Maria Amélia Consciência do Espírito Santo, nasceu em Lisboa no bairro de Xabregas em 1938.
O seu começo foi como o de tantos outros artistas, começando a cantar em festas de amigos, até que através de um concurso na Emissora Nacional, deu inicio à sua carreira artística, tendo passado a actuar nos espectáculos daquela Emissora, granjeando a simpatia e admiração do público, que a levou a passar rapidamente do anonimato para a ribalta.
Dedicou-se ao fado, tendo cantado nas mais conhecidas casas de fado, nomeadamente na " TOCA" propriedade do grande fadista Carlos Ramos, e mais tarde passou pelo cinema, não tendo o teatro de revista ficado insensível à sua figura insinuante, elegância e beleza, tendo integrado o elenco de revistas que tiveram êxito, como "Põe-te a Pau " e " Bate o Pé ".
Integrou também o elenco das "Caravanas da Saudade", fez várias digressões ao estrangeiro, e teve uma boa prestação no festival de "Aranda del Duero".
Do seu vasto repertório constam letras de Fados que lhe granjearam admiração, “Não te digo, Devagar Coração, Rainha do Tejo, O meu último pecado, Noutro Tempo, Olha o Toiro, A Minha Sina, Assim é que é, Sou Fadista, Se eu pudesse, Olhos Tontos, Lisboa do Fado”, etc.
No pleno uso de todas as suas capacidades, que a tornaram conhecida do grande público, sem qualquer explicação, retirou-se, abandonando a vida artística, privando-nos a todos os que muito a admirávamos, da sua simpática figura, da sua elegância e do seu talento.
LISBOA DO FADO
Repertório de Maria do Espírito Santo
Letra: Moita Girão
Música: Adelino dos Santos
És de todas as cidades
A cidade mais vistosa
Tensa. cor maravilhosa
Com que se pintam saudades.
Tens craveiros nas janelas
Beijados pelo luar;
És rica desde as chinelas
Ao sol que te vem beijar.
Estribilho
Lisboa airosa
Menina mimada
Que sabe cantar;
Tens graça de rosa
Linda, perfumada,
Aberta ao luar;
Lisboa formosa.
Menina risonha.
De belo passado;
Lisboa saudosa,
Lisboa que sonha,
Lisboa do fado!
São teus bairros diamantes,
Com que vaidosa te enfeitas;
Sempre que à noite te deitas
Vestes de estrelas brilhantes.
Em carícia apaixonada,
O Tejo beija-te os pés;
Lisboa cidade amada,
Lisboa tão linda és!
Imagem de Lisboa - FotoM. Esteves
UM FADO "A MARCENEIRO"
À solta e desvairada a morte certo dia
Entrou no velho pátio e ali quase em segredo,
Num golpe traiçoeiro de raiva e cobardia,
Maldosa nos levou p'ra sempre o Ti Alfredo
Ao chorar das guitarras como se fosse um hino
Juntou-se a voz do povo de Portugal inteiro
Tinha morrido o rei fadista genuíno
O mais de todos nós o grande Marceneiro
Sua garganta rouca tinha o condão cubano
De nos dar fado a sério sem ais, sem fantasias
Se o fado para ser fado algum segredo tem
Então esse segredo só ele o conhecia
Sempre que a noite chega eu julgo ainda vê-lo
Fazendo a sua ronda p'los retiros de fado
De boné ou mostrando o seu farto cabelo
E o seu lenço varino ao pescoço ajustado
Recordo as suas birras e em grande cavaqueira
Seus ditos graciosos se bem disposto estava
E oiço até o seu riso no Cacau da Ribeira
Onde já madrugada sua ronda findava
De Alfredo Marceneiro eu guardo um disco antigo
E um retrato dos dois sobre um fundo bairrista
Um fado ao desafio que ele cantou comigo
E uma eterna saudade desse enorme Fadista
Nota: Para além desta, não mereceu mais nenhuma notícia a efeméride, nem uma palavra daqueles que passam a vida a contar histórias e que dizem terem tantas lembranças dele, e os inspirados e seguidores?, mas uma coisa é certa "MARCENEIRO É PARTE INTEGRANTE DA GRANDE HISTÓRIA DO FADO, È TAL O SEU LEGADO QUE A SUA LEMBRANÇA NÃO SERÁ TEMPORAL, MAS PARA TODO O SEMPRE, ENQUANTO HOUVER FADO EM PORTUGAL".
Enquanto este neto tiver um sopro de vida não deixará de relembrá-lo para que as gerações actuais saibam quem ele foi, para as gerações futuras também já dei o meu testemunho escrevendo dois livros biográficos.
Dirão alguns, como já aconteceu quando escrevi o 1º Livro da sua biografia, "Recordar Alfredo Marceneiro", que não faço nada de mais, é neto, tem a papinha feita, pois para espanto desses e de outros mais, é que felizmente não sou analfabeto, e tenho muito orgulho nas minhas origens
Obrigado Avô, Pai e Avó Maria por tudo o que me deram, para bem ou mal puder escrever sobre vós e sobre o Fado.
“ANTES QUE QUEIRA NÃO POSSO”
Letra de: Henrique Rêgo
Antes que queira não posso
Deixar o fado é morrer
É ele o meu Padre-Nosso
Que eu vou rezando a sofrer
Se a minha sina é cantar
O fado que é meu e vosso
Como é que o posso deixar
Antes que queira não posso
Sou fadista à moda antiga
Quero cantar e viver
Aprendi numa cantiga
Antes quebrar que torcer
Se o fado tem amargor
É a cantar que o adoço
Num misto de Graça e dor
É ele o meu Padre-Nosso
É Acto de Contrição
É Credo que faz Querer
É a mais bela canção
Que eu vou rezando a sofrer
Gabino Ferreira nasceu em 1922 no Porto, freguesia do Bonfim.
Aos 14 anos começa a cantar o fado em festas nas colectividades e de beneficência
Aos 16 anos estreou-se no Café Portugal, chamado a "Catedral do Fado" portuense, e foi sendo solicitado para actuar noutros locais, por esta altura até lhe chamam o “Miúdo do Bonfim”.
Em 1940 com 18 anos é tal o seu prestígio que é convidado a actuar no espectáculo "Glória a Portugal" apresentado no Porto, em vários recintos, em comemoração do aniversário da Fundação e da Restauração da Nacionalidade.
Em 1942, com vinte anos, decide vir para Lisboa, estreando-se na Esplanada Luso (ex. Retiro da Severa), mais tarde é contratado para Café Luso, já na Travessa da Queimada, altura em que o elenco era dos mais aceites pelo grande público, como Filipe Pinto, Maria do Carmo Torres, Júlio Vieitas, Fernando Farinha, Frutuoso França, Mário José Paninho e outros mais. Cantou também no Retiro dos Marialvas, actuou em quase todos os restaurantes típicos da época tendo finalmente sido contratado para “A Severa” como gerente artístico.
No programa radiofónico "Voz de Portugal", cantou também ao lado de Berta Cardoso, Maria Cármen, Quinita Gomes e Moisés Campelos.
Simultaneamente tem outra actividade profissional e opta por abandonar a vida artística profissional, numa fase da sua carreira em que era considerado um dos grandes intérpretes do fado do seu tempo. Não deixou, porém, de cantar. E hoje, quando aparece nas tertúlias fadistas continua a deliciar-nos quando canta o Fado como ele o faz.
Gravou dois discos (long play) , um em 1979, (Fado da Velha Guarda), e outro em 1980, (Fados e Saudades de Gabino Ferreira).
Dispõe de um vasto reportório, tais como: Quem Não Tem Mãe Não Tem Nada, Vamos Para as Hortas, Juventude, O Fado Está Doente, A Praga Que te Rogo, Ri Sempre!, A Vida É Uma Tacada, Carta do Hospital, Despedida, Esposa Ideal, Incertezas do Tempo, Três Fases (Partida, Ausência e Chegada), Lenda da Amendoeira, Até Logo!, Escravos e Donos, e Cabelo Branco e Alfama, etc.
O FADO ESTÁ DOENTE
Repertório de Gabino Ferreira
Letra de Carlos Conde
Música de: Gabino Ferreira
O fado está doente, adoeceu o fado!
Quando hoje o visitei quedei-me em sobressalto
Ao vê-lo triste e só, com a guitarra ao lado
Numa casa qualquer ali do Bairro Alto!
É triste a sua dor, profundo o seu abalo,
Saudoso do seu tempo alegre de conquistas!
O fado está doente, é preciso salvá-lo
Com o gosto do povo e a alma dos fadistas!
Está muito abatido. Eu nem o conhecia!
Ele, o Imperador ali da Madragoa,
O Príncipe de Alfama, o Rei da Mouraria
E acima de tudo o Senhor de Lisboa!
Fadistagem de garra, altiva e bem unida:
Se o fado é muito nosso, é grande, é imortal,
Nós temos o dever de lutar pela vida
Da mais bela canção que existe em Portugal!
De uma entrevista que o Poeta deu em 20 de Abril de 1967.
Como poderão verificar, e não querendo de forma alguma desvalorizar ninguém, mas acho que se isto fosse dito hoje 40 anos passados, nem uma vírgula seria necessário acrescentar.
Há hoje alguns novos interpretes de Fado, que ascenderam com rapidez fulgurante ao cume da popularidade... Porque será?
Carlos Conde: — A popularidade deve surgir naturalmente, por mérito próprio, e não por habilidades que todos nós conhecemos. A aura de verdadeiro artista deve conquistar-se pelo seu valor, pela sua arte, pelo seu talento e não por outros meios a que não é estranha uma certa forma de conluios (1) e propagandas fáceis que, por vezes à força da insistência, chegam a comprometer e até a enganar os que julgam que a subida ( 2 )não custa.
(1) Hoje são "lobbies"
(2) A séria e honesta sem sofismas, custa e muito.
O Fado é devedor a alguém da sua popularidade?
Carlos Conde:—O Fado não deve nada a ninguém; todos os autores e compositores; todos os tocadores e cantadores; todos os empresários e aficcionados é que devem ao Fado, o Fado é credor.
Como define o Fado de hoje?
Carlos Conde: — O Fado alcançou um lugar de dignidade,. Mudar-lhe o ritmo é deturpar-lhe o sentido. O Fado não pode sair do seu ambiente ainda que, por vezes, rodeado de cenários discutíveis e caricaturas exageradas.
O que é preciso acima de tudo, é que o Fado seja realmente Fado.
E os repertórios?
Carlos Conde — Antigamente cada artista tinha o seu repertório, nós os poetas a maioria das vezes já calculavamos para quem eram os poemas que faziamos. Hoje há bons poetas, mas pouco cantados, toda a gente canta a measma coisa que já tenha obtido êxito fosse por quem fosse.
E a música?
Carlos Conde — Tal com diz o Marceneiro, hoje toca-se muito bem, mas acompanha-se muito mal, há mais música, menos fado.
Já tenho perguntado a mim próprio, se depois de Marceneiro alguém mais criou algum fado tradicional/clássico, daqueles apanhados pelos guitarristas ao estilo que o fadista dava ao cantar, e que tenha vindo a ser um clássico, como são todos os dele... parece-me que não, e mesmo esses querem modernizá-los!
Acha que o fado está doente?
Carlos Conde —Os grandes admiradores estudiosos do Fado são unânimes em afirmar que o fado (o genuíno) está doente, que morre aos poucos.
Os modernos «fadistas» elevados à «alta categoria » de cançonetistas famosos, empertigados no seu «alto prestígio» de vedetas de nomeada, afirmam que eles é salvarão o Fado, que é a eles que se deve a sua projeccção internacional! A ver vamos no futuro.
JULIETA ESTELA
Julieta da Ascenção Estrela de Castro, nasceu em Lisboa em 1938, e viveu a sua infância no Bairro de Santa Catarina. Desde muito pequena mostra gosto pelo canto e em especial pelo Fado. Em 1955, com 16 anos venceu o concurso Rainha das Cantadeiras, ex-aequo com Florinda Maria, patrocinado pelo jornal "A Voz de Portugal". Em 1957 estreou-se profissionalmente num dos mais conceituados espaços fadistas de Lisboa, o Restaurante Típico o Luso, ao Bairro Alto. Início de um percurso que a levou a actuar em várias outras casas de fado, tanto em Lisboa como no Porto, . A Emissora Nacional a convida-a integrar os seus quadros artísticos, (1959 a 1968), tendo ainda participado em outros programas radiofónicos. Em 1958, grava os primeiros discos que alcançam êxitos, tanto em Portugal, como no estrangeiro, com temas como "Rainha do meu lar", "Ser fadista" ou "Sei lá, sei lá", etc. 1960 é cabeça de cartaz nos Casinos da Póvoa do Varzim e de Espinho Em 1967 é contratada para a inauguração do “Restaurante Típico A Guitarra da Madragoa” Em 1968 é convidada a actuar na Africa do Sul, para a comunidade de portugueses onde merece o agrado de todos. Nos anos setenta dedica-se mais à família e faz o interregno nas actuações, mas começa a interessar-se pelo estudo do Fado nas suas vertentes histórica e literária. Em 1994, conjuntamente com seu marido o investigador Dr. Luís de Castro, são os impulsionadores da criação da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, de que é actualmente presidente. Em 1998, a quando da fundação do Museu do Fado, em Lisboa, é convidada para consultora, faz também parte dos consultores para a candidatura do Fado a Património Cultural Intangível da UNESCO. Ainda no Museu do Fado dirige o gabinete de ensaios de fado, onde procura transmitir aos mais novos a sua experiência e conhecimentos. É proprietária do “Restaurante Típico FADO MAIOR” no bairro histórico de Alfama, onde actua todos os dias com outros fadistas seus convidados.
Julieta Estrela actuando no seu Restaurante "Fado Maior"
LISBOA PEQUENINA
Letra de: Francisco Radamanto
Música de Amadeu Ramin
Lisboa pequenina, ó meu amor
Lisboa popular sempre garrida
Tu és quem dá ao fado este sabor
Tão doce e tão amargo como a vida
Gosto de ti, Lisboa pequenina,
Porque és heróica, humilde e leveirinha
E tens a graça ingénua de menina
Que vai pousar num trono de rainha
Lisboa pequenina, ó minha amada
Dos bairros onde o povo sofre e ama
Da Mouraria antiga e destroçada,
Do Bairro Alto, e da velhinha Alfama
Foi contigo, Lisboa pequenina
Que aprendi a cantar esta canção
Este fado, que a vida só destina
A quem tem cá por dentro, um coração
Lisboa pequenina, o meu encanto,
Voz de guitarra maviosa e fina
Por ti eu peço a Deus, neste meu canto
Que te abençoe, Lisboa pequenina!....
TEATRO DE REVISTA
Foi em Paris pelos finais do séc. XVIII que começou a fazer furor um novo género de espectáculo chamado "revue de fin d’année", um conjunto de quadros desligados em que se misturava o canto, a dança e a declamação com a finalidade de passar "em revista" e criticar os acontecimentos mais marcantes de cada ano que findava.
A Portugal, a revista chegou a meio do séc. XIX, foi em Lisboa em 1850 a apresentação da primeira revista à portuguesa, e o público português logo a consagrou como o mais popular dos géneros teatrais, habituando-se pelos anos fora a rir ás gargalhadas, com os trocadilhos e a piscadela de olho dos seus cómicos, a admirar a alegre desenvoltura das suas vedetas, a trautear as cantigas lançadas dos seus palcos, e onde obviamente o Fado teve os seus momentos de glória.
Ao evocarmos Ivone Silva, que faz este ano 20 anos que nos deixou, fazemo-lo por mérito seu, mas homenageamos em simultâneo todos os que contribuíram para os sucessos do Teatro de Revista em Portugal
O Fado lembra Ivone Silva
Foi empregada e patroa
Foi p’rós copos com o Camilo
Vocês lembram-se daquilo
Vestia um vestido preto
E eu acho que comprometo
O fado o povo e os artistas
Ao recordar as revistas
Em que a revista foi sua
Em que a arte foi ciclone
A graça foi mais brejeira
À maneira da maneira
Da nossa querida Ivone
por: Carlos Escobar
IVONE SILVA
Maria Ivone Silva Nunes, nasceu em 1935 em Paio Mendes, perto de Ferreira do Zêzere, faleceu em Lisboa em 1987.
Estreou-se no ABC, em 1963 na “Revista Vamos à Festa” contratado pelo empresário José Miguel, o espectáculo agradou e, em Setembro, a mesma equipa produziu a “Revista Chapéu Alto”, já então Ivone aparecia como cabeça de cartaz.
O público, com o seu julgamento implacável, elevou Ivone Silva, passou a reinar sobre o Parque Mayer, deslocando-se apenas do ABC para o Maria Vitória e do Maria Vitória para o ABC, como quem reconhece os seus domínios, sem temer confronto. A sua carreira é segura, sem solavancos, sendo rara a revista em que não consegue uma boa actuação. E nunca fez menos de duas revistas por ano.
Com o seu sorriso aberto, os olhos saltitantes, mal Ivone entra em cena o público sabe logo que vai chegar o melhor momento. E ela, ou ri alegremente ou barafusta, gesticula, atravessa o palco de uma ponta a outra, falando com incrível rapidez. Tão bem caricatura a elegância afectada da Senhora de bem-fazer em (Lábios pintados, 1964), como a burguesa dona de casa, nas suas aflições diárias, em números do fôlego de (Diário de Uma Louca), (Sete Colinas, 1967) ou (Angústia para o jantar), (O Bombo da Festa, 1976).
Os pequenos cantores de Viana do Castelo em (Mini-saias, 1966) ficou como o tipo de rábula em que Ivone Silva consegue grande brilho. Talvez por isso os autores lhe escrevem, às vezes, textos demasiado pretensiosos, como A operário da fábrica das lâmpadas em (Pronto a despir, 1972) ou A Guerra Santa em (P´ra trás mija a burra, 1975), que em nada a beneficiam. Porque o que dá mesmo gozo é vê-la imitar Amália Rodrigues, recém-chegada da Rússia e só a pensar "no dela" (Ena, já fala, 1969), ou a “fellineana" Corista de outros tempos, cole ante e com uma patética reforma em (O Zé aperta o cinto, 1971).
No pós 25 de Abril, Ivone compôs, com imensa graça, a chique Madame Salreta, socialista de recente data em (O Bomba da Festa, 1976) e a inquieta alívio-alívio, empregada-patroa, posta ante o dilema terrível de se sanear a si própria em (P´ra trás mija a burra, 1975).
In Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos
Tristão da Silva, canta "Aquela Janela Virada p´ró Mar"
Manuel Martins Tristão da Silva era um alfacinha de gema, que nasceu na Penha de França, em 17 de Julho de 1927.
Em 1937 usava o nome artístico Manuel da Silva passando a ser apelidado de “Miúdo do Alto Pina” e aos 10 anos de idade é contratado pelo empresário José Miguel para actuar no Café Mondego, de que este é proprietário, mas devido a ser menor, a Inspecção de Espectáculos só lhe permite actuar aos Domingos às “matinée”.
Adopta finalmente o nome artístico de Tristão da Silva, tendo durante a sua carreira tido imensos êxitos. È raro o poeta que não deseja que ele interprete os seus poemas.
È frequentemente convidado para actuar fora do país, principalmente no Brasil, onde chega a ter um restaurante típico com cozinha portuguesa e com Fados, nunca esquecendo o colorido e o tipicismo da sua Lisboa, onde acabou por regressar.
O seu vasto repertório dividia-se entre o fado e a canção, mas Tristão da Silva, com o seu grande talento deliciava-nos com as suas interpretações, dando-lhe tal “garra” fazendo sobressair a sua alma fadista, tais como:
Somos Dois Loucos
A Calçada da Glória
Aquela Janela Virada p´ro Mar
Ai se os meus olhos falassem
Mulher Deixada. etc.
O seu passatempo preferido era jogar bilhar, sendo considerado um bom executante
Um infeliz acidente levou-o prematuramente.
Tristão da Silva deixa descendentes, até este momento julgo que só o seu filho Tristão da Silva Jr., que a par com outra profissão, tem seguido as pisadas do pai, cantando os seus maiores êxitos.
Tristão da Silva
Justamente consagrado
Todos sabem que o Tristão,
Tem sido grande no Fado
P´ra ser maior na canção!
Não pediu vez a ninguém
P´ra chegar onde chegou,
O prestigio que hoje tem
A seu tempo o conquistou!
O Tristão não é dos tais
Que julgam muito saber,
Por isso é que vale mais
Do que o julga valer!
Versos de: Carlos Conde
À PROCURA DO FADO
Letra de: Frederico de Brito
Lisboa de lado a lado
Corri de noite e de dia
Fui à procura do Fado
Que fugiu da Mouraria.
Bati às portas d'Alfama
Disseram-me com desgosto
Que se limpara da lama
E saiu todo bem posto.
Fui depois ao Bairro Alto
Onde o Fado era bemquisto
Pus o bairro em sobressalto
Mas ninguém o tinha visto.
Andei pela Madragoa
Sem lá o ter encontrado
Em suma: corri Lisboa
E não encontrei o Fado.
Confesso que não o vi
Nem pelas tascas vizinhas.
Se alguém o vir por ai
Dê-lhe lá saudades minhas.
Aqui está uma notícia que nos alegra a todos, amantes do Fado
Disco de massa de 78 rpm- Alfredo Marceneiro canta "Cabelo Branco" 1936
Estado garante a compra da colecção de discos de música portuguesa na posse de Bruce Bastin
Lisboa, 13 Jun (Lusa) - A colecção dos discos de música portuguesa na posse do britânico Bruce Bastin vai ser adquirida por Portugal, garantiu hoje à agência Lusa o secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho.
"Dentro de uma semana, poderemos acertar a minuta do contrato da compra, no valor de 1,1 milhões de euros", disse o governante.
O Ministério da Cultura e a Câmara de Lisboa "aceitaram reforçar em 100.000 euros cada um, a sua participação, de modo a cobrir o valor pedido por Bruce Bastin", disse Vieira de Carvalho.
O ministério, a quem caberá a guarda e tratamento do espólio, participará com 400 mil euros, tal como a Câmara de Lisboa, e os restantes 300 mil euros são assegurados por um mecenas, cuja identidade não foi revelada, sabendo-se tratar de uma entidade bancária.
Mário Vieira de Carvalho fez hoje este anúncio, depois de ter recebido uma carta da Câmara de Lisboa confirmando que garantia o reforço de 100 mil euros.
O então vereador da Cultura, José Amaral Lopes, tinha já afirmado à Lusa a disponibilidade da edilidade em "avançar com mais 100 mil euros, para Portugal não perder o espólio".
"A colecção irá integrar o futuro Museu da Música e do Som, onde há pessoal técnico para o tratamento específico deste material", disse Vieira de Carvalho.
Contactado pela agência Lusa, o advogado José Alberto Sardinha, representante legal de Bruce Bastin, confirmou ter sido já contactado no sentido "de se redigir minuta da versão final do contrato de compra".
O estudo deste espólio, maioritariamente constituído por discos de fado, é considerado essencial por vários investigadores.
Para o musicólogo Rui Vieira Nery, a aquisição deste espólio "é essencial para um melhor conhecimento da história fadista, nomeadamente nos primórdios da gravação fonográfica".
A colecção inclui registos fonográficos efectuados entre 1904 e 1945 pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, estando, na sua maioria, dados como perdidos.
Entre as vozes de referência, estão gravadas as de Júlia Florista, Maria Vitória e Reinaldo Ferreira.
Bastin tinha na sua posse cinco mil registos fonográficos de música portuguesa, entre baladas, folclore, canção ligeira e fado, a que se juntam outros três mil encontrados no Brasil e adquiridos pelo coleccionador.
Entre os cerca de oito mil discos encontram-se algumas das primeiras gravações de artistas nacionais como José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira ou Delfina Victor.
O espólio encontra-se em "muito boas condições", afiançou à Lusa o investigador José Moças, que o descobriu e propôs a sua aquisição por Portugal.
"Estas são - realçou - as primeiras gravações de fado de sempre, que nos irão dar, certamente, uma outra perspectiva da história desta canção popular urbana".
Além dos fados, são, na avaliação de Moças, "igualmente importantes do ponto de vista musical e etnográfico registos mais tardios de Maria Alice, Manasses de Lacerda, Avelino Baptista, Estêvão Amarante, Madalena de Melo, Maria Emília Ferreira, Júlia Florista e Maria do Carmo Torres, bem como dos mais conhecidos Ercília Costa, Berta Cardoso, António Menano, Edmundo de Bettencourt, Armandinho e o popular Alfredo Marceneiro".
NL.
Lusa/Fim
Vieira Nery, Mariza, Sara Pereira e Amigos do Fado aplaudem compra da colecção de discos de música portuguesa
Lisboa, 13 Jun (Lusa) - O musicólogo Rui Vieira Nery afirmou à Lusa que a compra dos discos de música portuguesa, na posse de Bruce Bastin, anunciada hoje pelo secretário de Estado da Cultura, é "algo pelo qual todos nos congratulamos".
"Ninguém compreendia esta não concretização ou o ter sido repetidamente adiada pelo Ministério da Cultura esta decisão", disse Nery.
"Fico muito feliz pois esta compra permite o enriquecimento do espólio fonográfico português", acrescentou.
Sara Pereira, gestora do Museu do Fado, disse que esta era "uma decisão esperada, no sentido em que se tem trabalhado para a sua concretização".
A gestora do Museu, no bairro lisboeta de Alfama, afirmou que o estudo da colecção "é fundamental para um melhor conhecimento da historiografia do fado".
"Muitos nomes desconhecidos vão ser agora divulgados e, apesar de mais de metade da colecção ser fado, é um enriquecimento também para a música portuguesa em geral", afirmou.
Efusiva, Mariza, embaixadora da candidatura do fado a património imaterial da humanidade pela UNESCO, afirmou à Lusa ser esta "uma notícia genial".
"Para mim, que tanto me bati pela vinda desta colecção para Portugal, é um sonho tornado realidade", afirmou.
A fadista afirmou que "esta colecção coloca tudo em aberto quanto às origens do fado e vem beneficiar-nos a todos, pois ficamos a conhecer melhor como se cantava, tocava, etc".
"Eu que pergunto sempre aos mais velhos como era e procuro aprender, estou muito curiosa em saber o que nos reserva a colecção. Resta agora saber quando a vamos poder ver e estudar", disse a criadora de "Ó gente da minha terra".
A presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), Julieta Estrela, membro do conselho consultivo do Museu do Fado, afirmou-se satisfeita "por terem chegado a bom porto as negociações".
Para Julieta Estrela, "é essencial agora garantir a sua preservação, digitalização, para que não se perca, e permitir um acesso efectivo dos investigadores de modo a tirar proveito do que nos poderão revelar essas gravações".
Numa altura em que se prepara a candidatura do fado a patrinmónio imaterial da humanidade, a presidente da APAF afirmou que "a colecção pode dar uma achega essencial".
Julieta Estrela afirmou-se curiosa em conhecer algumas vozes de que só havia memória literária, como o caso de Maria Vitória ou Júlia Florista, bem como a forma como se interpretava e acompanhava instrumentalmente o fado.
"Para os fados tradicionais e mais antigos, casos do Corrido, Mouraria e Menor, poderá haver surpresas", rematou.
O estudioso de fado Vítor Duarte Marceneiro, actualmente empenhado na concretização de uma base de dados de canções sobre Lisboa, é perentório em afirmar que "o estudo desta colecção vai trazer surpresas".
O estudo de uma coelcção que faz todo o sentido vir, finalmente, para Portugal pode "demonstrar outras formas de interpretação e a revelação de nomes de que nem temos memória".
Neto de Alfredo Marceneiro, o investigador considera que o repertório do seu avô está amplamente conhecido e divulgado, "não sendo de crer que haja novidades", mas "haverá certamente de outros nomes, nomeadamente de Maria Alice".
A colecção inclui registos fonográficos efectuados entre 1904 e 1945 pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, estando, na sua maioria, dados como perdidos.
Entre as vozes de referência, estão gravadas as de Júlia Florista, Maria Vitória e Reinaldo Ferreira.
Bastin tinha na sua posse cinco mil registos fonográficos de música portuguesa, entre baladas, folclore, canção ligeira e fado, a que se juntam outros três mil encontrados no Brasil e adquiridos pelo coleccionador.
Entre os cerca de oito mil discos encontram-se algumas das primeiras gravações de artistas nacionais como José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira ou Delfina Victor.
O espólio encontra-se em "muito boas condições", disse à Lusa Sara Pereira que teve já possibilidade de o examinar e acompanhou as negociações.
NL.
Lusa/Fim
1º Alfama
2º Marvila
3º Campolide
4º Castelo e Mouraria
5º Alcântara
6º Lumiar
7º Bica
8º São Vicente
9º Madragoa
10º Olivais, Bairro Alto
11º Alto do Pina
12º Graça
13º Carnide
14º Bela Flor
15º Santa Engrácia
16º Beato
17º Ajuda
18º Benfica
Amostra dos trajes dos Padrinhos das Marchas
Nota: Este artigo já tinha sido publicado em 25 de Março, mas achei importante repetir nesta data
Maria Teresa de Noronha canta "Avé Maria Jesus"
Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Serôdio (Paraty), tratada carinhosamente por (Baté) pelos íntimos, (1918 – 1993).
Nasceu em Lisboa, onde passa a sua infância, vindo a tornar-se Condessa de Sabrosa pelo seu casamento com o Conde José António Barbosa de Guimarães Serôdio, grande admirador do Fado, e guitarrista com uma sensibilidade fora do comum.
Com voz bem timbrada, e decidida aptidão para interpretar o Fado, desde muito cedo cantava nas festas de família e de amigos. Com a sua visita aos retiros de Fado passa a tornar-se conhecida a sua expressão artística, e a ganhar muitos admiradores autênticos, entre os conhecedores do Fado.
Grava o seu o seu primeiro “single” com o título de "O Fado dos Cinco Estilos" em 1939.
A Emissora Nacional, em 1938, convida Maria Teresa de Noronha, que acompanhada pelo guitarrista Fernando Freitas e pelo violista Abel Negrão, foi apresentada aos radiouvintes pelo locutor D. João da Câmara, sendo tal o êxito que foi convidada para um programa semanal de Fados e Guitarradas, que esteve no ar vinte e três anos.
Fados como “Fado da Verdade”, “Fado Hilário” e “Fado Anadia” e outros mais foram êxitos que muito agradaram ao grande público, assim como outros fados do seu repertório: Nosso Fado, Os Teus Olhos, Fado Menor e Maior, Minhas Penas, Choro Cantando, Fado Rita, Gosto de TI Quando Mentes, Minha Cruz, Fado Antigo, Mentira, Mouraria Antiga, O Vento, Fado Pinóia, Pintadinho, Pombalinho, Fado Hilário, Quatro Versos, Fado Alexandrino, Desengano, Sou Feliz, Canção Duma Tricana, Rosa Enjeitada, Minha Dor, Mouraria, Sina, Cantigas de Amor-Saudade e Mataram a Mouraria, Loucura em Loucura, etc.
Abandona a Emissora Nacional mas não deixa de cantar, continuando a fazê-lo em privado.
De entre as suas actuações no estrangeiro, destaca-se em 1946 a sua deslocação a Espanha, por ocasião do Festival da Feira do Livro de Barcelona, e ainda Madrid, a convite do Governo espanhol, para actuar no Hotel Ritz, onde teve um êxito estrondoso.
Ainda em 1946 vai ao Brasil e é igualmente muito apreciada.
Actuou no Principado de Mónaco para Grace e Rainier.
Em 1964 desloca-se a Londres para actuar na BBC.
A sua dicção perfeita, a sua maneira de se expressar, tornou-a criadora de um estilo muito próprio, que fez escola.
Um dos seus poetas preferidos foi D. António de Bragança, autor do Fado da Verdade, Saudade das Saudades, Folhas Caídas e o Fado das Horas, cuja letra é a seguinte:
Chorava por te não ver...
Por te ver eu choro agora,
Mas choro só por querer,
Querer ver-te a toda a hora!
Deixa-te estar a meu lado
E não mais te vás embora
P´ra o meu coração, coitado,
Viver na vida uma hora!
Passa o tempo de corrida;
Quando falas eu te escuto.
Nas horas da nossa vida
Cada hora é um minuto!
Quando estás ao pé de mim
Sinto-me dona do Mundo,
Mas o tempo é tão ruim...
Tem cada hora um segundo!
Com Alfredo Marceneiro, o marido D. António Saborosa, Lucilia do Carmo e Alfredo de Almeida, na "Adega da Lucília" - "O FAIA".
CARLOS ZEL, Carlos Frazão, nasceu na Parede, a 29 de Setembro de 1950. Seu pai António Frazão, marceneiro de profissão era um apaixonado do fado, cantava como amador e editou um livro de poemas "O Poeta e Eu". Teve ainda um irmão ligado ao Fado, o saudoso Alcino Frazão, que foi um exímio guitarrista, que infelizmente nos deixou ainda muito jovem.
Carlos Zel, começou a cantar no Estoril e Cascais como amador
Iniciou a sua carreira profissional em 1967, cantando na Emissora Nacional, altura que adopta o nome artístico de Carlos Zel.
Fez teatro de revista e musical - "Aldeia da Roupa Suja" (1978), "A Severa" (1990) e "Ai Quem Me Acode" (1994) -,
Na televisão chegou a participar na telenovela "Cinzas", como actor.
Deixou-nos cerca de uma dezena de produções discográficas
Em 1993, recebe o Prémio Prestígio, atribuído pela Casa de Imprensa, em 1997 a mesma entidade concedeu-lhe o Prémio José Neves de Sousa.
Foi ainda condecorado com a Medalha de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa, e ainda a Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Cascais.
Em mais de 30 anos de carreira, fez vários espectáculos em Portugal e no Estrangeiro, cantou em casas de fado, e no fim da sua vida foi o impulsionador das “Quartas de Fado no Casino Estoril”
Faleceu repentinamente em Fevereiro de 2002.
Cascais deu o seu nome a uma rua do Concelho.
AMAR OUTRA VEZ Repertório de Carlos Zel Letra de: Rosa Lobato faria Música de: Fernando Correia Martins Eu já te amei no Rossio Na pomba que esvoaçou Aceitei o desafio De te amar onde não estou Eu já te amei à partida Numa pedrinha do cais Se te amei na despedida Ao voltar trago-te a vida Vou amar-te ainda mais Amar uma mulher quando há luar Rasgar as rendas à claridade Amar uma mulher ao pé do mar Romper a espuma da tempestade Amar uma mulher se a chuva cai Descer o rio, morrer à toa É ter a lua É ter o mar É ter a chuva É ter canoa É ter uma mulher que faz lembrar Lisboa Eu já te amei na viela Eu já te amei no jardim Não sei que sombra era aquela Que deitou luto por mim Eu já te amei à noitinha Quando o carmim se desfez Quando ficaste sozinha Mandei aquela andorinha E fui amar-te outra vez
LISBOA ANTIGA
Letra: Amadeu do Vale/José Galhardo
Música: Raul Portela
Lisboa velha cidade
Cheia de encanto e beleza
Sempre formosa a sorrir
E ao vestir sempre airosa
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa
ESTRIBILHO
Olhai, senhores,
Esta Lisboa doutras eras
Dos cinco réis das esperas
E das toiradas reais
Das festas
Das seculares procissões
Dos populares pregões matinais
Que já não voltam mais.
Lisboa d'oiro e de prata
Outra mais linda não vejo
Eternamente a brincar
E a cantar de contente
O teu semblante se retrata
No azul cristalino do Tejo
O Chora - Quadro a Óleo do Mestre Real Bordalo
Um dos primeiros transportes colectivos de Lisboa, da Empresa Eduardo Jorge, o veiculo era puxado por duas mulas e era conhecido pela populaça como " O Chora".
BRAGA, João de Oliveira e Costa, cantor e autor de melodias, nasceu na Rua da Creche, no bairro lisboeta de Alcântara, a 15 de Abril de 1945. Estreou-se em público, aos nove anos, como solista do coro do Colégio S. João de Brito. Em
O ano de 1967 marcou o começo da sua carreira musical, com a saída, em Janeiro, do seu 1º disco, "É Tão Bom Cantar o Fado" (título tirado daquela letra de Carlos Conde), editado pela Aquila, que lançou nesse ano mais 3 EP, ("Tive um Barco", "Sete Esperanças, Sete dias", "Jardim Abandonado") e 1 LP , "A Minha Cor", o que lhe valeu actuar, pela primeira vez, num programa da RTP ("Alerta Está!"). Em 1969 ficou definitivamente conhecido do grande público, por via dos serões televisivos do Villaret (Zip-Zip). Um ano antes conhecera Luís Villas-Boas, que viria a tornar-se seu produtor (gravou mais 7 discos com ele, para a Philips) e com quem organizaria o 1º Festival Internacional de Jazz de Cascais (1971). No ano seguinte, participou no Festival da Canção e fundou a revista Musicalíssimo (onde foi editor) e lá permaneceu até 1974, altura em que foi emitido um mandato de captura em seu nome, forçando-o a ir para Madrid até Fevereiro de 1976.
Quando voltou do exílio, abriu a casa de fados O Montinho, em Montechoro, que esteve em actividade apenas durante um Verão. A abertura do Páteo das Cantigas (1978-1982) marcou o seu regresso a Lisboa. Entre 1977 e 1987 gravou mais sete álbuns: 2 para a Orfeu ("Canção Futura", 1977, "Miserere", 1978), um para a Valentim de Carvalho ("Arraial", 1980), 3 para a Sassetti ("Na Paz do Teu Amor", 1982, "Do João Braga Para a Amália", 1984, "Portugal/Mensagem, de Pessoa", 1985) e um para a Silopor ("O Pão e a Alma", 1987).
Após o encerramento daquela casa de fados, centrou a sua actividade nos concertos e na composição musical, tendo, a partir dos anos 90, dado início à renovação do panorama fadista através de convites a jovens intérpretes para integrarem os seus concertos: Maria Ana Bobone, Rodrigo Costa Félix, Miguel Capucho, Mafalda Arnauth, Ana Sofia Varela, Mariza, Cristina Branco, Katia Guerreiro, Nuno Guerreiro e Filipa Pais, Gonçalo Salgueiro, Joana Amendoeira, Ana Moura, António Zambujo, Diamantina, Lina Rodrigues, Raquel Peters e, mais recentemente, Pedro Silva Miguel e Alexandra Guimarães.
Em 1984 surgiu pela 1ª vez como autor de melodias, "O Menino da Sua Mãe" e "Prece" (Pessoa), "Ai, Amália" (Luísa Salazar de Sousa) e "Ciganos" (Pedro Homem de Mello), num álbum a que chamou "Do João Braga para a Amália" -- em homenagem à grande diva do Fado. Desde então já assinou mais de 50 temas de grandes poetas. Em 1990 gravou o seu 1º CD ("Terra de Fados", Edisom, vendas superiores a 30.ooo cópias), onde incluiu inéditos de Manuel Alegre, que pela primeira vez escreveu expressamente para um cantor. Mais um CD para a Edisom ("Cantigas de Mar e Mágoa", 1991), um para a Strauss ("Em Nome do Fado", 1994), outro para a BMG ("Fado Fado", 1997), um para o BNC ("Dez Anos Depois", 2001), outro para A Capital ("Fados Capitais", 2002) e três para a Farol ("Cem Anos de Fado" vol. 1, 1999, vol. 2, 2001, e "Cantar ao Fado", 2000, — considerado por Braga como o melhor da sua carreira, com poemas de Pessoa, O'Neill, Torga, Mourão-Ferreira e Alegre, entre outros).
Foram assim já editadas para cima de 50 gravações suas (28 originais e mais de 20 compilações), concebeu e/ou protagonizou cerca de 250 programas televisivos e radiofónicos, tendo escrito até à data um número muito próximo de 300 crónicas e um livro, posto no mercado em Novembro de 2006, pela Esfera dos Livros, sob o título, “Ai Este Meu Coração”..
Desde os tempos da Musicalíssimo, desenvolveu actividade na imprensa escrita (como editor, redactor e cronista: Eles & Elas, Sucesso, Independente, DN, Euronotícias, A Capital), na rádio (TSF e Antena 1) e na televisão (RTP, SIC e TVI). Desde 1970 actuou em muitos países da Europa, África, América do Norte e do Sul e foi distinguido, entre outros, com os seguintes prémios: Medalha de Mérito Cultural do Governo Português (1990, o único cantor de fado, até à data, assim galardoado), Prémio Neves de Sousa, atribuído pela Casa da Imprensa (1995), Medalha da Cruz Vermelha de Mérito (1996), Prémio de Carreira, da Casa da Imprensa (1999) e com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, entregue pelo então chefe do estado, em Fevereiro de 2006.
Além do fado, interpreta um repertório diversificado, incluindo música francesa, brasileira e anglo-saxónica. O seu emocionado estilo interpretativo é caracterizado por um timbre bem pessoal, pela primazia do texto (que divide com eficácia — teve bons mestres, como Alfredo Marceneiro) e por uma abordagem melódica imaginativa, sempre actualizada e de constante improviso (muito "estilada", em jargão fadista).
(Biografia resumida pelo próprio)
Fado de Lisboa
Repertório de João Braga
poema: Manuel Alegre
música: João Braga
Tem navios nas vogais
Gaivotas nas consoantes.
Em cada sílaba um cais
Para o mar de nunca dantes.
Lisboa tem brancas velas
Suas letras são sinais
Caravelas, caravelas;
Que não voltam nunca mais.
Cais de partida e chegada
Cheira a sul e oriente.
Esta é Lisboa prezada
De tão desvairada gente.
Com Fernão Lopes, foi prosa;
Com Cesário, alexandrino;
Rua a rua, rosa a rosa,
Lisboa é fado e destino.