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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Quarta-feira, 21 de Outubro de 2009

GERAÇÕES de MARCENEIRO na CASA A CESÁRIA

 

A Casa de Fados "A Cesária", situada na Rua Gilberto Rola em Alcântara, era   uma tasca já desde o século XIX.

Já no século XX passou a ser uma casa de "prostituição", que na época eram autorizadas, funcionava com o nome de Bar Sábá. Tinha dois andares, em baixo bebia-se e acordava-se o preço com as "meninas",  em cima havia dois quartos de curta permanência, á disposiçaõ dos interessados.

Mais tarde o seu proprietário Mário Lopes de Oliveira, aproveitando o edifício ter dois pisos,  passou para o 1º piso a parte da "prostituição"  criando para tal uma porta de entrada independente pela rua. No rés-do- chão abre uma casa típica com petiscos e onde se podia cantar o Fado com o nome "Casa  A Cesária",  a pouco e pouco começa a ter bastante afluência,  principalmente aos fins de semana, em que iam pessoas para  ouvir o Fado, e os próprios Fadistas apareciam, porque gostavam do ambiente.

Pouco tempo passado e as  casas de prostituição são proibidas e obrigadas a fechar, o proprietário que mais tarde passou a ser conhecido pelo Mário da Cesária, como tem alvará de bar, consegue licença para ampliar a casa,  o primeiro andar  é aberto, ficando como uma varanda com visão para a divisão de baixo, que passou a ser o pátio das cantigas, era uma casa muito "castiça" quer pela decoração quer pela construção , pois dava a ideia que estávamos num pátio lisboeta, passando a dar Fado todos os dias.

Imagem do interior da casa retirada de um anúncio e  ainda o painel em azulejo existente na parede da casa

          

 

Carlos Duarte uma noite na Cesária

Segundo a tradição, terá sido neste local, outrora uma "taverna" que Maria  Cesária, terá cantado pela última vez em 1877.

 Nos anos sessenta como já referi, passaram  pela Cesária quase todos os fadistas da época, destacando-se o meu tio Carlos Duarte, que nunca foi profissional, mas ali ía todos os dias, aos dias de semana só até cerca de meia-noite, pois no dia seguinte tinha que ir trabalhar, aos sábados e domingos as "fadistisses" iam até de madrugada, acabando muitas das vezes, em que fadistas, empregados e clientes, acabavam no cacau da ribeira, até o sol nascer. (Grandes noites, ainda tive oportunidade de viver algumas delas, com o meu pai e o meu avô, o meu tio Carlos e o meu primo Valdemar).

 

  Carlos Duarte canta "Vestido Azul"

 

Quando fui para o serviço militar em 1967, também já era por lá e pelo Timpanas mais ao lado, que eu ía continuando a dar os primeiros passos no Fado. Nesta altura, o Mário  contrata o meu primo Valdemar Duarte, filho do meu tio Carlos Duarte (que faleceu em 1966), como gerente artístico e também para cantar.

Entretanto o meu primo Valdemar Duarte, casa-se e organiza a vida e demite-se da Cesária,  nunca mais cantou, e foi pena pois cantava muito bem, na linha que nós todos da família comungamos,  é o "ADN do Marceneiro", já tinha angariado bastantes admiradores, tenho muita pena que ele infelizmente  não  tenha   nada gravado, mas o Fado está-lhe na alma, actualmente anda a aprender a tocar guitarra.

A Casa A Cesária fechou definitivamente as portas em 1977.

Há uma realidade que é inegável, é que os "Marceneiros", estiveram sempre  com o FADO e no Fado.... E continuam

 

© Vítor Duarte Marceneiro

  

 

 Carlos Duarte na Cesária a cantar e em convívio (1964) 

 

 

Foto Valdemar Duarte a cantar na Cesária ao lado está a irmã Judite Duarte, 

também filha de Carlos Duarte (1966)

 

Foto Tirada na Cesária em 1966

Da esquerda para a direita: Vítor Duarte Marceneiro, Aida Duarte (filha de Marceneiro), Aida Duarte (sobrinha de Marceneiro, filha de seu irmão Júlio Duarte), e seu marido Carlos

  

Seguem-se mais alguns elementoa relacionados com A Cesária:

Painel de Azulejos, a fachada do edificio actualmente, um copo gravado,  

 

 

  

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
música: Vestido Azul
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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6 comentários:
De SÍLABA a 21 de Outubro de 2009 às 07:30

ÁGUAS D'O FADO pelo VÍTOR DUARTE MARCENEIRO ( é o meu título para AS FOLHAS que percorro n'ESTE BLOG / DOCUMENTO, TÃO LISBOA e TÃO CANTIGA-de-NÓS... )
OBRIGADA ! Sílaba.


De Sara a 21 de Outubro de 2009 às 14:31
Parabéns por este artigo, pelo testemunho e documentos. Gostei de conhecer a sua história e ficarei atenta aos vindouros.
Obrigada.
De Joaquim Cardoso a 22 de Outubro de 2009 às 12:35
Meu Amigo Victor :
Fico muito contente pelos seus 400.000 visitantes porque agora tambem faço parte dessa sua alegria.
Costuma-se dizer por aqui que cada um tem sempre aquilo que merece... e o Victor merece!...
O seu trabalho aqui desenvolvido, é de tanta qualidade e utililidade para todos, independentemente de serem ou não apaixonados e interessados na autentica Historia do Fado que, quem o descobre como eu não resiste a visitá-lo sempre que tenha um bocadinho de tempo pois a possibilidade de se ficar a saber e a conhecer muito mais é tão grande que nos deixa completamente satisfeitos e mais sabedores.
Quero tambem agradecer-lhe a sua amambilidade de me dar os seus contactos pessoais e dizer-lhe que brevemente o contactarei para dar-mos aquele abraço fraterno.
Aproveito para retribuir a sua simpatia dando-lhe o meu contacto permanente:
91 764 2052
Imaginava que o Victor vivesse em Lisboa, mas pelo indicativo vi que vive em Torres Vedras. Já é mais fácil para mim pois conheço muito pouco de Lisboa para além de algumas casas de Fado . Eu vivo numa Povoação muito bonita que se chama Sra. Aparecida em pleno Vale do Sousa distrito do Porto que espero um dia ter o gosto que o Victor venha a conhecer !
Despeço-me com amizade; J.Cardoso
De Vítor Marceneiro a 22 de Outubro de 2009 às 17:10
Amigo Joaquim Cardoso
Muito obrigado prlo seu contacto e disponibilade.
Temos que nos encontar numa fadistisse.
Um abraço
Vítor
De al kantara a 31 de Julho de 2010 às 20:42
Caro Vitor Duarte,

Obrigado por nos recordar esta mítica casa de fados. Só uma correcção no seu artigo : a casa não encerrou em 1977. Pelo menos, até 1988 funcionou, cantando ali diariamente fadistas como Ilídio Pinto, Maria Fernanda Pinto, Tony Proença, Esmeralda Amoedo e outros.
De Vítor Marceneiro a 3 de Agosto de 2010 às 13:54
Obrigado Caro Amigo.
Já fiz a indicação numa nova página que hoje publiquei.
um abraço fadista
Vítor Marceneiro

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