JÚLIO VIEITAS (1915 – 1990) nasceu nas Caldas da Rainha, cidade onde muito jovem, começou a cantar o fado entusiasmado com as interpretações de fadistas de Lisboa que lá iam participar em espectáculos.
Com 15 anos, decidiu vir trabalhar para a capital, mas a sua ideia era desenvolver as suas qualidades de cantador.
Aos 17 anos cantou no retiro da Bazalisa, em Campolide, onde o velho fadista Júlio Janota, (pessoa de muito mau feitio), despeitado com a sua interpretação castiça e a sua bela voz, lhe disse que pensasse noutro futuro pois a cantar não se «safava» (para tentar desmoralizar o rapaz), mas não conseguiu desanimá-lo, pois continuou a cantar como amador durante alguns anos em sociedades de recreio e verbenas.
Estreia como profissional em 1937 no Café Mondego, tendo cantado, sucessivamente, no Solar da Alegria, Café Vera Cruz e Café Latino. Actuou também nas casas típicas: Café Luso (da Travessa da Queimada), Sala Júlia Mendes, Café Monumental e Cervejaria Artística.
Em 1943, fez uma tournée pelo Centro e Norte do País com Ercília Costa como empresária, actuando durante algum tempo no Cinema Olímpia, do Porto, mais tarde voltaria ao Porto várias vezes ao longo da sua carreira, actuando na Taverna de S. Jorge, no Hotel D. Henrique, na Cozinha Real do Fado, na Casa da Mariquinhas e n'O Rabelo (Vila Nova de Gaia). Em Coimbra cantou no Retiro do Hilário
Em 1954 cantou num programa de fados da Emissora Nacional, e mais tarde, em 1960, tambem participou no Rádio Clube Português e nos Emissores Associados de Lisboa.
Em 1955 gravou discos para a etiqueta “Estoril”, com as composições Bairro Eterno, Campinos, A Cigana, Vem Comigo e Aquela Luz.
Em 1957 foi um dos primeiros artistas do fado a cantar nos programas experimentais da RTP.
Foi contratado no retiro do Caliça, na Parreirinha do Rato, no Ritz Clube, na Adega da Lucília, na Adega Mesquita, n'O Faia, na Nau Catrineta, no Paraíso das Guitarras e na Parreirinha de Alfama.
Em 1970 é o director artístico no Arabita, em Alfama.
Em 1973 para a etiqueta “A Roda”, grava: Juventude, Aguarela Portuguesa, A Varina dos Olhos Verdes e Doce Visão
Em 1977 grava: Embriaguez do Amor, O Regresso do Soldado, O Fado... Apenas Isto e Um Artista.
Em 1979 gravou para a etiqueta “Riso e Ritmo” um LP com o título (Fado da Velha Guarda), com Gabino Ferreira, Júlio Peres, Manuel Calixto, José Coelho e Frutuoso França, em que canta Ser Fadista e Não te Quero Perder
Júlio Vieitas, foi um conceituado intérprete do Fado de Lisboa, distinguiu-se também como poeta popular, autor de conhecidas letras de fados, algumas delas com música sua, das quais destacamos: Princesa do Tejo (fado-canção gravado por Fernanda Maria, Ana Hortense e Francisco Martinho e orquestrado por Shegundo Galarza), A Cigana e Varina dos Olhos Verdes.
Júlio Vieitas foi um dos últimos representantes de uma escola fadista, que persistiu em manter a tradição do fado autêntico, embora cultivando também o fado-canção.
JUVENTUDE
Música: Fado Carlos da Maia)
Quando se tem juventude
Com floridas ilusões
A vida é rumo sem norte.
Brincamos com a saúde
Vibramos com as paixões,
Vive-se à mercê da sorte.
II
Ilusões, quem as não tem?
Por mim passaram também
Aventuras desmedidas.
Quantos caminhos cruzados!...
Bons momentos, maus bocados,
Coisas que não são esquecidas.
III
Dos momentos mais risonhos
Há recordações eleitas...
Lembranças que são saudades,
Pois até nos próprios sonhos
Vemos ilusões desfeitas
Que foram realidades.
IV
Meu Deus, o que o tempo faz!
Dilacera o coração
No peito a chama não arde
Mas quando olhamos para trás
Até pedimos perdão
Com pena de ser tão tarde
Júlio Vieitas Canta:
Não Te Quero Perder
PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS
Gabinete do Primeiro-Ministro
Despacho no 23 913/2007
A Fundação Amália Rodrigues, pessoa colectiva no 504772260, com sede em Lisboa, foi constituída por testamento de Amália da Piedade Rodrigues, com a finalidade de auxiliar de uma maneira geral as pessoas mais desfavorecidas no âmbito patrimonial, designadamente os órfãos, indigentes, sem abrigo, de criar e de auxiliar instituições de beneficência e de solidariedade social.
No sentido de honrar a figura de grande impacte nacional e face ao interesse geral em perpetuar e prestigiar o nome de Amália Rodrigues,
contribuindo para satisfazer a sua vontade, claramente expressa no testamento público que elaborou, declaro, com efeitos retroactivos desde a data do pedido, a Fundação Amália Rodrigues pessoa colectiva de utilidade pública, nos termos do Decreto-Lei nº 460/77, de 7 de Novembro, sem prejuízo de, para além dos deveres fixados por este diploma, impor, nos termos do seu artigo 6.o, o cumprimento das seguintes condições:
a) Comprovar a regular constituição dos órgãos sociais, a inexistência de dívidas fiscais e à segurança social e entregar a documentação legalmente exigível;
b) Apresentar anualmente, até Março, o plano de actividades do ano em curso e o relatório pormenorizado e quantificado das actividades efectivamente desenvolvidas para cumprimento dos fins estatutários identificados no artigo 4.o e no n.o 2 do artigo 5.o dos respectivos estatutos.
Findo o prazo de três anos a contar da presente declaração, será reapreciado o cumprimento dos requisitos gerais e especiais que ora lhe são impostos, para efeitos de dar continuidade à presente declaração ou fazê-la cessar.
28 de Setembro de 2007.
O Primeiro-Ministro,
José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
-----Mensagem original-----
De:
Enviada: sexta-feira, 19 de Outubro de 2007 12:02
Para: Recordar
Assunto: Fundação Amália
Fadistas e pessoas interessadas na Cultura Portuguesa
A Fundação Amália Rodrigues passa, desde hoje, a ter estatuto público e logo, estarão desbloqueadas contas bancárias, jóias e outro património. Há que alertar a comunidade fadista para que o nome da nossa maior voz não caia nas ruas da amargura devido a uma má gestão ou insensibilidade de alguns. Alertar todos pois a Fundação - e esse era o interesse de Amália - é de todos. Não vamos chorar sobre o leite derramado. Mas desde já estar atentos ao que há e deve ser preservado! Permitam-nos esta chamada de atenção.
E enquanto esperamos mais 3 anos a ver (a marcha a passar) , relembremos a nossa querida Amália a cantar LÀ VAI LISBOA
LEMBRAR A GRANDE
HERMINIA SILVA
NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
23 de Outubro de 2007
Há cem anos nasceu um das maiores estrelas do nosso panorama artístico:
HERMÍNIA SILVA.
Autêntica, igual a si própria, fruto da sua vivência, revela uma subtileza interpretativa e de fino recorte vocal. A sua voz parece uma cascata de água fresca. Nunca ninguém tentou imitá-la, ou sequer aproximar-se do seu estilo.
A sua capacidade de criar melodias dentro da melodia tornaram-na única, e de tal forma extraordinária que, se foi grande entre nós, sê-lo-ia em qualquer outra parte do mundo. Hermínia tinha uma capacidade inultrapassável de improviso, tanto a cantar como no teatro onde foi aclamada pelas plateias. O público adorava-a, escreveram os jornais que a adorava até ao fanatismo.
Hermínia foi essencialmente uma criativa! Criava sempre algo de novo em cada fado que cantava mesmo que o cantasse todas as noites e que todos o conhecêssemos.
N.L.
BIOGRAFIA
Hermínia Silva nasceu às 18 horas do dia 23 de Outubro de 1907, no Hospital de São José, freguesia do Socorro, era filha de Josefina Augusta, que morava à data do parto na Rua do Benformoso, 153, no 1.º andar, freguesia dos Anjos, em Lisboa. (1)
(1) Conforme Acento de Nascimento n.º 704, do ano de 1907, na 8.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa.
Sua mãe, chamava-se Josefina Augusta, era natural de Samora Correia. Teve uma irmã mais velha que tinha o nome de Emília e um irmão que se chamou Artur Moreira.
É com palavras da própria Hermínia, com a sua simplicidade, a sua graça no jeito tão pitoresco que ela tinha a exprimir‑se, que aqui se transcreve parte da sua biografia:
Julgo que nasci numa casa ali para os lados do Campo de Santana (2), numa travessa, cujo nome não recordo, e não recordo porque saí de lá apenas com oito meses. A verdade é que não tenho quaisquer recordações do tempo que mediou entre o meu nascimento e a idade escolar, mas creio que fui uma criança absolutamente normal, com todas as gracinhas, «perrices» e evoluções que são comuns a todas as crianças normais.
No entanto, recordo que me contaram que quando tinha oito meses caí da varanda à rua. Mas eu explico como isso foi e como é possível eu ainda aqui estar a falar sobre a minha infância.
Ora, na casa onde nasci, havia uma varanda, na qual eu brincava habitualmente, que, por segurança, estava protegida por uma rede. Porém, um dia, por qualquer razão, que ignoro, alguém tirou a rede e eu, na minha «gatinhice», enfiei pelas grades e fiz um «voo picado» até à rua… bom, até à rua não, porque tive a sorte de cair na giga de uma mulher que vendia hortaliça e que, providencialmente, passava nessa altura debaixo da varanda.
Logo um senhor, que passava por ali na ocasião, agarrou em mim e levou‑me para o Hospital. Cheguei lá e... pasmem, verificaram que não tinha nem uma beliscadura. E eu, muito sossegadinha, não chorava nem nada.
Deram‑me, depois, lá no Hospital, uma colher de cerveja preta e trouxeram‑me finalmente de volta a casa, onde todos se encontravam muito aflitos,... Mas cair de um segundo andar à rua, apenas com oito meses, e nada sofrer, hem?! Ao menino e ao borracho…
Este é, segundo julgo, o único episódio fora do vulgar da minha infância, já que não tenho ideia ouvir falar em mais nada.
Como consequência dessa queda da janela à rua, veio uma mudança de residência. Minha mãe, impressionada com o acidente, não quis continuar naquela casa e, assim, mudámo‑nos para o Castelo.
(2) Hermínia faz esta afirmação sobre o seu nascimento em entrevista ao jornal Trovas de Portugal, de 30 Julho de 1933, onde, na página seis, Hermínia escreve pela pena do jornalista: — Sou de Lisboa, freguesia do Socorro, e criei‑me no Castelo de S. Jorge!
No Álbum da Canção, datado de 1965, fala do local do seu nascimento, mas sem muita clareza: — nasci numa travessa da qual não me lembro o nome, ali ao “Campo de Santana”.
Em 1980, quando da festa da entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, Hermínia Silva é entrevistada para a RTP e diz que nasceu na «Rua das Flores» que ficava junto à Travessa Conde de Avintes, e que era perto do local onde morava o Armandinho. Ora este local situa‑se na freguesia de S. Vicente de Fora e há lá uma Travessa das Flores e não Rua das Flores.
Desde que me entendo que gostei de cantar. E o fado, cantava‑o a todo o momento, e por toda a parte: na rua, em casa, na escola, desde que aos seis anos comecei a frequentar a escola, que ficava ali na Rua da Madalena, mesmo em frente da igreja.
Ora lá na escola, por vezes, havia umas festas nas quais tomavam parte algumas meninas que sabiam cantar. Eu deixava‑me ficar muito caladinha quanto aos meus «méritos», pois tinha vergonha de os revelar. Até que um dia, quando se preparava uma dessas festas, uma das minhas colegas dirigiu-se à mestra e, apontando-me, revelou:
— Minha Senhora, esta menina canta muito bem!
Claro está que a professora quis, imediatamente, avaliar as minhas possibilidades e mandou-me cantar uma música que eu soubesse bem. E eu «desatei» logo a cantar um fado, daqueles bem fadistas.
A professora ao ouvir-me cantar o fado levou as mãos à cabeça e, fazendo um gesto negativo, declarou:
— Ai. Esta menina! Não… Fado não!
Depois, talvez por ver a decepção estampada na minha cara, incitou-me a cantar outra «moda» que eu soubesse. Cantei, ou melhor, comecei a cantar uma canção que sabia também, mas o pior é que mesmo a canção, na forma como eu cantava e na minha voz, soava como fado. E, de novo, a senhora me interrompeu, repetindo, um tanto ou quanto escandalizada:
— Não, fado não… Esta menina não pode cantar na festa! As meninas não cantam fado!
Escusado será dizer que fiquei com uma grande «pinha», pois cantar já era para mim uma paixão.
E começava também já a despontar em mim o desejo de representar. E chorei que me fartei.
Mas a vida continuou e eu sempre cada vez mais possuída por aquela verdadeira paixão que era para mim o cantar. E sempre que podia lá estava eu de «boca aberta» quer fosse em casa, quer fosse nas casas de pessoas amigas que me convidavam, de vez em quando, a cantar um «fadinho», quer fosse em festas particulares, onde me chamavam de propósito para eu «botar» cantiga, porque achavam que eu tinha «jeitinho».E eu ia sempre cantando e sempre a pensar no Teatro, pois nesse tempo não havia casas típicas e eu para as tabernas não ia… claro que não ia.
Até que um dia…
Estava eu em casa da minha irmã Emília (3), que morava ali em Entre Muros do Mirante, quando casualmente passou o Armandinho, que morava para aqueles lados e me ouviu cantar. Ou melhor, ouviu uma voz, vinda daquele prédio. Então, subiu as escadas, bateu a porta e perguntou à minha imã, que foi quem abriu:
— Não é aqui que está uma pequena a cantar?
— É, é. É a minha irmã — replicou.
— Que idade tem ela?
— Olhe, tem doze anos.
— Chame‑a lá, faz favor — volveu Armandinho, cada vez mais interessado.
A minha irmã, que sabia o quanto eu era acanhada, volveu:
— Ai, ela não vem.
— Chame‑a lá — insistiu o grande Armandinho. — Olhe que ela tem uma bonita voz. Uma voz muito engraçada. Ora chame‑a lá. Que eu arranjo já um contrato para ela ir gravar um disco ao «Valentim de Carvalho».
A minha irmã sorriu, pouco convencida, e explicou a Armandinho:
— Ai, ela não vai. A minha mãe não deixa.
Porém, o famoso guitarrista não se deixou convencer com aquela primeira negativa da minha irmã.
(3) Hermínia refere que a irmã vivia ali «Entre Muros do Mirante», à Graça, e provavelmente passava por este local quando ia para casa da irmã. Quanto à sua alusão a Rua das Flores, e como já acima referi, será lógico ser Travessa das Flores, que fica na freguesia de S. Vicente de Fora.
Gostara, sinceramente, da minha voz, da maneira como eu interpretava o fado e não estava disposto a desistir assim às primeiras. E então pediu licença para entrar, para falar directamente comigo.
Escusado será dizer que eu, que estivera a ouvir toda a conversa, apareci nesse instante e, então, Armandinho dirigiu‑se‑me:
— Então, não quer vir cantar?
Eu claro que queria cantar, já que cantar era, pode dizer‑se, a minha vida.
Mas a verdade é que fiquei muda e o malogrado artista prosseguiu:
— Ora vá, venha gravar um disco. Olhe, nós agora até vamos a Berlim, com o Menano e a Ercília Costa, e a menina também podia ir.
Talvez por julgar que me encontrava a sonhar, a verdade é que permaneci muda como um penedo, enquanto o meu interlocutor, certamente para me entusiasmar, ia prosseguindo, tentador:
— Vá, venha que faz um «vistaço». Venha lá gravar um disco. Então não quer ir connosco cantar? Então não quer ir para o Teatro?
É claro que, se eu tinha imensa vontade de ir para o Teatro, naquela altura, ainda fiquei com mais. Mas não fui. Não fui com o Armandinho. Sim, não ia assim para Berlim. De maneira nenhuma...
Mas as coisas da vida nem sempre correm à medida dos nossos desejos, e o mundo dá muitas voltas.
Chegou a altura em que tive necessidade de ir aprender um ofício e empreguei‑me como aprendiza de modista. No entanto, o meu pensamento estava sempre no Teatro e no Fado. E continuei a cantar, quer pelos bailaricos, quer em festas particulares, para as quais estava sempre a ser chamada. E eu ia sempre, pois o que eu queria era cantar…
EU, QUE NÃO SOU NADA DRAMÁTICA,
FUI AMADORA DRAMÁTICA…
Em 1925, sempre norteada pelo grande amor que dedicava ao Teatro, inscrevi‑me como amadora dramática no «Grupo dos Leais Amigos», ali ao pé da igreja de S. Vicente. O que eu queria era representar e tanto assim que representei coisas dramáticas, eu que não sou nada dramática... Mas tal era a fúria de ser artista... que tudo me servia.
Em 1926, representei e cantei no antigo Teatro Gil Vicente, à Graça. Foi ali que, certo dia, apareceu um senhor que era escritor, Artur Vítor Machado de seu nome. Esse senhor levou‑me à presença do pai, o maestro A. Júlio Machado, que era empresário, e foi logo assim, que ainda nesse ano me levou numa tournée à província.
Era tal a minha gana de vencer, que me comportei de tal modo que, no início desse giro artístico, o meu nome figurava nos cartazes em último lugar e quando regressámos eu era já a primeira figura.
Terminada essa tournée que foi, pode dizer‑se, o início da minha carreira como profissional, fui trabalhar para um cinema, ali à Esperança, o «Malacaio». O contrato por oito dias que me fizeram era para cantar fados no final da exibição dos filmes.
Mas a verdade é que o público me dispensou tantas gentilezas, me acolheu e adoptou com tanta e tão grande simpatia, que esses oito dias se transformaram, quase sem que déssemos por isso, em dois anos.
É verdade: durante dois anos consecutivos actuei no «Malacaio» em final de festa. E sempre com o pleno agrado do público frequentador daquele cinema que não me regateou o seu apoio e os seus aplausos. Ainda hoje conservo no coração a simpatia daquele público. Foi Rui Metelo, um empresário muito conhecido na época, que me proporcionou esse contrato.
O PARQUE MAYER
Quando finalmente deixei de cantar no «Malacaio», fui para o Parque Mayer. Ali os estabelecimentos de farturas tinham, ao tempo, grande clientela, estavam em voga. Ali se cantava o fado. Pode dizer‑se que essas casas foram as percursoras das casas típicas que hoje conhecemos.
Ora, quando fui para o Parque Mayer, era contratada pelo «Valente das Farturas». Este contrato, tal como acontecera com o cinema da Esperança, era por oito dias. Mas tal como aconteceu no «Malacaio», esses oito dias prolongaram‑se por mais dois anos.
Nessa altura, eram frequentadores assíduos no «Valente das Farturas» a grande maioria dos artistas de então, que trabalhavam nos Teatros do Parque Mayer. Muitos deles já iam lá especialmente para me ouvirem, pois gostavam da minha maneira de cantar. O meu salário então já era de cinquenta e cinco escudos diários, o que para o tempo era um grande cachet, mesmo tendo em consideração que chegava a ter seis sessões diárias.
Entre os muitos artistas que frequentavam assiduamente o «Valente das Farturas», que se tornara o palco onde eu dava livre curso ao meu íntimo desejo de cantar, contavam‑se dois artistas de grande cartel na época, que trabalhavam no Teatro Maria Vitória, que eram o Alberto Ghira e a Hortense Luz, e certo dia vieram falaram comigo, convidando‑me a ir para o teatro. Mas eu ganhava ali muito bem, embora o teatro fosse a minha grande paixão, eu não ia trocar o certo pelo duvidoso. Foi, pois, embora contrariada, que lhes disse que não aceitava.
O Alberto Ghira ainda voltou a insistir, mas continuei a recusar, com o mesmo fundamento de que me sentia ali bem e ganhava uma pequena fortuna, mas disse logo que no dia em que deixar de trabalhar aqui irei para o Teatro, se ainda me quiserem lá.
E, assim, se gorou a primeira grande oportunidade para eu entrar para o Teatro de Revista e dele fazer o centro da minha actividade artística.
Como já tive oportunidade de frisar, também no «Valente das Farturas», tal como acontecera, anteriormente, no Cinema em que actuei em fim de festa, mantive‑me dois anos consecutivos, merecendo sempre, devo reconhecê‑lo, o carinho do público, que aliás eu fazia por manter, dando tudo quanto tinha dentro de mim, sempre que cantava, o que acontecia, como também já disse, muitas vezes em cada dia.
Mas certo dia tive mesmo que parar de cantar, porque tive uma grande constipação nas cordas vocais que me pôs bastante «à rasca», durante mais de um ano. Foi com imensa tristeza, pois como já sabem, o cantar era o maior gosto da minha vida, e além disso tinha passado a ser a minha fonte de subsistência (4).
(4) Estava‑se em finais de 1926 e Hermínia estava grávida; seu filho Mário Silva vem a nascer em 9 de Abril de 1927.
POR FIM O TEATRO DE REVISTA
Quando, finalmente, recuperei da doença, roidinha de saudades de cantar e do contacto com o meu querido público, que sempre me acarinhara, fui trabalhar para uma Sociedade de Recreio que, se não estou em erro, era o «Comando-Geral». Foi aí que, certo dia, o conhecido empresário Macedo e Brito me abordou, dizendo‑me que, conhecendo o meu valor achava que eu devia voltar era a cantar. Prometeu‑me que me ia arranjar uma entrevista com o empresário de teatro António de Macedo.
Passados poucos dias confirmou‑me a marcação da entrevista; fiquei entusiasmada, não podia perder esta nova oportunidade de ingressar no Teatro, que era o sonho doirado da minha vida, e logo fui falar com o António Macedo, que me contratou imediatamente, para actuar em fim de festa, cantando fados — claro está — na opereta «Fonte Santa» (1932).
O público voltou a corresponder inteiramente, aplaudindo‑me com simpatia, e foi graças a esse mesmo público que, logo de seguida, fui contratada para fazer uma revista, que se intitulava Feijão‑Frade (1933), que era um original de Xavier de Magalhães, Almeida Amaral e Fernando Santos. E esta foi a primeira revista em que eu entrei.
Foram assim na realidade os meus primeiros passos a sério com o teatro de revista, e a verdade é que, sem vaidade, fiz um autêntico brilharete.
De então para cá tomei parte em inúmeras revistas, assim como numas quantas operetas, e até em peças declamadas.
A minha carreira continuou, felizmente, com grandes êxitos, que, certamente, eu não merecia, mas o público me quis oferecer.
Também actuei nos estúdios da RTP, a última vez foi num dos episódios da série Os Três Saloios, protagonizada por Raul Solnado, Humberto Madeira e Emílio Correia, três valores do nosso teatro ligeiro.
E devo confessar que gostei.
Tive, ao longo da minha carreira, como é natural, muitas e variadas propostas para ir ao estrangeiro, mas como sou multo «pegada» a isto.
Tenho muita relutância em sair de Portugal, eu ainda nem sequer visitei as províncias ultramarinas, apesar dos muitos convites que para o efeito me têm endereçado e do grande desejo que tenho de as conhecer.
— Fui ao Brasil, onde me demorei o menos tempo possível, aos Açores e à Madeira, onde fiz uma curta série de espectáculos.
Herminia Silva desde a sua estreia em 1932, participou em 13 operetas, 37 revistas, 2 peças declamadas e ainda em 5 filme e vários programas de televisão.
Conclusão do autor:
Hermínia, sem sombra de dúvidas, nasceu a 23 de Outubro de 1907, no Hospital de S. José, freguesia do Socorro, em Lisboa.
O episódio que contou sobre ter caído da janela à rua refere‑se decerto à rua onde sua mãe morava quando do seu nascimento, Rua do Benformoso, 53, 1.º, freguesia dos Anjos, em Lisboa.
Tudo leva a crer que sua irmã morava na Travessa das Flores, freguesia de S. Vicente de Fora, em Lisboa, enquadrando‑se assim com toda a lógica o episódio em que conta como o guitarrista Armandinho a ouviu cantar.
Herminia Silva canta:
Fado da Sina
"Filme o Ribatejo
.....Especializou-se, mesmo, no fado jocoso, género que com ela voltou ao galarim dos discos mais vendidos e mais ouvidos radiofonicamente. E especializou-se em fados de tema militar, alguns resultantes das personagens que, travestindo-se, interpretava em cena: Marinheiro Americano, Lá na Caserna (faixa #), Soldado do Fado (faixa #), Marujo de Lisboa e até celebrou em fado um navio da Armada, o Gonçalo Velho.
Fez, com acolhimentos de grande emulação, a ronda das comunidades de emigrantes, por França, Brasil, Estados Unidos e Canadá.
Com Marceneiro no Solar
Em 1958, usou do lugar comum de abrir a sua própria casa de Fado, que manteve até se retirar, em 1982. Mas não era tão comum como isso. Por um lado, porque não teve uma, mas duas casas, sendo a outra em Benavente, o «Barrete Verde». Por outro porque, na de Lisboa, em pleno Bairro Alto, em vez da consabida guitarra-tabuleta à porta, a fachada era austera como a de um banco, apenas o seu nome próprio em letras sóbrias, iluminadas em contra-luz. Lá dentro ouvia-se apenas Fado, sem concessões ao turista. Pelas mesas podia ver-se o Conde de Sobral e outros assíduos que a veneravam, alguns colegas que, nas folgas, iam ver a Hermínia. Porque ouvi-la não chegava. Vê-la era poder sentir uma comunicabilidade que emanava do seu sorriso gozão, de olhinhos piscos; do seu ajeitar de xaile, com um trejeito de ombros e sacudir de cabeça peculiares; das suas confissões de «estar à rasca»; do seu aceno de mão no ar, sublinhando um final mais glorioso; do «puxar» pelos guitarristas com o seu proverbial «Anda, Pacheco!» ou lhes pedir que o acompanhamento fosse «mais picadinho».
A sua voz, ora arrastada, ora sacudida, envolvente nos graves e capaz de gorgeios deliciosos nos agudos era de uma originalidade tão pessoal que, tendo marcado estilo, não fez escola. Pela simples razão de que ninguém, até hoje, foi capaz de a imitar. Ao contrário de outros grandes vultos do Fado que sempre deixam, no seu rasto, mais ou menos velados seguidores dos maneirismos vocais, as «voltinhas» da Hermínia são impossíveis de repetir.
Teve o reconhecimento oficial da Câmara Municipal de Lisboa, que a condecorou em 1980 com a Medalha de Ouro da Cidade. Desapareceu fisicamente no dia mais carismático da sua cidade, o de Santo António, 13 de Junho de 1993. Fica a sua voz inconfundível, a cintilar entre as maiores que o Fado de Lisboa conheceu.
O registo mais antigo que foi possível recuperar para esta antologia, Sou Miúda (faixa 1), mostra-nos uma Hermínia ainda sob a influência do estilo com que o fado era cantado por mulheres na década de 1920, personificado por Madalena de Melo, Ermelinda Vitória e, talvez a mais marcante de todas, Maria Alice. Não admira: os primeiros discos de 78 rotações divulgavam, através da telefonia (porque só gente abastada possuía grafonola) esse gosto dominante, o que só dá maior mérito a quem conseguiu romper com ele e dar um passo em frente. Hermínia deu esse passo, com voz e personalidade interpretativa muito próprias, afirmadas na faixa seguinte, Fado das Toiradas. Já sem imitar ninguém e introduzindo a originalidade de trautear em murmúrio (os amantes de fado que o são também de ópera diriam «a bocca chiusa») o refrão musical, mais tarde transformados nos famosos tròlarós que só ela se permitiu (faixas e ).
Entramos na fase Parque Mayer com Lisboa Antiga, criação de Hermínia na revista «Pirilau», estreada no Teatro Variedades em 1932 e daí ecoando até aos nossos dias sem nada lhe dimimuir o encanto.
Fado Ribatejano pertence ao filme «Um Homem do Ribatejo», onde Hermínia, no papel de uma cigana, o canta nostalgicamente em pleno campo, junto à sua tenda, no acampamento, de mistura com cenas agrícolas, de lavadeiras, campinos, manadas de toiros correndo, ao gosto do cinema português da época.
Nova Tendinha (faixa ) é um aparente anacronismo nesta sequência, pois foi obviamente posterior à Tendinha (faixa ). Só que o critério seguido é cronológico em relação às gravações e esta é de 1958, enquanto que a da Tendinha é de 1975. Um soberbo exemplo do domínio da dicção, numa letra trabalhosa de debitar, com soluções discutíveis como a do «tão pouqu' ispaço», mas um saldo final de incontestável brilhantismo.
Quis Deus que eu fosse fadista apresenta-nos uma letra originalíssima, encadeando por repetição as últimas palavras de cada verso com as primeiras do seguinte, efeito que não voltou a ser tentado pelos letristas, tendo este, infelizmente, ficado ignorado pelos registos.
Touro de Vila Franca representa o exagero em que os letristas podem cair ao querer explorar as capacidades de fadistas excepcionais. O que se exigiu de Hermínia em acrobacia articulatória resulta aqui forçado mas, mesmo assim, demonstrativo das capacidades da artista.
Fado Recordado ? (jogando o pião...) é um portento de letra, de Carlos Alberto França, retomada mais tarde por outros fadistas, mas nunca com o cunho intimista e evocativo dado por Hermínia.
Rosa Engeitada serve, como poucos exemplos, para explicar o que são interpretações diferentes dos mesmos fados. Tomemos a versão de Maria Teresa de Noronha e a de Hermínia. Com equivalente qualidade, que diferença entre as sonoridades cuidadas, senhoris, e a autenticidade popular de outra. O pranto contido, superiormente tratado, sim, mas como exercício poético, de Maria Teresa de Noronha, e o grito derramado aos quatro ventos, a narração de uma história que também se podia ter passado consigo de Hermínia Silva. E nestas comparações não esqueçamos, por dever de justiça, outra interpretação de superior cunho popular, a de Fernanda Maria.
O Fado da Sina é também do filme «Um Homem do Ribatejo»,
Soldado do Fado é um exemplo do génio de Hermínia para transformar uma letra difícil num fado agradável de ouvir, transmitindo-lhe todo o casticismo independentemente de não se tratar de um fado clássico. O seu talento arrasa os cânones e vai ao ponto de inverter a acentuação, colocando a tónica nas sílabas átonas, para daí extraír um balanço saltado e vivo, assente no contra-tempo, o que não é contratempo nenhum, antes fonte de prazer auditivo.
A Tendinha foi estreada no Teatro Apolo, por Herminia, em 1935, na revista «Zé dos Pacatos».
Daniel Gouveia
Hermínia canta "Mãos Sujas" com letra de Frederico de Brito e Música de Frederico Valério
num programa de Televisão nos anos sessenta.
Este número foi estreado por Herminia na Revista Chuva de Mulheres em 1937
Um texo da autoria do Dr. Luis de Castro, fundador do APAF
Dizer que Hermínia era única é cair num lugar comum. Mas nunca ninguém tentou imitá-la, ou sequer aproximar-se do seu estilo. Hermínia era autêntica, igual a ela própria, fruto da sua vivência. Tal a destacou de outros nomes do seu meio.
Hermínia tinha uma capacidade inultrapassável de improviso, tanto no canto como no teatro onde, como popularmente se chama “metia buchas” que fortaleciam o seu elo de ligação com o público que a adorava.
No teatro Hermínia era além de fadista, era actriz. Uma figura meã conseguia encher o palco de talento e graça. Para a posteridade ficaram alguns filmes da década de 1940 onde contracena com nomes como António Silva e Beatriz Costa, entre outros. Nessas películas irradia a sua graça natural e talento.
Hermínia Silva foi de facto uma extraordinária figura do espectáculo e sê-lo-ia em qualquer outra parte no mundo. Mesmo as suas últimas actuações na televisão imanavam uma enorme energia e vontade criativa. Criava sempre algo de novo em cada fado que cantava mesmo que o cantasse todas as noites e que todos o conhecêssemos, porque foram muitos os seus êxitos: “Marinheiro”, “Reza-te a sina”, “É tão fresca a melancia”, “Roja enjeitada”, “Fado das iscas” ou “Tendinha”. Cada vez que Hermínia cantava, criava e conhecíamos uma nova sensação ao ouvi-la.
Conheci Hermínia Silva em 1948 quando foi actuar a um lar de idosos no Parque do Bonfim, em Setúbal. Só a sua presença – já uma aclamada vedeta – foi acolhida com grande entusiasmo. Hermínia preencheu toda a noite fadista com a sua forma única de cantar que desde logo me cativou. Tornei-me seu admirador, acompanhando o seu percurso, indo escutá-la sempre que podia, designadamente nas populares verbenas e colectividades de recreio, onde actuava ao lado de outros nomes fadistas.
Tornei-me mais próximo da fadista quando esta abriu o seu Solar, na Rua da Misericórdia, em Lisboa, em meados da década de 1950. Aí, Hermínia estava de facto em sua casa. Recebia-nos sempre com um sorriso nos lábios, sempre simpática e atenta. Quando actuava Hermínia imprimia o sentimento próprio daquilo que cantava. Tudo que Hermínia cantava era fado. Cantasse sambas ou canções, na sua voz e na entoação que dava, aquilo era fado. Este será talvez o maior elogio que se pode fazer a uma fadista, alguém que, pela sua maneira intrínseca e única de estilar, torne tudo o que cante fado. Sentirmos fado, independentemente da melodia original, e Hermínia tinha esse dom.
Luis de Castro (APAF)
Livro biográfico "Recordar Hermínia Silva"
Edição de Autor Vítor Duarte Marceneiro
A vida de Hermínia, fotos, reportagens e as letras do seu repertório
Formato 16 X 21 com 232 páginas
Práticamente esgotado, ainda há alguns exemplares na loja do Museu do Fado
Celeste Rodrigues canta:
LENDA DAS ALGAS
Letra de: Laierte Neves
Música de: Jaime Mendes
Nota: Este trabalho foi publicado neste blog em 19 de Fevereiro deste ano, mas achei que é pertinente voltar a publicá-lo, agora que a Direcção da APAF, da qual faço parte com muita honra, ao lado de Julieta Estrela, Dr. Luís de Castro, Nuno Lopes e Ana Maria Mendes decidiu levar a efeito a feliz iniciativa de Homenagear Celeste Rodrigues.
CARLOS PAREDES
Nasceu em Coimbra em 1925
Em 1931 com 6 anos de idade a sua família muda-se para Lisboa.
A partir de 1935 frequenta as aulas de violino na Academia de Amadores de Música, em 1937 abandona as aulas de violino, e passa a iniciar com seu pai uma aprendizagem sistemática de guitarra portuguesa.
Começa cedo a mostrar as suas aptidões e a ser apreciado, em 1939 passa a ter um programa próprio na Emissora Nacional, que dura vários anos.
Em 1943 inscreve-se nas aulas de canto na Juventude Musical Portuguesa.
Em 1957 grava o seu primeiro EP para a Alvorada.
Entra para a função pública, por ser um militante anti-regime, é preso pela PIDE (1958 – 1960), e vem a ser expulso por esse motivo.
Compõe várias músicas para sonorização de filmes de curta-metragem.
Em 1963 novamente para a Alvorada “Verdes Anos”, com os temas compôs para várias curtas-metragens e variações.
1963 é convidado a compor a banda sonora para o filme Fado Corrido, de Jorge Brum do Canto. Ainda neste ano compõe música para o teatro, O Render dos Heróis, de José Cardoso Pires, Bodas de Sangue, de Carlos Avilez, A Casa de Bernarda Alba, de Garcia Lorca.
1965 compõe para o realizador Manoel de Oliveira, alguns temas para a curta metragem, As Pinturas do meu Irmão Júlio.
Em 1966 composição da banda sonora para o filme, Mudar de Vida, de Paulo Rocha, Crónica de Esforço Perdido, do Artqº António Macedo e ainda a música para a peça António Marinheiro, de Bernardo Santareno.
1967 a convite de Amália Rodrigues vai a Paris para actuar no "Olímpia", ainda neste ano grava o seu primeiro LP, Guitarra Portuguesa para a Casa Valentim de Carvalho.
Actua na ópera de Sidney, na Austrália, faz várias digressões pela América Latina, com destaque para Cuba em que a convite do Conselho Nacional de Cultura de Cuba é convidado de honra no III Festival da Canção da Cidade de Varadero.
Tem ainda actuações nos Estados Unidos e no Canadá, onde obtém grande êxito.
Grava e compõe dezenas de temas até praticamente ao fim dos seus dias, recebendo homenagens e prémios diversos.
Em 1974 é-lhe feita justiça, e é readmitido, nas suas funções na função pública.
Os Portugueses já me ouvem tocar há tanto tempo que devem estar fartos de mim.
Tive o prazer de estar várias vezes com Carlos Paredes, fiz-lhe várias filmagens, mas recordo que na primeira vez que estivemos juntos e lhe fui apresentado, obviamente se falou de meu avô, já falecido nessa altura, fiquei embevecido com a forma com que se exprimiu sobre a sua figura e os seus dotes musicais, rematando com uma frase que nunca mais esqueci:
Gostaria de ter tocado para Marceneiro, tal não aconteceu, e nem poderia ter acontecido, pois sei que não estava à altura!
Carlos Paredes faleceu em 2004.
OS PORTUGUESES NÃO ESTÃO, NEM NUNCA ESTIVERAM FARTOS DE CARLOS PAREDES, A SUA VASTA OBRA QUE NOS DEIXOU É UM LEGADO QUE NUNCA PODEREMOS OLVIDAR
Carlos Parede Toca Variações em Ré Menor
Acompanhado à viola por: Fernando Alvim
Fui hoje informado por várias fontes de um excelente trabalho de Ofélia Pereira, no seu blog, que vos aconselho vivamente a visitar:
http ://www.fadocravo.blogspot.com
sobre o fadista da velha guarda JOSÉ COELHO, figura que eu não conhecia, antes de ter acesso a informação dos familiares, mas que felizmente é bem lembrada e apreciada.
A página do meu blog foi elaborada com a ajuda dos referidos familiares e podem vê-la aqui, em:
http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/83257.html
A CM de Sintra e os Serviços Muncipalizados de Sintra, patrocinaram a edição de um livro com cd co o título "A Floresta d´água", do qual me ofereceram um exemplar.
È um trabalho criativo e essencialmente didáctico, ajudei o meu filho Alfredo a fazer um "teatrinho" com base no livro que apresentou na escola para a sua classe, depois foi convidado a ir a todas as salas repetir, ficou muito contente porque foi muito aplaudido, a mensagem está tão bem feita que em conjunto com a minha mulher pensámos passar o livro e o cd a filme para os nossos filhos, filme este que eles muito gostam e vêm com frequência.
Claro que o mérito é todo dos autores, a quem presto a minha homenagem e agradeço como pai e cidadão o trabalho.
CRÉDITOS:
História: Jorge Salgueiro
Ilustrações: Tiago Figueiredo e Francisco de Castro (adaptados para o filme)
Design Gráfico: Tiago Figueiredo
Edição do CD: Foco Musical
Narrador: Guilherme Mendonça
Música: Jorge Salgueiro
Letras canções: João Aguiar
Coro Infantil da Coro Musical
Orquesta Didáctica da Foro Musical
Video de Vítor Marceneiro
Adaptação dos desenhos para filme por: Piedade Duarte
CANÇÃO GENTE ESTRANHA
Letra de João Aguiar
Música de Jorge Salgueiro
Os adultos são gente muito estranha:
Sujam e matam tudo em redor
E até acreditam na patranha
Que assim vamos viver muito melhor
Não sabem, quando matam a floresta,
Que acabarão também por se matar.
Desculpem mas não vamos nessa festa:
A Terra não é nossa para estragar!
Porque os crescidos estão muito divertidos
Estão divertidos, distraídos com o dinheiro
E nem sequer reparam no que fizeram,
Neste deserto, b'lhác!!!, neste mau cheiro!
E nem sequer reparam no que fizeram,
Neste deserto, b'lhác!!!, neste mau cheiro!
O que fizeram,
O que fizeram,
O que fizeram.
HINO DAS CRIANÇAS À TERRA
Letra de João Aguiar
Música de Jorge Salgueiro
A Terra é Verde, é Flores, é Crianças
Só podemos viver sem a sujar.
Vamos ter de mudar estas mudanças,
Somos nós que temos de a salvar.
Somos nós que temos de a salvar.
A Terra é Verde, é Flores, é Crianças
Só podemos viver sem a sujar.
Vamos ter de mudar estas mudanças,
Somos nós que temos de a salvar.
Somos nós que temos de a salvar.
Somos nós que temos de a salvar.
Maria Luisa da Silva Ferreira Sousa Soares, nasceu em Lisboa no bairro da Graça, em 1946.
Embora desde muito jovem gostasse de cantar e ouvir o Fado, só nos anos setenta começou a cantar como amadora, nas colectividades e em restaurantes, convidada por amigos que já a admiravam, pois tem uma forma especial de cantar e um timbre de voz, muito próprio.
Uma noite foi cantar ao Restaurante Cabaçinha, onde estavam presentes os directores do Ginásio Clube de Alfama, que ao ouvi-la logo a convidaram para ser a representante deles num Concurso de Fados entre colectivades, que se realizou nos Alunos do Apolo, onde obteve grande êxito.
Estava aberto o caminho para profissionalismo, que veio a concretizar-se. sendo contratada para o Restaurante a Maré onde esteve alguns anos, e depois para o Restaurante Costa do Estoril, ambos no Estoril
Actualmente canta em colectividades e em restaurante que dão Fado
esporàdicamente. Luisa Soares tem 4 CD gravados.
Luisa Soares canta: Pinheiro meu Irmão
Letra de: Am á lia Rodrigues
Música de: Carlos Gonçalves
Acompanhada:
Guitarra por António Jorge
Viola por João Ramos
Viola Baixo João adelino
Mulher fadista século XIX
Figura mítica do Fado oitocentista, ignora-se a data de nascimento e morte da cantadeira, e mesmo o seu nome de baptismo completo, apenas se sabendo que seria efectivamente Maria.
Residente no bairro de Alcântara ali trabalhava numa fábrica como engomadeira. Inicialmente companheira de um fadista local, terá acabado por" o trocar por José Cesário Sales, canteiro, homem de algumas psses e talento na sua profissão, filho de Francisco Sales, proprietário de uma importante oficina de cantaria em Lisboa. Desta ligação terá resultado o Maria do Cesário e daí Maria Cesária. Ficando igualmente conhecida como Mulher de Alcântara.
Cantava para toureiros, boleeiros, operários, prostitutas, rufiões, fidalgos e burgueses, à custa do neo-romantismo instituído. Constituíam aqueles uma massa amorfa, que à luz mortiça do petróleo, ou mais tarde à luz branca do gás, escorreram seus deleites nas tabernas dos bairros pobres e castiços de Lisboa, gemendo e batendo o Fado. Fado Corrido, de 1870, foi cantado na presença da Cesária ou por ela própria: Os teus braços são cadeiras Mais duras que o próprio aço: Já me tens presa, cativa Só te falta dar o laço! Não sei qual pena é maior, Qual é mais de lastimar, Se ver um homem morrer, Se ver um homem chorar!
Tão famosa quanto Maria Severa, proferia as palavras com receio e trajava de modo simples, recusando ousadias e vestes originais. Era normalmente acompanhada pelo guitarrista Carreira.
Segundo as crónicas, a qualidade da sua voz era equiparável à qualidade da sua memória, dando Tinop notícia de inúmeros desafios em que terá participado, nomeadamente com uma rival sua, Luzia a Cigana, alguns dos quais durariam dois e três dias de Fados e comezainas.
Terá sido bastante famosa nas décadas de 60 e 70 do século XIX, tendo o guitarrista Ambrósio Fernandes Maia composto um Fado que lhe dedicou, o Fado da Cesária ou Fado de Alcântara.
Cesária foi a figura central da opereta com o mesmo nome, escrita por Lino Ferreira, Silva Tavares e Lapa Lauer e musicada por Filipe Duarte, que subiu à cena no Teatro Apolo em 1926.
1926-Papo Seco e Pomada Amor, 1934-Santo António, 1935 – Loja do Povo, 1938- Praça da Alegria,1941 – Marcha de Lisboa, 1943- Toma Lá Dá Cá, 1944-Baile de Máscaras e Há Festa no Coliseu,1946- Tiro-Liro,1947 – Se Aquilo que a Gente Sente, 1949- Feira da Avenida, 1950- Enquanto Houver Santo António e è de Gritos, 1951-Agora é que Ela vai Boa, 1953 – Viv o Luxo, 1955- Ó Zé Aperta o Laço e Cidade Maravilhosa, 1956 – Fonte Luminosa, 1958 – Abaixo as Saias.
Reapareceu esporadicamente em 1972 – P´rá Frente Lisboa,
Termina a sua carreira definitivamente em 1992, no espectáculo "Passa por Mim no Rossio".
Loura, elegante, com voz forte, Irene Isidro, uma actriz cujas criações ficaram na memória de quem a viu actuar.
Cantou um fado na revista "Feira da Avenida" (1949) - Tudo Isto é Fado - que mais tarde na voz de Amália, havia de ser um dos maiores sucessos desta .
TUDO ISTO É FADO
Música de F. Carvalho
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado,
Disse-t
Tu ficaste admirado.
Eu menti naquela hora,
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora:
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras.
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras.
Amor, ciúme,
Cinzas e lume,
Dor e pecado,
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado.
Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado,
Não me fales só de amor;
Fala-me também do fado.
E o fado que é meu castigo
Só nasceu p'ra me perder;
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer.
Tentei arranjar um disco da própria Irene Isidro e não consegui, assim, quando me arranjaram esta versão, fiquei deliciado ao
ouvi-la, e achei que era também um bom trabalho para aqui reproduzir.
Excluindo um ou dois dos interpretes, convivi com todos eles, e penso que dos que conheci, já aqui lhes prestei a minha homenagem
Quem me arranjou o som tinha dúvidas também num ou noutro nome, pois não tinha a capa do disco.
Depois de ouvir o disco , hà uma parte que me pareceu Tristão, e como penso que seria mais grave esquecê-lo que incluí-lo, acrescentei o seu nome. Houve já um amigo que me falou do assunto e disse-me que pensava que quando o disco foi feito já o Tristão não estaria entre nós, como não me preocupei com o ano da produção e como todas as pessoas que cantam são do tempo do Tristão e conviveram com ele, não era de admirar que fosse ele, ou talvez o filho.
Eis a parte que me levou a lembrar Tristão:
Resumindo, a ser erro, é erro de pormenor, comprovadamente sem qualquer intenção depreciativa, e que a qualquer altura poderá ser emendado, mas receber um comentário como o que abaixo trancrevo e dou relevo, é de uma baixeza a rondar a calúnia e a má fé, não faço mais comentários, dos que já fiz (já dizia o meu avô: os cães ladram e a caravna passa!)e que mais abaixo dou igual destaque.
Mariana Bastos disse a Wed, 10 Oct 2007 09:38:06 GMT:
Conheço esta edição mas sem o Tristão da Silva. Como é possível ...
Conheço esta edição mas sem o Tristão da Silva. Como é possível colocar o grande Tristão com todos esses fadistas senão estava vivo? Onde encontra aqui a sua voz, nesta gravação? Qual a edição especial que tem? Haja respeito pelos mortos!
disse a Wed, 10 Oct 2007 18:21:17 GMT:
O seu nome não me diz nada . mas o seu ID, já me diz qualquer coisa....
Ter a ousadia de dizer-me que estou a faltar ao respeito ao Tristão da Silva , porque penso que uma das quadras é cantada por ele ou pelo filho, é ..... não lhe vou dizer mais nada para não cair na sua baixeza de carácter, tenha a coragem de assumir a sua identidade incluindo o mail .
É tão baixo, e toda a gente se apercebe da sua ............ porque se não fosse isto, que não escrevo por decoro, bastava dizer que eu estava enganado, e corrigia, e ajudava bem , eis pois a minha resposta, que uso normalmente, são uns versos de Carlos Conde que meu avô cantava para dedicar a pessoas como você.
“CONCEITO”
Letra de Carlos Conde
Quando eles não valem nada
Não se ganha em discutir
Não é bom servir de escada
Para qualquer asno subir
Há gente que só diz mal
Para se impor, para ser notada
Quem discute menos vale
Quando eles não valem nada
E quem pouco valor tem
Só se vinga em deprimir
O desprezo chega bem
Não se ganha em discutir
Quem maldiz por ser ruim
Nunca vence a caminhada
A nulidades assim
Não é bom servir de escada
Quem vence de fronte erguida
Não se dispõe a servir
Como ponto de partida
Para qualquer asno subir
Entretanto há pessoas com conhecimentos profundos como é o caso do Jornalista e Investigador de Fado Nuno Lopes, que se dispôem a corrigir e a esclarecer de uma "maneira saudável" até com a honestidade de reconhecer que a voz parecia realmente ser a de Tristão da Silva. Não é na realidade, pelo que só me resta agradecer ao Nuno Lopes o esclarecimento que prestou, útil não só para este blog como para todos os amantes de Fado.
Não há duvida nenhuma que da "discussão sem segundas intenções) nasce a luz....
Sendo conhecida a amizade que nutro por Nuno Lopes, e que tenho a certeza que é reciproca, ninguém se atreverá a duvidar da sua objectividade ao analisar este assunto, conforme o comentário recebido e que dou igual destaque, considerando assim este assunto encerrado.
N. Lopes disse a Wed, 10 Oct 2007 20:54:52 GMT:
Exmos. Srs. se me permitem, o disco em questão trata-se do duplo CD "Antologia do mais triste fado" editado em 1993 pela Discossete que inclui um notável elenco: Manuel de Almeida, Argentina Santos, Fernando Maurício, Fernanda Maria, Rodrigo, Cidália Moreira, António Rocha, Maria da Nazaré, António Mourão, Beatriz da Conceição, António Pelarigo , Maria Lisboa, José Manuel Barreto, Maria Amélia Proença e António Severino. Cada um canta dois fados e houve a feliz ideia de se cantar em conjunto "Tudo isto é fado", tendo sido gravado provavelmente "à uma" i. é, tal como se cantou e misturado à posteriori, pelo que leva a uma provável confusão, nomeadamente para quem como o Vítor Duarte Marceneiro ouviu e conviveu com tantas vozes. A voz recorda o Tristão, não é, mas recorda e um lapso todos temos. Aliás a tecnologia permitiria colocar o Tristão, já morto, a cantar com um fadista vivo. Há alguns anos a Nathalie Cole gravou um CD com o pai, e este tinha morrido. Foi uma questão de excelente montagem e mistura. A voz parece, pelas voltas, pela entoação, pelo quer que seja, parece, mas não é, e quem nunca se enganou?
Faz hoje 8 anos que
AMÁLIA RODRIGUES
se ausentou, em corpo, porque a sua imagem e o seu espirito, está nos nossos pensamentos
É SEMPRE TRISTONHA E INGRATA
QUE SE TORNA A DESPEDIDA
DE QUEM TEMOS AMIZADE
MAS SE A SAUDADE NOS MATA
EU QUERO TER MUITA VIDA
PARA MORRER DE SAUDADES
Flores que Amália tanto adorava
E Cerejas
Obrigado Amália por tudo o que nos deste
Geração de Marceneiro
A NOSSA AMALIA E O POVO
A nossa Amália morreu
Nosso Povo estremeceu
Com tanto calor e frio
No céu entrou uma Fada
E uma canção magoada
Povo que Lavas no rio.
As avenidas e estradas
E as pedras das calçadas
Ficaram todas unidas
Os rapazinhos choraram
As andorinhas voltaram
Sempre de luto vestidas.
Os carpinteiros a correr
Foram todos para fazer
As tábuas do seu caixão
Os Anjinhos se juntaram
Os Santinhos se prostraram
Até Deus pediu perdão.
Desde a Rua de São Bento
Povo Unido, num lamento
Choravam lágrimas e prantos
Peregrinos de sandálias
Consagraram nossa Amália
E os Poetas eram tantos.
A Cidade de Lisboa
Desde Alfama à Madragoa
Desde a Estrela ao Rossio
Varinas de sete saias
Vê lá meu Povo não caias
Povo que Lavas no rio.
Poema de: Manuel Luis Caeiro de Pavia
Foto montagem Amália no Panteão
© Vítor Duarte Marceneiro
AMÁLIA
canta-nos
Poema: José Galhardo
Música: Frederico Valério
Amália está sepultada no Panteão Nacional.
A grande senhora do fado, a mulher do povo, a voz de Portugal está desde o dia 8 de Julho de 2001, na sua última morada.
Os seus restos mortais foram depositados na Sala de Língua Portuguesa, junto a figuras célebres da nossa cultura como Guerra Junqueiro, Camilo Castelo Branco e João de Deus.
As opiniões sobre a trasladação dos restos mortais de Amália do cemitério dos Prazeres foram contraditórias, há quem advogue, que como "Amália é do povo, devia estar junto do povo", outros que "Amália deve ir para o Panteão por ser um símbolo de Portugal".
O que é certo é que mais uma vez não foi o povo que decidiu!
Amália partiu em 6 de Outubro de 1999
Cantadeira e actriz, nasceu em Lisboa (1885-1911).
Revelando desde pequena especial talento, começou a cantar o Fado pelas ruas de Lisboa enquanto a mãe pedia esmola.
Estreou-se no teatro de revista no Teatro da Trindade, no dia 25 de Dezembro de 1902, numa matinée promovida pela Tuna do Diário de Notícias.
Foi a consolidação de uma carreira iniciada nos teatros de feira, situação que viria a prejudicá-la junto de alguns empresários, nomeadamente José dos Santos Libório, do Casino de Paris, o qual apesar disso lhe assegurou o primeiro contrato estável, tornando-se desde logo conhecida do grande público pelo seu espírito trocista, ditos brejeiros e capacidade de improviso.
Passou pelo Príncipe Real e pelo teatro Avenida. Ficaram célebres as suas participações nas revistas Ó da Guarda!, P'rá Frente, Zig-Zag, ABC e Sol e Sombra.
Menina mimada do povo boémio da época pela beleza da sua voz e dicção claríssima, foi considerada Rainha da Revista, chegando a manter um teatro com o seu nome - Salão Júlia Mendes na Feira de Agosto.
Desempenhou o papel de Severa na ópera cómica do mesmo nome, acompanhando-se à guitarra.
Os seus grandes olhos expressivos e alegria natural criaram um estilo a que não era alheio, segundo os críticos da época, uma subtil tendência para o trágico dentro do próprio humor que levaram ao carácter eminentemente popular da sua Severa.
Representou pela última vez, em 1910, na Feira de Agosto, na revista Zig-Zag.
Tal como Maria Vitória desaparecida muito jovem, com ela se formou um dos grandes mitos dos tempos do Fado do início do século.
Em 1969, na Revista Ena, Já Fala, é relembrada por Fernanda Batista, que declamava:
Acabando em apoteoso cantando o Fado ”Saudades da Júlia Mendes”,
cujos autores foram: João Nobre e César de Oliveira, Rogério Bracinha e Paulo Fonseca
Maria da Nazaré canta:
Saudades da Júlia Mendes
Ó Júlia
Trocas a vida pelo fado Pelo fado
Esse malandro vadio
Ó Júlia
Toma cuidado
Leva o teu xaile traçado
Porque de noite faz frio
Ó Júlia
Andas com a noite na alma
Tem calma
Inda te perdes p' raí
Ó Júlia
Se estás no mundo vencida
Não finjas gostar da vida
Que ela não gosta de ti.
Não fales coração
Tu és um tonto sem razão
Viver só por se querer
Não chega a nada
Aceito a decisão
Que os fados trazem ao nascer
Todos nós temos que viver
De hora marcada
Se Deus me deu voz
Que hei-de eu fazer
Senão cantar
O fado e eu a sós
Queremos chorar
Eu fujo não sei bem
De quê, do mundo ou de ninguém
Talvez de mim
Mas oiço alguém
Dizer-me assim:
Ó Júlia etc.
Este apontamento teve a preciosa colaboração iconográfica do coleccionador e grande amante do Fado, Fernado Batista, do Porto
Francisco José Gonçalves de Carvalho nasceu em Lisboa em 1918 e morreu em 1990. Aprendeu o ofício de relojoeiro. Aos 12 anos para além de guitarra, aprendeu a tocar outros instrumentos, nomeadamente banjo e bandolim. Conhecido apenas por Carvalhinho devido à sua pequena estatura, apelido que adoptou no nome artístico. Actuou no Retiro da Severa, acompanhado à viola por Santos Moreira, mais tarde no Café Mondego e no Café Latino. Em 1941 apresentou-se no Café Monumental e durante um ano na Sala Júlia Mendes do Parque Mayer com Martinho d' Assunção. Em 1950 integra o conjunto de guitarras de Martinho d' Assunção, juntamente com Jaime Santos e Alberto Correia. Em 1951 participa nos espectáculos dos “Companheiros da Alegria” de Igrejas Caeiro. Em 1953 realizou uma longa tournée por Angola, Moçambique e África do Sul com Maria Pereira e Martinho d' Assunção. Tocou nos Restaurantes Típicos de Fado: Adega Machado, Adega da Lucília (mais tarde O Faia), no Vara Larga, no Pinóia e no Salvaterra, mas foi no “Restaurante Típico a Severa” que esteve como guitarrista privativo durante vários anos seguidos. Gravou para vários artistas, nomeadamente para Alfredo Marceneiro, por quem nutria uma grande amizade e admiração. A partir dos anos 80 dedicou-se à reparação de instrumentos de corda. Francisco Carvalhinho gravou vários discos com variações à guitarra, acompanhado por Martinho d' Assunção, grande parte com composições suas, Improviso em Ré e outros. Autor de numerosos Fados, destacando-se: Eu Sou do Fado; Fado Brigão; Dias Contados; Duas Palavras; Rua Sem Sol. Deixou geração fadista, o seu filho Carvalhinho Jr., (que adoptou o nome artístico do pai) toca viola de acompanhamento sendo um músico de qualidade e muito solicitado.
Carvalhinho fala de Marceneiro (1968)
Conheci Francisco Carvalhinho,desde muito miúdo, tocava com um estilo muito próprio, era uma pessoa muito sociável, admirado pelos colegas quer como músico, quer como pessoa, além de me tratar sempre com elevada consideração, era um grande amigo e admirador do meu avô, que por vezes lhe dava (alguns olhares de desagrado nalguma nota que lhe saía da guitarra, e que ele não gostava) mas Carvalhinho nunca teve uma má resposta ou amuo com o seu amigo Alfredo Marceneiro.
Obrigado Francisco Carvalhinho, esteja onde estiver, "Quem meus filhos beija minha boca adoça", ensinou-me o meu avô, fica neste modesto e simples trabalho a homenagem da Geração Marceneiro.
Carvalhinho toca à Guitarra
Fado Canção
Acompanhado à viola por Martinho d´Assunção
Nota: Música com a colaboração do coleccionador Fernando Batista do Porto
ANTÒNIO CHAINHO , nasceu em S. Francisco da Serra – Santiago do Cacém – Alentejo em 1938.
Muito cedo começou a tocar guitarra com o pai, que lhe deu algumas lições, mas é essencialmente um auto-didacta , aprendendo com os instrumentistas que ouvia na rádio.
Vem para Lisboa cumprir o serviço militar, é mobilizado para Moçambique, regressa fixa-se em Lisboa, começando a conviver com as gentes do Fado, e assim se inicia a acompanhar alguns fadistas. Tem a sua estreia profissional em 1960 numa colectividade lisboeta, começando então a ganhar a vida como guitarrista.
Esteve contratado no Restaurante Folclore em que era acompanhado pelo o violista José Maria Nóbrega, parelha que posteriormente se manteve durante vários anos como músicos privativos de Carlos do Carmo.
Ao longo da sua carreira, para além de Carlos do Carmo acompanhou nomes grandes do Fado, Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo, Hermínia Silva. Manuel de Almeida, etc.
Em 1983, participou na gravação do célebre álbum de Rão Kyao Fado Bailado.
Embora admita que gosta mais de acompanhar do que de tocar como solista, devem-se-lhe alguns registos em discos em que procura levar o fado a outros horizontes: A Guitarra e Outras Mulheres, onde contou com a participação de vozes não ligadas ao fado como Teresa Salgueiro (dos Madredeus), Filipa Pais, Marta Dias ou Elba Ramalho, e Lisboa-Rio , com a presença de Ney Matogrosso , Paulinho Moska ou Virgínia Rodrigues.
No meu primeiro EP a solo, e no EP com meu avô em dueto, fomos acompanhados por António Chainho e José Maria Nóbrega em 1973
António Chainho toca:
Gaivotas ao Entardecer