A oportunidade e o oportunismo no Fado
Recentemente surgiram duas 'colectâneas' de fado – de Lisboa e Coimbra – o que é de louvar na medida em que mostra aos que hoje cantam como se cantava e também se era moderno, cada um no seu tempo, claro está.
Mas a diferença que ressalta entre estas duas 'colectâneas' é o modus facienti, isto é a distinta maneira de apresentar, o cuidado colocado na edição e atenção ao fado. As duas edições são: “Fado, Sempre, ontem, hoje e amanhã ” da Difference com distribuição da Iplay, e a caixa azul de “Fado capital” da Ovação.
A primeira, é uma edição cuidado desde logo no aspecto, bonita capa, sóbria, e fácil e manusear, consultar e ler.
“Fado, Sempre, ontem, hoje e amanhã” revela esmero, atenção e respeito por esta canção e não um mero aproveitamento porque “o fado está a dar” (a expressão é feia, e infelizmente é usada).
Nesta edição da Difference, muito bem masterizada, os fadistas surgem num contexto que é explicado e argumentado, no ãmbito da História do Fado.
Na edição da Ovação os fadistas vão de A a Z, sem contexto nem organização que não seja a do abecedário, começa com Ada de Castro pelas razões óbvias e encerra com Zélia Lopes pelas mesmas razões, mesmo que a importância destas duas artistas, no contexto fadista, seja absolutamente diferente.
Ada de Castro é uma mulher do fado, tem uma carreira e sabe-se quem é.
A Zélia foi a um Festival RTP, cantou e canta bem, e apenas se aventurou no fado.
Para a história da canção de Lisboa o contributo de Zélia vale por isso mesmo e o da Ada é significativo, artista de casas típicas como O Faia ou O Folclore é indiscutivelmente um nome a reter.
Mas a caixa da Ovação brinda-nos com surpresas como Maria José da Guia (uma falha na edição da Difference) ou Augusta Ermida.
Embora outros nomes colocados alfabeticamente perderam-se na memória no tempo – esse grande juiz – se é que alguma vez tiveram memória ou a editora saiba até quem são, pois o “resumido” texto da caixa da Ovação, em cor dourada, não assinado, é pobre e uma manta de retalhos onde rapidamente o leitor mais atento nota uma colagem apressada de outros sem articulação ou sequer ligação aos fadistas incluídos entre eles, Amália Rodrigues, que não podia faltar.
O texto é pobre, feito de lugares comuns, revela pouca pesquisa.
No tocante ao fado de Lisboa faz-se tábua rasa entre a Severa e Amália Rodrigues, calcule-se.
Nesta caixa que reúne 120 fados cantados tanto por nomes gloriosos da arte fadista como Fernanda Maria, Fernando Maurício, Maria da Fé ou Alfredo Marceneiro e AMÁLIA, passando outros nomes maiores como Maria Amorim, António Rocha, Cidália Moreira, Saudade dos Santos, Vasco Rafael, inclui também os “aventureiros no fado”, casos dops cançonetistas Mirene Cardinalli e Rui de Mascarenhas, ou nomes que nos interrogam como o de Bela Bueri ou Conceição que terá gravado em 1971 “A minha vida fadista”.
E se pensam que é a grande Beatriz da Conceição, não; não é, pois esta está representada com um magnífico poema de Vasco de Lima Couto, “Dei-te um nome em minha cama”.
Esta caixa inclui algumas bizarrias como as Entre Vozes, na sua formação de 2000, ou ainda na letra D, surge Daniel Gouveia, um nome a que ninguém fica indiferente nas lides fadistas, e isto porque está sempre presente, porquê?... ninguém sabe.
Além das falhas nesta caixa de 10 CD e um DVD o que sobressai é a desarrumação e falta de articulação, além de um descuido quer de apresentação (artwork) quer de masterização.
Em sinal absolutamente contrário surge “Fado, Sempre, ontem, hoje e amanhã ” coordenado pelo editor Samuel Lopes (parabéns!), e com excelentes textos de Nuno Lopes – um jornalista há muito ligado às lides fadistas – e Manuel Halpern – que editou já um livro polémico sobre as novas gerações-.
Os textos estão bem escritos e claros.
Sobressai quanto a nós o de Nuno Lopes pois fez uma esclarecida síntese da história do fado desde as suas “tumultuosas” e muito discutidas origens, até à década de 1980, quando consideram os dois autores poder falar-se de um novo fado.
O texto de Nuno Lopes bem argumentado e com pesquisa tem ainda a qualidade de destacar algumas figuras sobre as quais faz uma síntese biográfica casos, entre outros, de Amália (sempre ela!), Fernanda Maria, Alfredo Marceneiro, Berta Cardoso, Carlos do Carmo, ou Mariza.
O texto, muito bem intitulado, “Fado, um gosto português”, marcando desde logo a portugalidade do fado, tem contextualização histórico-social, referências à bibliografia, designadamente o livro recente de Rui Vieira Nery, mas também outros ensaios editados como o de Vítor Duarte Marceneiro sobre Hermínia Silva.
Manuel Halpern retoma no seu texto uma sua frase-chave forte: “A saudade já não é o que era”, um tão brilhante título como o de Nuno Lopes, aqui de facto nota-se a inteligência do editor de colocar dois jornalistas à mesma altura.
Voltando ao texto de Halpern, está muito bem argumentado, citando até Camões para afirmar que “há fado, mas os tempos são outros e outras as vontades”, além de não faltar o contexto sócio-cultural e com uma ousadia intitulada: “receita para um disco de novo fado” que vale a leitura (bravo!).
Refira-se sobre esta excelente edição, a vários níveis, de “Fado, Sempre, ontem, hoje e amanhã”, a magnífica masterização. Um som absolutamente espectacular.
Se outras não fossem as excelentes qualidades deste Livro-CD há ainda o cuidado na escolha dos intérpretes e o incluir o primeiro registo de Carminho, a filha da fadista Teresa Siqueira, que está, e irá dar cartas.
Carminho canta “As penas” no Fado Perseguição de Carlos da Maia.
Se notámos nesta edição a falta de Maria José da Guia e interrogamos a inclusão de João Braga, seguramente sem os intérpretes incluídos na edição da Difference é que não se fazia a história do fado.
Diga-se, fazendo-se justiça a tais autores, designadamente a Nuno Lopes, que mesmo fadistas de referência que não são incluídos em CD, estão referenciados de algum modo nos textos.
A “santa do fado”, Ercília Costa, tem um texto só seu, apesar de não a ouvirmos, mas onde Nuno Lopes revela, citando a poetisa Fernanda de Castro que “a primeira internacional” do fado viajava sempre com bacalhau e azeite português porque desconfiava da gastronomia dos hotéis.
Outro exemplo, e daí os bem argumentados textos, ao incluir Frutuoso França, no popular tema da década de 1940, “Amizades”, refere-o como representante de um grupo de fadistas da "velha guarda" constituído por Júlio Vieitas, José Coelho, Gabino Ferreira, Júlio Peres e Manuel Calisto (o rouxinol da Madragoa). Referem-se nomes como José Porfírio, Raul Nery e o seu conjunto de guitarras, etc.. Nos novos não é esquecido o audaz gesto de Paulo Bragança, Mísia está muito bem contextualizada e o fenómeno Mariza argumentado q.b. para estar entre as glórias do CD “Sempre”.
Esta edição além do texto que inclui um guia das casas de fado, é constituída por quatro CD referentes aos nomes de Sempre, Ontem, Hoje e Amanhã.
Relativamente ao Amanhã, é recuperada aquela que terá sido a primeira gravação de Raquel Tavares para a Metrosom e que não faz justiça à notável fadista, porque será?
De qualquer forma nota máxima para a edição da Difference, e muito rasa para a da Ovação que tem apenas o mérito de trazer para o digital alguns nomes realmente de interesse, mas é uma edição pobre que nem o DVD salva.
As duas edições demonstram claramente a oportunidade do Fado e o oportunismo no Fado.
Inez Benamor/ Hardmúsica
VASCO RAFAEL CANTA COM POEMA E MÚSICA DE PAULO DE CARVALHO, O TEMA
"MULHER LISBOA "
VIDEO CLIP PRODUZIDO E REALIZADO POR
DR. JOSÉ MANUEL PEDROSA MOREIRA
PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, SAUDAMOS OS POVOS DE TODO O MUNDO, EM ESPECIAL OS MENINOS DE TODO O MUNDO
Video: Parte retirado da net e o restante, os meus filhotes,
4ª Geração de Marceneiro, o Alfredo e a Beatriz
Faz hoje 85 anos que o meu saudoso pai nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, a 23 de Dezembro de 1924.
Foi apelidado de "Fadista Gingão" porque começou a dar às suas interpretações uma coreografia , inédita no Fado, o que lhe valeu muitas críticas, mas ainda hoje há muitos que o imitam, quer no gingar, quer usando o lenço, ou boné.
Por fim chamaram-lhe o "Fadista Bailarino" uns gostavam, outros não, mas meu pai marcou um estilo muito seu, e tem por mérito próprio um lugar na História do Fado, embora no Museu do Fado, onde até cantou na inauguração, não tem lugar naquele vasto painel de fotos. Não seria lógico estar ao lado de seu pai? Será porque eu sou "persona no grata"? ...adiante como dizia meu avô.
Na época do Natal, cantava sempre o Fado "Aí Vem o Natal" cuja letra é da autoria de Carlos Conde, afirmando que era o seu cartão de Boas Festas, para todos os amigos e admiradores.
Faleceu a 6 de Junho de 1999
Aí Vem o Natal
Letra de Carlos Conde
Julio Peres canta à sua freguesia - Alcantara
O Meu Bairro
Letra de Linhares Barbosa e música de José Seixal
Natural do bairro de Alcântara, começou a cantar aos 11 anos e com 15 já participava em serenatas.
Profissionalizou-se aos 18 anos, actuando em muitas casas de Fado.
Foi um dos iniciadores de dar fado no Parque Mayer e foi gerente artístico do Café Luso.
Entre os seus companheiros habituais contavam-se Gabino Ferreira, Frutuoso França, José Coelho, Júlio Vieitas e Manuel Calixto, com quem participou em muitas cegadas.
Cantou na Cesária e no Timpanas em Alcântara, era bem tal com Filipe Pinto e Alfredo Marceneiro um “Marialva do Fado”.
Entre as suas criações para além da que aqui colocamos o tema, destacam-se Fado do Faroleiro; Milagre da Rainha Santa; Eu Gosto Daquela Feia; Não Te Quero Perder, Duas Promessas; Alfama e A Última Corrida em Salva terra; O Velho Tinteiro (com letras de Francisco dos Santos); O meu Bairro e Ó Minha Mãe, Minha Amada (ambos com poemas de Linhares Barbosa).
Hábil dançarino, ganhou inúmeros prémios e medalhas em concursos onde constituía uma verdadeira atracção.
Joaquim Frederico de Brito (1894 – 1977), foi compositor e poeta, era conhecido no meio do Fado com o diminutivo de “Britinho e também poeta-chauffer, alcunha que lhe atribuíram porque durante muitos anos foi motorista de táxi.
Aos 8 anos, leu o livro de Avelino de Sousa, «Lira do Fado», que o levou a escrever versos que o seu irmão mais velho João de Brito cantava em festas de amadores. É facto adquirido que durante a sua vida, escreveu mais de um milhar de letras e compôs várias centenas de músicas.
Participou na opereta História do Fado, de Avelino de Sousa, com Alfredo Marceneiro e outros, cantando versos de sua autoria.
Em 1931 edita um livro de sua autoria, “Musa ao Volante”, em que compilou todos os versos que até esta altura já tinha escrito.
Para além de grande poeta, foi também compositor, é de sua autoria a letra e música do tema "Biografia do Fado", que foi uma criação de Carlos Ramos; "Fado do Cauteleiro", criação de Estêvão Amarante; "Janela Virada para o Mar", criação de Tristão da Silva; "Não Digam ao Fado..." cantado por Carlos do Carmo e Beatriz da Conceição,o tema "Canoas do Tejo" cantado por Carlos do Carmo, Max, Beatriz da Conceição, Francisco José, Tony de Matos e muitos outros, o Fado "Carmencita" na voz de Amália, também foi um dos seus grandes sucessos, tal como "Troca de Olhares", "Rapaz do Camarão", "Casinha dum Pobre" , "Fado Corridinho" , "Fado do Britinho", "Fado dos Sonhos" , o celebérrimo "Fado da Azenha", que David Mourão-Ferreira considerou uma das melhores criações da poesia popular portuguesa.
Vários compositores, entre eles Raul Ferrão, Raul Portela, Jaime Mendes e Alves Coelho (filho) escreveram músicas para letras de Frederico de Brito.
As revistas Anima-te Zé (Maria Vitória, 1934), Salsifré (Apolo, 1936), Bocage (Eden, 1937), Chuva de Mulheres (Eden, 1938), Sol-e-Dó (Variedades, 1939) e Haja Saúde!, com a qual se inaugurou o Teatro ABC integraram várias composições de sua autoria, grandes compositores de nomeada, como Ferrão, Portela e Alves Coelho, compõem para as suas letras, de cunho bem popular e fadista, que foram cantadas no teatro de revista, por fadistas e cançonetistas.
Frederico de Brito, era muito estimado nos meios fadistas, o diminutivo "Britinho" reflectia aliás, essa generalizada simpatia.
Foi um poeta popular, que manteve os padrões do Fado tradicional, sem “lamechas retrógradas”, e sem quaisquer exageros de lirismos, pseudo-intelectuais.
As composições do seu vasto espólio continuam ainda hoje a ser interpretadas por muitos artistas, com a aceitação e o agrado do grande público.
Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Serôdio (Paraty), tratada carinhosamente por (Baté) pelos íntimos, (1918 – 1993).
Nasceu em Lisboa, onde passa a sua infância, vindo a tornar-se Condessa de Sabrosa pelo seu casamento com o Conde José António Barbosa de Guimarães Serôdio, grande admirador do Fado, e guitarrista com uma sensibilidade fora do comum.
Com voz bem timbrada, e decidida aptidão para interpretar o Fado, desde muito cedo cantava nas festas de família e de amigos. Com a sua visita aos retiros de Fado passa a tornar-se conhecida a sua expressão artística, e a ganhar muitos admiradores autênticos, entre os conhecedores do Fado.
Grava o seu o seu primeiro “single” com o título de "O Fado dos Cinco Estilos" em 1939.
A Emissora Nacional, em 1938, convida Maria Teresa de Noronha, que acompanhada pelo guitarrista Fernando Freitas e pelo violista Abel Negrão, foi apresentada aos radiouvintes pelo locutor D. João da Câmara, sendo tal o êxito que foi convidada para um programa semanal de Fados e Guitarradas, que esteve no ar vinte e três anos.
Fados como “Fado da Verdade”, “Fado Hilário” e “Fado Anadia” e outros mais foram êxitos que muito agradaram ao grande público, assim como outros fados do seu repertório: Nosso Fado, Os Teus Olhos, Fado Menor e Maior, Minhas Penas, Choro Cantando, Fado Rita, Gosto de TI Quando Mentes, Minha Cruz, Fado Antigo, Mentira, Mouraria Antiga, O Vento, Fado Pinóia, Pintadinho, Pombalinho, Fado Hilário, Quatro Versos, Fado Alexandrino, Desengano, Sou Feliz, Canção Duma Tricana, Rosa Enjeitada, Minha Dor, Mouraria, Sina, Cantigas de Amor-Saudade e Mataram a Mouraria, Loucura em Loucura, etc.
Abandona a Emissora Nacional mas não deixa de cantar, continuando a fazê-lo em privado.
De entre as suas actuações no estrangeiro, destaca-se em 1946 a sua deslocação a Espanha, por ocasião do Festival da Feira do Livro de Barcelona, e ainda Madrid, a convite do Governo espanhol, para actuar no Hotel Ritz, onde teve um êxito estrondoso.
Ainda em 1946 vai ao Brasil e é igualmente muito apreciada.
Actuou no Principado de Mónaco para Grace e Rainier.
Em 1964 desloca-se a Londres para actuar na BBC.
A sua dicção perfeita, a sua maneira de se expressar, tornou-a criadora de um estilo muito próprio, que fez escola.
Um dos seus poetas preferidos foi D. António de Bragança, autor do Fado da Verdade, Saudade das Saudades, Folhas Caídas e o Fado das Horas, cuja letra é a seguinte:
Maria Teresa de Noronha
canta: Saudades das Saudades
autores: D. António Bragança/J.A. Saborosa
Com Alfredo Marceneiro, o marido D. António Saborosa, Lucilia do Carmo e Alfredo de Almeida, na "Adega da Lucília" - "O FAIA".
Passados que são 105 anos do seu nascimento, 79 anos da sua partida, aqui fica a minha sincera homenagem a esta grande poetisa, que o Fado também enaltece, cantado-a.
Florbela de Alma da Conceição, nasceu
Aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte.
Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário no Liceu de Évora, facto não muito bem aceito por professores e a sociedade da época.
Em 1916, Florbela reúne uma colectânea de 88 poemas de sua autoria e três contos, com o título “Trocando Olhares.
Em 1917, completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras e logo ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Em 1927 Florbela perde seu irmão Apeles num trágico acidente, facto que muito a abalou psicologicamente, publicando o livro de contos “Às Máscaras do Destino” em sua memória.
Em dois de Dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de Dezembro, dia do seu aniversário, Florbela Espanca suicida-se, em Matosinhos.
Algumas décadas maia tarde como era seu desejo, os seus restos mortais são transportados para a sua terra natal, Vila Viçosa.
Teresa Silva Carvalho
canta com música de sua autoria
Amar! de Florbela Espanca
FLORBELA ESPANCA
Filha de
Foi Hino em Grito de Além...
Foi Candeia em busca de mais Luz...
Foi Lareira em busca de Achas para mais Lume...
Foi Labareda de Onda com todas as tonalidades do Arco-Íris...
Nasceu em 1894
Aí viveu com o Pai, a Madrinha (Esposa legítima de João M. Espanca) e com o irmão mais novo, Apeles. A casa situava-se no actual n. 59 da Rua Florbela Espanca.
Correu campos, charnecas, bebeu luares e sombras de paisagens...
Amava Livros e Sonhos ... Aos oito anos já escrevia a Alma ...
Em Évora, no Liceu André Gouveia, respirou felicidade (" Hoje mando-lhe o edifício do Liceu. Aqui passei os melhores anos da minha vida..." in Vol. V, Carta n. 50 “)
Em 8 de Dezembro de 1913, casou com Alberto Moutinho. ( "Eu casei e casei por amor..." in Vol. V, Carta n.45)
Ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa e segue em Asas em busca de mais Vida... (" O meu coração anda à solta, tão grande, tão ambicioso, tem sempre frio, está sempre só... Ninguém sabe andar com ele! " in Vol. V, Carta n.64 )
Separa-se de Alberto Moutinho ( "Adeus, Alberto. Sê meu amigo sempre como é tua amiga a Florbela" in Vol. V, Carta n. 78 )
Apaixonada por
Casam a 29 de Junho de 1921. Mas
Novo divórcio e nova paixão por Mário Lage com quem casa a 29 de Outubro de 1925, na Igreja do Senhor Bom Jesus, em Matosinhos .
Doente desta busca permanente, Florbela cansa o Pulso mais e mais... Ama infinitamente e sofre além, para lá da fronteira da pele...
Tenta repousos e tratamentos sucessivos e em 7 de Dezembro de 1930 VOOU ALÉM, definitivamente, P'RA LÁ DA SUA TÃO QUERIDA CHARNECA ALENTEJANA... - Repousa, desde 1964, no Cemitério de Vila Viçosa... -
-- FLOR BELA LOBO, conforme sua Certidão de Baptismo, FOI SENSIBILIDADE DESMEDIDA, ÁGUA CORRENTE D'ALMA
( ... E O FADO DEU-LHE COLO DILVUGANDO, AO SOM DO TRINAR DAS GUITARRAS E DE BOAS VOZES, ALGUNS SONETOS DA SUA VASTA OBRA... )
Maria José Praça
CELEIRO D'ALMA A FLORBELA ESPANCA
Flor, ______tempo
Bela , ______lonjura no vento
Seara rubra em rebento
Espiga do peito em além
Perdidamente,
Em planura d'olhar longe
Ceifada voava em asas
De sonetos d'alma enchente
Em lua quase a 'pagar-se...
Torrente
D'água brilhante corrente...
Tremente
Voz de papoila gemente
Escorrendo fogo do peito, luzente...
Candeia
De passos soltos e alados d'além
D'além, além, tão além
Perdidamente,
Celeiro d'hinos frementes...
Maria José Praça
Nota:Estou convicto que Florbela Espanca se tornou mais conhecida do povo menos letrado através do seu poema “ Amar”, que muitos artistas cantaram, que aqui destaco mais uma vez na voz de Teresa Silva Carvalho, com música de sua autoria.
Hermínia Silva
canta: A Rua Mais Lisboeta
autores Lourenço Rodrigues/Vasco Macedo
TELHADOS DO MEU OLHAR
Miradouro o meu olhar
Desce a colina do mar
Dos meus olhos de sentir
E fotografa vielas
D'outras colinas cruzadas
Soluço d'água a cair
Miradouro o meu olhar
Canto de fado a trinar
Quando o sol raia a nascer
Telhados de mãos d'oleiro
D'onde fogem nevoeiros
De lareiras a arder
Telhas são brumas de fados
Onde há pombos, campanários
Ninhos, musgos, pára-raios,
Chaminés, trevos de luz
Águas furtadas com laços
Altares aos pés de Jesus ...
mariajosépraça (N.126080 da SPA)
Entarad para a Mouraria - Salão Lisboa - Largo Martim Moniz
Nasceu em Lisboa na freguesia de S. Sebastião da Pedreira.
Desde muito pequena, começou a apreciar o Fado, incentivada por sua mãe, que embora não cantasse, era uma grande admiradora.
Ana Rosmaninho era uma linda "miúda" como o meu avô lhe chamava, tinha também uma voz muito bonita e melodiosa.
Como profissional começou a cantar aos 17 anos na Viela.
Cantou seguidamente no Faia, onde passa a conviver mais de perto com Alfredo Marceneiro
Foi convidada várias vezes para actuar no Casino Estoril e gravou um disco.
Sua mãe chegou a ter um pequeno restaurante no Bairro Alto, onde chegou a haver grandes fadistisses .
Convivi muito com ela, quer no Faia quer no Arreda em Cascais, fui seu amigo e grande admirador. Infelizmente, Ana Rosmaninho, deixou-nos prematuramente, vítima de uma doença fatal, tinha pouco mais de 30 anos de idade, viria a ter decerto uma grande carreira no Fado.
Meu avô, tinha por ela um carinho muito especial, e foi por sua decisão que Ana Rosmaninho canta com ele, no programa de televisão "Marceneiro é só Fado", gravado pela RTP em 1967. Foi uma demonstração da sua admiração pelas novas gerações do Fado, com Fado na alma óbviamente...
Ana Rosmaninho canta
Bairro Alto
de Frederico de Brito e Carlos Rocha
Nota: Esta página teve uma rectificção, referente ás origens de Ana Rosmaninho, eu informava que Ana Rosmaninho tinha nascido em Évora, mas o meu amigo e grande historiador/investigador de Fado, José Manuel Osório, teve a amabilidade de me contactar rectificando esta informação e confirmando-me que na realidade ela nasceu em Lisboa, os seus pais é que eram Alentejanos de Évora.
Faz hoje 40 anos que o 1º Programa de Televisão sobre a figura de Alfredo Marceneiro, foi transmitido.
Alfredo Marceneiro canta no Programa da RTP em 1969
É tão bom ser pequenino
Letra: Carlos Conde
Música: Fado Corrido
Diário de Lisboa 2 de Dezembro de 1969 por Mário Castrim:
DUAS HORAS DE FADO. OS PORTUGUESES NÃO SÃO APENAS «CASTOS»: SÃO TAMBÉM RESISTENTES
Marceneiro, o Marceneiro fadista, chegou aos 77 anos para ter na Televisão portuguesa um programa dedicado à sua arte de «dizer» o fado. Tardou mas arrecadou — se tivermos em atenção o tempo do programa: duas horas onde muito o ouvimos cantar e alguma coisa (contrafeitamente) o ouvimos falar. «Marceneiro é só fado» e era uma canastra com um quarteirão de cantigas alfacinhas. A meia-noite, que soou precisamente no fim, marcou mais do que o fim do programa: marcou o fim de um fadista; marcou o fim de uma escola, marcou o fim de uma época…
Tardou — e não arrecadou. Marceneiro aos 77 anos não é mais do que uma sombra de si próprio. Ele já não pode sustentar uma «volta», manter a décima do corrido sem vir acima respirar, «swingar» de forma convincente como só ele sabia desdobrar, prolongar, alongar uma palavra para além dela própria, segurar o fim do versos quando já todos pensavam que o verso havia acabado. Aos 77 anos isso já não é possível. Quando muito é possível exemplificar o processo. Foi o que fez Alfredo Marceneiro. De pouco mais se pode entender o programa dedicado ao fadista para além da sua homenagem. Homenagem quase póstuma. O Marceneiro na plena posse das suas qualidades, passo à história. É, como se costuma «dizer uma relíquia».
II
O programa não foi longo: foi comprido. Um deserto com os oásis das interpretações do Marceneiro. Os mesmos tiques repetido exaustivamente: o fumo, a noite, a mesa com os amigos, as figuras indistintas a moverem-se na semi-obscuridade, a assistência falsamente entusiasmada.
Da pessoa de Marceneiro, da sua pessoa em vivo, quase nada chegou até nós. Os grandes planos tiveram piedade do real. Mas a verdade pode ser piedosa, pois se nega como verdade. Raramente o fadista foi apanhado desprevenido e a culpa não poderá ser levada á conta da extrema prudência do homenageado
Tudela, que nos deu já algumas reportagens tão curiosas, não conseguiu imprimir um mínimo de interesse, de autenticidade, ás imagens que escolheu para enquadrar o fadista ou para acompanhar as suas interpretações. A realização de Luís Andrade foi excessivamente primária excessivamente «meia bola e força». Não se pode fazer uma obra de arte apenas como o saber burocraticamente adquirido. É preciso ir além: pôr em tudo o que se faz o que se aprendeu e o que não se aprendeu, especialmente isto. Isto, ou seja: o que faz a riqueza, o lume a razão de um Augusto Cabrita, a sua capacidade para apanhar, num golpe de asa, perdão num golpe de câmara, o apontamento significativo, o gesto inicial.
Na criação artística (como em qualquer aspecto de criação) não pode haver pressa. Não pode haver prazos marcados. Não se apressem não vale a pena: todos nãos precisamos de nove meses para nascer. O caçador tem de, pacientemente, aguardar o instante, aquele instante, e não outro mais nenhum, de puxar o gatilho revelador.
Aparentemente ordenadinho e arrumadinho o documentário sobre resultou em verdadeira compota. Quantas vezes nos veio à memória o filme «Belarmino» com as suas expressões que ultrapassavam as palavras, com os seus silêncios a formar com as palavras um corpo único…
III
É verdade: não se compreende muito bem a inclusão de Amália Rodrigues, com tamanha insistência, no documentário-espectáculo. Para quê a concorrência no estrelato? Para quê dois galos na mesma capoeira? Se a festa era do Marceneiro que foi lá a Amália fazer? Não é situação agradável nem para um nem para o outro. Alguém se recorda de Marceneiro em qualquer das telefitas dedicadas à Amália Rodrigues? Será que nos domínios do Fado nada se poderá fazer sem o beneplácito ou a bênção da suserana?
Em 16 de Abril de 2007, numa página que escrevi sobre a saudosa Lucília do Carlos, escrevi o seguinte:
Sempre tive por Lucília do Carmo, desde muito miúdo, uma ternura muito especial, devido não só à sua simpatia para comigo, mas também pela grande amizade que ela e seu companheiro, Alfredo de Almeida, tiveram com o meu avô, o que era recíproco.
No início da abertura da Adega da Lucília, os tempos eram difíceis e Marceneiro nunca deixou de aparecer e colaborar, o que contribuiu para o êxito da casa, mesmo sem nunca ter ser sido contratado.
Mais tarde, com a passagem para “O Faia”, Marceneiro era presença obrigatória ao final da noite, que passa a ser o seu “poiso” preferido, o que se torna do conhecimento dos seus admiradores que ali afluem na mira de o ouvir cantar, o que sempre acontecia, também sem que nunca tenha contratado. Carlos do Carmo começa a interessar-se pelo Fado e tem ali à mão de semear o Mestre. Inteligentemente sabe ouvir e assimila. Afirmo-o porque sei e o próprio muitas vezes, também o afirmou. Carlos do Carmo grava em disco com a benesse de Marceneiro, alguns dos seus fados mais emblemáticos - Fado Bailado, A Viela, etc. -.
Após a realização do documentário “Marceneiro é só Fado” para RTP, e cujos interiores foram filmados n’O Faia, e em que Carlos do Carmo se assume como produtor, Marceneiro deixa de entrar n’O Faia, porque alguém lhe diz que seria considerado “persona non grata”. [Um dia contarei estes acontecimentos, que eu esperava que fossem contados por outros, que não por mim, mas há uma quantidade de investigadores e conhecedores do Fado que infelizmente só falam quando têm público que não os poderá contestar].
A amizade com a Lucília mantém-se como sempre e talvez mais reforçada! (estranho?...) Lucília que não tem nada a ver com o assunto, mas que muito a magoa, e como deixa de ter como já vinha sendo hábito hà vários anos, o amigo Marceneiro a seu lado no (seu?) restaurante, visita-o na sua casa pelo menos de 15 em 15 dias sempre ao final da tarde, levando sempre um miminho, quer para ele, quer para a minha avó, a “Ti Judite”.
No último ano da sua vida, meu avô fica acamado e Lucília até à hora da sua morte não deixa de o visitar semanalmente.
Continuei a conviver com a Lucília do Carmo quer depois do falecimento do meu avô, quer após a sua retirada artística.
Guardo uma recordação de grande ternura por esta grande Mulher (com M maiúsculo).
Infelizmente não pude retribuir-lhe, quando ficou acamada as visitas que fez ao meu avô, por pedido do filho. [Uma história para também contar mais tarde].
Lucília morre e infelizmente estou fora de Portugal.
Acabo se me permitem com um ditado popular que o meu avô incutiu no meu espírito e na minha formação, e acho que tenho dado mostras que não me esqueci: “QUEM MEUS FILHOS BEIJA MINHA BOCA ADOÇA”, Lucília do Carmo tem um lugar muito especial no meu coração.
Vítor Duarte (Marceneiro)