FRANCISCO PEREZ ANDIÓN, mais conhecido por Paquito, nasceu em 10-2-1935 em Vigo. Faleceu em Lisboa a 27 de Novembro de 2004.
Veio para Lisboa com 12 anos de idade. Seu tio Paço explorara o retiro do Charquinho e o seu avô Jesus abrira a Adega Perez na Rua Conde de Valbom, de que o pai, Manolo, foi o continuador e onde havia fado vadio. Aí Paquito conheceu poetas populares como Henrique Rego e Radamanto, cantadores e cantadeiras como João Maria dos Anjos, Júlio Proença, Júlio Vieitas, Fernando Maurício, Manuel de Almeida. Maria Marques e Fernanda Maria, que foram dos primeiros com quem contactou. E foi lá também que começou a interessar-se pela viola.
A Adega Perez transformou-se depois no restaurante típico Retiro Andaluz, e surgiu ali uma espécie de tertúlia onde cantadores e instrumentistas se juntavam para cultivarem o fado a preceito. Foi nesse ambiente que Paquito, então ainda a estudar, pôde desenvolver a sua aptidão, e com 19 anos de idade fazia a sua estreia como violista contratado pela Parreirinha de Alfama.
Numa primeira tournée, acompanhou Alberto Ribeiro em vários espectáculos através do País, participou em programas da rádio, gravou discos e tocou em casas de fados. Após a sua passagem pela Parreirinha de Alfama, esteve na Viela, na Tipóia, na Toca e em tempos mais recentes no Senhor Vinho.
Considerado, com inteira razão, um dos nossos melhores violistas, Paquito actuou no estrangeiro em espectáculos com Amália Rodrigues e outros artistas, designadamente na França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Suíça, Polónia, Roménia, Suécia, Dinamarca, Israel, Japão, Estados Unidos, Canadá, Brasil, África do Sul e Venezuela, assim como também actuou em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Nos últimos anos esteve contratado no "Embuçado"
Paquito que muito acompanhou o meu avô , quer como músico, quer como companheiro, gabava-se com muito orgulho de ter tocado para o "Ti Alfredo" ainda andava de calções.
Foi também membro fundador da APAF.
in: Lisboa O Fado e os Fadistas de Eduardo Sucena
Recebi hoje, dia 2, do meu amigo João Braga, este texto que ele já tinha escrito quando do falecimento do Paquito, e que dou o devido destaque, pois é uma grande homenagem à memória do PAQUITO.
Caros amigos:
"Uma morte sempre se lamenta". Isto é bem verdade. ´"Não há pessoas insubstituíveis".
Isto é uma irritante mentira.
No que diz respeito ao fado, a morte do Paquito, após prolongado calvário — que o signatário acompanhou —, constitui uma perda irreparável. Se podemos dizer que o fado teve, até hoje, 5 ou 6 violistas que deixaram escola, este galego de Vigo, Francisco Perez Andión, o Paquito, está seguramente à cabeça dessa restrita lista, ombreando com Martinho d' Assunção e
Acompanhou a maior fadista de todos os tempos, Amália Rodrigues, durante alguns anos e gravou com ela, entre outros, um dos seus melhores álbuns, "Amália no Canecão" (ao vivo).
Foi amigo e também acompanhou um dos maiores fadistas de sempre, Carlos Ramos, e chegou a tocar para o grande mestre Alfredo Marceneiro, de quem se tornou igualmente amigo - era muito difícil conhecer o Paquito e não se ficar amigo dele -, captando-lhe o seu pitoresco modo de falar e os gestos característicos que acompanhavam a fala, não havendo, infelizmente, registo desses inesquecíveis momentos. Fez parte dos elencos das melhores casas de fado de Lisboa, com realce para a "Taverna do Embuçado" dos anos 60 e para o "Sr. Vinho", duas décadas mais tarde.
Mas é nos registos de instrumentais da música fadista, vulgo "guitarradas" ou "variações", que a sua arte e a sua técnica magistral vão perdurar para todo o sempre. As melhores gravações de
O signatário, seu amigo e colega de palco de longa data, nos vários recitais que lhe pediram para organizar a lembrar Amália, chamou-o naturalmente para todos eles, e os fadistas que também convidou tiveram a honra e o prazer de serem por ele acompanhados, como foi o caso de Mariza (na sua estreia perante o público português), Camané, Mafalda Arnauth, Maria Ana Bobone, Maria da Fé, Paulo Bragança,
Paquito foi, além de tudo isto (como se fosse pouco), um homem cheio de humor, um amigo irrepreensível, e um contador de histórias — é lamentável que nunca tenham sido registados os inúmeros episódios que ele relatava, com uma mímica insuperável, na sua roda de amigos e colegas, apesar de ter o signatário pedido insistentemente aos responsáveis pelas estações de rádio e de televisão para que o fizessem. Seria uma contribuição oral inestimável para quando um dia se escrever, finalmente, alguma coisa parecida com a história do fado. Paciência.
Era bonito que os poderes instituídos homenageassem, agora a título póstumo, o galego que mais dignificou o fado.
Que o nosso querido Paco (o "Paquirri", como sempre o tratei) descanse finalmente em paz.
Bem hajam.
João Braga
Eram 1, 05 horas de hoje, quando que recebi um mail da APAF, informando-me, bem como a todos os nossos associados e demais entidades, da triste notícia, que a Fadista Adelina Ramos nos tinha deixado, mas pasme-se...
ADELINA RAMOS, FOI A SEPULTAR NA TARDE DE DOMINGO 27.
DESCONHECE-SE QUE TENHA HAVIDO ALGUM COMUNICADO AOS ÓRGÃOS DE INFORMAÇÃO DA EFEMÉRIDE, O QUE É MUITO DESOLADOR PARA OS MUITOS ADMIRADORES QUE AINDA TINHA, QUER NO MEIO FADISTA EM PARTICULAR, QUER NO MEIO ARTÍSTICO EM GERAL.
É TRISTE... MUITO TRISTE... E NÃO É CASO ÚNICO, E NEM SERÁ O ÚLTIMO, PENSAMOS QUE A "CASA DO ARTISTA" PODIA ACAUTELAR ESTE TIPO DE INFORMAÇÃO, E EM ESPECIAL QUANDO ACONTECE EM FINS DE SEMANA. NÃO SE PÕE EM CAUSA A DIGNIDADE COM QUE AS PESSOAS ALI SAÕ TRATADAS, MAS NA MORTE TAMBÉM DE DEVE PRESERVAR A DIGNIDADE, RECORDANDO-AS.
ADELINA RAMOS
Adelina Ramos, nasceu a 14 de Junho de 1916.
Foi uma das verdadeiras fadistas, que o Fado conheceu.
Os Fados que ela cantava saíam-lhe da garganta onde o bairrismo alfacinha, puro e nato, tem todo o encanto pitoresco da genuína expressão fadista!
Adelina Ramos soube conservar-se humildemente, uma grande fadista!
Ao ouvi-la cantar o «menor», o «corrido», o «meia-noite», etc., afirmavam os seus admiradores:
— Sente-se o que ela canta, no modular espontâneo e natural das frases musicais, que lhe saem da garganta, como saem – isto é que é Fado, meus senhores... – ela dá-nos toda uma gama de sentimentos e emoções que no Fado procuramos e admiramos. Em noite grande, Adelina empolga, canta a garganta, cantam os olhos, cantam os gestos… E, quase sem nos apercebermo-nos, suavemente ficamos presos na magia da sua voz, que nos embala a alma, dizendo-nos coisas de amor, de saudade, de ciúme, de revolta... Sentimo-nos extasiados, fere-nos a carícia da sua voz a desvendar-nos esse mundo íntimo e profundo, que palpita em todos nós, e só o Fado consegue revelar.
Adelina Ramos foi proprietária do Restaurante Típico “A Tipóia”, recinto por onde passaram quase todos os grandes nomes da época, quer de fadistas, quer figuras de relevo da sociedade
Adelina Ramos
versos de: Carlos Conde
Adelina Ramos. Pronto.
Não é preciso mais nada,
Nem há lugar p'ra confronto
Nesta artista consagrada.
Canta o fado à moda antiga,
E dos laivos do passado
Às rimas de uma cantiga
Tudo tem sabor a fado.
Pela expressão saudosista
Que imprime aos fados que entoa,
Há quem lhe chame a fadista
Mais fadista de Lisboal
NOTA: A direção da APAF, lamenta que o falecimento de tão insigne figura, não tenha sido deviadamente divulgada.
Adelina Ramos, descansa em paz, pois apesar de tudo, não foste totalmente esquecida, e ficarás na história do nosso Fado.
Relembro aqui o seu último aniversário, na companhia de um daqueles que sem desprimor por outros mais, a amou com com todo a carga emocional que que tem o sentimento "AMOR", refiro-me a Miguel Villa, e tomo a liberdade de trancrever parte do que ele escreveu quando da comemoração do 89º Aniversário da Fernanda Baptista, no seu blog.
89ºANIVERSARIO DE
FERNANDA BAPTISTA-FADISTA
Conforme prometi deixo hoje aqui uma das muitas fotos tiradas no passado dia 7 de Maio em cascais no 89º aniversário da minha querida madrinha Fernanda Baptista, que como já varias vezes afirmei é uma figura importante na minha vida, no meu dia a dia.
Conhecia-a há muitos anos numa festa no "Ajuda Clube" onde ela durante muitos anos foi madrinha da marcha da Ajuda, e esta amizade prolongou-se até aos dias de hoje.
A Fernanda Baptista é como se fosse a minha mãe mais velha, gosto dela da mesma maneira que gosto da minha mãe, é estranho talvez, mas não sei explicar.
Na tarde solarenga do dia 7 um grupo chegado de amigos, colegas, a família com os netos e bisnetos, fomos a Cascais cantar e festejar mais este seu aniversário….
Apesar da sua saúde nos últimos tempos não estar muito bem como todos desejaríamos, sabemos que a sua força de vontade irá ultrapassar mais uma vez este momento menos bom, e que para o ano lá estaremos a comemorar os seus 90 anos, numa festa grande festa.
Não tenho palavras para vos descrever o que amo a Fernanda Baptista, nem o carinho e amor que me igualmente me retribui desde que nos conhecemos. Tem uma família sensacional e que me admira e de quem também sou muito amigo.
Por isso não poderia deixar de estar presente e tentar uma vez mais retribuir-lhe todo o amor e carinho que me tem dado.
Acreditem que depois da minha mãe a Fernanda Baptista é a pessoa que melhor me conhece, só pelo tom da minha voz ao telefone, mesmo que ao telefone, percebe logo se estou bem ou não.....
Ela é para mim um pilar muito importante na minha vida, quando lá fora o sol está escondido, ela é o sol que em mim brilha, quando lá fora chove ela é para mim a eterna primavera, é a amiga, a mãe, a companheira, a colega, a conselheira, aquela que tem sempre a palavra certa na hora certa, e que nos estimula o coração.
Não conheço ninguém que não admire a Fernanda, desde os colegas ao público que ao longo de 65 anos a acarinha.
…há algo na Fernanda que consegue atravessar gerações e gerações, que a continuam a admirar e acarinhar, mesmo os mais novos que pouco sabem sobre a sua carreira, sabem que é muito querida, e é mesmo.
Aqui fica uma foto que tirámos nesse dia bem juntinhos, eu e a minha querida madrinha, nesse seu dia do 89ºaniversario, com os votos de rápidas melhoras, e um coração cheio de beijos e ternuras.
Miguel Villa
Com a colaboração de meu querido amigo Fernando Batista do Porto, relembramos uma das sua criações, que foi decerto um "cartão de visita"
Canta: Eu sou Fernanda Baptista
de Eduardo Damas e Manuel Paião
Informa-me Miguel Villa, que o corpo de Fernanda Baptista estará em camara ardente a partir do meio da tarde de hoje, na Basílica da Estrela, e que o funeral se realizará amanhã em hora a marcar para o Cemitério de Queluz.
Felizmente a APAF ao contrário do que muitos pensam ainda funciona, e não se esquece dos seus amigos, (*) permitindo assim que através deste meio mais pessoas possam tomar conhecimento de mais esta grande perda no meio artístico, e assim, homenagear esta grande mulher, recordando-a.
Também o meu amigo Miguel Villa me enviou uma mensagem às 02,11 horas.
Esperemos que a imprensa dê o devido destaque à efeméride.
(*) Fernanda Baptidta já tinha sido destinguida pela APAF. como sócia de mérito.
Descansa em Paz querida amiga
FERNANDA BATISTA
O meu amigo Acácio Monteiro, publicou a página anterior "Vamos Continuar" , na sequência de uma conversa que tivemos, tal como tive com outros (poucos) amigos, e que me perguntam o que se passa?....Vais parar?.... Não sei, mas sinceramente o que interrogo a mim mesmo é: Continuar? porquê? Valerá a pena?
Recebi hoje este filme, que acho extraordinário, só tenho pena de não conhecer o nome dos autores.
Convido-os a ve-lo e a meditar, sobre esta lição que é tão antiga, mas que nós os homens a esquecemos frequentemente.
Creiam que não quero elogios, mas receber um simples comentário — Vale ou não continuar?
No fim da págima clique em "comentar" e, se assim o entender basta escrever "sim" ou "não"
Recordamos uma frase do escritor Vergílio Ferreira " a vida é um dia entre duas longas noites" e Omar Kayan que dizia " levanta-te, tens toda a eternidade para dormir". todos nós nascemos ricos com capital que temos que gastar inexorávelmente. Tempo de Vida e nunca sabemos a quantidade dessa riqueza que possuímos. A compensação dessa riqueza é acumulação de outra não material , pura e simplesmente, saber. É no mínimo nada mais que o acumular do conhecimento e da cultura.
O estímulo é ter a certeza que todos os dias acrescentamos saber para no final apresentarmos balanço positivo da nossa existência.
Vitor nem duvides continua com um forte abraço de solidariedade do amigo que te admira e estima
Acácio Monteiro
Foto montagem Amália no Panteão
© Vítor Duarte Marceneiro
A 23 de Julho Amália faria 88 anos
Transladação
Amália é do Povo
Amália repousa finalmente no Panteão Nacional. A grande senhora do fado, a mulher do povo, a voz de Portugal descansa desde ontem [dia 8 de Julho de 2001] na sua última morada. Os restos mortais da fadista foram depositados na Sala de Língua Portuguesa, junto a figuras célebres da nossa cultura como Guerra Junqueiro, Camilo Castelo Branco e João de Deus. Numa homenagem nacional, a trasladação do corpo da diva do fado do Cemitério dos Prazeres para o monumento, decorreu como se de um funeral se tratasse. Centenas de pessoas não arredaram pé dos locais por onde a urna iria passar. A Rua de S. Bento (onde Amália viveu nos últimos anos) era das mais aguardadas.
Contudo, os ânimos exaltaram-se quando o povo se apercebeu que o carro funerário, escoltado por nove motos da divisão de trânsito da PSP, sob o comando do capitão João Cartaxo, não iria parar o tempo necessário para poderem prestar uma última homenagem à fadista. Apenas conseguiram atirar pétalas de rosa, acenar com lenços brancos e gritar: "Amália, Amália, Amália". Diga-se em abono da verdade que o trajecto do cemitério até ao Panteão mais parecia uma maratona, quase impossibilitando que se seguisse o veículo. Mas houve quem o tenha conseguido. Um idoso, de fato e gravata, seguiu o carro funerário numa bicicleta, mostrando que a sua devoção a Amália é maior do que o peso da sua idade. No nº 193, onde Amália viveu até 6 de Outubro de 1999, as janelas estavam fechadas mas a fadista era representada por um xaile preto e uma rosa branca pendurados na varanda. Entretanto, já no Panteão, os populares juntavam-se e tentavam ultrapassar o gradeamento e a barreira policial, localizada no cima da escadaria do monumento, na tentativa de ver mais de perto o caixão coberto com a Bandeira Nacional. No momento, os privilegiados eram individualidades do mundo do espectáculo e da política, familiares, amigos e comunicação social.
"Manifestação de saudade"
António Guterres, sentado ao lado de Almeida Santos, falou ao Correio da Manhã, para acentuar que a homenagem se tratava "de uma manifestação de saudade". "É impossível vê-la e ouvi-la - a não ser pelos discos que temos em casa -, mas a sua presença faz falta a todos os portugueses", disse. Ao som do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, acompanhados por um grupo de guitarras (Raul Nery, Fontes Rocha, José Luís Nobre Costa e Pinto Varela) e violas (Joel Pina, Francisco Perez Andion, Jorge Fernando, Lelo Nogueira e
Seguiu-se a interpretação de fados da cantora como "Estranha Forma de Vida", "Ai Mouraria", "Fado do Ciúme", "Lisboa Não Sejas Francesa", "Povo Que Lavas no Rio" e "Fado Malhoa". O Hino Nacional ecoou então pela zona envolvente do Panteão, num momento arrepiante em que as lágrimas voltaram a rolar. Posto isto, Jorge Sampaio usou da palavra e discursou de forma emocionada, mas simples (ver caixa). Mais uma vez, a música soou, mas o tempo urgia e era chegada a altura de Amália ser recebida pelo Panteão Nacional - a urna foi depositada na sala tumular, aberta pouco depois aos populares, para, posteriormente, ser conduzida à Sala da Língua Portuguesa, onde durante a noite se procedeu à selagem do túmulo.
Opiniões divergem
As opiniões sobre a trasladação dos restos mortais de Amália foram contraditórias. Durante a cerimónia religiosa, no cemitério (ver caixa), podiam ouvir-se comentários como "Amália é do povo, devia estar junto do povo", "Amália deve ir para o Panteão por ser um símbolo de Portugal" ou, ainda, "Quem é que pode estar a pagar 400 escudos por cada visita?" Quando questionado sobre esse mesmo pagamento, o primeiro-ministro salientou ao CM que a quantia era "para ver o Museu". "Mas os devotos de Amália podem visitar o seu túmulo gratuitamente todos os domingos de manhã, nos aniversários (nascimento e morte) e no Dia de Todos os Santos", explicou.
"Deusa, Musa, Genial"
A homenagem nacional iniciou-se por volta das 09h00, quando os restos mortais da diva do fado foram retirados do gavetão e levados para o interior da capela do Cemitério dos Prazeres. A manhã ainda estava a começar mas as pessoas já rumavam ao local. Quando por volta das 14h15, as portas se abriram e, pela primeira vez desde 8 de Outubro de 1999, se viu a urna de Amália, vozes se ergueram e o nome da fadista ecoou nos claustros da capela. A entrada fez-se, ordeiramente, com responsáveis da agência Magno a coordenarem a movimentação do povo que queria chegar junto à urna ladeada por quatro guardas-de-honra. Para quem esperava uma enchente de curiosos, seguidores, admiradores, familiares, amigos e figuras públicas, enganou-se. Pelo menos, à hora de abertura das portas. A razão para a fraca afluência no início da homenagem deveu-se sobretudo à intenção da população em dividir-se entre a cerimónia religiosa no cemitério e as oficiais no Panteão Nacional. Ainda cá fora, antes da abertura das portas, o Correio da Manhã conseguiu falar com D. Filipina, mulher do irmão mais velho de Amália, Vicente, que, segundo a viúva, "morreu três meses depois" da diva por causa "do desgosto".
Emocionada e expectante, D. Filipina aguardava que a capela fosse aberta ao público e foi frisando que a família estava feliz com tudo o que estava a acontecer. "Penso que ela vai para o lugar certo onde pode ser admirada", disse, acrescentando que a trasladação já devia ter acontecido. No interior da capela, fados de Amália passavam de boca em boca, como que quisessem espantar a emoção, a dor, as lágrimas. Até o "Malhão, Malhão" foi incluído no repertório dos presentes. Durante as horas que antecederam a cerimónia religiosa, os populares ocuparam o tempo a distribuir poemas, letras das músicas da diva e até houve quem trouxesse para o local sagrado um rádio para ouvir a grande voz. Junto à urna, ainda dentro da capela, as pessoas deixaram ramos de flores e até um livro com poemas de Ary dos Santos, Natália Correia e Pablo Neruda. No livro das condolências, podiam ver-se assinaturas de familiares, amigos e simples admiradores, residentes no País e no estrangeiro. Cá fora, Joaquim Geada, um fã de Amália, segurava apático uma Bandeira Nacional com a inscrição: "Deusa, Musa, Genial. Serás eternamente a voz de Portugal". Empregado de mesa, serviu a fadista, em Luanda, em 1970, e depois teve "a honra" de lhe oferecer flores por quatro vezes. Um gesto que a morte de Amália não travou.
Texto de Rita Montenegro, publicado no Correio da Manhã - 09 de Julho de 2001
Em 1940 escrevia-se assim sobre Amália
Jornal “Canção do Sul” de 1 de Março de 1940, assinava João Reis
Amália Rodrigues
O Rouxinol da Beira Baixa
Onde quer que se encontre Amália Rodrigues, cantando, logo uma multidão de apreciadores de bom fado a vai escutar, cativada por aquela “vózinha” sã, essencialmente castiça e tocada milagrosamente do saudosismo antigo, que, a despeito das canções modernas, ainda é a graça que enche os corações e completa as almas, hoje em dia a viverem quase que totalmente esvaziadas do bom sentimento fadista.
O público, embora juiz do seu gosto, senão do seu apuro artístico, é também o advogado omnisciente que defende ou ataca os seus artistas, e ele, que classificou Amália Rodrigues, como um novo rouxinol (o rouxinol da Beira Baixa) não se enganou.
Sim não se enganou!
Não há possíveis enganos quando o coração fala. Os olhos tantas vezes iludem. Mas a sístole e a diástole são sinetas que dão o rebate autêntico. Pois, meus senhores, quantas vezes será preciso dizer que o coração é a bitola do fado?
Amália Rodrigues canta o fado antigo, só o fado antigo. Exprime-o com aquela ternura entusiástica que bule nos nervos, dos mais insensíveis. A seu lado até a guitarra, de acordes nervosos, já de si, é tomada de outros nervos, mais vibráteis. Depois a cadência da sua voz, de ritmo fiel, inabalável, é de uma perfeição quase absoluta (passe o rigor da apreciação).
Perfeições na espécie humana não existem. Mas, com 19 anos, (tantas são as primaveras de Amália Rodrigues) — algo de definitivo já poderemos decifrar.
Ela, quando contrariou seus pais, para seguir a profissão fadista, não tomou melhor o prognóstico — embora a si se relacionasse — do que nós, simples espectador-jornalista. Assim, firmes na pratica de que dispomos, estamos autorizados a afirmar que Amália Rodrigues - é uma novel mas já grande cantadeira. Novel porque, tem o cartão desde Julho de 1939 — grande cantadeira porque as suas qualidades artísticas. São de modo. a merecer este adjectivo.
Quem nos haveria de predizer que aquela rapariga que tomou parte no “Concurso da Primavera” (exclusivamente nos ensaios) — alcançaria com tanto fulgor e rapidez um lugar de destaque entre as modernas fadistas! Só nos explicaria o valor de que ela fora nimbada pelo Destino! Só, esse misterioso Destino nos esmiuçaria das razões das voltas que o mundo dá...
E talvez esse Deus cego nos desse conta da nossa paixão pelo fado. Talvez esse enigma dissesse que a palma da ventura era outorgada pela sua mão àqueles que não o contrariam.
E talvez essa esfinge mitológica concluísse com razões de sobra que a aura de Amália Rodrigues é fruto da sua confiança no Destino.. Talvez...
Amália Rodrigues tinha de ser artista, não o contrariou e...venceu ...
A Ronda dos Bairros
Letra de: Francisco dos Santos
Sentindo-me fadista e reforçando a amarra
Que prende no meu peito a sensibilidade,
Sobraçando, contentei uma velha guitarra
De noite percorri os bairros da cidade.
Em todos eu cantei uma trova de amor
Em Alfama, Madragoa, em Alcantara e por Belém,
Subi a velha Graça, o bairro sonhador,
Aonde o fado vibra eternamente bem.
Eu quis saber assim onde melhor cantava
Unida a convulsão da minha nostalgia.
E ás quatro da manhã eu reparei que estava
Junto de uma capela, ali na Mouraria!
Senhora da Saúde, a santinha benquista,
Parece que escutou a trova que cantei
Senti-me mais mulher, senti-me mais fadista,
Na velha Mouraria aonde o fado é lei ...
FAZ 5 ANOS QUE FERNANDO MAURÍCIO NOS DEIXOU
FERNANDO MAURICIO
Nasceu em Lisboa, na Rua do Capelão, no Bairro da Mouraria a 21 de Novembro de 1933.
Faleceu em Lisboa, a 13 de Julho de 2003
Voz genuína, espírito livre e homem arreigado nas sua raízes de lisboeta, foi também um
grande intérprete do Fado. A sua autenticidade, o seu apego a uma forma popular de estar e
sentir a vida da cidade, o seu enorme talento fizeram dele um fadista admirado e principalmente o orgulho, do seu bairro «A Mouraria».
Como profissional actuou em diversas casas típicas, Café Luso, Adega Machado, Adega
Mesquita, O Faia, Nau Catrineta etc.
Em Junho de 1989, com a presença de Amália Rodrigues, são descerradas duas lápides evocando a sua figura e a de A Severa.
A 31 de Outubro de 1994 a CML, organiza no S.Luiz a sua festa das "Bodas de Ouro Artísticas"
Em 12 Maio de 2001, foi agraciado pelo Presidente da República, com a Comenda da Ordem de Mérito.
Foi ainda agraciado com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa
Em 2007 foi aprovado em Assembleia Municipal dar o seu nome a uma rua de Lisboa.
Fernando Mauricio
canta Voltei ao Cais
Poema de António Rocha
200.000
Visitantes
Faz ano e meio que iniciei esta cruzada, hoje atinge os 200.000 visitantes, e será que LISBOA irá para o Guiness?
O essencial foi conseguido, ou seja grande parte do que me propus fazer para que Lisboa se candidatasse ao Guiness Book of Records, como a Cidade mais Cantada do Mundo, está feito, o mais simples agora era iniciar o processo de candidatura, mas nada avança. Porque será?
A ver vamos.
Viva Lisboa
Viva os Poetas
Viva o Fado
Viva a Poesia
Tem o dom de ter ALMA FADISTA
Música: Aldina Duarte edita álbum onde procura harmonizar alegria e tristeza
Lisboa, 06 Jun (Lusa) - A fadista Aldina Duarte edita esta semana o seu terceiro álbum, "Mulheres ao espelho", o primeiro com uma capa colorida, como sublinhou à Lusa, por ser o que revela "maior harmonia entre a alegria e a tristeza".
"Espelho de mulheres" é editado pela Roda-Lá Música, etiqueta criada pela artista que, perante "portas fechadas", decidiu "arriscar".
Neste álbum de capa colorida, design de Rui Garrido e fotografia de Isabel Pinho, além do fado tradicional, Aldina Duarte canta fados canção.
A fadista canta cinco poemas seus e dois de Rosário Pedreira, “poeta” com que fecha o CD declamando "Mãe", de sua autoria.
O primeiro verso do poema reza assim: "Mãe, eu quero ir-me embora - a vida não é nada".
Aldina afirmou à Lusa que "o poema da Maria Rosário fala de uma coisa que ninguém quer ouvir mas sobre a qual devemos pensar, para a qual temos de conseguir olhar e até por solidariedade com quem viveu por aquela situação".
"Foi uma situação pela qual uma amiga minha passou e há coisas que são duras e não queremos pensar, mas essa não é atitude certa", acrescentou.
Maria José da Guia, Hermínia da Silva e Lucília do Carmo são três fadistas a quem presta homenagem por lhe "servirem de espelho".
De Maria José da Guia, falecida em 1992, canta "Bairro divino" (Álvaro Duarte Simões); de Hermínia Silva, que morreu a 13 de Junho de 1993, "A rua mais lisboeta" (Lourenço Rodrigues/Vasco Macedo); e de Lucília do Carmo, falecida há nove anos, interpreta "Não vou, não vou" (Júlio de Sousa/Mário Moniz Pereira).
"São três mulheres que me servem de espelho na minha profissão de fadista", sublinhou.
Mas não é "este espelho" a razão única da escolha do título do álbum. Segundo Aldina, "este espelho espelha também histórias com princípio, meio e fim de muitas mulheres".
"Vi-me em muitas mulheres quando idealizei este álbum", explicou.
Acompanham a fadista os músicos que com ela gravam desde o primeiro álbum, José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Carlos Manuel Proença na viola (Prémio Amália Rodrigues 2008), que também assina a direcção musical.
Interessada nas "coisas do fados e nas suas histórias e história", Aldina Duarte afirmou à Lusa que este seu trabalho de "constante pesquisa" é "um instrumento do fado" e que ouvindo e conhecendo vai "apurando o ouvido e a sensibilidade".
Actualmente empenhada na divulgação deste álbum, a fadista tem em projecto um programa de rádio e agendados vários espectáculos.
Dia 04 de Julho actua no Cine-Teatro Batalha no Porto, mas antes apresenta "Espelho de mulheres", dia 28 de Junho, na FNAC Chiado (Lisboa), pelas 18:00.
Dia 07 de Julho actuará em Berlim, no âmbito do Festival Internacional de Poesia, e 13 do mesmo mês inicia um ciclo de apresentações aos domingos na Fábrica de Braço de Prata, em Xabregas, Lisboa.
"Apenas Amor", de 2004, foi o álbum de estreia da fadista, que começou a cantar aos 24 anos e se afirma admiradora de Camané, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Mariza e Carlos do Carmo.
O disco foi bem acolhido pela crítica e público e em 2006 editou "Crua", um álbum composto exclusivamente por poemas de João Monge.
Aldina Duarte, natural de Lisboa, cresceu em Chelas, começou a trabalhar aos 20 anos num jornal e passou depois pela rádio.
Cantou no coro de uma banda, os "Piranhas Douradas", e trabalhou no Centro de Paralisia Cerebral, onde deu o seu primeiro espectáculo.
Camané, Mariza, Pedro Moutinho e António Zambujo, são alguns dos fadistas que interpretam poemas de sua autoria.
NL.
Lusa/Fim
Aldina Duarte
Canta: No Fim
Poema de sua autoria com música de Alfredo Marceneiro
AS MULHERES AO ESPELHO DE ALDINA DUARTE
Um dia, o sol e um cortejo de estrelas dispuseram sobre o seu corpo duas asas brancas. - Asas,
perguntou Aldina? - Sim, asas, para que do teu voo nasçam os acordes de um disco. 0 !eu primeiro de muitos, que se chamará "APENAS 0 AMOR".
Cumprida a bela viagem inaugural, Aldina nunca mais deixou de voar, cada vez mais o seu jeito, sem resistir sequer a partilhar publicomente algumas reticências. Como se pode ler, logo a abrir, nos pontinhos do texto do seu segundo disco "CRUA".
Caminhando o seu caminho, atenta ao ar do tempo e do lugar que habita, gulosa deles, foi apalpando as estrias da memória de si, com desassombro, mesmo (ou sobretudo) quando mais faziam doer.
Aprendeu a olhar de frente as feridas e as cicatrizes, sorrindo-lhes para melhor as sarar. Primeiro encontro com o espelho?
A voz, o sua voz, embalava-lhe os gestos e os passos, guiando-os. E... há sempre a terra, o rio, os astros no céu. 0 mar. Há sempre os amigos, que lhe adoçam o hora das horas que vive. Há sempre o família, essa sua gruta de todas as consolações. Hà sempre Maria de Lurdes, a mâe, a grande árvore fundadora.
A árvore de inspiração para a vida.
E há sempre o fado, o que atravessou os tempos, e os cantou, contando-os. Aldina começou o tratá-lo
por tu: Timidamente, a principio. Mais afoita, com o rolar dos anos. Assim lhe exigiram umas senhoras do fado, dos maiores, suas fadas-madrinhas - Beatriz da Conceição e Maria da Fé, para cá das nuvens; Lucilia do Carmo e Herminia Silva, para lá desses flocos do céu. Foram elos que até ao fado a levaram e, em a levando, lhe deram nobre benção.
Chegou então a hora de Aldina se contar mulher, mulheres. Terá sido a imagem no espelho o exigi-lo, a ela que nunca nele se viu desacompanhada? Ou foi Aldina quem quis contar as mulheres que nessa imagem, a seu lado, reconhecia? Segredou-lhe o espelho o titulo do terceiro disco? Assim - Deverá chamar-se "MULHEHES AO ESPELHO" e haverá nele a voz de uma segunda mulher, de uma grande poeta nossa. Calar-se-âo a guitarra, a viola e a tua voz, para que seja o poema "MÃE", de Maria do Rosário Pedreira, a selar, com a gravidade sublime da poesia, este novo disco de ti, minha queridafadista de corpo inteiro!
Maria João Seixas