Admirador incondicional da Obra de Rafael Bordalo Pinheiro , dedicou-se a partir duma certa altura , à caricatura em cerâmica , realçando sobre tudo o aspecto gestual e postural das personagens que lhe servem de modelo, pelo que muitas dessas figuras representadas , comportam apenas aspectos  parciais do seu todo.
Adepto fervoroso do Fado, foi casado com  Rosebele Faria Pais, que embora amadora, cantava  muito bem o Fado, que infelizmente já não está entre nós. (http://lisboanoguiness.com/299560.html)

É  com base no Fado, que dedicado grande parte da sua criatividade  de caricaturista , modelando um conjunto de gestos e posturas de figuras de relevo do actual e remoto Fado.

É desde a primeira hora, sócio fundador da Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado", tendo já e feito e oferecido á associação, duas estatuetas em cerâmica de Alfredo Marceneiro e agora o seu busto em tamanho real.

 

Depoimento sobre a sua obra

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Viva Lisboa: Muito Honrado com este amigo
publicado por Vítor Marceneiro às 08:00
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Sexta-feira, 20 de Junho de 2014

ALICE AMARO

 

 

 

Nasceu em Lisboa no bairro de Alfama em 1936.

Desde muito jovem que gostava de cantar.

Nunca se intitulou a si própria fadista, pois foi  sobretudo conhecida pelas suas interpretações de marchas populares.

Com uma inconfundível cabeleira loura, tinha uma voz muito bonita e era uma pessoa de fácil trato,  cantora muito comunicativa, Alice Amaro veio a conquistar um público fiel ao longo dos anos sessenta, cativado pelo modo alegre e desinibido como actuava.

Foi no Centro de Preparação de Artistas de Rádio, dirigido por Motta Pereira, que desenvolveu os seus dotes de artista.
Gravou vários discos, em que para além das marchas populares, se destacam os temas
Triste Sino, Bom Dia Lisboa, Simpatia, Vaidosa, Alfacinha de Gema, Lisboa dos Milagres, Tic Tac do Amor, A Rua do Zé Ninguém
.

 

 Alice Amaro canta:

QUANDO O ALTO PINA PASSA

 Letra de: Silva Nunes

Música: Jorge Ávila

 

 

 

  

Lisboa vem à janela

 

 

Olha a marcha, vem com ela

Lisboa vem ver num trono

Um Santinho que é o meu patrono

 

O bairro aonde eu moro

Tem lá tudo que eu adoro

Lisboa cantando de novo

Traz o Alto Pina na boca do povo

 

Refrão

 

O Alto Pina faz um vistão

De cravo ao peito e arraiais no coração

O Alto Pina por brincadeira

Diz que ao passar põe a cantar Lisboa inteira

 

Lisboa quem foi que disse

Que ir na marcha é tolice

A marcha tem luz aos molhos

E fogueiras nos teus lindos olhos

 

Cantiga que o povo canta

Põe a alma na garganta

Lisboa gaiata ladina

Não há melhor marcha

Que a do Alto Pina

 

Refrão

 

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Viva Lisboa: Bairrista
música: Quando o Alto Pina Passa - Canta Alice Amaro
publicado por Vítor Marceneiro às 22:00
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Segunda-feira, 16 de Junho de 2014

RUI DE MASCARENHAS

 

 

Rui Pinho Ferreira (o cançonetista Rui de Mascarenhas),  nasceu a 14 de Dezembro de 1929 em Vila Pery -  Moçambique, onde viveu até à idade de cinco anos.

Devido à vida profissional de seu pai , oficial do Exército, veio  para a Metrópole, e em 1946 para  São Miguel nos Açores, onde  acabou o curso dos liceus no Liceu Nacional Antero de Quental, estava planeado que viesse cursar arquitectura e assim ingressou na Escola de Belas- Artes em Lisboa.

Em 1950 concorreu a um campeonato musical chamado “Aja”, tendo alcançado o primeiro lugar, e é assim que, em 1951, Rui de Mascarenhas desiste de arquitectura e abraça a carreira de cantor profissional.

Foi aberto pela Emissora Nacional  um concurso para fadistas, cantores, cançonetistas e conjuntos vocais, Rui concorreu e conquistou o primeiro lugar, foi contratado, onde se manteve no elenco como cançonetista durante cerca de 6 anos.

Rui de Mascarenhas, que gravou na Europa, Canadá, América, Texas, Brasil, em  1952 no Brasil, esteve integrado nos “Companheiros da Alegria”, programa que era coordenado pelo actor Igrejas Caeiro.

Fez vários espectáculos nas ilhas, mas em  São Miguel, era muito solicitado e aplaudido,  contava com inúmeras amizades, que datavam desde o seu tempo em que lá viveu e estudou.

Em 1959 o cantor foi viver para França onde permaneceu cerca de quatro anos, depois transferiu-se para Espanha, passando a residir desde 1964 em Nova Iorque, mas deslocava-se com frequência a Portugal.

Em Montreal no Canadá,  foi convidado para integrar o elenco da companhia que levou à cena no maior teatro daquela cidade, a opereta “Viúva Alegre”, em que ele era o único artista estrangeiro.

Faleceu a 22 de Fevereiro de 1987, em vésperas de regressar aos palcos portugueses, no antigo Jardim Cinema pela mão de José Nuno Martins.

Conheci o Rui de Mascarenhas no Galito em Cascais, no inicio das minhas "fadistices" era uma homem muito afável e simpático.

Rui de Mascarenhas

canta: Os Pauliteriros de Miranda

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música: Pauliteiros de Miranda
Viva Lisboa: Recordar
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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Sábado, 14 de Junho de 2014

SANTOS POPULARES - Arraiais e Marchas Populares

Lá vai Lisboa - canta Maria José Valério 

MARCHAS POPULARES - ORIGENS
 
As “Maias”, originaram as festas dos três Santos Populares, Santo António, S. João e S. Pedro.
Eram as “Maias” cantos litúrgicos dedicados no mês de Maio, à Virgem Maria, Porém, tendo-se adulterado o seu carácter religioso, com povo a fazer bailados  nas ruas das cidades, forma consideradas pagãs e assim, foram proibidas no século XIV, por ordem de El-Rei Dom João I. O povo que sempre gostou de cantar e bailar, passou todavia, a celebrar outra festa, oriunda da bênção dos primeiros frutos, em Quinta-Feira de Ascensão de Jesus Cristo: o “Dia da Espiga”, o povo vai aos campos para recolher, raminho de oliveira, rosmaninho, malmequer, papoila e trigo. Ainda hoje na «Quinta-Feira da Espiga»,  há esta tradição chegando a haver vendedores de rua a vender o “Raminho da Espiga” e que segundo a tradição é guardado em casa até ao ano seguinte.
Por meados do século XVIII,  os franceses durante o período napoleónico, iniciaram  a moda de dançar as marchas militares,  realizavam em Junho para celebrar a tomada da Bastilha a que chamavam “marche aux falambeaux ” em que o povo desfilava com uns archotes acesos na mão.
Este costume foi adoptado pelos portugueses que lhes passaram a chamar “Marcha ao flambó" (portanto adaptação do termo francês), só que nós os portugueses substituímos os «archotes revolucionários dos franceses» por "balões de papel" e "fogo de artificio", que  tinham sido costumes trazidos da China no século XVII, e que jà eram usados nos arraiais e feiras por todo o País, e assim  as antigas danças e cantares de "Maio à Virgem Maria"  que  entretanto tinham sido proibidas foram transpostas para o mês de Junho, passando a celebrar-se as festas dos «Santos Populares»,  “Santo António, São João e São  Pedro “.
Lisboa veste-se de cravos rubros que são esplendor em Junho festivo, de vasos com manjericos nas janelas, sendo costume colocar na copa do manjerico, um cravo encarnado com uma bandeirinha hasteada com uma quadra popular escrita.
 
Se eu fosse o cravo vermelho
Que trazes sobre o teu peito
Por muito que fosse velho
Não te guardava respeito
 
Cravo manjerico e vaso
E uma quadrinha singela
Tudo lhe dei... Não fez caso!...
Pronto! Não caso com ela
 
Ateia-se uma fogueira  para assar as sardinhas,  e os rapazes e raparigas saltam e bailam á sua volta até ao raiar do dia.
A alcachofra brava, também tem o seu simbolismo nestas festividades, quem queria saber se era correspondida/o no amor pelo namorado, devia chamuscar na fogueira, a alcachofra em flor, e se a mesma  passados alguns dias voltasse a florir, era sinal que o amor era sincero e daria em casamento.
Sobre o saltar à fogueira, houve também muita inspiração para versos mais “malandrecos”
 
Ou ela não usa calças
Ou as tem na lavadeira
Dei por isso ontem à noite
Quando saltava à fogueira
 
As Marchas têm um ritmo diferente do Fado: mais cadenciado, mais vivo e de métrica poética menos uniforme, sempre enriquecida pelo «estribilho» , o refrão no Fado, mas arcos, balões, cravos manjericos, alcachofras, fogueiras e danças não deixam de ser motivos de inspiração para os letristas de Fado.
Consulta: Fado- Mascarenhas Barreto

 

Amostra dos trajes dos Padrinhos das Marchas

 

 

 

Letra de: Silva Tavares

 

               OS SANTOS POPULARES

 

 

O mês de Junho é o coração do ano

que ora canta, ora sofre, ora perdoa.

Um coração que desde há muito irmano

ao coração do povo de Lisboa.

 

 

                           Que espanta, pois, que os dois se queiram bem?

                           O idílio nada tem de singular

                           e, assim que Junho lá vem,

                           lá vai Lisboa a cantar!

 

Canta nos mastros e festões que à toa

documentam a ingénua fantasia

da gente boa da Madragoa,

de Alfama, do Bairro Alto e Mouraria.

 

                          Canta no tom dolente e pedinchão

                          dos garotos do bairro - e quantos há,

                          Santo Deus! - que nos barram o caminho

                          de bandeja na mão:

                          — « meu senhor, dê cá um tostãozinho

                          p'ró Santo António! Meu Senhor... dê cá!»

 

Canta nas alcachofras que se queimam

e, depois de ficarem qual tição,

vão espetar-se na terra — a ver se teimam

em reflorir ou não!...

 

                        Canta em ingénuas tradições caseiras;

                        em mil superstições e mil caprichos: ´

                        — No verde manjerico, nas fogueiras,

                        nas cornetas de barro, nos cochichos!

 

Nas bichas de rabiar, entre o clamor

estouvanado da histérica donzela;

nas bombas que rebentam com fragor;

na luz viva do fósforo de cor

que se acende à janela!

 

                       No balão de papel, cheio de fumo,

                      que, verdadeira imagem da ilusão,

                      domina o espaço e sobe e vai, sem rumo,

                      até extinguir-se a chama — o coração!

 

Canta nos bailaricos do mercado,

e nas sinas compostas a granel,

e nos trilos do grilo encarcerado,

e nas quadras dos cravos de papel!...

 

                      Quando virdes passar festivos arcos

                      de que pendam balões, simbolizando

                      velhas fachadas, monumentos, barcos

                      — é Lisboa que passa e vai cantando!

 

Canta p'lo Santo António, p'1o São João

e p 'lo São Pedro, enfim, num testemunho

fervente do seu culto à tradição

e num último adeus ao mês de Junho!

 

                     Tão velho afecto será sempre novo,

                      enquanto aos dois restar sombra de alento:

                      — Se Junho é cem por cento o mês do povo,

                      Lisboa, em Junho, é, povo cem por cento!

 

 

 

 

Evocação da Marchas Populares de 1955

 

 

 

Grande Marcha de Lisboa 1955

 

LETRA DE; Silva Tavares  Música de: João Andrade Santos

 

É Lisboa! Venham vê-la !

São de sonho as graças que encerra!

Só Deus sabe se foi estrela

E baixou lá do Céu à terra

 

Pôs craveiros à janela;

No amor é leal, ardente.

A falar — não há voz mais bela !

A cantar — não há voz mais quente !

 

 ESTRIBILHO

 

Esta Lisboa bendita,

Feita cristã p'ra viver,

É a menina bonita

De quem tem olhos p'ra ver!

 

Moira sem alma nem lei,

Quis dar-lhe o céu cor e luz.

E o nosso primeiro rei,

Deu-lhe nova grei

E o sinal da cruz !

 

Nas airosas caravelas,

Tempo após, com génio profundo.

Cruz sangrando sobre as velas

—    Portugal dilatou o mundo !

—     

E a Lisboa ribeirinha.

Ao impor sua cruz na guerra,

Foi então a gentil rainha

Ante a qual se curvou a Terra.

 

 

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música: marchas Populares
Viva Lisboa: Lisboa amada
publicado por Vítor Marceneiro às 07:00
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Segunda-feira, 9 de Junho de 2014

Portugal o Mar e o Fado

O Fado nasceu no mar

Ao balanço de ondas mil

Por berço teve um navio

Por cobertura um céu de anil

Numa barquinha vogando

Batida pelo luar

Ouvi um nauta cantando

 

                                                              “O FADO NASCEU NO MAR”

                                                               E mal a gente põe os pés

                                                               Nos sobrados do convés,

                                                               Levamos da terra a imagem

                                                               e. a cantar, toda a viagem

                                                               O Fado, de lés-a-lés!

In Ao sabor das ondas – Linhares Barbosa


Fado.... a alma de um povo.

As viagens encetados pelos portugueses no século XVI, é um paradigma do destino de um povo que partiu durante séculos à procura do desconhecido, que nos criou um modo colectivo de ser e estar no mundo. É um gene da identidade portuguesa.

Naquelas horas da partida para a imensidão gigantesca dos mares, fizeram brotar lágrimas de todas as mães, de todos os pais, de todos os filhos, de todas as esposas, as noivas, os parentes e amigos, que ao dizerem adeus com soluços nos corações, na praia de Belém, que foi apelidada por isso mesmo de “Praia das Lágrimas” confrontavam-se com a descoberta da amargura da ausência.

Foi uma vivência que moldou as almas, era um povo aflito que via partir as naus com as suas gentes, sabe-se lá para onde iam, para o outro mundo ?

 

                   Ó Mar salgado, quanto do teu sal

                    são lágrimas de Portugal !

                    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

                    Quantos filhos, em vão, choraram!

                    Quantas noivas ficaram por casar,

                    Para que fosses nosso, ó Mar!

                    Valeu a pena? Tudo vale a pena

                    Se a alma não é pequena.

                    Quem quer passar além do Bojador

                    Tem de passar além da dor.

                     Deu ao Mar o perigo e o abismo deu,

                     Mas nele é que espelhou o Céu

 

Poema de: Fernando Pessoa

 

É vida , é destino, é Fado, é a alma do nosso povo.

Em tão longo caminho e duvidoso,

Por perdidos as gentes nos julgavam,

As mulheres com choro piadoso ,

Os homens com suspiros que arrancavam;

Mães, esposas, irmãs, que o temerosos

Amor mais desconfia, acrescentavam.

A desesperação e frio medo

De já não nos tornar a ver tão cedo

 

Camões, Os Lusíadas, canto IV, 89)

VASCO DA GAMA

Esta mentalidade, criada de uma vivência bivalente, amargurada por um lado, alegre por outro, isto porque o ritual da partida o medo a tristeza, o espectro da morte, se misturaram com a esperança, o sonho e quanto era maravilhoso estar vivo no regresso,  tais sentimentos moldaram a consciência que se cristalizou na música e no canto, com uma tonalidade própria, inconfundível e original como é a sua matriz..

O Fado é português, é toda uma mentalidade, é toda uma História, se o povo português é o único que canta o Fado, é porque também foi protagonista de uma vivência que mais nenhum povo teve.

Notas: In Fado, A alma de um povo M.L.Guerra

           In Fado, Mascarenhas Barreto

AMÁLIA RODRIGUES canta:

Fado do Marujo Português

Letra de Linhares Barbosa e música de Artur Ribeiro

 

                                       

O FADO É PORTUGUÊS

 

O Fado é tão português, que, de arnês,

bateu-se em Fez;

esteve em Alcácer-Quibir;

arrostou o mar profundo

e ao Mundo

deu novo Mundo,

na senda de Descobrir!

Esteve em Malaca e Ormuz

e, à luz

do signo da Cruz,

construiu impérios novos;

da Guiné até Timor,

com ardor,

foi defensor

do Destino doutros povos!

Fê-lo Deus aventureiro:

foi guerreiro

e marinheiro;

missionário, ou de má-rês

e — vá ele p' ra' onde for —

­cante a dor,

ou cante o amor,

o que canta é Português!

Poema de: Mascarenhas Barreto

 

 

AMÁLIA  RODRIGUES canta:

Fado Português

Letra de José Régio e música Alain Oulmain

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música: Fado Marujo Português, Fado Português
publicado por Vítor Marceneiro às 09:50
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Sábado, 7 de Junho de 2014

VÍTOR DUARTE MARCENEIRO - Resposta a um inquérito

 

 

 

 

Pediram-me para um trabalho na Faculdade que respondesse a um inquérito.

Na realidade eu não sou a pessoa mais indicada para responder a este inquérito, visto não ser um “fadista/cantor/profissional.

A minha ligação ao Fado vem por herança de família, cantar pela primeira vez foi um devaneio, mas como vivi desde muito jovem ao lado do maior fadista de todos os temos , do qual sou o seu biógrafo, continuei a  investigar e relembrar os intervenientes que viveram o Fado, e por vezes gosto de cantar “talvez porque como diz o dito popular … filho de peixe sabe nadar.

E porque ainda continuo a escrever sobre o assunto, e a debater muitas teorias estas,  perguntas não têm muito a ver com a minha concepção sobre o Fado (*), mas vou tentar responder.

(*) Eu ecrevo Fado com letra grande.

 

Perguntas aos fadistas

  1. 1.    O que é para si o fado? Um estado de Alma
  2. 2.    Há quanto tempo canta? Há cerca de 45 anos
  3. 3.    Faz do fado profissão? Não
  4. 4.    O que sente quando canta fado? Depende do ambiente, quem toca e do comportamento de quem houve, se tudo se conjuga... Sinto-me feliz.
  5. 5.    Que géneros de música ouve? Jazz – Blues e Fado
  6. 6.    O fado além de música é... O poema
  7. 7.    Que tipo de fado canta? E o que canta é o que mais gosta de ouvir também? Fado clássico na música, no poema,  e o tema amor ou a critica social
  8. 8.    Como fadista, como define:

a)   Voz .. Não é o mais importante

b)   Viola .. O instrumento que marca o compasso

c)   Guitarra.. O instrumento que nos dá a melodia

d)   Vestido preto.. Sóbrio, e tem uma história que está deturpada

e)   Xaile.. Hoje em dia um adorno, que muita gente que o usa não sabe porquê

f)     O corpo como deve estar? Depende se é ensaiado ou se é uma forma de estar própria de cada um quando está a cantar/comunicar

  1. 9.    Porque é que acha que se liga sempre tristeza ao fado? É uma tese que estou  a aprofundar e não é assim tão linear.
  2. 10.                   Como surgiu a paixão pelo fado? Factor genético, influência de quem me criou.
  3. 11.                   Porquê o fado?  È uma expressão musical única no mundo.
  4. 12.                   Opta pelo preto no fado? Se não: porque acha que tanta gente opta por essa cor no fado? Eu não opto, mas há quem opte, mais as mulheres, mas outra formas de expressão musical também o usam, o  preto é sempre elegante.
  5. 13.                   Canta coisas suas próprias ou de outros fadistas conhecidos? Fados que me dizem algo do repertório de meu avô e de meu pai. Tenho vários Fados,  que foram feiro para mim, e  que  nasceram de uma empatia do poeta com a minha maneira de ser.
  6. 14.                   Qual o fadista que mais admira e porquê? Alfredo Marceneiro… meu avô e Alfredo Duarte Jr, mau pai, é óbvio, nos homens, nas mulheres, Amália, Beatriz da Conceição e Fernanda Maria, mas muitas mais.
  7. 15.                   “Pertence” a alguma casa de fado? Qual? Não
  8. 16.                   Que temas mais canta no fado? (saudade, ciúme, problemas sociais, religião, História de Portugal..) Conceitos, que engloba tudo o que nos rodesi na vida.
  9. 17.                   Acha que o fado já não é ligado à vida boémia como era antigamente? Teria que falar do que era a “boémia” do antigamente e a “boémia” de hoje.
  10. 18.                   Como acha que os não-fadistas olham para o fado? Acha que dão valor em Portugal e que se ouve fado? Goste-se ou não,  o que conta hoje é que está a dar… e muito do que para aí se canta nada tem de fado. Até é chique! E quem cria os ídolos são os “lobbies”, mas decerto há quem não suporte ouvir Fado.
  11. 19.                   O que acha ter de fadista tradicional e fadista de nova era? Não sei responder, ainda estou a definir o contraste tradicional/nova era. Mas uma coisa eu sei, que no inicio o Fados não tinha profissionais, eram amadores, cantavam por gosto e paixão.
  12. 20.                   Acredita na introdução de outras sonoridades, músicas populares de outros lugares? Tudo deve evoluir, mas com harmonia e senso. Mas todos os géneros musicais podem ter improvisos, mas o inicial/verdadeiro, será sempre o autêntico.
  13. 21.                   E acredita na introdução de novos instrumentos além das guitarras no fado? Porque não, mas já não é Fado, são derivados.
  14. 22.                   O fado faz grande parte do seu dia-a-dia? Na escrita e na análise da palavra “Fado” como conceito de .. Fado = vida= destino= etc.. É Um Estado de Alma.
  15. 23.                   Quando ouve algum fado, o que lhe faz gostar/não gostar dele? Tem muito a ver com a sonoridade,  o que os versos dizem,  com o poema, com a dicção, a interpretação e o falar bem português e acima de tudo perceber bem as palavras, senão é uma "estopada".
  16. 24.                   Como fadista, tem manhas para cantar, truques com a voz, etc? Quais? Não
  17. 25.                   Que tipos de locais frequenta no seu dia-a-dia? De Fado nenhuns, vivo numa vila que não tem  nada para frequentar.
  18. 26.                   Há inimigos dentro do fado? Se há…Eu que o diga, hoje só conta o protagonismo e os "lobbies", não esquecendo os lambe-botas.
  19. 27.                   Como define o fado que se produz hoje? Perdeu-se características do fado de antigamente ou ganhou-se? Ganham dinheiro., mas a popularidade de muitos é efémera… ando a analisar  para escrever  sobre esse fenómeno, mais de 80% não é Fado é um produto que se vende porque está na moda, mas um poema de Fado tem que ter uma "história" um sentimento, e há regras nas métricas, quer seja em quadras, sextilhas, quintilhas ou decassílabos.
  20. 28.                   Na sua opinião, o que canta o fado? A Vida, o Fado é vida, é destino, é UM ESTADE DE ALMA.
  21. 29.                   Como é para si um bom cantador de fado?  Conheço, grandes fadistas, que nem são conhecidos, não fazem parte do “lobbie” , mas um bom cantador é aquele que canta com sentimento,   que consegue colocar a sua voz harmoniosamente no meio do som dos instrumentos.
  22. 30.                   Reconhece a sua vida no cantar de outros fadistas? Há decerto uma influencia do meu avô, no cantar e dizer os versos, mas os gestos são do meu pai.
  23. 31.                   Sente-se numa vida à parte enquanto fadista, do  que as outras pessoas comuns que não vivem de nem e  para o fado? Nunca pensei nisso, mas vou pensar sobre esta questão pertinente...
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Viva Lisboa: Fado Estado de Alma
publicado por Vítor Marceneiro às 14:08
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Segunda-feira, 2 de Junho de 2014

Tó Moliças - Poeta e músico de Fado

António Pires da Ascensão (Tó Moliças), nasceu na Aldeia da Ponte no distrito da Guarda, a 31 de Maio de 1937, tinha 77 anos.

 

FALECEU HOJE DIA 2 DE JUNHO, O MÚSICO E POETA TÓ MOLIÇAS.

O FADO ESTÁ MAIS POBRE.

 

 

 

Tó Moliças, foi empresário do Clube Amália, em Cascais na Quinta da Bicuda, tocava viola-baixo e para além de muitos fadistas acompanhou Amália em várias digressões, era também poeta, com  poemas muito apreciados e  cantados por vários fadistas.

Este Video-Clip que eu realizei em 2012,  na Adega do João na Loubagueira, com José Luis Nobre Costa, Jaime Santos Jr., e Tó Moliças, que hoje volto a apresentar, é o meu tributo á sua memória.

Já lá estão, algures onde Deus tudo determina, os intervenientes,  José Luís e o Tó Moliças, paz ás suas almas.

Que Deus nos dê muitos anos de vida aos que cá ficamos, porque deles não nos esqueceremos.

 

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Viva Lisboa: Poeta e músico
publicado por Vítor Marceneiro às 22:00
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