Os "quatro Marceneiros" pela primeira vez juntos
no CD "Geração Marceneiro"
Lisboa, 22 Julho (Lusa) - O CD "Geração Marceneiro", a editar esta semana, reúne pela primeira vez os "quatro Marceneiros", o patriarca Alfredo, os seus dois filhos e o neto, recuperando para o digital alguns inéditos.
Além de Alfredo Marceneiro, o álbum, editado pela Ovação, inclui os seus dois filhos - Alfredo e Carlos - e o neto, Vítor Duarte, "sendo a primeira vez que surgem numa edição discográfica todos os quatro Marceneiros", disse à Lusa fonte da editora discográfica.
"Preenche-se assim uma lacuna ao incluir os dois irmãos - Carlos Duarte e Alfredo Duarte Júnior - pois quando pela primeira vez o conceito geracional tomou forma de disco, em 1973, já Carlos Duarte tinha falecido", esclareceu a mesma fonte.
Carlos Duarte cantou em várias casas de fado de Lisboa mas preferiu sempre manter o estatuto de amador, tendo falecido em 1966.
De Carlos Duarte são recuperados para CD "Vestido azul" (Henrique Rêgo/Alfredo Marceneiro) e "A casa da Mariquinhas" (Silva Tavares/A. Marceneiro) "gravados por alturas de 1964", segundo a editora.
Carlos Duarte é acompanhado por Armandinho (filho) à guitarra portuguesa e à viola por José Inácio, sendo o único que canta dois fados dada a escassez de registos disponíveis.
O outro irmão, que ficou conhecido como "fadista bailarino", Alfredo Duarte Júnior, canta "Três gerações" (João Alberto/A. Marceneiro), "Restos da Mouraria" (Carlos Conde/Martinho d'Assunção) e "Fados do meu pai" que é uma súmula de vários fados que foram êxito na voz do patriarca, Alfredo Marceneiro.
Alfredo Duarte Jr. é acompanhado à guitarra por Francisco Carvalhinho, João Alberto e Luís Ribeiro e à viola por Orlando Silva, Amadeu Ramin e José Maria Nóbrega. O fadista faleceu em Lisboa em 1999.
Em 1991 cantou com o seu filho Vítor Duarte Marceneiro na RTP por ocasião do centenário do nascimento de Alfredo Marceneiro, interpretação agora recuperada pela primeira vez para CD.
Trata-se do fado "A Lucinda Camareira" (H. Rêgo/A. Marceneiro), mas o CD regista também o seu dueto com o pai no fado "Ser fadista" (Armando Neves/A. Marceneiro), outro inédito, gravado em 1970, que o CD traz a lume.
Inédita é também a gravação de 1973 de Vítor Duarte Marceneiro com o seu avô interpretando "O Camponês e o Pescador" (H. Rêgo/A. Marceneiro) que abre o CD.
De Alfredo encontramos três registos, nomeadamente "Conceito", um fado assinado pelo próprio e com letra de Carlos Conde, "Foi na velha Mouraria", também de Marceneiro com letra de Fernando Teles, e "Cabelo branco" de uma "dupla" recorrente, Henrique Rêgo e Marceneiro.
Todos estes fados foram gravados em 1980, sendo o fadista acompanhado por Francisco Carvalhinho, Ilídio Santos e António Bessa (guitarra portuguesa) e José Maria Nóbrega, Orlando Silva e Fernando Reis (viola).
Os três registos de Vítor Duarte Marceneiro, 62 anos, resultam da recuperação de actuações suas ao vivo, um ambiente onde, segundo afirmou à Lusa, se sente "melhor".
"Bairros de Lisboa" (C. Conde/A. Marceneiro) foi gravado numa actuação na TVI, "Louco" (H. Rêgo/A. Marceneiro) num programa na RTP e "Fado Balada" (S. Tavares/A. Marceneiro) numa actuação no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
"É tudo herança do meu avô, daí não ter um repertório próprio", disse à Lusa o fadista, que projecta editar "talvez ainda este ano" um álbum seu.
Falecido há 25 anos, a longa carreira de Alfredo Marceneiro abrangeu praticamente todo o século XX, tendo-se distinguido como estilista [forma de variar dentro da mesma linha melódica] e compositor.
Alfredo Marceneiro cantou dos bailes de bairro aos cafés de camareiras e retiros até às casas de fado. Deixou numerosos discos, de que se destaca "The Fabulous Marceneiro", mas escassos registos televisivos.
NL.
Lusa/Fim
Créditos
Produtora: Ovação
Produção: Vítor Duarte Marceneiro
Textos: Vítor Duarte Marceneiro
Capa: Vítor Duarte Marceneiro e Pedro Matias
Maquetização: Pedro Matias
Geração Marceneiro - Três Gerações de Fado
“Marceneiro é a expressão de uma longa geração que para o Fado nasceu.”
(João Alberto)
Alfredo Marceneiro (1891-1982) nome incontornável do Fado que nos deixou um importante legado artístico e vivencial, perpetua também o seu “apelido” através dos seus descendentes directos que lhe seguem as pisadas e actualizam o estilo. Se cada um dos que com ele aprenderam a amar e a viver o fado, cante de forma diferente, o sentimento e a garra está-lhes na alma! A essência fadista que herdaram do progenitor.
Três gerações na mesma arte é inédito em Portugal e, segundo cremos, em todo o mundo.
A Alfredo Marceneiro mestre na arte de bem dizer e dividir o verso sucedem-lhe os filhos Carlos Duarte e Alfredo Duarte Júnior, e seu neto Vítor Duarte.
Carlos Duarte (1921-1966), cantou o Fado apenas como amador, situação que fazia questão de acentuar. Era frequentador assíduo dos retiros de fado amador onde era muito considerado, sendo unânime a opinião de todos quantos o escutavam, que era um grande intérprete do Fado.
Infelizmente deixou-nos prematuramente devido a um acidente, mas foi possível conseguir recolher alguns registos da sua forma de cantar. Podemos neste CD ouvir e apreciar o seu tom bem característico, mas carregado de “Marceneiro”.
Alfredo Duarte Júnior (1924-1999) desde muito jovem, embora contra a vontade do pai, quis seguir a carreira de “cantador de fados”, o que acabou por conseguir a carteira profissional aos 18 anos, teve sempre a preocupação de não renegar as origens, criou um estilo próprio, imprimindo às suas interpretações uma coreografia que o levou a ser apelidado de “fadista bailarino”.
Todavia o seu fado é também todo ele carregado de “Marceneiro”
Vítor Duarte, filho de Alfredo Duarte Júnior, começou a cantar como amador, tal como seu tio, no Galito e no Arreda em Cascais.
Cantou em dueto tanto com o pai e como o avô e com ambos gravou. Vítor Duarte Marceneiro tem editado alguns discos, insistindo sempre na sua condição de amador. Também quando canta não enjeita o estilo que lhe está impresso nos genes, e o seu fado é também carregado de “Marceneiro”.
Sendo o que afirma, parafraseando Camões, “amador de cousa amada” tal o seu empenho e amor à causa fadista que além do canto o levou a abraçar com igual dedicação e empenho, a investigação histórica.
É autor da primeira e única biografia de Marceneiro, “Recordar Alfredo Marceneiro” e ainda da monografia “Alfredo Marceneiro – os Fados que ele cantou”. O seu interesse pelas histórias fadista levou-o a escrever aquela que é, até ao momento, a única biografia de Hermínia Silva.
Na sua área profissional, o audiovisual, produziu em 1979 o programa televisivo para a RTP “Alfredo Marceneiro – 3 Gerações de Fado”, exibido em 14 de Janeiro de 1980.
O futuro nos dirá se nas gerações seguintes se manifestarão também os genes e um outro descendente dê continuidade a esta prática fadista já que o legado Alfredo Rodrigo Duarte, para todos “o Marceneiro”, é perpétuo.
A EGEAC EM e a Ovação, juntaram sinergias para a apresentação do DVD — Alfredo Marceneiro: 3 Gerações de Fado — , no dia 31 de Julho de 2007, no auditório do Museu do Fado.
Usaram da palavra a anfitriã Drª Sara Pereira - Directora do Museu do Fado, Fernando Matias - Administrador da Etiqueta Ovação, Daniel Gouveia, Investigador e Consultor do Museu do Fado e Vítor Duarte Marceneiro.
Após a apresentação cantaram fados de Marceneiro, Lenita Gentil e Vítor Duarte Marceneiro, acompanhados à guitarra por Luís Ribeiro. viola de Jaime Martins e viola-baixo pelo Prof. Joel Pina
Foto da Capa do DVD e do Livro Biográfico incluído,
e contra-capa do mesmo
Créditos: Realização de Luis Gaspar: (1979)
Produção e Coordenação: Vítor Duarte (1979)
Registo magnético e misturas: Vítor Duarte (1979)
Produção e remontagem: Vítor Duarte (2007)
Video Clipe Extra; Realização: Vítor Duarte (2007)
Textos de: Vítor Duarte (2007)
Maquetização e Capa: Pedro Matias (Ovação 2007)
Coordenação Geral: Fernando Matias (Ovação 2007)
Primeiro DVD de Alfredo Marceneiro editado 25 anos após a sua morte
Lisboa, 15 Julho de 2007 (Lusa)
O primeiro DVD de Alfredo Marceneiro, falecido há 25 anos, "Três gerações de fado", surge esta semana no mercado, e recupera um documentário televisivo de 1980, realizado por Luís Gaspar.
Ao longo do DVD que inclui como extra o videoclip "O lenço" (Henrique Rêgo/Alfredo Marceneiro), o fadista fala da sua história na primeira pessoa, recorda os primeiros tempos, nomeadamente como o apelido "Marceneiro" se lhe colou ao nome.
Alfredo Rodrigo Duarte de baptismo acabaria por ser Alfredo Marceneiro em virtude da profissão, o nome artístico ficou consagrado numa tarde de fados na Esplanada do Rato, em Lisboa, que do cartaz faziam parte, entre outros, Alfredo Pinto e Alfredo Correeiro.
O DVD inclui a participação do seu filho, Alfredo Duarte Júnior que ficou conhecido como "o fadista bailarino", falecido em 1999, e do seu neto Vítor Duarte Marceneiro, que aliás assina a produção televisiva.
Alfredo Duarte Júnior interpreta "É loucura ser fadista" (Júlio de Sousa) e o neto interpreta com o avô "Amor é água que corre" (Augusto de Sousa/A. Marceneiro).
"Esta era uma das coroas de glória do meu avô e deu-me um grande gosto e até emoção ter interpretado isso com ele", recordou à Lusa Vítor Duarte Marceneiro que editou em 1995 uma biografia de Alfredo Marceneiro.
O DVD decorre em ambiente de tertúlia com Alfredo Marceneiro que foi apelidado pela imprensa como "o patriarca do fado", lembra que foi "o primeiro a cantar a meia-luz" e consciente que está a fazer um documentário para a posteridade corrige "gajos" por "fulanos".
Entre "Há festa na Mouraria" (António Amargo/A. Marceneiro) e "Cabelo branco" (H. Rêgo/A. Marceneiro),"Ti'Alfredo" como era tratado carinhosamente pelos fadistas recorda as suas participações nas cegadas e salienta a importância de bem dizer as palavras e respeitar a pontuação.
Quanto à forma de cantar, Marceneiro atesta que "cada qual canta à sua maneira" e nisso é que está "a evidência" do fadista.
Alfredo Marceneiro revela também as suas raízes musicais, o avô materno, fadista e tocador no Cadaval (Concelho do Distrito de Lisboa) e o pai "tocador de trombone ou contrabaixo".
O DVD é acompanhado de um mini-livro onde se referencia a biografia de Alfredo Marceneiro, os estilos que criou, as diferentes edições de discográficas, com destaque para o LP "The fabulous Marceneiro", e sintetiza-se o historial das "três gerações dedo fado" que aliás intitula o DVD.
Outros temas que Alfredo Marceneiro interpreta neste DVD são "Eterno bailado" e "Antes que queira não posso", ambos de H. Rêgo e A. Marceneiro, "O Marceneiro" de Armando Neves e Casimiro de Brito, "A minha freguesia" também de Armando Neves e Marceneiro e, de Silva Tavares e Marceneiro, os fados "A casa da Mariquinhas" e "Fado balada".
NL.
O Alfredo Marceneiro mestre na arte de bem dizer e dividir o verso sucede os filhos Carlos Duarte e Alfredo Duarte Júnior, e seu neto Vítor Duarte.
Carlos Duarte (1921-1966), cantou o Fado apenas como amador, situação que fazia questão de acentuar. Era frequentador assíduo dos retiros de fado amador onde era muito considerado, sendo unânime a opinião de todos quantos o escutavam, que era um grande intérprete do Fado.
Infelizmente deixou-nos prematuramente devido a um acidente, não fazendo parte deste programa por esse facto.
Alfredo Duarte Júnior (1924-1999) desde muito jovem, embora contra a vontade do pai, quis seguir a carreira de “cantador de fados” embora tendo tido sempre a preocupação de não renegar as origens, criou um estilo próprio, imprimindo às suas interpretações uma coreografia que levou a ser apelidado de “fadista bailarino”.
Vítor Duarte, filho de Alfredo Duarte Jr,, começou a cantar como amador, no Galito e no Arreda em Cascais.
Cantou em dueto tanto com o pai e como o avô e com ambos gravou. Vítor Duarte Marceneiro tem editado alguns discos, insistindo sempre na sua condição de amador. Também quando canta não enjeita o estilo que lhe está impresso nos genes, e o seu fado é carregado de “Marceneiro”.
Sendo o que afirma, parafraseando Camões, afirma-se “amador de cousa amada” tal o seu empenho e amor à causa fadista que além do canto o levou a abraçar com igual dedicação e empenho a investigação histórica.
É autor da primeira e única biografia de Marceneiro, “Recordar Alfredo Marceneiro” e ainda da monografia “Alfredo Marceneiro – os Fados que ele cantou”. O seu interesse pelas histórias fadista levou-o a escrever aquela que é, até ao momento, a única biografia de Hermínia Silva.
Na sua área profissional, o audiovisual, produziu este programa televisivo “Alfredo Marceneiro – 3 Gerações de Fado”, exibido em 14 de Janeiro de 1980.
O futuro nos dirá se nas gerações seguintes se manifestarão também os genes e um outro descendente dê continuidade a esta prática fadista já que o legado Alfredo Rodrigo Duarte, para todos “o Marceneiro”, é perpétuo.
23 de JULHO há 87 anos
Nascia
AMÁLIA RODRIGUES
É SEMPRE TRISTONHA E INGRATA
QUE SE TORNA A DESPEDIDA
DE QUEM TEMOS AMIZADE
MAS SE A SAUDADE NOS MATA
EU QUERO TER MUITA VIDA
PARA MORRER DE SAUDADES
As flores que tanto adorava
Obrigado Amália por tudo o que nos deste
Geração de Marceneiro
A NOSSA AMALIA E O POVO
A nossa Amália morreu
Nosso Povo estremeceu
Com tanto calor e frio
No céu entrou uma Fada
E uma canção magoada
Povo que Lavas no rio.
As avenidas e estradas
E as pedras das calçadas
Ficaram todas unidas
Os rapazinhos choraram
As andorinhas voltaram
Sempre de luto vestidas.
Os carpinteiros a correr
Foram todos para fazer
As tábuas do seu caixão
Os Anjinhos se juntaram
Os Santinhos se prostraram
Até Deus pediu perdão.
Desde a Rua de São Bento
Povo Unido, num lamento
Choravam lágrimas e prantos
Peregrinos de sandálias
Consagraram nossa Amália
E os Poetas eram tantos.
A Cidade de Lisboa
Desde Alfama à Madragoa
Desde a Estrela ao Rossio
Varinas de sete saias
Vê lá meu Povo não caias
Povo que Lavas no rio.
Poema de: Manuel Luis Caeiro de Pavia
Fernanda Batista canta: Fado das Sombras
FERNANDA BATISTA
Fernanda Baptista nasceu em 1920. Já aos dez anos de idade, a sua paixão pelo teatro era bem visível, a jovem Fernanda adorava mascarar-se e entrava já em peças infantis.
Tem a profissão de modista, que abandona, para se dedicar ao Fado.
Estreou no Café Luso, pela mão de Filipe Pinto, no início dos anos quarenta, onde logo teve um êxitto assinalável.
A sua estreia profissional no Teatro de Revista, ocorreu em 1945, na sequência de um convite do maestro João Nobre para participar na revista "Banhos de Sol", substituindo Leónia Mendes. Foi apenas a primeira de mais de trinta revistas em que participou.
Um dos seus maiores sucessos foi em 1969 na revista “Ena Pá Já Fala” com o fado Saudades da Júlia Mendes.Teve no entanto outros grandes êxitos como o "O fado está-lhe nas veias", "Ai, ai, Lisboa", "Fado para esta noite", "Trapeiras de Lisboa", "Fui ao baile", "Fado das sombras", "Um fado para Stuart" e "Fado da carta", etc.
A sua gravação mais recente é de 1981, "Meus amigos, isto é fado", um êxito seu na revista "Dentadinhas na maçã" no Teatro Laura Alves, em Lisboa, em 1974.
Actuou também no Brasil, em Angola e na Argentina e, em 1968, viajou até aos Estados Unidos.
Ao longo de 56 anos de palcos, Fernanda Baptista participou em mais de 45 espectáculos de revista e opereta.
Recentemente integou o elenco, do musical de Filipe la Feria "A Canção de Lisboa".
Em 2003 o Presidente da República condecorou-a com a Ordem de Mérito.
SAUDADES DA JÚLIA MENDES
(declamado)
Eu trago a vida suspensa
Das cordas duma guitarra
Mas oiço com indiferença
Quando me vêm dizer
Aquela ideia bizarra
De eu não cantar p' ra viver
refrão
Ó Júlia
Trocas a vida pelo fado Pelo fado
Esse malandro vadio
Ó Júlia
Olha que é tarde
Toma cuidado
Leva o teu xaile traçado
Porque de noite faz frio
Ó Júlia
Andas com a noite na alma
Tem calma
Inda te perdes p' raí
Ó Júlia
Se estás no mundo vencida
Não finjas gostar da vida
Que ela não gosta de ti.
Não fales coração
Tu és um tonto sem razão
Viver só por se querer
Não chega a nada
Aceito a decisão
Que os fados trazem ao nascer
Todos nós temos que viver
De hora marcada
Se Deus me deu voz
Que hei-de eu fazer
Senão cantar
O fado e eu a Sós
Queremos chorar
Eu fujo não sei bem
De quê, do mundo ou de ninguém
Talvez de mim
Mas oiço alguém
Dizer-me assim:
Refrão
O BARCO VAI DE SAÍDA
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
Pra lá da loucura
Pra lá do equador
Bem me posso queixar
Da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida
Sem contar essa história escondida
Por servir de criado essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa
Gingão de rota batida
Corsário sem cruzado
Ao som do baile mandado
Em terras de pimenta e maravilha
Com sonhos de prata e fantasia
Com sonhos da cor do arco-íris
Desvairas se os vires
Desvairas magia
Marrano sem vergonha
Judeu sem coisa nem fronha
Vou de viagem ai que largada
Só vejo cores ai que alegria
Só vejo piratas e tesouros
São pratas são ouros
São noites são dias
Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo assopro dos ventos
Vou por cima dos meus pensamentos
Arrepia
Arrepia
E arrepia sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa
O delírio dos céus
A fúria do barlavento
Arreia a vela e vai marujo ao leme
Vira o barco e cai marujo ao mar
Vira o barco na curva da morte
Olha a minha sorte
Olha o meu azar
E depois do barco virado
Grandes urros e gritos
Na salvação dos aflitos
Esfola
Mata
Agarra ai quem me ajuda
Reza
Implora
Escapa ai que pagode
Reza
Tremem heróis e eunucos
São mouros são turcos
São mouros acode
Aquilo é uma tempestade medonha
Aquilo vai pra´lá do que é eterno
Aquilo era o retrato do inferno
Vai ao fundo
Vou ao fundo
E vai ao fundo
Que vida boa era a de Lisboa
Carlos Ramos Canta "Biografia do Fado"
Letra e Música de Frederico de Brito
Se há fadista que deva ser lembrado, Carlos Ramos é um deles, este ano em que se comemora o "Centenário do seu Nascimento", espero que se faça algo de digno.
Já tarda uma justa homenagem da sua Cidade ou Freguesia, dando o seu nome a uma rua.
Tive a felicidade de há pouco conhecer o seu neto, que se sente com é normal angustiado com a falta de gratidão do "Mundo Fadista", nomeadamente os imensos imitadores e utilizadores da sua escola e repertório.
Neste blog peço como ajuda que me visitem, façam criticas se acharem necessário, mandem-me letras de Lisboa para que possamos por "LISBOA NO GUINESS "
Permitam-me mais um pedido que será talvez uma forma de pressão, a quem de direito (como sabem destas coisas de Fado, os outros, os tais é que decidem), assinem nos comentários desta página, deixem a vossa opinião, será uma grande ajuda.
Obrigado amigos.
Obrigado Carlos Ramos pelos belos momentos que nos proporcionou .
VAMOS HOMENAGEAR CARLOS RAMOS NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
Um Abraço Fadista
Vítor Marceneiro
Maria Albertina canta: Quem Canta
Letra de Jerónimo Guimarães e Música: Domingos Costa
MARIA ALBERTINA
Maria Albertina Soares de Paiva, nasceu em Ovar no ano de 1909.
Maria Albertina quando jovem ainda na terra natal cantava Fado de Coimbra.
É em Lisboa que inicia a sua carreira artística, descoberta pelo Maestro Macedo de Brito, que apadrinhou a sua entrada no Teatro Maria Vitória, onde se estreou em 1931 na opereta “História do Fado”, ao lado de Berta Cardoso e Maria das Neves.
È convidada para fazer parte do cartaz na “Grandiosa Festa do Fado” em homenagem ao popular poeta João da Mata, que se efectuou no Salão Jansen em 7 de Fevereiro de 1931.
Em 1933 tem uma intervenção no filme “Canção de Lisboa”, cantado o “Fado dos Beijos Quentes”.
Em 1934 na revista “Vista Alegre” faz o quadro do Malhoa com Carlos Ramos
Ainda em 1935, o seu maior sucesso é o “Fado da Sardinha Assada”, da revista de com o mesmo nome, seguiram-se revistas como: Viva a Folia, Feira de Agosto, Olaré quem Brinca o Liró.
Fez ainda as operetas “ O Miúdo do Terço, “Coração de Alfama” e “Nazaré”.
Em 1941 entra na Grande Marcha de Lisboa.
Em 1943 é cabeça de cartaz na revista “O Dia da Espiga”,
Abandona a revista e passa a cantar nas casas típicas, intercalando com algumas saídas ás Ilhas e ao estrangeiro, Espanha, Brasil, Argentina, E.U.A., Canadá.
Representou o folclore português na Grande Exposição Internacional de Paris.
Ainda em Paris no Restaurante Típico da Clara d´Ovar, tem um êxito estrondoso.
Actua na”Festa de Despedida de Alfredo Marceneiro” levada a efeito no S. Luís em 25 de Maio de 1963.
Sendo uma apreciada fadista, fez durante 20 anos parte do elenco da casa de fados de Lucília do Carmo, “O Faia”
O seu repertório para além do folclore incluía Fados como: Chico da Mouraria, Sou Fadista, Duas Gémeas, Fado Albertina, Fado Luso, Belos Tempos Outrora
Mãe do popular locutor de rádio e televisivo Cândido Mota, que é decerto um dos nossos mais brilhantes locutores, o Cândido não canta o Fado, mas tem uma “Alma Fadista”
Maria Albertina, faleceu em Lisboa a 27 de Março de 1985
O FADO DA SARDINHA ASSADA
I
A bela sardinha assada
Um dia, fora de portas,
Foi pelo povo coroada
Como a rainha das hortas.
Nas feiras e ramboiadas
Faz boca à pinguinha; e os pilhas,
Pelas sardinhas assadas,
Até vão p' ra Cacilhas!
Basta só uma sardinha
Uma guitarra, uma trova,
P'ra apanhar uma tosguinha
Daquelas de caixão à cova.
II
Com pimentos à mistura
A murraça até desanda
Que a gente vai de banda!
E apanha uma grossura!
Sardinha assada tem fama
De ser petisqueira chalada,
Mas assim que ela se escama,
Muita vez há chapada!
As vezes se está com a telha,
Ao ver a gente com fome
Dá quatro pulos na grelha,
Deixa-se arder... ninguém a come!
Variações à Guitarra por José Nunes sobre o
Fado Ana Maria
IMPRESSÕES DE UM VOO DE AVIÃO
Poema de: Jaime Cortesão (1923)
"Ó!, Lisboa do Tejo e das viagens,
Onde é mais fundo o Céu, há mais azul.
Perspectivas de sonho e de miragens,
Já voei sobre ti, fui alma exul,
— Pasmavam os navios junto à amarra.
Estiravam-se os serros contra o sul,
Riam ondinas alvas para a barra!
Rias, e eu ri, lá donde as águias pairam;
Nunca tão fundo riso em vida ri.
Meus olhos inda, atónitos, desvairam,
Ao rever-te da altura a que me ergui.
O ser humano, em sua exiguidade,
É pó, já não existe, acaba ali:
Some-se o homem; ergue-se a cidade.
Vi lá em baixo, e duvidei da vista,
Parada a sombra pálida das asas,
Enquanto um alto monte, desde a crista
À base se encurvava e pelas rasas
Planuras abatia em torva espuma.
Fitei o olhar: já não se viam casas;
Dobravam-se as colinas, uma a uma.
Dobravam-se aos galões, como o possante
Oceano em seu vaivém, quando onda após
Onda balouça; e eu era tão distante
Que, parado, te via andar veloz;
Dos homens nem a sombra lá no fundo;
Só tu ganharas ser e, em vez de nós,
Caminhavas agora sobre o Mundo.
Caminhavas ligeira, que eu bem via,
E, quanto mais as asas me libravam,
Mais fundo o olhar no abismo se embebia
E as coisas mais a custo se enxergavam.
E, ao baloiçar violento no vazio,
Eram as velas brancas que acenavam
Duma varanda em pé - o azul do Rio.
De súbito caí num desses poços
Do ar, e vi teu vulto milenário
Dum tom sangrento, a carne sobre os ossos
Como o rosto de Cristo no sudário;
E tu, crucificada na amplidão,
— Cada colina em sangue era um Calvário,
Sofrias sete vezes a Paixão!
Vi-te com fundos golpes lacerada
Pela dor, pelo tempo que destrói:
O Castelo sem paço, a Sé tombada,
A Ribeira sem naus (como isto dói!);
Era o Carmo em ruína um mausoléu,
Que destaparam para ver o Herói
E, trágico, ficou de ossos ao léu!
Baixei o olhar entre o Castelo e o Carmo
E d'aí ao Terreiro, e logo veio
Não sei que frio súbito gelar-mo;
Cortam-te sulcos hirtos pelo meio,
E bem se vê, de fundos, quem os fez:
Da praça aos cinco golpes do teu seio
Gravam-se a palma e os dedos do Marquês.
Segui e à beira d'água, mais além,
Como antigas ossadas de gigantes,
Vi o mosteiro e a torre de Belém;
E, em baixo, pela praia, os mareantes,
Levando uma ave enorme para o vau,
Agitavam-se inquietos, como dantes,
Ao desfraldar as velas duma nau.
E sob um arco de triunfo aberto
(Via-se à barra o arco da Aliança)
Encarnando o fantasma do Encoberto,
Em corpo de saudade e de esperança,
Sopro de luz, de vento e azul etéreo,
Larguei à desfilada, erguendo a lança
Pelas planícies desse Quinto Império.
E ao longe o vulto, eu bem te vi erguê-lo.
Oh! Lisboa dos Mares, de monte a monte,
Desde o Castelo à praia do Restelo;
Poisaram-te Os Lusíadas defronte,
Sonhavas o que foste, mas não és:
Então tocaste as nuvens com a fronte
E o Tejo, manto azul, caiu-te aos pés
Nome | Tema de fado | Poesia Regular | Refrão | Música |
Fado Tradicional de Lisboa | sim | sim | não | improviso |
Fado com Refrão/de Revista | sim | sim | sim | improviso |
Fado Musicado | sim | sim | não | própria |
Fado Musicado | sim | sim | sim | própria |
Fado Musicado | sim (*) | não | não | própria |
Fado Canção | sim (*) | não | sim | própria |
Canção de Improviso | não | não | não | improviso |
Canção de Improviso | não | não | sim | improviso |
a) O silêncio de quem ouve, pois trata-se de uma mensagem humana complexa;
b) A concentração do intérprete e a atenção da audiência para a comunicação;
c) A noite, mais propícia à partilha do sentir;
d) Uma pequena audiência;
e) A ligação específica e singular com os seus instrumentos, a Guitarra Portuguesa de Lisboa, e a Viola de Fado.
f) Existem cerca de 400 formas estabelecidas, mas novas podem vir a produzir--se.
Não pode haver confusão entre o termo Tradicional e o termo Antigo. O Fado Tradicional de Lisboa corresponde a uma matriz e podem sempre produzir-se novos fados tradicionais desde que a matriz seja respeitada.
SINGULARIDADES da ligação com a Guitarra Portuguesa de Lisboa e a Viola
1. Instrumento único no mundo, EXISTEM DOIS TIPOS EM PORTUGAL, Lisboa tem um, Coimbra tem outro tipo.
2. Afinação singular destinada a produzir efeitos de sonoridade
3. Capacidade de transposição permanente de tons base, como necessária capacidade técnica para o acompanhamento do Fado Tradicional de Lisboa
4. A Viola serve para a marcação do compasso, colorindo as passagens das mudanças tónicas com melodia nos graves, sem exageros e com, fundamentalmente, tonalidades básicas.
5. A Guitarra Portuguesa (de Lisboa) acompanha e desafia permanentemente o cantor a improvisar, como a própria Guitarra o faz. O acompanhamento da Guitarra, embora dentro de limites, permite e pede a improvisação nos silêncios da voz.
Luís Filipe Penedo
Versão de Novembro de 2005
Menina das Tranças Pretas
Letra de. Vicente da Câmara Música de: Lino Bernardo Teixeira
D. Vicente Maria do Carmo da Câmara, conhecido artisticamente por Vicente da Câmara, nasceu em 1928, em Lisboa na freguesia de Santa Catarina.
É Bisneto do dramaturgo, poeta e jornalista D. João da Câmara, que distinguiu-se desde novo pelo seu estilo pessoal (Fado das Caldas), que ninguém conseguiu até hoje imitar.
Vicente da Câmara estreou-se em público em 1948, com 20 anos na Emissora Nacional.
Acompanhando-se à guitarra, Vicente da Câmara mantém a tradição do fidalgo fadista, fiel ao fado castiço, não dispensando os outros acompanhadores.
Gravou vários discos com um repertório muito próprio para o seu estilo de cantar.
Vicente da Câmara cantou em festas e espectáculos por todo o País (incluindo Açores e Madeira), em Angola, Moçambique, África do Sul, França, Alemanha.
Actuou no S. Luís na Festa de Homenagem a Alfredo Marceneiro em 1963.
Em 1983/1984, em Hong-Kong, China Continental e Macau, território aonde voltaria outras vezes, a última delas em 1990.
Tem um filho que lhe segue as pisadas José da Câmara.
Teve um enorme êxito com o Fado das Caldas, mas dos seus fados mais conhecidos, com letra da sua autoria é decerto:
A MODA DAS TRANÇAS PRETAS
Como era linda com seu ar namoradeiro,
'Té lhe chamavam menina das tranças pretas.
Pelo Chiado caminhava o dia inteiro
Apregoando raminhos de violetas.
E as raparigas de alta-roda que passavam
Ficavam tristes a pensar no seu cabelo.
Quando ela olhava, com vergonha disfarçavam,
E pouco a pouco todas deixaram crescê-lo.
Passaram dias e as meninas do Chiado
Usavam tranças enfeitadas com violetas.
Todas gostavam do seu novo penteado
E assim nasceu a moda das tranças pretas.
Da violeteira já ninguém hoje tem esperanças.
Deixou saudades, foi-se embora, e à tardinha
Está o Chiado carregado de mil tranças,
Mas tranças pretas, ninguém tem como ela tinha.
"Amar"
Florbela Espanca e Teresa Silva Carvalho
ELES AINDA NÃO SABEM,
ELES AINDA NÃO SONHAM,
ELES NUNCA VIRÃO A SABER
ELES NÃO CONSEGUEM ENTENDER
PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer
Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos
Como estes pinheiros altos
Em que verde e oiro se agitam
Como estas aves que gritam
Em bebedeiras de azul
Eles não sabem que o sonho
É vinho, é espuma, é fermento
Bichinho alacre e sedento
De focinho pontiagudo
Num perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
Base, fuste ou capitel
Arco em ogiva, vitral
Pináculo de catedral
Contraponto, sinfonia
Máscara grega, magia
Que é retorta de alquimista
Mapa do mundo distante
Rosa-dos-ventos, Infante
Caravela quinhentista
Que é Cabo da Boa Esperança
Ouro, canela, marfim
Florete de espadachim
Bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
Passarola voadora
Pára-raios, locomotiva
Barco de proa festiva
Alto-forno, geradora
Cisão do átomo, radar
Ultra-som, televisão
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança