QUE O FADO PERTENCE Á HISTÓRIA,
JÀ NÃO PODE SER NEGADO
O MARCENEIRO É A GlÓRIA
MAIS DIGNIFICANTE DO FADO
Foi no dia 25 de Fevereiro de 1891, há 118 anos que Alfredo Rodrigo Duarte foi registado na Conservatória do Registo Civil.
Nasceu em Lisboa na freguesia de Campo d'Ourique, faleceu em Lisboa a 26 de Junho 1982.
Alfredo Duarte Júnior
canta: SER PALHAÇO
Letra de Carlos Conde Música de Alfredo Marceneiro
O Fado está de luto, o meu querido amigo o poeta Fernando Pinto Ribeiro, deixou-nos, hoje dia 20 de Fevereiro. Sinto uma mágoa imensa, pois desde o dia em que tive a honra de o conhecer, nasceu ente nós uma amizade e carinho, que nunca esquecerei.
Há dias, em conversa telefónica informou-me que ía escrever o poema que me dedicou pela sua própria mão, o que aonteceu e que aqui publico, que pena não ter tido a oportunidade de o conhecer há mais tempo.... até sempre meu querido Fernando, meu afilhado do Fado, como me afirmavas com um misto de orgulho que eu sempre te disse , não merecer, fazia ainda questão de me apelidar de Vítor Duarte Terceiro (por extenso).
Ao seu extremoso irmão, o Coronel Carlos Pinto Ribeiro e a todos os familiares, dou os meus sentidos pêsames, o meu coração está convosco nesta grande dor.
NAS RUAS DA NOITE
A Vítor Duarte, “Marceneiro Terceiro” — Meu padrinho no Fado
Fernando Pinto Ribeiro
No crepitar de estilhaços(*)
de estrelas sobre os espaços
da Lisboa rua em rua —
crucificámos abraços
encruzilhados nos passos
que à noite a lua insinua
Nas nossas bocas unidas
sangrámos fados em feridas
dos beijos amordaçados —
salvámos vias vencidas
que andam pla treva perdidas
como num mar afogados
Cegos de sombras e lama
E da sede que se inflama
numa inquisição divina —
bebemos o vinho em chama
que sanguínea luz derrama
no candeeiro da esquina
Embriagados de lume
sem dissipar o negrume
do fumo que nos oprime —
rezamos todo o queixume
do cio deste ciúme
num amor que se faz crime
Crucificamos abraços
encruzilhados nos passos
que a noite nua desnua —
crepitantes de estilhaços
de estrelas quando em pedaços
vêm morrer sobre a rua
O Poeta e escritor Fernando Pinto Ribeiro, que faz questão de me chamar "Seu Padrinho no Fado" — quando eu nasci já ele escrevia para o Fado — isto, porque acha que eu fui a pessoa do Fado, que escreveu acerca dele e da sua obra, , de uma forma que ele considera a mais objectiva, em todos estes anos que tem de Fado. ("O percurso da História é muitas vezes estrangeiro ao percurso do artista. Nem sempre este se integra de forma tão sincronizada e congruente com aquele".
hoje somos somos duas almas gémeas do "Fado" que se encontraram, como que para reatar uma amizade que há muito estava estagnada.
É uma ternura para mim este seu sentir, como honrado fico com os versos que me dedica, e que gostariamos que eu um dia cantasse com música de meu avô.
(*) Este tema já foi cantado e gravado, por decisão própria de quem o cantou, o poeta autorizou através da SPA, por delegação, mas é a primeira vez que ele o dedica pessoalmente, com algumas, mas importantes reformulações, em última e definitiva versão, orientadas, pela minha peculiar forma de me exprimir e venerar o Fado.
Fernando Pinto Ribeiro, é natural da Guarda. Nasceu em 1928. Ao 17 anos vem para Lisboa após completar o Curso Liceal, inscrevendo-se na Faculdade de Direito, cujo curso não chegou a completar. Já em jovem começa a rimar as palavras, nunca deixando de escrever quadras soltas, tendo aos catorze anos escrito, o seu primeiro soneto a que dá o título de “Soneto dos 15 Anos”.
Colaborou nas Revistas Flama , Panorama, Páginas Literárias, em Jornais, como Diário de Notícia, Diário Ilustrado e em vários jornais regionais, tendo também sido publicados no Brasil alguns poemas de sua autoria.
Foi Director da Revista de Letras e Artes “CONTRAVENTO” (1968), da qual só se conseguiram editar quatro números, dado que o seu cariz intelectual e democrático, não podia de deixar de ser amordaçado pela censura.
Pertence aos corpos sociais da Sociedade da Língua Portuguesa, Sócio da Associação Portuguesa de Escritores, Cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores, Sócio da Colectividade Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”. (Colectividade Popular Centenária)
Frequenta algumas noites de Fado e fica fascinado com o ambiente da noite fadista, começando sem que se aperceba, a identificar-se com a “expressão fadista” o que apela à sua alma de poeta, começando a escrever alguns fados que desde logo foram bastante elogiados. Compositores de Fado colaboraram, e a qualidade dos seus poemas é tal, que logo houve nomes do panorama musical do Fado que os quiseram interpretar, fadistas como: Ada de Castro, Alexandra Cruz, Anita Guerreiro, António Mourão, António Laborinho António Passão , António Severino, Arlindo de Carvalho, Artur Garcia, Beatriz da Conceição, Branco de Oliveira, Carlota Fortes, Chico Pessoa, Estela Alves, tia e sobrinha, Fernando Forte, Francisco Martinho, Humberto de Castro, Julieta Reis e sua filha Sara Reis, Lenita Gentil, Lídia Ribeiro, Maria Jô-Jô Pedro Lisboa, Lurdes Andrade, Natércia Maria, Simone de Oliveira Toni de Almeida,, Tonicha , Tristão da Silva, Xico Madureira, e outros. No início Fernando Pinto Ribeiro usava o pseudónimo "SÉRGIO VALENTINO".
Alguns das suas letras para fado mais conhecidos, são: Às Meninas dos Meus Olhos, A Cantiga dos Pardais, Era um Marinheiro, Fado Alegre, Hino à Vida, Nas Ruas da Noite, Bom Fim de Semana, Noites Perdidas, Pensando em Ti, Lisboa vai, Pensando em Ti, , etc.
"Universo musical, onde cabem, a dor, a saudade, a revolta e a esperança, o Fado tem a sua corte própria.
Foi neste mundo, à parte dentro do nosso mundo, que Alfredo Marceneiro cantou durante mais de meio século.
É neste mundo que ainda hoje, apesar de já não estar entre nós, que ele ainda ocupa, por direito próprio, o trono que é, como quem diz, a posição cimeira na memória dos fadistas e na história do Fado.
Como artista privilegiado que foi, Alfredo Marceneiro não se aprecia, venera-se. Velha relíquia do Fado, a sua memória identifica-se com o próprio Fado que, na sua voz velada, ungida de sortilégio, soava como se fosse um gemido dolente, pleno de dor e de ternura. Alfredo Marceneiro foi um ídolo do seu tempo, mas hoje goza da mesma fama, da mesma extraordinária popularidade.
Alfredo Marceneiro foi o «Patriarca do Fado», como alguém o apelidou certo dia.
O rememorar episódios do seu tempo, como venho fazendo, é um serviço à actual geração, dando-lhe a conhecer aquele que é, por direito próprio, o primeiro entre os primeiros.
HOMENAGEM A ALFREDO MARCENEIRIO
Versos de Abílio Duarte (1960)
BATEM-ME Á PORTA QUEM É
NINGUÉM RESPONDE QUE MEDO
QUE EU TENHO DE ABRIR A PORTA
DEU MEIA-NOITE NA SÉ
QUEM VIRÁ TANTO EM SEGREDO
ACORDAR-ME A HORA MORTA
ESTA SEXTILHA FAMOSA
CANTADA POR UM FADISTA
QUE DOS MELHORES FOI O PRIMEIRO
TEVE UMA CARREIRA HONROSA
POIS FOI NO FADO UM ARTISTA
ESSE ALFREDO MARCENEIRO
CANTAR COMO ELE CANTOU
JAMAIS ALGUÉM CANTARÁ
DESSO TENHO EU A CERTEZA
É SAUDADE QUE FICOU
DECERTO PERDURARÁ
NA GERAÇÂO PORTUGUESA
SOU NOVO ISSO QUE IMPORTA
P'RA LEMBRAR O PIONEIRO
QUE FELIZMENTE OUVI
BATEM-ME Á PORTA QUEM É ?
DEU MEIA-NOITE NA SÈ
VERSOS QUE EU NUNCA ESQUECI
ESTES VERSOS BEM MODESTOS
PODEM CRER QUE SÂO HONESTOS
REPRESENTAM FADISTAGEM
SEM TER MOTIVO INTERESSEIRO
DEDICO-OS AO MARCENEIRO
PRETAM-LHE A MINHA HOMENAGEM
Homenagem de Euclides Cavaco a Alfredo Marceneiro (http://euclidescavaco.com/)
INSIGNE MARCENEIRO
O Alfredo Marceneiro
Ocupa lugar cimeiro
Na história do nosso fado
Seu notável contributo
Honra e dá estatuto
Ao património legado !...
Nobre fadista e autor
Compôs com todo o rigor
Fado... Que lhe ia na alma
De Lisboa insigne filho
Deu à noite vida e brilho
Com sua voz rouca e calma.
Despertava as madrugadas
Dessas noites bem passadas
Num estilo por si criado
Qual peculiar boné
Um cigarro e cachené
Davam carisma ao seu fado.
Jamais será cotejado
Este gigante do fado
Que dele fez culto ledo
P’la sua garbosidade
Lembraremos com saudade
Para sempre o “Ti Alfredo”!...
Euclides Cavaco
Olga Cerpa, vive nas Ilhas Canárias, em Las Palmas das Gran Canárias, faz parte do grupo musical METISAY, tem uma carreira musical de cerca de 30 anos. Gostam muito de Fado e o seu conjunto tem um instrumento chamado “Timple”, que é uma guitarra muito pequena com um som muito característico, e que se assemelha à sonoridade da guiatrra portuguesa e que utilizam muito nos espectáculos, mas no video-clip que abaixo exibimos, usam a guitarra portuguesa.
Manuel Gonsalez, escreveu um poema dedicado ao Fado e a Lisboa, que Olga canta com música do seu grupo os METISAY.
Olga Cerpa e o seu grupo têm já uma longa discografia nna sua vida artística.
De tu vida volví,
Es una Y flor de olvido ,
Pequeño fado,
mi corazón.
Os meus agradecimentos ao amigo catalão Jaume Coy, pela sua disponibilidade, pelo amor que tem ao Fado e a Lisboa