Não conheço este pintor, mas ao ver este magnífico quadro, que é uma homenagem ao Fado, faço aqui a sua publicação homenageando o pintor, que "Canta Fado pintando" ponho também o Fernando Mauricio a cantar o bonito Fado "Alfama", que lhe dedico.
Obigado José Cordeiro.
Vítor Marceneiro
Fadista de Alfama
Quadro a óleo do pintor José Cordeiro
Fernando Mauricio canta:
ALFAMA
Maria do Carmo (Alta) canta:
Cantadeira, nasceu em Moura em 1885 e faleceu em Lisboa em 1964. De nome completo Maria do Carmo Fontes Páscoa Bernardo, foi a elevada estatura que lhe proporcionou a alcunha que a celebrizou, imposta também para a distinguir da sua contemporânea Maria do Carmo Torres.
Filha de lavradores, deixou Moura com 3 anos e mudou-se para Lisboa com a família, onde foi aprendiza de camiseira na casa Ramiro Leão e mais tarde costureira com atelier próprio. Teófilo Braga, que habitava na residência frente à sua, estimulou-a a cantar canções populares.
Com apenas 11 anos, foi uma das primeiras fadistas a cantar em retiros fora de portas.
A partir de 1918 dedicou-se mais ao Fado, nunca abandonando a sua profissão. O prestígio como cantadeira ligado à sua personalidade organizada e empreendedora, levou-a a fundar o restaurante Ferro de Engomar que geriu em conjunto com Alberto Costa. Foi talvez o primeiro restaurante com elenco privativo, onde se cantava o Fado (às segundas, quintas e sábados) e onde acorriam figuras importantes de Lisboa.
Por vezes acompanhava-se à guitarra, instrumento que aprendera a tocar com um tio. Apresentou-se praticamente em todos os recintos de Fado de Lisboa (Águia Roxa, Caliça, Pedralvas, Nova Cintra, Magrinho, Manuel dos Passarinhos, Bacalhau, Perna de Pau, Quebra-Bilhas, Tia Elena, Montanha, Charquinho, José dos Pacatos), efectuando algumas digressões ao Brasil, nomeadamente em 1920, onde permaneceu dois anos e meio. De regresso a Lisboa, preocupou-se em reorganizar o seu atelier, não descurando o Fado. Voltou ao Brasil em 1926 e apresentou-se no Cinema Central do Rio de Janeiro.
Em 1931 integrou o elenco da opereta História do Fado, apresentada pela companhia Maria das Neves, no Teatro Maria Vitória, juntamente com Ercília Costa, Maria Alice, Maria Albertina e Alberto Costa. Ainda com esta companhia, desempenhou o papel de Cesária na opereta Mouraria, no Coliseu dos Recreios.
Fez várias parcerias com Alfredo Marceneiro (ver foto anexa)
Maria do Carmo fez parte de uma “troupe” cómica tauromáquica de nome Charlot, Max e D. José, com a qual cantou durante três anos em muitas das praças de toiros do país.
Embarcou novamente para o Brasil em 1934, como figura principal da Embaixada do Fado, que integrava nomes como o guitarrista Armando Freire (Armandinho) o violista Santos Moreira, Maria do Carmo Torres, Filipe Pinto e Joaquim Pimentel.
Formou o Grupo Artístico de Fados Maria do Carmo, que integrava Manuel Cascais, Cecília d´Almeida, José Marques e Armando Machado.
Alguns dos Fados do seu repertório mais conhecidos foram, Fado Maria do Carmo, Beijos Venenosos, sendo uma das suas criações o bonito poema de João Linhares Barbosa, “É Tão Bom Ser Pequenino”
É TÃO BOM SER PEQUENINO
Letra de: João Linhares Barbosa
Música: Fado Corrido
É tão bom ser pequenino,
Ter pai, ter mãe, ter avós,
Ter esp'rança no Destino
E ter quem goste de nós.
Vem cá, José Manuel!
Dás-me a graciosa ideia
De Jesus na Galileia
A traquinar no vergel.
És moreninho de pele
Como foi o Deus Menino.
Tens o mesmo olhar divino;
Ai que saudades eu tenho
Em não ser do teu tamanho!
É tão bom ser pequenino.
Os teus dedos delicados
Nas tuas mãos inquietas
Lembram-me dez borboletas
A voejar nos silvados.
Fui como tu, sem cuidados,
Também corri veloz;
Vem cá, falemos a sós
Do caso sentimental,
Que eu vou dizer-te o que vale
Ter pai, ter mãe, ter avós.
Ter avós, afirmo-to eu,
— Perdoa as imagens minhas
É ter relíquias velhinhas,
E ter mãe é ter o céu;
Ter pai, assim como o teu,
Que te dá o pão e o ensino,
É ter sempre o Sol a pino
E o luar com rouxinóis,
Triunfar como os heróis
Ter esp' rança no Destino.
Sabes o que é a esperança.
O sonho, a ilusão, a fé?
Sabes lá o que isso é
Minha inocente criança.
Tu és fonte na pujança
E o rio que chegou à foz;
Eu sou antes, tu após,
Ai que saudades, saudades,
A gente a fazer maldades
E ter quem goste de nós.
Frutuoso França canta:
FRUTUOSO FRANÇA
Nasceu em Lisboa no bairro de Alcântara) em 1912, tendo começado a cantar o fado muito jovem, nas sociedades de recreio, onde também fez teatro dramático. Participou em cegadas, estreando-se numa da autoria de Carlos Conde intitulada «Carnaval da Vida». Cantou nos antigos retiros Perna de Pau e Ferro de Engomar, na Adega Vitória, no Café dos Anjos, no Retiro da Severa, no Solar da Alegria, no Café Mondego, no Café Ginásio e no Café Luso (da Avenida).
Em 1936 iniciou a sua carreira de cantador profissional, no Café Luso (da Avenida) e também quando este foi transferido para a Travessa da Queimada, onde ainda hoje existe.
Participou nas revistas "Iscas Com Elas" e "Dança da Luta" (1938) levadas à cena no Teatro Apolo, conquistando o público com o seu estilo castiço e com as letras dos seus fados.
Em 1950 parte para Angola, onde permaneceu durante dez anos a trabalhar na sua profissão de cortador de carnes, mais tarde na Rodésia, África do Sul e Holanda.
Regressa a Portugal em 1976, e reinicia a sua actividade de cantador, actuando em festas, em casas típicas, na televisão e na rádio.
È dos fadistas que tem todo o seu repertório gravado em discos, nos quais inclui fados com músicas da sua autoria como Anabela, Amigos São Inimigos, O Mineiro, Doutora Inocente, Diálogo em Sentido Figurado, Coisas da Vida, Salve!, Vê-te ao Espelho e Eterno Amor de Mãe, O Sábio e o Barqueiro, Fado Cadillac, Maria da Paixão, Contraste, Não Compreendo, etc., para além de outros autores.
Dos cerca de 30 fados cantados por Frutuoso França, um dos que tiveram maior audiência foi “O Médico e a Duquesa”, com música sua e letra de Joaquim M. S. Teixeira.
Nos anos 80, em que eu trabalhava como produtor cinematográfico, com os realizadores de filmes de animação, Mário Neves Sénior e Mário Neves Júnior, decidimos fazer um pequeno filme documentário numa sátira ao poema do “Médico e a Duquesa”, que para não ser muito dispendioso nós próprios éramos os actores e técnicos.
O pequeno filme (tem o mesmo tempo do disco, pois a música de fundo e o cantar é a própria narração), estreou no Condes antes do filme principal em cartaz.
Foram vários dias de filmagens, só os três no estúdio, em que era mais o tempo que riamos às gargalhadas, do que filmávamos, com as fotos que vos mostro a seguir podem deduzir “o gozo” que nos deu fazer este filme.
Eu fui o mais sacrificado, tive que cortar o bigode, fiz o “travesti” da Duquesa e andei vários dias enjoado com as pinturas.
Infelizmente não consegui arranjar o tema cantado pelo Frutuoso França, pois julgo que só existe em disco de massa para grafonola, mas transcrevo a letra, que conjuntamente com as fotos vos dará uma ideia do trabalho final.
Entretanto estou a tentar arranjar uma cópia do filme na Cinemateca Nacional, pois perdi o contacto do pai e filho Mário Neves.
Vítor Duarte Marceneiro
O MÉDICO E A DUQUESA
Autor: Frutuoso França Foto 1
Era um médico ilustre e inteligente
Que o povo humilde amava com prazer
E ele a todos queria meigamente
Salvando muita gente de morrer.
Mas num dia fatal se apaixonou
p'la mais linda cliente, uma duquesa,
Que dele escarneceu e assim falou:
"Não lhe dou minha mão, sou da Nobreza!"
E os grandes da Ciência são chamados,
Mas pertinaz doença a envolvia
Deixando os cirurgiões desanimados.
Foto 3
Ela ao ver-se pior, desfalecida,
Do seu médico antigo se lembrou.
E esse jovem doutor salvou-lhe a vida
O que a muitos colegas espantou.
Ela então ofereceu-lhe a sua mão
Para lhe pagar, altiva e sedutora Foto 4
Mas teve uma tremenda decepção
Ouvindo esta resposta esmagadora.
"Se vós sois da Nobreza, é por dever
Qu'assim me quereis pagar, mas (se me entende)
Eu sou muito mais nobre, pode crer,
Pois o amor duquesa não se vende
Maria Helena Tavares de Oliveira Rodrigues Coelho, (1932-1980) , nasceu na freguesia dos Olivais em Lisboa.
Estreou-se no Clube Oriental de Lisboa, na revista “É Regar e Pôr ao Luar”, e logo não passa despercebida ao empresário Vasco Morgado que a contrata para o Teatro Avenida, para a revista “Ó Rosa Arredonda a Saia”.
Em 1959 começa a gravar os seus primeiros discos de Fado.
Mas é na revista que conhecerá os seus maiores êxitos, como A Rua dos Meus Ciúmes, na revista “A Vida é Bela” estreada em 1960.
Teve ainda êxitos como, Eu Cheguei muito depois, Dizer Adeus, etc.
Foi casada com o actor e empresário Carlos Coelho de quem teve dois filhos.
Há um acontecimento que ficou lendário na história do Teatro de Revista, Helena Tavares está grávida, estava em cena no palco do Teatro Variedades, na revista, “Elas São o Espectáculo”, quando subitamente lhe “rebentaram as águas”, para nascer a sua terceira filha, a actriz Helena Coelho.
Foi madrinha da marcha de Marvila, e em 1966 ganham o primeiro prémio.
Mas não é só no teatro de revista que se exprimiu a vocação de Helena Tavares, também nas “boites”, e casas de fado teve uma notável popularidade, tendo actuado no Luso, Faia, Adega Machado, etc.
Na televisão, actuou em programas como, Melodias de Sempre e Quando Portugal Canta. Participou, igualmente, em diversas tournées pelo estrangeiro.
O filho João Coelho, foi actor de revista e actualmente é “Ponto” no Teatro Nacional
Carolina Tavares, filha do seu primeiro casamento, segue as pisadas da mãe, cantando Fado, mas só aos 27 anos se decide por uma carreira artística, baseada essencialmente no repertório de sua mãe.
Embora em Portugal tivesse actuado em quase todos os casinos nacionais, foi essencialmenteem deslocações ao estrangeiro que mais se evidenciou.
Actuou na Televisão e gravou alguns discos.
Quem conhece e já ouviu Carolina Tavares decerto concorda que mais uma vez se confirma que "filho de peixe sabe nadar".
A RUA DOS MEUS CIÚMES
I
Na rua dos meus ciúmes
Onde eu morei e tu moras
Vi-te passar fora de horas
Com a tua nova paixão
De mim não esperes queixumes
Quer seja desta ou daquela
Pois sinto até pena dela
E até lhe dou meu perdão
Na rua dos meus ciúmes
Deixei o meu coração.
II
Inda que me custe a vida
Pensarei com ar sereno
Que esse teu ombro moreno
Beijos de amor vão queimar
Saudades são fé perdida
São folhas mortas ao vento
Que eu piso sem um lamento
Na tua rua ao passar
Inda que me custe a vida
Não hás-de ver-me chorar.
António Rocha canta:
Conheço o António Rocha, desde que me conheço no Fado, nutro por ele uma admiração quer artística, quer pessoal, pois é uma pessoa que tem uma postura e uma maneira de estar a todos os níveis irrepreensível , o que hoje se vai tornando raro quer na nossa sociedade quer no meio artístico .
Pedi ao meu amigo Nuno Lopes que me escrevesse algo sobre o António Rocha, que logo acedeu.
ANTÓNIO ROCHA é não só um reconhecido talentoso fadista, estilista notável, como um poeta de mérito. Começou a cantar aos 8 anos, e aos 13 conquistou o 1º lugar do concurso do jornal Ecos de Portugal (1951). Canta no restaurante Ribamar, na Cova da Piedade e no Pancão em Almada, mas só em 1956 obtém a carteira profissional, estreando-se no Retiro Andaluz. Rocha inicia então uma fulgurante carreira actuando nas mais diversas casas típicas e palcos nacionais. Em 1959 no Café Luso é eleito “Rei do Fado Menor”, voltará a ser “coroado”oito anos mais tarde como “Rei do Fado”, resultante de um concurso da revista Plateia, paralelo ao dos Reis da Rádio.
No final da década de 1960 na companhia de Ema Pedrosa e Armando Marques Ferreira, assina uma rubrica semanal no Clube Radiofónico de Portugal intitulada “Pergunte o que quiser sobre fado. António Rocha responde”. Esta terá sido a primeira experiência de divulgação do modus faciente do fado junto do grande público. Aliás este mesmo entusiasmo levá-lo-á a integrar, em 1994, o núcleo fundador da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, de que é sócio honorário.
Entretanto continua a editar discos, onde inclui letras suas, de António José, Artur Ribeiro, Domingos Gonçalves Costa, Hermano de Sobral e de vários outros poetas. Foi o primeiro fadista a gravar “Vou dar de beber à dor” (Alberto Janes ), depois da sua criadora, Amália Rodrigues.
Actualmente integra o Gabinete de Ensaios do Museu do Fado e além das várias actuações no estrangeiro, canta nas Arcadas do Faia, ao Bairro Alto.
Além fronteiras, refira-se a sua participação no Festival de Música de Nantes, no de Música da Flandres em Gent ou no de Músicas do Mundo em Barcelona, nos Encontros da Música em Tenerife e no XXIII Festival Sabandeño , em 2001, também em Tenerife.
Entre a sua vasta discografia, saliente-se o álbum Tears of Lisbon ” gravado com Beatriz da Conceição, sob a direcção do maestro Paul van Nevel , ou “Silêncio, ternura e Fado” (Ovação) onde canta poemas de sua autoria, entre eles, “Um hino à vida”, “Procura vã” ou “Olhos esquivos”.
Em 2006 é-lhe atribuído o “PRÉMIO AMÁLIA RODRIGUES CARREIRA MASCULINA”
Nuno Lopes
O fadista António Rocha. Trata-se de uma grande figura do Fado dos nossos dias, que preserva uma tradição de bem estilar hoje cada vez mais rara, mostrando bem de que maneira mesmo no repertório fadista mais clássico é possível a um grande artista deixar uma marca individual inconfundível . Ouvi-lo é sempre uma lição de inteligência musical e de uma força expressiva que nos afecta profundamente. É por coisas como estas, é por fadistas desta fibra que o Fado é tão importante para todos nós e que o queremos defender na sua essência, sem negarmos a sua capacidade evidente de evoluir mas salvaguardando sempre a sua ligação às raízes em que nos reconhecemos.
Rui Vieira Nery
Ao fadista ANTÓNIO ROCHA
Poema de: Euclides Cavac
Para ti
Fadista e sonhador,
Eu canto neste poema
Os teus dotes sublimes
Por teres dado a cada tema
Da forma como te exprimes
Ao fado maior valor !...
Para ti
Nobre talento de alma inteira
Para quem a música e as palavras
São brinquedos
Fizeste da guitarra companheira
Em eternas noites de folguedos...
Para ti
Ilustre fadista...
Parabéns aqui te dou
Por deleitares tanta gente
Com teu carisma de artista
E tua voz sapiente
Que o nosso fado honrou...
Para ti
Nesta leve cortesia
De sabor a nostalgia
Que te presto hoje aqui
Recordo os fados solenes
Como pétalas perenes
Que são pedaços de ti !...
Para ti
fiz este poema
Inspirado e confiante
Que sempre irás dizer sim...
À carreira triunfante
Que fez do fado um jardim!...
Para ti
Egrégio amigo
Nesta modesta mensagem
A mais merecida homenagem
Deixo hoje aqui contigo !...
VELHOS PREGÕES
Letra de António Rocha
Já se não ouvem agora
Pregões como antigamente
Vozes que ao romper da aurora
Vinham acordar a gente
A vozearia aumentava
Tal com a manhã crescia
E a cidade se inundava
De luz cor e alegria
Refrão
Vozes que pareciam trovas
Fava rica, quem não gosta
Quem quer azeitonas novas
Olha a vivinha da costa
Era o ferro velho à porta
Que tudo vinha comprar
Rica amora que é da horta
Figos quem quer merendar
Rica amora que é da horta
Figos quem quer merendar
Erre e erre mexilhão
Olha os marmelos assados
Petrolino e o carvão
E tantos mais já passados
Onde estão os pregoeiros
Que hoje recordo com mágoa
Acabaram os aguadeiros
E anda tudo a meter água
Fernando Macedo de Freitas, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel.
Com apenas 9 anos de idade começou a trabalhar no Coliseu dos Recreios numa “troupe” de palhaços, aprendendo a tocar violino, bandolim, banjo e cavaquinho. Aos 12 anos seu pai ensinou-o a tocar guitarra e aos 14 anos já entrava em cegadas.
Aos 16 anos já era bem conhecido o seu dedilhar de guitarra, e é por iniciativa do seu amigo, companheiro de bairro e parceiro nas cegadas, Alfredo Marceneiro, que o tratava carinhosamente por "Freitinhas" que o apresenta no Solar da Alegria, onde fica contratado.
Em 1935 acompanhou Maria Teresa de Noronha, nas primeiras emissões de Fado na Emissora Nacional.
Ainda em 1935 desloca-se a França acompanhando Maria Albertina e Tomás Alcaide.
Em 1944 e 1946 actua no Brasil com Amália, país onde permanece para casar com uma brasileira, filha de portugueses, que também cantava Fado, de nome Maria Girão.
Fernando Freitas percorre o Brasil actuando em espectáculos, onde se mantém até 1964.
De regresso a Portugal, acompanha Fernando Farinha durante um longo período, nomeadamente em digressões aos Estados Unidos e Canadá.
Toca todas as noites no “O Faia” de Lucília do Carmo, e mais tarde na Adega Machado.
Nos anos 70, perde a visão na sequência de uma deslocação na retina, sem contudo deixar de tocar. Ainda recordo o carinho que me dedicava e que eu retribuia desde muito miúdo, de tal forma que mal ouvia a minha voz, logo me chamava ou: Oh. Vitinho vem cá meu querido para te dar um abraço, acompanhou o meu avô nas gravações do programa de TV de 1969 no Faia.
Fernando Freitas deixou algumas das mais bonitas composições para fado tradicional, como o Fado Noquinhas e Trem Desmantelado, compôs ainda o Fado das Sardinheiras, em exclusivo para Amália Rodrigues a pedido desta, para quem aliás já tinha composto Ronda dos Bairros, que foi o primeiro tema escrito expressamente para a fadista nos seus primeiros tempos do Solar da Alegria.
Deixa um filho, o cantor Fernando Girão, que não enjeitando o Fado, tem outros horizontes musicais.
-----Mensagem original-----
De: Sou do Fado [mailto:SouDoFado@gmail.com]
Enviada: quarta-feira, 22 de Agosto de 2007 16:38
Para: fado.em.movimento@sapo.pt
Assunto: FADO CALADO!
Para lêr e rir, ou chorar!
Se concorda por favor reenvie para os seus amigos Fadistas.
Obrigado,
Sou do Fado
Recebi pelo mail acima transcrito, o poema que abaixo publico, depois de muito pensar qual seria a imagem que iria colocar, como costumo fazer, escolhi uma marionete! espero que ache bem?
FADO CALADO!
Autor: O Poeta
Novo fado, importado
Com cheiro de podridão
Que tenta matar o Fado
Que nasceu nesta Nação!
Escutem bem essas vozes
As vozes sem coração
E não percam um momento
Em denunciar os atrozes
Que enaltecem a traição
Do fado sem sentimento!
Almas negras
Adulteradas
Impugnadas
Desgraçadas!
Almas sem regras
Almas doentes
Almas dementes
Inconscientes!
Almas mortas
Sem amor
Fora de portas
Sem valor!
Vivem do ódio espalhado
Por falta de competência
Abraçando o Novo fado
Por falta de consciência!
Uma história bem bizarra...
Um bandónio... Uma guitarra...
Um carpinteiro de toscos
Rouba o fundo da guitarra!
Bandónio fica encantado...
Julgando que agora é farra
E que os fados ficam foscos
Quando o Tango for dançado!
Este fado inconsciente
Que não se ouve, nem se sente
É subornado e adulterado
Por instrumentos que no Fado
Não fazem chorar a gente!
Já dizem que o Samba é Fado
E que o Fado não se escapa
Nem ao Tango, nem ao Jaz,
Será que não é bastardo
Do Flamengo e zurrapa
Que a martelo se faz?
E este triste conjunto
De alguns monarcas de tanga
Com a guitarra sem fundo
Mais parece uma charanga
Almas negras
Adulteradas
Impugnadas
Desgraçadas!
Tristes percalços
Com gestos amaricados
Cantam de olhos pintados
O fado, de pés descalços!
Fadistas sem Fado
E a guitarra sem fundo
Fazem da noite um pecado
E fazem do Fado um defunto!
Mas como diz o rifão
Que o nosso povo ilumina
Não há vela sem senão!
E talvez alguma vacina
Cure um dia a maldição
Da droga que alucina
Os traidores desta Nação!
Triste Fado das vielas
Navegaste em caravelas
Mas desdenhas e maldizes
As verdadeiras raízes
Das tuas lindas chinelas!
Fado Português, Lisboeta
Escrito por tanto poeta
Que só a vida ensinou
As palavras que enquadrou
Com a ponta de uma caneta
E já lá diz o espanhol
Na península há evolução!
Cantar Fado em portunhol
Só pode fazer bem à Nação!
No Novo fado
De engenhocas astutas
Alugam-se prostitutas
E um cineasta tarado...
E de rabo abaixado
Vende-se o Património
A alma ao demónio
E tudo a bem do fado...
Visão infernal
De um destino real
Que o Fado consome
Mas poucos se importam
Que o Fado afinal
É só de Portugal
E por isso o deportam...
Soam gritos aflitos
E os abutres malditos
Aguçam as garras
Ao som das guitarras
Para desfazerem o Fado
E sempre a enfardar
Vão vivendo a grasnar...
Uma voz dolorida
Que canta sentida...
E um tipo burguês
Que afirma que o Fado
Já não é português!
Nas tristes vielas
Através das janelas
Um choro tresmalha...
E agora sem fundo
A pobre guitarra
Não serve de amarra
À dor que retalha!
Choro que não mente
A tristeza que sente
Pelo Fado perdido
E em consonância
Recorda com saudade
Os Fados sem idade
Dos tempos de infância
Num gesto fugaz
Já não é capaz
De relembrar o passado
Nesse fado amargurado
E por mais que procure
Ou seu nome murmure
Já ninguém conhece o Fado
Numa noite de luar
Ouviu-se o triste cantar
De um marinheiro gingão
Que morrendo de saudade
Fez do Fado sua canção
Abriram-se as janelas
E lá pelas vielas
Alguém gritou furibundo
Que o Fado, por sinal
Já fora Canção Nacional
Mas que foi vendido ao mundo!
A guitarra levou fundo...
O bandónio deportado...
E o Fado, tão mal tratado
Voltou a ser português!
E digam lá
Se o Novo fado
Devia ou não estar CALADO!
AH, FADISTA...
Letra e Música: Carlos Paião
Vem o homem, de lenço ao pescoço ai
a mão enviada no bolso.
Ah, fadista...
Entra logo a cantar muito alto,
as pessoas até dão um salto
Ah, fadista...
Depois põe-se nos bicos dos pés,
disfarçando a sua pequenez.
Ah, fadista...
Fecha os olhos, com ar concentrado
ai a ver se ainda dorme um bocado.
Ah, fadista...
E, quando chega o refrão
ele aperta o coração
e canta, co'a voz sofrida p'la emoção:
tu tens o recado de
tudo o que vejo, do
mundo alinhado num
grande cortejo, direito
ao pecado, no fogo
dum beijo!
Refrão
Ai fado,
não foste ensinado com
pauta ou solfejo, tu és
engraçado,
tu és um gracejo,
por seres tão prendado é
que eu te desejo!
Choradinho, a mostrar como é
picadinho,
p'ra bater o pé. Ah,
fadista...
Volta e meia dá-lhe um arrepio ai
coitado do homem, tem frio! Ah,
fadista...
E os senhores das guitarras, sisudos lá
resolvem os casos bicudos fadistas. ..
E o público está arrebatado,
há pessoas que caem p'ra o lado Ah,
fadistas...
E, quando volta o refrão,
há quem rasteje p'lo chão
e ele canta, com raça e com comichão:
Refrão
E, quando chega o final
os olhos já vêem mal
e grita duma maneira descomunal.
Adelina Ramos canta:
Ouvi Cantar o Ginguinhas
ADELINA RAMOS
Adelina Ramos foi uma das verdadeiras fadistas, que o Fado conheceu.
Os Fados que ela cantava saíam-lhe da garganta onde o bairrismo alfacinha, puro e nato, tem todo o encanto pitoresco da genuína expressão fadista!
Adelina Ramos soube conservar-se humildemente, uma grande fadista!
Ao ouvi-la cantar o «menor», o «corrido», o «meia-noite», etc., afirmavam os seus admiradores:
— Sente-se o que ela canta, no modular espontâneo e natural das frases musicais, que lhe saem da garganta, como saem – isto é que é Fado, meus senhores... – ela dá-nos toda uma gama de sentimentos e emoções que no Fado procuramos e admiramos. Em noite grande, Adelina empolga, canta a garganta, cantam os olhos, cantam os gestos… E, quase sem nos apercebermo-nos, suavemente ficamos presos na magia da sua voz, que nos embala a alma, dizendo-nos coisas de amor, de saudade, de ciúme, de revolta... Sentimo-nos extasiados, fere-nos a carícia da sua voz a desvendar-nos esse mundo íntimo e profundo, que palpita em todos nós, e só o Fado consegue revelar.
Adelina Ramos foi proprietária do Restaurante Típico “A Tipóia”, recinto por onde passaram quase todos os grandes nomes da época, quer de fadistas, quer figuras de relevo da sociedade de então.
versos de: Carlos Conde
Adelina Ramos. Pronto.
Não é preciso mais nada,
Nem há lugar p'ra confronto
Nesta artista consagrada.
Canta o fado à moda antiga,
E dos laivos do passado
Às rimas de uma cantiga
Tudo tem sabor a fado.
Pela expressão saudosista
Que imprime aos fados que entoa,
Há quem lhe chame a fadista
Mais fadista de Lisboal
RAUL NERY
Nasceu na Costa da Caparica, filha de pescadores, Ercília Costa iniciou-se na música quase por acaso. Sem ter prévia experiência musical ou artística, apenas motivada pelo gosto de cantar, ainda adolescente apresentou-se no Conservatório de Lisboa em resposta a um anúncio, para encontrarem cantores para uma récita a realizar no Teatro de São Carlos. Ercília foi apurada, mas a representação acabou por não se fazer.
O actor Eugénio Salvador, ouve-a nas provas do Conservatório, a sua voz agrada-lhe e logo a convida para fazer parte do elenco da companhia do Teatro Maria Vitória, onde actuou ao lado das maiores vedetas do palco da altura, como Luísa Satanella e Beatriz Costa.
Dotada de uma voz privilegiada, com certo acento dramático, bem cedo conquistou posição invejável a interpretar o fado. Tornar-se-ia verdadeiramente popular como fadista, actuando em muitos retiros e nas mais importantes casas típicas da altura.
A sua estreia como profissional foi no retiro Ferro de Engomar, onde lançou a moda do xaile negro que as fadistas ainda hoje usam, chamavam-lhe então a “Sereia Peregrina do Fado” e também a “Santa do Fado” (por cantar de mãos postas em gesto de oração).
Em 1931 entra na revista "O Canto da Cigarra", levada à cena no Teatro Variedades, onde tem um êxito estrondoso com o “Fado Lisboa” com letra de Álvaro Leal e música de Raul Ferrão.
Em 1932 desloca-se à Madeira e aos Açores com João da Mata, Armandinho e Martinho d'Assunção.
Em 1936 vai ao Brasil com a Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, de que foi primeira figura de cartaz, obtendo enorme sucesso, pelo que no seu regresso a Portugal foi distinguida com homenagens realizadas uma no salão de chá do Café Chave d' Ouro e outra no Retiro da Severa.
Realiza vários espectáculos no estrangeiro, França em 1937, EUA em 1939 acompanhada por Carlos Ramos, onde cantou no pavilhão português da Feira Internacional de Nova Iorque.
Participou igualmente em alguns filmes, e, caso raro, chegou a compor algumas das suas criações mais célebres, como o Fado da Mocidade ou O Filho Ceguinho (conhecido como o Menor da Ercília).
Voltou ainda ao Brasil (onde permanece quinze meses seguidos) na época de 1945-46, integrada na Companhia Alda Garrido.
Depois de participar em 1951 no filme Madragoa e de algumas actuações pontuais em espectáculos de beneficência, abandonou a carreira para se dedicar ao seu casamento, sem nunca ter cedido à tentação de regressar ao palco.
Em 1972 Ercília Costa gravou o seu último disco com o título de “Museu do Fado”, incluindo alguns dos seus maiores sucessos.
Tentam fazer-lhe uma festa de despedida, mas não aceitou, alegando que algum dia podia precisar de voltar.... Mas tal não aconteceu.
Ercília Costa foi uma das grandes cantadeiras de fado da primeira metade do século XX. O seu nome é hoje pouco recordado, pois as gravações que realizou são anteriores aos anos cinquenta, altura em que se começou a popularizar o disco gravado, mas no seu tempo foi uma vedeta acarinhada pelo público e foi certamente, antes de Amália uma das fadistas mais internacionalizadas.
Do seu vasto reportório relembramos os fados: Meu Tormento, Saudades Que Matam, Pobreza Envergonhada, Pesar Profundo, Divina Graça, Amor de Mãe, O Meu Filho, Rosas, A Minha Vida, Fado Tango, Fado Sem Pernas, Fado Dois Tons, Fado Corrido, Fado Aida, Fado Ercí1ia, Negros Traços, Desilusão, Um Desgosto, Padre-Nosso Pequenino, Juro, Fado da Amargura, e as desgarradas com o Dr. António Menano e Fado da Mouraria também à desgarrada com Joaquim Campos.
FADO DA AMARGURA
Letra de João da Mata
Repertório de Ercília Costa
I
Que tristeza
Deus me deu,
Não existe, com certeza,
Ninguém mais triste do que eu.
Com descrença
Vou cantando
Minada pela doença
Que aos poucos me vai matando.
Cantar; cantar;
Versos de amor; de prazer;
Oh! Quem me dera poder
Cantá-los sem me esforçar.
A toda a hora
Sinto minha alma doente
Pois não sou, infelizmente,
A mesma que fui outrora.
II
Que saudade, Que amargor;
Dos tempos da mocidade
Feitos de sonho e de amor!
Sonho lindo,
Doce e brando
Outrora cantei sorrindo
Mas hoje canto chorando...
Ai! Se eu pudesse
Gozar saúde outra vez
Ao bom povo português
Cantaria numa prece,
Agradecendo
À gente que é tão amiga
Desta infeliz rapariga
Que vai cantando e morrendo.
Fui Reviver o Passado
Letra: Alberto Rodrigues e Musica:Manuel Maria
ARGENTINA SANTOS
MARIA ARGENTINA PINTO DOS SANTOS, nasceu em Lisboa, na Mouraria (freguesia do Socorro), em 1926.
Desde 1950 que se mantém à frente do seu restaurante típico “A Parreirinha de Alfama”, sendo considerada uma excelente cozinheira.
Argentina Santos só iniciou a sua carreira artística depois da abertura do seu restaurante, cantando com sucesso para os frequentadores da casa. De facto, graças à autenticidade das suas interpretações e a um estilo muito pessoal, logo se impôs como uma das mais dotadas e prometedoras fadistas da época, tornando-se desde então, muito apreciada como intérprete do fado clássico, na linha das cantadeiras afamadas do passado.
Pela Parreirinha de Alfama passaram as mais consagradas cantadeiras de fado, aliás as paredes estão decoradas com molduras com as fotos de todas elas. Homens só Marceneiro e Júlio Peres.
Os fados As Duas Santas (letra de Augusto Martins e música do Fado Franklin) e Juras (letra de Alberto Rodrigues e música de Joaquim Campos) foram, entre outros, grandes êxitos seus.
Gravou o seu primeiro disco em 1960 cantando conhecidas composições como Chafariz do Rei, Quadras (de António Botto), Naquela Noite, Em Janeiro, Amar Não é Pecado, Dito por Não Dito, Passeio Fadista, A Grandeza do Fado, Não Me Venhas Bater à Porta, Mágoas Com a Vida, Reza, Quadras Soltas e Os Meus Passos.
Tendo-se embora confinado às suas actuações na Parreirinha de Alfama e a uma ou outra intervenção em festas públicas e particulares, Argentina Santos não deixou, por isso, de se tornar conhecida e apreciada como cantadeira castiça.
Nas últimas décadas tem tido umas deslocações ao estrangeiro, onde também tem agradado.
Argentina Santos e Alfredo Marceneiro
Anúncio da "Parreirinha de Alfama" no Jornal a Voz de Portugal de Janeiro de 1959
em que se verifica que se apelidava também de (Cantinho da Amália)
Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro, Lina Maria Alves (a fadista que há mais anos é residente na Parreirinha) e o guitarrista Acácio Gomes
MARIA ALICE ( 1904-1997)
De seu nome verdadeiro Glória Mendes Leal Carvalho, nasceu na Figueira da Foz, viveu em Vila Nova de Ourém, mudando-se aos 14 anos para Lisboa depois da morte do pai.
O empresário Otelo de Carvalho ofereceu –lhe um lugar de corista na revista Mágica do Bolo-Rei e assim se estreou no Eden Teatro, com Adelina Fernandes e Maria Alves.
Adopta o nome artístico de Maria Alice, porque era como a tratavam quando era pequena.
Cantou pela primeira vez no Ferro de Engomar (de que mais tarde foi sócia), a convite de Maria do Carmo, numa festa do Fado da Velha Guarda, em 1927, tendo tido uma grande ovação, mais tarde confessou que esteve sempre muito assustada e nervosa.
Actuou no Clube Olímpia a convite da fadista Maria Emília Ferreira.
Notabilizou-se noutras casas como o Charquinho, Caliça e Pedralvas, bem como em festas de beneficência, teatros e esperas de toiros. Em 1931 participou com Maria do Carmo, Ercília Costa, Maria Albertina e Alberto Costa no quadro Solar da Alegria da opereta História do Fado, de Avelino de Sousa, apresentada pela companhia Maria das Neves no Teatro Maria Vitória. Colaborou na festa de homenagem ao poeta popular João da Mata, realizada no mesmo ano no Salão Jansen. Fez várias digressões ao Brasil.
Casou em segundas núpcias com Valentim de Carvalho, dono da editora discográfica do mesmo nome.
Maria Alice foi uma das cantadeiras que mais discos gravou, destacando-se: Amei-te Tanto; A Minha Sina; Fado Alexandrino; o. Louco; A Azenha; O Condenado; Quando o Meu Filho Adormece; Lembrança Triste; Esse Olhar Dá-me Tristeza; A Tristeza da Mouraria; Carta para a Prisão; Fui Dizer Adeus à Barra; Carta para o Degredo; Vida Triste; Voz de Portugal; A Minha Aldeia; Fado da Perdida; A Enjeitada; Fado da Traição; Fado Triste; Fado Menor; Fado Tango; Fado-Desafio e Os Teus Cabelos, O Ódio do Amor , etc.
Quadro "O Fado" de José Malhoa
MESTRE JOSÉ MALHOA (1855 - 1933)
José Victal Branco Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha.
Veio para Lisboa onde fez toda a sua educação artística. Foi no início um pintor de assuntos de ar-livre. Passa por várias fases do desenrolar da sua criatividade. É assim que pinta a festa de S. Martinho e «O Fado», onde as figuras saem fora da vida para se impregnarem duma transfiguração impar. São os bêbados e os párias, vinho, e a meia-luz das vielas sombrias.
«O Fado», sobretudo, é uma alegoria pungente; um par amoroso numa atitude aviltante, num interior de lupanar onde não falta o olhar comiserado duma estampa do Senhor dos Passos, com a túnica roxa e a cruz às costas.
Mas o povo de Lisboa tem-lhe prestado o culto da admiração, glosando o seu motivo com pretextos da glorificação, e ama este quadro como jóia preciosa. O Fado de Malhoa!
Cantou-o a voz de Amália Rodrigues e tantas outras. Tem sido motivo de inspiração de cantigas e bailados nos teatros musicados; foi argumento de filmes, legenda de calendário, polémica de estudos, glosa de versos populares… e anda decorado na pupila dos lisboetas como estampa que é bem sua.
«A Voz de Portugal» na sua edição de 15 do Outubro de 1955 transcreve a história desta obra de arte ligada à cantiga popular portuguesa, como homenagem ao pintor que foi enaltecido em bronze numa praça da sua terra natal, num texto de António Montez.
Amigo de Lisboa e português dos melhores, entendeu o artista dever mostrar ao mundo a pintura que tanto o prendeu.
A França, a Espanha, a Inglaterra e a Argentina apreciaram o trabalho, deram-lhe altas recompensas, o que, por si só, justifica a sua aquisição pela Câmara Municipal de Lisboa, que não quis, perder a oportunidade de guardar no «Museu da Cidade» um quadro de realismo impressionante, sem dúvida a pintura mais lisboeta na obra do Mestre.
Mas para Malhoa não foi tarefa fácil a escolha dos modelos para o quadro!
Ao tempo, havia na Mouraria um fadista que dava que falar, conhecido pela alcunha de «Pintor».
As visitas diárias de Malhoa, à viela sombria da Rua do Capelão, começaram a chamar a atenção das desgraçadas do bairro castiço, que, para evitar confusões, passaram a chamar a Malhoa «O Pintor Fino». Aliás foi uma delas que lhe indicou o rufião Amâncio – tocador de guitarra que manejava a navalha como poucos –, para modelo do quadro que havia de imortalizar Malhoa.
O primeiro encontro do pintor com o fadista, em plena Mouraria, constituiu um acontecimento sensacional, pois deu lugar à apresentação da Adelaide, também chamada «Adelaide da Facada», por virtude dum traço largo e profundo que tinha do lado esquerdo do rosto, razão que levou o Mestre a mudar a posição que tinha esboçado inicialmente para os retratos.
Malhoa disse o que queria, pôs condições, e como a oferta de seis vinténs por sessão, foi considerada bastante compensadora, o Amâncio garantiu que Adelaide não faltaria nunca!
Foi sol de pouca dura, pois Amâncio, ruído de ciúmes, agredia a companheira logo que o pintor voltava costas, acabava por vir a polícia, e lá iam os dois para o Governo Civil, a insultarem-se mutuamente, mas o mestre Malhoa, com a sua influência pessoal, lá conseguia libertar os turbulentos modelos.
A certa altura, Malhoa fez descer a alça da camisa da infeliz. O Amâncio, cada vez mais ciumento, não gostou da graça, azedou-se, e de mão no bolso e ar ameaçador, disse ao Mestre que não era para brincadeiras. Não se sabe o que se passou, mas a verdade é que a alça subiu para o seu lugar, da mesma forma que a saia branca gomada foi substituída pelo saiote de baeta vermelha.
Foto do Mestre José Malhoa no seu Atelier
FADO MALHOA
Criação de Amália Rodrigues
Letra de: José Galhardo
Música de: Frederico Valério
Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.
Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.
Faz rir a ideia de ouvir
Com os olhos senhor
Fará mas não para quem já
Ouviu mas em cor
Há vozes de Alfama
Naquela Pintura
E a banza derrama
Canções de amargura
Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa
TEREZA TAROUCA
O Salão dos Bombeiros de Oeiras, foi palco da estreia de Tereza Tarouca, que cantou o fado tinha apenas 13 anos.
Oriunda de uma família ligada à música, é prima afastada de Maria Tereza de Noronha e prima de Frei Hermano da Câmara.
Menina-prodígio durante os anos 50, assinou contrato com a RCA em 1962, para a gravação do primeiro disco.
Cantou poemas de uma vasta galeria de autores de qualidade como D. António de Bragança, João de Noronha, Casimiro Ramos, João Ferreira-Rosa, Francisco Viana, Alfredo Marceneiro, D. Nuno de Lorena, Pedro Homem de Mello e Maria Manuel Cid.
Tereza Tarouca ganhou vários prémios nacionais e internacionais e actuou em muitos países como Dinamarca, Bélgica, Espanha, Estados Unidos e Brasil.
Em 1989 publicou um álbum emblemático da sua carreira: Tereza Tarouca Canta Pedro Homem de Mello.
Os seus principais êxitos foram , Mouraria, Deixa Que Te Cante Um Fado, Fado, Dor e Sofrimento, Passeio à Mouraria, Saudade, Silêncio e Sombra, Não Sou Fadista de Raça, Meu Bergantim, Zé Sapateiro.
Maria Amélia Proença
Canta "Grata Ofensa"
NUNO DE AGUIAR
Concórdio Henriques de Aguiar, que adoptou o nome artístico Nuno de Aguiar, nasceu em Lisboa a 1 de Setembro de 1941 no Bairro da Graça.
A sua avó Maria Emília da Tabaqueira (da tabaqueira era alcunha por causa da fábrica em que trabalhava) cantava o Fado.
O Nuno aos 9 anos já se mistura com rapaziada do bairro ligados ao fado e começa a fazer os seus primeiros ensaios, agrada e começa sem que o pai saiba a cantar nas tascas do bairro, os mais velhos gostam de o ouvir e dão-lhe umas gratificações.
Seu pai, marceneiro de profissão, não quer que ele se meta em cantigas, mas que aprenda um ofício, e assim arranja-lhe um lugar de aprendiz de marceneiro.
Acaba por ser o próprio pai a ser o responsável por ele acabar por se profissionalizar, isto porque um dia levou-o aos recintos do Bairro Alto, onde ele extasiado conheceu e ouviu ao vivo, o Joaquim Silveirinha, o Alfredo Marceneiro, Frutuoso França e outros.
Abandona o emprego de aprendiz de marceneiro e começa a frequentar as festas fadistas e a ser solicitado para cantar.
Aos 15 anos grava na Rádio Graça e mais tarde em 1960, ganha o “Concurso da Primavera” de fado.
Começa a ser contratado em diversas casa típicas, e solicitado para actuar em festas particulares.
Vem o serviço militar, é mobilizado para Angola, o que não o impediu de continuar a cantar para agrado das tropas e de quem o escutava.
Regressa ao Continente e é convidado pelo empresário Emílio Mateus a gravar para a etiqueta “Estúdio”, e é nesta ocasião que adopta o nome artístico de NUNO DE AGUIAR.
Tem algumas deslocações ao estrangeiro, França, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e Inglaterra.
Vai aos Estados Unidos para uma pequena digressão e acaba por lá ficar 9 anos a cantar para as comunidades de portugueses, e não só.
Nuno de Aguiar tem vários CD gravados, alguns com poemas seus e de outros poetas de renome.
Entre os muitos temas que cantou e que tiveram o agrado do público, há um que teve um enorme sucesso “BAIRRO ALTO”, com letra de Carlos Simões Neves e Oliveira Machado e música de sua autoria, que tem sido gravado por outros fadistas, como foi o caso de Carlos do Carmo.
Em 2006 fez 45 anos de carreira, que foram assinalados com o lançamento de um CD da Metro-som.
Nuno de Aguiar canta Bairro Alto
BAIRRO ALTO
Letra: Carlos Simões Neves e Oliveira Machado
Música: Nuno de Aguiar
Bairro Alto, com seus amores tão delicados,
Certa noite, deu nas vistas,
E saiu com os trovadores mais o fado,
P'ra fazer suas conquistas.
Tangeu as liras singelas,
Lisboa abriu as janelas,
Acordou em sobressalto,
Gritaram Bairros à toa,
Silêncio velha Lisboa,
Vai cantar o Bairro Alto
estribilho
Trovas antigas,
Saudade louca,
Andam cantigas
A bailar de boca em boca...
Tristes, bizarras,
Em comunhão,
Andam guitarras
A gemer de mão em mão!
Por isso é que mereceu fama de boémio,
Por condão ou fatalista,
Atiraram-lhe com a lama, como prémio,
Por ser nobre e ser fadista.
Hoje saudoso e velhinho,
Recordando com carinho,
Seus amores, suas paixões,
P'ra cumprir a sina sua,
I'nda veio p'rá meio da rua,
Cantar as suas canções!
Esta é uma pequena homenagem a todos os funcinários do
Museu do Fado
e em especial à sua incansável Directora, Drª. Sara Pereira
Poema ao Museu do Fado
Poema de: José Estevam – Julho de 2007
Fui ao
E fiquei admirado
Ver tanta coisa bonita
Há fado há amizade
Podem querer que é verdade
Mas que coisa tão catita
Fica na Lisboa antiga
Ao lindo bairro de Alfama
Aonde o fado é cantiga
Pois não há nenhum drama
É um bairro de gente amiga
Que é um bairro com fama
Tem
Tem toda a graça do mundo
Tem que ser mais divulgado
Porque é Portugal enfim
Tem o fado que é de marfim
Por tudo isto não posso ficar calado
Um abraço a todos os fadistas
Um abraço aos guitarristas
Porque sem eles não havia fado
É gente que ama a vida
Porque ela é tão querida
Porque tudo nos é enviado
O MUSEU DO FADO
No Edifício do Recinto da Praia, frente ao Largo do Chafariz de Dentro, porta de entrada para o histórico Bairro de Alfama, instalou-se o Museu do Fado, inaugurado a 25 de Setembro de 1998, um projecto promovido pelo Pelouro de Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa. Este equipamento cultural, inteiramente consagrado ao universo do Fado e da Guitarra Portuguesa, constitui uma referência obrigatória no âmbito dos equipamentos culturais da cidade, promovendo aquela que é a sua expressão musical por excelência e integrando diversas áreas funcionais: um núcleo museológico com uma exposição permanente, um espaço de exposições temporárias, um Centro de Documentação, uma Loja, um Pequeno Auditório, uma Escola e um espaço de restauração/cafetaria.
Largo do Chafariz de Dentro, nº 1
1100-139 LISBOA
Tel: 218823470
Mariema Campos, nasceu em Lisboa no Bairro de Campo d´Ourique.
Foi sempre desde muito jovem, alegre e brincalhona, com um sentido de humor fora do comum.
Sonhava vir a ser hospedeira de bordo, o que acabou por não se concretizar.
Já em jovem estudante gostava de cantar o Fado para os colegas, foi crescendo e começou a frequentar casas de fado, e perdeu o receio de cantar em público e começou a fazê-lo e tal modo agradou que foi contratada.
Em 1964 a empresa que explora o Teatro ABC, convida-a para a revista “ A regar e por ao Luar”, como atracção. Segue-se a revista “ “Ái venham vê-las” onde tem a sua primeira rábula as «Gémeas» em que contracena com Fernanda Borsati, que acabou por ser um dos pontos altos da revista.
Transita para o teatro “Maria Vitória” para a revista “Sopa no Mel”, onde a sua actuação é mais como actriz que como fadista, tendo conseguido um extraordinário êxito. Também actuou no Variedades na revista “A Ponte a Pé”
Grava vários EP e LP, mas como ela afirma passou a ser essencialmente uma artista do teatro de revista, que também canta.
Teve êxitos como «Amor de Verão», «Zé da Esperança», «Sozinha», «Seja o que Deus quiser», «Quer queiras quer não», mas acima de todas « O Fado Mora em Lisboa », que abaixo se reproduz e que ela canta.
Mariema canta
O FADO MORA EM LISBOA
Passeia p'lo mundo inteiro
Por gostar da vida boa
Mas não mora no estrangeiro
O fado mora em Lisboa
Já morou na Mouraria,
Mas depois num sobressalto
Tratou da mudança e um dia
Foi p'ro Bairro Alto.
estribilho
O fadinho
Mora sempre por castigo
Num bairro antigo
Num bairro antigo
E a seu lado
P'ra falarem à vontade
Mora a saudade
Mora a saudade
Quase: em frente
Numa casa de pobreza
Vive a tristeza
Vive a tristeza
Tem corrido
Os velhos bairros sempre à toa
Mas mora em Lisboa
Mas mora em Lisboa
Quando vai cantar lá fora
Tem uma ideia bizarra
Leva um estribilho que chora
Na voz triste da guitarra
Canta lá dias a fio
Mas depois numa ansiedade
Volta sempre num navio
Chamado saudade
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Lisboa, 27 Julho 2007 (Lusa)
O projecto de colocar Lisboa no "Guiness Book" como a cidade mais cantada do mundo reuniu já cerca de 1000 temas, entre fados, marchas e canções, disse à Lusa o autor da iniciativa, Vítor Duarte Marceneiro.
O projecto conta com o apoio da Câmara de Lisboa, interessada em constituir uma base de dados de canções da cidade que ficará à guarda do Museu do Fado.
"Através desta base ficaremos a saber os autores, ano da criação, quem foi a primeira pessoa a cantar, o criador portanto, quem primeiro a gravou, quando foi gravada, e todos os dados que se considerem interessantes, como as sucessivas recriações", disse à Lusa o investigador.
Por exemplo "Lá vai Lisboa" (Norberto de Araújo/Raul Ferrão), a primeira Grande Marcha de Lisboa, de 1935, foi criada por Beatriz Costa e tem sido gravada por várias vozes, nomeadamente, Amália Rodrigues, Maria Clara, Ada de Castro e Alice Amaro, entre muitas outras.
Nesta altura estão referenciados 1000 temas, maioritariamente fados, sendo Carlos Conde o poeta mais cantado logo seguido por Frederico de Brito, conhecido como "poeta chauffer".
As décadas de 1950 e 1960 são as que têm apresentado mais produção, "apesar de a década de 1980 revelar também um elevado número de temas gravados".
Paralelamente a este trabalho, Vítor Duarte Marceneiro decidiu criar um blog que se tem tornado "num espaço de tertúlia sobre Lisboa, com maior incidência no fado, que é a sua canção natural".
O blog http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/ registou desde Janeiro, quando foi publicado, até Junho, 57.000 visitas, uma média de mais 300 cliques diários.
"Através deste blog vou também tendo informações adicionais sobre os temas, trocas de impressões, pois muita coisa ou não está registada ou até tem falhas na informação e há uma pesquisa que se tem de fazer, mas há também uma história oral que passa de pessoa para pessoa", explicou Vítor Duarte Marceneiro.
"Às vezes surgem achegas importantes, que ajudam no trabalho, porque aliás este é um blog aberto", acrescentou.
O blog inclui biografias de artistas "que se destacaram na cena e que cantaram temas alfacinhas".
Para o investigador "este é um trabalho sem fim", não prevendo uma data limite para a sua conclusão.
"Isto é para durar pois estão sempre a aparecer coisas novas e há um crescente interesse. É uma investigação sem fim, como o meu empenho na divulgação do fado e amor a Lisboa", concluiu.
NL.
Lusa/Fim