Alfredo MarceneiroFaleceu há 25 anos,
a 26 de Junho de 1982.
UM FADO "A MARCENEIRO"
À solta e desvairada a morte certo dia
Entrou no velho pátio e ali quase em segredo,
Num golpe traiçoeiro de raiva e cobardia,
Maldosa nos levou p'ra sempre o Ti Alfredo
Ao chorar das guitarras como se fosse um hino
Juntou-se a voz do povo de Portugal inteiro
Tinha morrido o rei fadista genuíno
O mais de todos nós o grande Marceneiro
Sua garganta rouca tinha o condão cubano
De nos dar fado a sério sem ais, sem fantasias
Se o fado para ser fado algum segredo tem
Então esse segredo só ele o conhecia
Sempre que a noite chega eu julgo ainda vê-lo
Fazendo a sua ronda p'los retiros de fado
De boné ou mostrando o seu farto cabelo
E o seu lenço varino ao pescoço ajustado
Recordo as suas birras e em grande cavaqueira
Seus ditos graciosos se bem disposto estava
E oiço até o seu riso no Cacau da Ribeira
Onde já madrugada sua ronda findava
De Alfredo Marceneiro eu guardo um disco antigo
E um retrato dos dois sobre um fundo bairrista
Um fado ao desafio que ele cantou comigo
E uma eterna saudade desse enorme Fadista
Poema de: Fernando Farinha
Nota: Para além desta, não mereceu mais nenhuma notícia a efeméride, nem uma palavra daqueles que passam a vida a contar histórias e que dizem terem tantas lembranças dele, e os inspirados e seguidores?, mas uma coisa é certa "MARCENEIRO É PARTE INTEGRANTE DA GRANDE HISTÓRIA DO FADO, È TAL O SEU LEGADO QUE A SUA LEMBRANÇA NÃO SERÁ TEMPORAL, MAS PARA TODO O SEMPRE, ENQUANTO HOUVER FADO EM PORTUGAL".
Enquanto este neto tiver um sopro de vida não deixará de relembrá-lo para que as gerações actuais saibam quem ele foi, para as gerações futuras também já dei o meu testemunho escrevendo dois livros biográficos.
Dirão alguns, como já aconteceu quando escrevi o 1º Livro da sua biografia, "Recordar Alfredo Marceneiro", que não faço nada de mais, é neto, tem a papinha feita, pois para espanto desses e de outros mais, é que felizmente não sou analfabeto, e tenho muito orgulho nas minhas origens
Obrigado Avô, Pai e Avó Maria por tudo o que me deram, para bem ou mal puder escrever sobre vós e sobre o Fado.
“ANTES QUE QUEIRA NÃO POSSO”
Letra de: Henrique Rêgo
Antes que queira não posso
Deixar o fado é morrer
É ele o meu Padre-Nosso
Que eu vou rezando a sofrer
Se a minha sina é cantar
O fado que é meu e vosso
Como é que o posso deixar
Antes que queira não posso
Sou fadista à moda antiga
Quero cantar e viver
Aprendi numa cantiga
Antes quebrar que torcer
Se o fado tem amargor
É a cantar que o adoço
Num misto de Graça e dor
É ele o meu Padre-Nosso
É Acto de Contrição
É Credo que faz Querer
É a mais bela canção
Que eu vou rezando a sofrer
" — Alfredo Duarte — Este sentimental fadista é um dos mais completos da actualidade. Desde o fado em que os poetas compõem o verso francês — Alexandrino — até ao correntio, mas saudoso, fado corrido, a sua voz é sempre cariciosa e de uma ternura inigualável; tem-nos sensibilizado até ás lágrimas; é o cantador chocante das plateias.
Os versos de Henrique Rêgo, que actualmente canta, têm a expressão que o autor lhes imprime. Feliz do poeta que tem tal executor dos seus trabalhos.
Para traçar o perfil fadista do Alfredo Marceneiro, a pena não excita; corre ligeira e firme, como se estivéssemos fazendo o elogio dum grande artista.
Os fados e os versos cantados pela garganta deste sentimental trovador, tornam-se conhecidos do povo.
É que ele, com a sua plangência, deixa nas bocas dos que o escutam, o sabor doce da Canção Lusitana.
É um verdadeiro fadista!..."
João Linhares Barbosa
De Maria de Lurdes Brás a 26 de Fevereiro de 2007 às 15:34
Amigo Vítor, tenho muito prazer em lhe enviar este fado da minha autoria que também homenageia o seu avô.
HOMENAGEM FADISTA
Letra de Maria de Lurdes Brás
Foram tão grandes no fado
Um morreu velho e cansado
Mas deles foi pioneiro
Para ninguém é segredo
O seu nome era Alfredo
De profissão marceneiro
Mas outro sendo mais novo
Foi um fadista do povo
E na história também fica
Farinha seu apelido
Mas todos conhecidos
Pelo miúdo da bica
Ainda há na memória
Nomes que fizeram história
E foram do nosso agrado
Pois esquecer nunca vamos
Esse grande Carlos Ramos
E também César Morgado
Nesta singela homenagem
Está bem viva a imagem
Dos nomes que deram brado
Uns irão desaparecendo
Mas outros irão nascendo
P’ra manter bem vivo o fado
De ADRIANO a 26 de Fevereiro de 2007 às 21:31
Melhor do que qualquer outro dia, hoje é o dia ideal para homenagear e transmitir o que penso e acho (se é que me permitem), sobre o grande ALFREDO MARCENEIRO. Foi o Homem que no Fado, ligou gerações (não estou a referir-me directamente ao seus familiares, mas sim a gerações de Fadistas). Nunca deixando o Fado tradicional, típico PURO (como gosto de o chamar), foi aceite e amado por o público Lisboeta e Nacional. A ele o Fado “Deve laivos de vida, e de fulgor”, pois a ele seguiu-se uma geração de fadistas de grande qualidade e, pelo que sei da vida do Grande Alfredo Marceneiro, os Fadistas que acarinhou e que hoje mais são conhecidos são: Fernando Farinha, Fernanda Maria, Amália Rodrigues, Hermínia Silva (entre outros [ desculpem-me se me esqueci de alguém]). ALFREDO MARCENEIRO, quem o quiser descrever mesmo que muito o deseje, nunca o consegue pois Alfredo Marceneiro é “algo” que não se explica, ouve-se , vê-se e Sente-se. Alfredo Marceneiro foi único, como ele não Houve nem haverá jamais outro igual, desde a forma de se expressar , de actuar e ao seu feitio que como tudo em si e na sua forma de vida, era FADO. De momento é o que tenho para dizer e por agora é a forma que em escala reduzida demonstra a admiração que tenho por o grande Alfredo Marceneiro. Desculpe-me caro Vitor alguma palavra que seja menos delicada (mesmo assim tentei pôr algumas entre “”) , no entanto é assim que , e mesmo dificilmente, me consigo explicar em relação a Alfredo Marceneiro.
Meu querido amigo Adriano
A única coisa que me apraz dizer é obrigado.
Um abraço
De Ai Deus e ue a 27 de Fevereiro de 2007 às 12:59
Marceneiro é verdadeiramente o princípio de tudo! O fado e a sua capacidade de lhe criar estilos que mais tarde serão autênticas novas melodias, o seu empenho no respeito pela palavra do poeta e o modo cerimonioso, respeitador como encarava o fado fazem dele o começo de tudo, uma mola que impulisionou o fado e é hoje uma referência! Inultrapassável!
Meu caro Ciber Amigo Verde Pinho. Já estranhava a sua ausência, pois o meu amigo é uma grande inspiração quer na apreciação quer na critica, que eu aliás muito aprecio e agradeço como já lhe tenho dito.
Obrigado pelo que escreveu sobre o meu avô.
Penso que há mais quem tenha saudades dos seus mails , talvez sem si não se fale dele.
Espero que tenha regressado para ficar .
Um abraço <
Vitor
De Julio Guedes a 27 de Fevereiro de 2007 às 16:18
Os meus parabéns ao Vitor Duarte pela bonita homenagem prestada a seu avô, assim como também ao seu pai, ao publicar a fotografia dos dois . Sendo certo que não se insere completamente no espirito do blog, mas Marceneiro, é fado... é Lisboa.
Meu Caro Júlio Guedes
Obrigado pelo seu contacto, não faço mais do que é meu dever, se recordo outras figuras, é óbvio, que lembraria aqui o dia em que meu avô nasceu, contra tudo e contra todos, a foto com o meu pai e comigo é o mais natural, somos a sua 2ª e 3ª geração, aliás inédito no Fado, mas ao observá-lo o meu amigo fez-me lembrar um episódio que lhe peço desculpa de o maçar com o pormenor:
— Há um escritor que fez um livro, e que na segunda edição do mesmo, altura em que eu já tinha editado a biografia de meu avô, usou uma foto minha em que eu estou ao lado do meu avô , corta a minha imagem e aproveita só a do meu avô, (enfim está no seu direito) mas não faz qualquer referencia quer a meu pai, quer a mim próprio, só me choca porque põe Marceneiro em fotos com outras pessoas do fado, decerto seus amigos e admiradores, mas acho sem vaidade que hoje falar de Marceneiro e não falar das suas gerações, que em nada envergonharam a sua figura quer em vida quer a sua memória, ou é despeito ou ....
Não concorda ?
Um Abraço
Vitor Marceneiro
De Flores de Verde Pino a 27 de Junho de 2007 às 12:11
Marceneiro e mais nada! Viva o grande Marceneiro e não vale a pena fazer propostas pois todas as noites Marceneiro é cantado algures no mundo Curioso, um nome nem tanto referenciado no quotidiano mas que o quotidiano fadista na sua prática o mantém vivo!
De Anónimo a 28 de Junho de 2007 às 00:01
Ai como está vivo na minha memória !
Aquela maneira de estar e de ser, franca e aberta, aquela filosofia da universidade da vida.
Ainda me lembro, eu o miudo de 10 anos a perguntar o que era um marceneiro e ele cheio de paciência elucidou, de forma completa e compreensível os meandros daquela profissão de que se orgulhava.
No imaginário da minha infância e adolescência vai estar sempre vivo aquele "tio" (tive a honra de o tratar assim) que tanta paciência tinha para me aturar e cantar "O Bêbado Pintor" sempre que lhe pedia.
Tio Alfredo, onde quer que estejas eu lembro-me de ti.
Eduardo Ramos de Morais
De fadistário a 25 de Julho de 2008 às 01:08
"Sua garganta rouca tinha o condão cubano
De nos dar fado a sério sem ais, sem fantasias
Se o fado para ser fado algum segredo tem
Então esse segredo só ele o conhecia"
Será que só eu acho esta quadra estranha? Além de não rimar o 1º com o 3º verso, como nas restantes quadras, que raio é um condão cubano e o que é que tal condão tem a ver com a garganta do Marceneiro?
O primeiro verso correcto é:
"Sua garganta rouca tinha o condão, o bem"
Basta ouvir a canção algures noutro post deste blogue.
Sou um brasileiro ,um gaucho
que nasci depois que o rei dos fadistes partiu
,mas eu vivo o seu fado ,espero um dia ir a lisboua
e ver de perto o que é o fado de portugal.
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