Hermínia Silva
canta "Mãos Sujas"
com letra de Frederico de Brito e Música de Frederico Valério
num programa de Televisão nos anos sessenta.
Este número foi estreado por Herminia na Revista Chuva de Mulheres em 1937
A A.C.O.F.A, leva a efeito no dia 29 de Novembro no "Theatro Circo" a 8ª Grande Noite de Fado 2008, deu-me a honra de me convidar para receber o testemunho da homenagem que fazem a Hermínia Silva, por ter sido o seu biógrafo, e, simultaneamente para presidente de júri de avaliação do concurso de Fado .
Para além dos concorrentes, estará presente para relembrar Hermínia Silva a actriz Noémia Costa.
Relembro que Hermínia Silva faria 101 anos em 23 de Outubro
BIOGRAFIA
Hermínia Silva nasceu às 18 horas do dia 23 de Outubro de 1907, no Hospital de São José, freguesia do Socorro, era filha de Josefina Augusta, que morava à data do parto na Rua do Benformoso, 153, no 1.º andar, freguesia dos Anjos, em Lisboa. (1)
(1) Conforme Acento de Nascimento n.º 704, do ano de 1907, na 8.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa.
Sua mãe, chamava-se Josefina Augusta, era natural de Samora Correia. Teve uma irmã mais velha que tinha o nome de Emília e um irmão que se chamou Artur Moreira.
É com palavras da própria Hermínia, com a sua simplicidade, a sua graça no jeito tão pitoresco que ela tinha a exprimir‑se, que aqui se transcreve parte da sua biografia:
Julgo que nasci numa casa ali para os lados do Campo de Santana (2), numa travessa, cujo nome não recordo, e não recordo porque saí de lá apenas com oito meses. A verdade é que não tenho quaisquer recordações do tempo que mediou entre o meu nascimento e a idade escolar, mas creio que fui uma criança absolutamente normal, com todas as gracinhas, «perrices» e evoluções que são comuns a todas as crianças normais.
No entanto, recordo que me contaram que quando tinha oito meses caí da varanda à rua. Mas eu explico como isso foi e como é possível eu ainda aqui estar a falar sobre a minha infância.
Ora, na casa onde nasci, havia uma varanda, na qual eu brincava habitualmente, que, por segurança, estava protegida por uma rede. Porém, um dia, por qualquer razão, que ignoro, alguém tirou a rede e eu, na minha «gatinhice», enfiei pelas grades e fiz um «voo picado» até à rua… bom, até à rua não, porque tive a sorte de cair na giga de uma mulher que vendia hortaliça e que, providencialmente, passava nessa altura debaixo da varanda.
Logo um senhor, que passava por ali na ocasião, agarrou em mim e levou‑me para o Hospital. Cheguei lá e... pasmem, verificaram que não tinha nem uma beliscadura. E eu, muito sossegadinha, não chorava nem nada.
Deram‑me, depois, lá no Hospital, uma colher de cerveja preta e trouxeram‑me finalmente de volta a casa, onde todos se encontravam muito aflitos,... Mas cair de um segundo andar à rua, apenas com oito meses, e nada sofrer, hem?! Ao menino e ao borracho…
Este é, segundo julgo, o único episódio fora do vulgar da minha infância, já que não tenho ideia ouvir falar em mais nada.
Como consequência dessa queda da janela à rua, veio uma mudança de residência. Minha mãe, impressionada com o acidente, não quis continuar naquela casa e, assim, mudámo‑nos para o Castelo.
(2) Hermínia faz esta afirmação sobre o seu nascimento em entrevista ao jornal Trovas de Portugal, de 30 Julho de 1933, onde, na página seis, Hermínia escreve pela pena do jornalista: — Sou de Lisboa, freguesia do Socorro, e criei‑me no Castelo de S. Jorge!
No Álbum da Canção, datado de 1965, fala do local do seu nascimento, mas sem muita clareza: — nasci numa travessa da qual não me lembro o nome, ali ao “Campo de Santana”.
Em 1980, quando da festa da entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, Hermínia Silva é entrevistada para a RTP e diz que nasceu na «Rua das Flores» que ficava junto à Travessa Conde de Avintes, e que era perto do local onde morava o Armandinho. Ora este local situa‑se na freguesia de S. Vicente de Fora e há lá uma Travessa das Flores e não Rua das Flores.
Desde que me entendo que gostei de cantar. E o fado, cantava‑o a todo o momento, e por toda a parte: na rua, em casa, na escola, desde que aos seis anos comecei a frequentar a escola, que ficava ali na Rua da Madalena, mesmo em frente da igreja.
Ora lá na escola, por vezes, havia umas festas nas quais tomavam parte algumas meninas que sabiam cantar. Eu deixava‑me ficar muito caladinha quanto aos meus «méritos», pois tinha vergonha de os revelar. Até que um dia, quando se preparava uma dessas festas, uma das minhas colegas dirigiu-se à mestra e, apontando-me, revelou:
— Minha Senhora, esta menina canta muito bem!
Claro está que a professora quis, imediatamente, avaliar as minhas possibilidades e mandou-me cantar uma música que eu soubesse bem. E eu «desatei» logo a cantar um fado, daqueles bem fadistas.
A professora ao ouvir-me cantar o fado levou as mãos à cabeça e, fazendo um gesto negativo, declarou:
— Ai. Esta menina! Não… Fado não!
Depois, talvez por ver a decepção estampada na minha cara, incitou-me a cantar outra «moda» que eu soubesse. Cantei, ou melhor, comecei a cantar uma canção que sabia também, mas o pior é que mesmo a canção, na forma como eu cantava e na minha voz, soava como fado. E, de novo, a senhora me interrompeu, repetindo, um tanto ou quanto escandalizada:
— Não, fado não… Esta menina não pode cantar na festa! As meninas não cantam fado!
Escusado será dizer que fiquei com uma grande «pinha», pois cantar já era para mim uma paixão.
E começava também já a despontar em mim o desejo de representar. E chorei que me fartei.
Mas a vida continuou e eu sempre cada vez mais possuída por aquela verdadeira paixão que era para mim o cantar. E sempre que podia lá estava eu de «boca aberta» quer fosse em casa, quer fosse nas casas de pessoas amigas que me convidavam, de vez em quando, a cantar um «fadinho», quer fosse em festas particulares, onde me chamavam de propósito para eu «botar» cantiga, porque achavam que eu tinha «jeitinho».E eu ia sempre cantando e sempre a pensar no Teatro, pois nesse tempo não havia casas típicas e eu para as tabernas não ia… claro que não ia.
Até que um dia…
Estava eu em casa da minha irmã Emília (3), que morava ali em Entre Muros do Mirante, quando casualmente passou o Armandinho, que morava para aqueles lados e me ouviu cantar. Ou melhor, ouviu uma voz, vinda daquele prédio. Então, subiu as escadas, bateu a porta e perguntou à minha imã, que foi quem abriu:
— Não é aqui que está uma pequena a cantar?
— É, é. É a minha irmã — replicou.
— Que idade tem ela?
— Olhe, tem doze anos.
— Chame‑a lá, faz favor — volveu Armandinho, cada vez mais interessado.
A minha irmã, que sabia o quanto eu era acanhada, volveu:
— Ai, ela não vem.
— Chame‑a lá — insistiu o grande Armandinho. — Olhe que ela tem uma bonita voz. Uma voz muito engraçada. Ora chame‑a lá. Que eu arranjo já um contrato para ela ir gravar um disco ao «Valentim de Carvalho».
A minha irmã sorriu, pouco convencida, e explicou a Armandinho:
— Ai, ela não vai. A minha mãe não deixa.
Porém, o famoso guitarrista não se deixou convencer com aquela primeira negativa da minha irmã.
(3) Hermínia refere que a irmã vivia ali «Entre Muros do Mirante», à Graça, e provavelmente passava por este local quando ia para casa da irmã. Quanto à sua alusão a Rua das Flores, e como já acima referi, será lógico ser Travessa das Flores, que fica na freguesia de S. Vicente de Fora.
Gostara, sinceramente, da minha voz, da maneira como eu interpretava o fado e não estava disposto a desistir assim às primeiras. E então pediu licença para entrar, para falar directamente comigo.
Escusado será dizer que eu, que estivera a ouvir toda a conversa, apareci nesse instante e, então, Armandinho dirigiu‑se‑me:
— Então, não quer vir cantar?
Eu claro que queria cantar, já que cantar era, pode dizer‑se, a minha vida.
Mas a verdade é que fiquei muda e o malogrado artista prosseguiu:
— Ora vá, venha gravar um disco. Olhe, nós agora até vamos a Berlim, com o Menano e a Ercília Costa, e a menina também podia ir.
Talvez por julgar que me encontrava a sonhar, a verdade é que permaneci muda como um penedo, enquanto o meu interlocutor, certamente para me entusiasmar, ia prosseguindo, tentador:
— Vá, venha que faz um «vistaço». Venha lá gravar um disco. Então não quer ir connosco cantar? Então não quer ir para o Teatro?
É claro que, se eu tinha imensa vontade de ir para o Teatro, naquela altura, ainda fiquei com mais. Mas não fui. Não fui com o Armandinho. Sim, não ia assim para Berlim. De maneira nenhuma...
Mas as coisas da vida nem sempre correm à medida dos nossos desejos, e o mundo dá muitas voltas.
Chegou a altura em que tive necessidade de ir aprender um ofício e empreguei‑me como aprendiza de modista. No entanto, o meu pensamento estava sempre no Teatro e no Fado. E continuei a cantar, quer pelos bailaricos, quer em festas particulares, para as quais estava sempre a ser chamada. E eu ia sempre, pois o que eu queria era cantar…
EU, QUE NÃO SOU NADA DRAMÁTICA,
FUI AMADORA DRAMÁTICA…
Quando tinha os meus dezoito anos (1925), sempre norteada pelo grande amor que dedicava ao Teatro, inscrevi‑me como amadora dramática no «Grupo dos Leais Amigos», ali ao pé da igreja de S. Vicente. O que eu queria era representar e tanto assim que representei coisas dramáticas, eu que não sou nada dramática... Mas tal era a fúria de ser artista... que tudo me servia.
Em 1926, representei e cantei no antigo Teatro Gil Vicente, à Graça. Foi ali que, certo dia, apareceu um senhor que era escritor, Artur Vítor Machado de seu nome. Esse senhor levou‑me à presença do pai, o maestro A. Júlio Machado, que era empresário, e foi logo assim, que ainda nesse ano me levou numa tournée à província.
Era tal a minha gana de vencer, que me comportei de tal modo que, no início desse giro artístico, o meu nome figurava nos cartazes em último lugar e quando regressámos eu era já a primeira figura.
Terminada essa tournée que foi, pode dizer‑se, o início da minha carreira como profissional, fui trabalhar para um cinema, ali à Esperança, o «Malacaio». O contrato por oito dias que me fizeram era para cantar fados no final da exibição dos filmes.
Mas a verdade é que o público me dispensou tantas gentilezas, me acolheu e adoptou com tanta e tão grande simpatia, que esses oito dias se transformaram, quase sem que déssemos por isso, em dois anos.
É verdade: durante dois anos consecutivos actuei no «Malacaio» em final de festa. E sempre com o pleno agrado do público frequentador daquele cinema que não me regateou o seu apoio e os seus aplausos. Ainda hoje conservo no coração a simpatia daquele público. Foi Rui Metelo, um empresário muito conhecido na época, que me proporcionou esse contrato.
O PARQUE MAYER
Quando finalmente deixei de cantar no «Malacaio», fui para o Parque Mayer. Ali os estabelecimentos de farturas tinham, ao tempo, grande clientela, estavam em voga. Ali se cantava o fado. Pode dizer‑se que essas casas foram as percursoras das casas típicas que hoje conhecemos.
Ora, quando fui para o Parque Mayer, era contratada pelo «Valente das Farturas». Este contrato, tal como acontecera com o cinema da Esperança, era por oito dias. Mas tal como aconteceu no «Malacaio», esses oito dias prolongaram‑se por mais dois anos.
Nessa altura, eram frequentadores assíduos no «Valente das Farturas» a grande maioria dos artistas de então, que trabalhavam nos Teatros do Parque Mayer. Muitos deles já iam lá especialmente para me ouvirem, pois gostavam da minha maneira de cantar. O meu salário então já era de cinquenta e cinco escudos diários, o que para o tempo era um grande cachet, mesmo tendo em consideração que chegava a ter seis sessões diárias.
Entre os muitos artistas que frequentavam assiduamente o «Valente das Farturas», que se tornara o palco onde eu dava livre curso ao meu íntimo desejo de cantar, contavam‑se dois artistas de grande cartel na época, que trabalhavam no Teatro Maria Vitória, que eram o Alberto Ghira e a Hortense Luz, e certo dia vieram falaram comigo, convidando‑me a ir para o teatro. Mas eu ganhava ali muito bem, embora o teatro fosse a minha grande paixão, eu não ia trocar o certo pelo duvidoso. Foi, pois, embora contrariada, que lhes disse que não aceitava.
O Alberto Ghira ainda voltou a insistir, mas continuei a recusar, com o mesmo fundamento de que me sentia ali bem e ganhava uma pequena fortuna, mas disse logo que no dia em que deixar de trabalhar aqui irei para o Teatro, se ainda me quiserem lá.
E, assim, se gorou a primeira grande oportunidade para eu entrar para o Teatro de Revista e dele fazer o centro da minha actividade artística.
Como já tive oportunidade de frisar, também no «Valente das Farturas», tal como acontecera, anteriormente, no Cinema em que actuei em fim de festa, mantive‑me dois anos consecutivos, merecendo sempre, devo reconhecê‑lo, o carinho do público, que aliás eu fazia por manter, dando tudo quanto tinha dentro de mim, sempre que cantava, o que acontecia, como também já disse, muitas vezes em cada dia.
Mas certo dia tive mesmo que parar de cantar, porque tive uma grande constipação nas cordas vocais que me pôs bastante «à rasca», durante mais de um ano. Foi com imensa tristeza, pois como já sabem, o cantar era o maior gosto da minha vida, e além disso tinha passado a ser a minha fonte de subsistência (4).
(4) Estava‑se em finais de 1926 e Hermínia estava grávida; seu filho Mário Silva vem a nascer em 9 de Abril de 1927.
POR FIM O TEATRO DE REVISTA
Quando, finalmente, recuperei da doença, roidinha de saudades de cantar e do contacto com o meu querido público, que sempre me acarinhara, fui trabalhar para uma Sociedade de Recreio que, se não estou em erro, era o «Comando-Geral». Foi aí que, certo dia, o conhecido empresário Macedo e Brito me abordou, dizendo‑me que, conhecendo o meu valor achava que eu devia voltar era a cantar. Prometeu‑me que me ia arranjar uma entrevista com o empresário de teatro António de Macedo.
Passados poucos dias confirmou‑me a marcação da entrevista; fiquei entusiasmada, não podia perder esta nova oportunidade de ingressar no Teatro, que era o sonho doirado da minha vida, e logo fui falar com o António Macedo, que me contratou imediatamente, para actuar em fim de festa, cantando fados — claro está — na opereta «Fonte Santa» (1932).
O público voltou a corresponder inteiramente, aplaudindo‑me com simpatia, e foi graças a esse mesmo público que, logo de seguida, fui contratada para fazer uma revista, que se intitulava Feijão‑Frade (1933), que era um original de Xavier de Magalhães, Almeida Amaral e Fernando Santos. E esta foi a primeira revista em que eu entrei.
Foram assim na realidade os meus primeiros passos a sério com o teatro de revista, e a verdade é que, sem vaidade, fiz um autêntico brilharete.
De então para cá tomei parte em inúmeras revistas, assim como numas quantas operetas, e até em peças declamadas.
A minha carreira continuou, felizmente, com grandes êxitos, que, certamente, eu não merecia, mas o público me quis oferecer.
Também actuei nos estúdios da RTP, a última vez foi num dos episódios da série Os Três Saloios, protagonizada por Raul Solnado, Humberto Madeira e Emílio Correia, três valores do nosso teatro ligeiro.
E devo confessar que gostei.
Tive, ao longo da minha carreira, como é natural, muitas e variadas propostas para ir ao estrangeiro, mas como sou multo «pegada» a isto.
Tenho muita relutância em sair de Portugal, eu ainda nem sequer visitei as províncias ultramarinas, apesar dos muitos convites que para o efeito me têm endereçado e do grande desejo que tenho de as conhecer.
— Fui ao Brasil, onde me demorei o menos tempo possível, aos Açores e à Madeira, onde fiz uma curta série de espectáculos.
Conclusão do autor:
Hermínia, sem sombra de dúvidas, nasceu a 23 de Outubro de 1907, no Hospital de S. José, freguesia do Socorro, em Lisboa.
O episódio que contou sobre ter caído da janela à rua refere‑se decerto à rua onde sua mãe morava quando do seu nascimento, Rua do Benformoso, 53, 1.º, freguesia dos Anjos, em Lisboa.
Tudo leva a crer que sua irmã morava na Travessa das Flores, freguesia de S. Vicente de Fora, em Lisboa, enquadrando‑se assim com toda a lógica o episódio em que conta como o guitarrista Armandinho a ouviu cantar.
© Vítor Duarte Marceneiro
Livro biográfico "Recordar Hermínia Silva"
Edição de Autor Vítor Duarte Marceneiro
A vida de Hermínia, fotos, reportagens e as letras do seu repertório
Formato 16 X 21 com 232 páginas
Práticamente esgotado, ainda há alguns exemplares (poucos) na loja do Museu do Fado
Recebi este mail, que de imediato acedo com muito gosto em publicitar esta grande iniciativa, neste modesto blog, que não pretende mais do que falar de Fado, falar do projecto de colocar Lisboa no Guiness com a cidade mais cantada do mundo, e de tudo o que faça parte da nossa comunidade.
Exmos Senhores:
Pela presente, gostaria de apresentar um novo projecto relacionado com as localidades do nosso país. Trata-se de uma Enciclopédia on-line, escrita em colaboração pelos seus leitores. O site, que se intitula Memória Portuguesa, usa o conceito Wiki, que permite a qualquer pessoa criar ou editar artigos existentes, melhorando a informação neles contida. Além disso, é possível introduzir comentários em cada artigo, promovendo assim o debate animado entre os utilizadores.
Utilizando o Google, procurámos os contactos de blogs e sites dedicados às localidades portuguesas. Visto que a intenção é promover as Terras de Portugal, dando especial atenção às localidades do interior, a sua contribuição seria muito apreciada. Caso ache o projecto interessante, por favor registe-se usando a password abaixo na seguinte página:
WTP2008
http://terrasdeportugal.wikidot.com/system:registar
Assim, gostaria de contar com a sua participação e sugerir que divulgue esta iniciativa junto dos amigos da sua localidade ou enviando o convite a pessoas interessadas. Será que poderia incluir um link para esta enciclopédia no seu site ou blog?
Asseguro-lhe que o site foi idealizado e concebido por um grupo de amigos cuja intenção é promover o amor pela terra natal de cada português. Assim, será dada especial relevância às memórias dos cidadãos, para que sejam preservadas tradições antigas, recordações de infância, ofícios, cantares, folclore e outras manifestações culturais.
O site está ainda numa fase muito inicial, mas uma longa caminhada começa sempre com um primeiro passo.
Ficarei a aguardar a sua opinião.
Cumprimentos,
Carlos Pereira
Wikinet
Escrever, fotografar, filmar, é deixar testemunhos para as gerações vindouras, é um dever, é uma obrigação, e se for feita com amor não custa nada.
Bem hajam pelo vosso projecto, espero que este blog contribua para a sua divulgação.
Oferece-vos um Video-Clip, entre muitos, feito por um "Português de Primeira" e um tripeiro de alma e coração, o Dr. José Manuel Pedrosa, que para além deste e dos que já aqui publiquei, tem uns milhares de fotos do nosso Portugal e de quase todo o mundo.
A. José Bento Machado, "ZÉ BENTO" nasceu no Porto e está actualmente a residir em S. Paulo Brasil desde Fevereiro de 2004
Como está aposentado e dedica uma grande parte das horas do dia à informática onde adora "brincar" com imagem e som para manter a mente ocupada .
Zé Bento não esquece Portugal e as suas raízes, é um devoto do Fado que começou a apreciar em Moçambique onde cumpriu o serviço militar, e foi na Ciadade da Beira, que conheceu o mau pai , quando vinha do mato para a cidade, era certo dar uma passadinha no Moulin Rouge, e logicamente na Toca do Fado, que era onde meu pai actuava.
Como bom Português e bom tripeiro tem sentido a nostalgia da Pátria e consequentemente do Fado, pelo que começou e engendrar um esquema para cantar, e assim com um CD de instrumental de fado, começou a gravar com a sua voz alguns Fados, que conseguiu com um resultado bastante bom, e que publica na Internet. Espero que venha a gravar com músicos.
Começou com o tema "Tudo isto é fado", depois "Saudade vai-te embora" e agora brinda-nos com o "Embuçado", num excelente trabalho em "power point" de sua autoria.
Descobriu o meu blog, escreveu-me palavras de apreço sobre o meu trabalho, e ainda sobre o meu avô ALFREDO MARCENEIRO, de quem é fã incondicional, disse-me que passa horas a fio matando saudades, ouvindo os seu Fados.
Amigo Zé esta é a minha homenagem, sinto-me honrado por a partir de hoje sermos amigos.
Grande Tripeiro, parabéns
Um abraço Fadista
Vítor Duarte Marceneiro
http://www.slideboom.com/presentations/29095/EMBU%C3%87ADO
http://br.youtube.com/BentoMachado (este não precisa explicação )
http://dps-caborabassa.hi5.com (o espaço que criei para o tempo da guerra aqui sou o Bento Machado)
Maria Jô Jô canta "Férias em Lisboa"
da autoria de António José e Helena M. Vieira.
Maria Jô Jô, é proprietária do Restaurante Típico Taverna Del´Rei em Alfama.
Brevemente farei aqui uma página e um Video-Clip, desta linda fadista, para além de ser uma mulher jovem, já canta há muitos anos e tem repertório próprio e muitos admiradores.
FLORENCIA cantou no Festival RTP da Canção 1979 " O COMBÓIO DO TUA" uma apologia à linha mais bonita do mundo, ao comboio , aos ferroviários e sobretudo às gentes simples de Trás os Montes muitas vezes obrigadas a emigrar para poderem subsistir mas sempre com o sonho de voltar e melhorar a sua região...
Voltam mas verificam que tudo está pior e até o seu, de todos, comboio, querem destruir em nome de mais energia... para quem?!!
O COMBOIO DO TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
TRÁS EMIGRANTES, TRÁS EMIGRANTES
E NO COMBOIO QUE SOBE O TUA
VELHOS SOLDADOS E ESTUDANTES
VÃO DE VIAGEM P’RA TRÁS-OS-MONTES
E O COMBOIO QUE SOBE O TUA
FAZ POUCA TERRA A MUITA TERRA
ATÉ AO FILHO QUE ANDA NA RUA
E HÁ NAMORADOS P'R'ALÉM DO TUA
LENÇOS BORDADOS ROUPAS DE CAMA
BRINCAM CRIANÇAS SOLTAS NA RUA
POR ENTRE AS PEDRAS NO MEIO DA LAMA
E O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OS NAMORADOS LEVAM UM BEIJO
ANTIGO SONHO DE MULHER NUA
SOFRIDO EM FRANÇA SEMPRE UM DESEJO
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
TRÁS VIAJANTES, TRÁS VIAJANTES
E O RIO À ESPERA ESPELHO DA LUA
LAVA SAUDADES DOS EMIGRANTES
E EM TRÁS-OS-MONTES, POR TRÁS-OS-MONTES
UMA ENXADA DA CHARRUA
DE SOL A SOL TAL COMO DANTES
ESPERA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
EM TRÁS-OS-MONTES, POR TRÁS-OS-MONTES
UMA ENXADA DA CHARRUA
DE SOL A SOL TAL COMO DANTES
ESPERA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
OLHA O COMBOIO QUE SOBE O TUA
Esta página é uma sincera homenagem às vítimas que já pereceram nesta via.
Este video-clip, é a minha pequena homenagem a estes grandes actores, que fizeram o favor de me convidar para a estreia, levei os meus filhos, o Alfredo de 9 anos e Beatriz de 5 anos, ( excepcionalmente porque eram só dois, pois a experiência, confirma que em grupo é mais apropriado para crianças a partir dos 10 anos), mas felizmente estiveram muito atentos e portaram-se muito bem, como aliás poderão verificar pelos comentários que eles acederam a fazer para a filmagem
Este excepcional grupo de actores, que já há vários anos que vem fazendo este espectáculo, num horário escolar, afim de permitir às escolas organizarem-se para trazerem os alunos ao teatro.
Não têm qualquer subsídio, fazem-no por amor à arte e com o sacrifício das suas horas de descanso.
O espectáculo está vocacionado para alunos a partir do 6º ano, é necessário marcar, pois a sala do Teatro de S. Francisco, situada no Largo da Luz, tem capacidade para cerca de 100 lugares. O espectáculo é levado á cena todas as 3ªs. Feiras pelas 11,00 Horas.
Para marcações basta contactar os telefones
213 561 986 o 963 501 531
Recordar o grande cançonetista TONY DE MATOS, cantando o bonito poema "SÒ NÓS DOIS", de Joaquim Pimentel,
Tony de Matos cantava o chamado "Fado Canção", para os puristas não será «Fado», mas eu acho, aliás tenho a certeza que Tony de Matos era um fadista de alma e coração.
Permitam também que dedique este trabalho à sua última companheira, uma das mais lindas senhoras que conheci no Fado, Lídia Ribeiro, gostaria de fazer uma página neste blogue sobre a sua carreira artística, mas têm sido infrutíferas todas as tentativas para a contactar, como é mãe de Teresa Guilherme, tentei o contacto, mas até esta data não tenha conseguido, embora tenha já deixado alguns recados na SIC.
SÓ NÓS DOIS
Só nós dois é que sabemos
O quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois avaliamos
Este amor, forte, profundo...
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo
Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esqueça o que vai na rua
Vem ser meu, eu serei tua
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta.
Só nós dois é que sabemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
As torturas dos desejos
Vamos viver o presente
Tal-qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será.
Joaquim Pimentel
Dois grandes fadistas que nos final dos anos sessenta, obtiveram grandes êxitos. Estiveram contratados na "Adega Mesquita", onde cantavam a solo, mas os admiradores que ali acorriam para os ouvir , exigiam que ambos cantassem à desgarrada.
Nestas desgarradas, já que o estilo de ambos era muito idêntico, ambos inteligentemente, faziam o "despique" utilizando os seus "pianinhos", em que ambos eram excepcionais, e assim se demarcavam.
Quis o destino que Francisco Martinho nos tenha deixado muito cedo. Para além das gravações, e das foto nas capas dos discos, não tenho conseguido mais pormenores. Decerto haverá alguém que nos possa dizer mais sobre este grande fadista, para aqui se fazer uma página de recordação e homenagem.
Fernando Maurício e Francisco Martinho, cantam uma desgarrada da autoria de Carlos Conde, que é uma ronda pelos vários Fados Clássicos, a que o poeta deu o nome de "Revista dos Fados"
Lisboa foi desde sempre uma cidade de mercadores.
Pelas ruas vendia-se um pouco de tudo. Com os cestos às costas ou a mercadoria no chão o mais pequeno espaço servia para o negócio. Com os descobrimentos este pendor mercantilista acentuou-se.
As naus traziam para o porto de Lisboa todo o tipo de produtos provenientes dos mais exóticos e longínquos recantos, assim no séc. XVI começou a haver a preocupação de arrumar a cidade e colocar os mercadores em locais específicos.
Foi então que surgiu o Mercado da Ribeira Velha. Ficava situado na zona do actual Campo das Cebolas, vendiam-se principalmente bens de primeira necessidade como hortaliças, peixe e fruta.
Em 1766, passados onze anos depois do terramoto que martirizou a cidade de Lisboa, o mercado foi transferido para ocidente do Terreiro do Paço (o local onde se encontra actualmente). Uma transferência inserida no plano de expansão da cidade traçado pelo Marquês de Pombal.
Começou a funcionar em 1771 e foi chamado de Mercado da Ribeira Nova, não era um mercado como hoje os concebemos, era composto por 132 telheiros e cabanas com 256 bancas de venda, passava de um aglomerado minimamente organizado de comerciantes onde se continuava a vender de tudo.
Foi só no séc. XIX, mais concretamente em 1882 que abriram as portas do refeito Mercado da Ribeira Nova. O nome manteve-se mas desapareceram os telheiros e as cabanas. No mesmo espaço nasceu um edifício com uma estrutura em ferro que albergava no interior todas as bancas. A grande novidade era a existência de um corredor central onde o vendedores dispunham de água em abundância, o que permitia expor e conservar as mercadorias com cuidados de higiene inexistentes até então, sendo o projecto da autoria do engenheiro Ressano Garcia e foi aprovado em sessão camarária em 17 de Junho de 1876.
Passado onze anos da inauguração um gigantesco incêndio destruiu quase por completo o já por duas vezes inaugurado Mercado da Ribeira Nova. A nova reconstrução demorou quase 30 anos, de 1902 a 1930, ano em que aparece então a cúpula que (ainda hoje existe). Uma cúpula que suscitou a curiosidade dos Lisboetas, pouco habituados a um mercado a funcionar num edifício deste género. O espanto foi tal que passaram a chamar-lhe a "Mesquita do nabo".
Foi então em 1930 e desta vez definitivamente que o Mercado da Ribeira ganhou a configuração preservada até hoje. A ele ficará para sempre ligado o nome de Frederico Ressano Garcia, com 27 anos o jovem engenheiro venceu um concurso para entrar nos quadros da Câmara Municipal de Lisboa, Dos quatro concorrentes para as duas vagas abertas, Ressano Garcia conseguiu o primeiro lugar e assume o cargo de engenheiro do Município no ano de 1874.
O novo edifício já era muito mais que quatro paredes e oito portões para albergar vendedores. Os cuidados estéticos estiveram presentes no projecto, como é bem visível nos painéis de azulejos que ornamentam o átrio da entrada principal e o primeiro piso. No segundo andar começa a área restrita do mercado, é através de uma escada de pedra em caracol, que se chega á sala redonda com o piso em madeira e decorada com riquíssimos frescos assinados por Gabriel Constanti e datados de 1930.
O segundo andar serve como espécie de convite para se subir mais uns lances de escada, desta vez em ferro, que dão acesso ao local onde está religiosamente guardada uma das mais emblemáticas peças do edifício, o relógio da torre.
Fabricado em França na empresa "Horloges Bodet" era considerado um relógio revolucionário para a época. Mas a importância do relógio não impediu que a máquina estivesse parada quase 20 anos. Só em 1998 a Câmara Municipal de Lisboa decidiu contratar um dos mais prestigiados relojoeiros portugueses, António Franco para inspeccionar o relógio da torre. Em menos de um ano o sistema mecânico foi totalmente restaurado e o mostrador teve de ser feito de novo.
Um mostrador que guarda a assinatura do homem que permitiu que os cacilheiros voltassem a guiar-se pelo relógio da Torre do Mercado "FRANCO-LISBOA".
Outra escada em caracol conduz ao ponto mais alto do mercado. O piso onde está instalado o sino que dá as badaladas às horas e meias horas. Daqui pode observar-se toda a imponência do Tejo e ver atracar os cacilheiros que os ponteiros do relógio voltaram a guiar.
Mais tarde falarei do célebre “cacau da ribeira” onde ao raiar do dia começava a azáfama dos vendedores, e o inicio dos “moinantes” irem para casa.
Que saudades.
Amália Rodrigues
canta Namorico da Rita
de Artur Ribeiro e António Mestre
Vasco da Gama
FADO DO MARINHEIRO
Criação de: Estêvão Amarante
O marujo criou fama.
Desde um tal Vasco da Gama
Que no mar foi o primeiro;
E o Pedro Álvares Cabral
Só foi grande em Portugal
Por ter sido marinheiro.
A lutar como um soldado,
Peito ao léu, rosto queimado,
Ao sol da terra africana,
Com a farda em desalinho,
(Foi às ordens de Mouzinho
Que deu caça ao Gungunhana !
Quando o mar era um segredo,
Os antigos tinham medo
De perder-se ou ir a pique;
Só zombavam das porcelas
As primeiras caravelas
Do Infante Dom Henrique!
Fartos já de andar nos mares,
Também vamos pelos ares
Sem temor, abrir caminho;
Pois bem sabe toda a gente
Que o marujo mais valente
É o avô Gago Coutinho!
Nessa Alcântara afamada,
O marujo anda à pancada
E arma sempre espalhafato;
É que guarda na memória
O banzé que houve na história
Do António Prior do Crato.
Quando vai p'rá Fonte Santa
E dá largas à garganta,
P'la guitarra acompanhado.
Até chora o mundo inteiro,
Porque a voz do marinheiro
É a voz do próprio Fado!...
Caravela Portuguesa dos Descobrimentos
FADO DAS CARAVELAS
Criação de Estêvão Amarante
Quando foi das descobertas e conquistas,
Os fadistas,
Guitarristas
De mais fama,
Lá no fundo do porão,
Deram alma e coração
Às descobertas do Gama.
No alto mar
Ia o barco a naufragar,
O vento rijo a soprar,
Que até os mastros levou.
Foi ao sentir,
Uma guitarra a carpir,
Que o Neptuno querendo ouvir,
A tempestade abrandou.
E nas horas d'incerteza, à marinhagem
Deu coragem
Na miragem
Da vitória.
Cabe ao fado o seu quinhão,
De todo e qualquer padrão,
Dos que fala a nossa História.
No alto mar
Quando em noites de luar,
O pensamento a pairar,
Na nossa aldeia natal.
Ai, era ver,
Quanta lágrima a correr,
Na guitarra a descrever,
Saudades de Portugal.