Mais uma grande homem do Fado que nos deixa, à sua família em geral e em especial ao seu neto Ricardo Rocha, o meu abraço de sentidos pêsames.
JOSÉ FONTES ROCHA, nasceu no Porto (Ramalde) em 1926.
Nasceu numa família de gente ligada à música, o seu avô paterno foi regente de uma banda popular, e com ele aprendeu música e a tocar violino, mas o pai, que tocava guitarra, foi quem mais o influenciou, a tocar o instrumento que veio a ser a sua grande vocação.
Aprendeu o ofício de electricista.
Aos 20 anos começou a tocar como amador entre amigos e em festas particulares e, dez anos depois, veio para Lisboa, começou por adoptar o estilo de José Nunes, que acabou por marcar profundamente a sua própria interpretação.
Na capital actuou durante algum tempo no restaurante típico Patrício, da Calçada de Carriche, e quando este encerrou, em 1956, foi trabalhar na sua profissão de electricista para os CTT.
Actuou no Pampilho, na Calçada de Carriche (ex-Nova Sintra).
Abandona definitivamente a profissão de electricista e dedica-se em exclusivo à guitarra.
Foi contratado para a Adega Mesquita, donde transitou para a Taverna do Embuçado e depois para o Senhor Vinho, onde actuou vários anos.
Fez parte do conjunto de guitarras de Raul Nery (então também integrado por Júlio Gomes e Joel Pina), com o qual se deslocou ao estrangeiro para acompanhar Maria Teresa de Noronha em vários espectáculos; e com Amália Rodrigues, que acompanhou durante doze anos, tendo exibido-se em diversos países.
De todos os espectáculos em que participou, realça-se no Olympia de Paris em 1968, destinado aos emigrantes portugueses com o viola Castro Mota ainda no conjunto de guitarras de Raul Nery.
Outro espectáculo memorável em que Fontes Rocha participou, com Pedro Leal à viola, foi nas Halles, também em Paris, cuja exibição, se saldou em mais um sucesso, em particular para Amália Rodrigues. Também no Lincoln Center de Nova Iorque, na temporada de 1969-1970, fazendo parte do mesmo conjunto de guitarras, teve ocasião de actuar com a Orquestra de André Kostelanetz e de contribuir para o êxito de Amália, que na interpretação da Casa Portuguesa, baptizada pelos americanos de Kiss Song, obteve um dos seus maiores sucessos.
Além dos discos gravados com o conjunto de guitarras de Raul Nery, Fontes Rocha gravou mais três discos com guitarradas, e noutros acompanhou Amália e Natália Correia, esta na declamação de poesias. É também autor das músicas de vários fados, tais como Quentes e Boas (com letra de José Luís Gordo), Fado Isabel (Corrido cantado com diversas letras), Anda o Sol na Minha Rua (letra de David Mourão-Ferreira), Lavava no Rio Lavava e Trago o Fado nos Sentidos (ambos com letras de Amália).
Vítor Marceneiro, canta o Fado " O LOUCO"
Letra de: Henrique Rego
Música: Fado Menor-Versículo Alfredo Marceneiro
Acompanhado por dois grandes músicos já ausentes:
Guitarra Portuguesa: Fontes Rocha
Viola Fado: Manuel Martins
A autora e a sua obra
Há uns tempos atrás, recebi um email de uma jovem brasileira, informando-me que tinha escrito um livro sobre uma brasileira (com raizes portuguesas), a artista Irene Coelho, que cantava Fados e músicas tradicionais portuguesas, era " Uma Brasileira de Coração Português" , e solicitava que lhe enviasse o meu endereço, para me ofertar um exemplar da sua obra, isto porque, consultava frequentemente este blogue e ... ( lá me vão chamar de vaidoso, o que não é mentira mas..) passo a transcrever a dedicatória que postou no livro:
Ao amigo Vítor Marceneiro
Incansável divulgador da história do fado e seus personagens, neto do ilustre e expressivo fadista Alfredo Marceneiro
Ofereço meu primeiro livro com a trajectória desta brasileira que amou a música portuguesa: Irene Coelho, e, com ela, um pouco da história do fado no Brasil!
Com carinho e um abraço musical.
Thais Matarazzo
S. Paulo, 22/VII/11
Parabéns Thais, está muito bem escrito e estruturado, é acima de tudo uma obra que se sente em cada palavra escrita, que o fez com amor. São obras como esta que mostram que o Fado é um património mundial, como qualquer criação artistica, mas o nosso Fado é bem Lusitano... e de todos ao países que falam e sentem a "saudade" em português.
Eu como português sinto-me orgulhoso deste livro, e os brasileiros também o devem estar.
Mais tarde irei com autorização da minha querida amiga falar neste blogue da biografada, e fazer alguns apontamentos que me intrigaram quando da vinda a Portugal de Irene Coelho no ano de 1966.
Para saber mais sobre a autora e a sua obra aqui está o link do seu sitio.
http://thmatarazzo.bloguepessoal.com/
Tomo a liberdade e incluir nesta página um Video-Clip, postado por "Era do Gramofone: em que Irene Coelho canta um tema a Lisboa
José Manuel Osório, distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, tinha-se destacado nos últimos anos como investigador do fado, tendo coordenado as colecções discográficas “Fados da Alvorada” e “Fados do Fado” na etiqueta da Movieplay Portuguesa. Osório receberia em Novembro o Prémio Amália Ensaio/Divulgação que seria a sua consagração como investigador na área do fado, em que se tinha destacado nas últimas décadas, disse o musicólogo Rui Vieira Nery. O músico trabalhava recentemente numa pesquisa sobre a imprensa fadista e deixa pronto para publicar um texto de introdução à reedição do livro “O Fado e os seus censores”, de Avelino de Sousa. O interesse pelo fado começou quando se matriculou na Faculdade de Direito. Frequentava as casas de fado da linha de Cascais que, segundo afirmou, eram “espaços de alguma revolta em relação às casas de fado que proliferavam nos bairros históricos de Lisboa, e que transformavam o prazer de cantar numa obrigação”. Nas casas de fado de Cascais como “Estribo” ou “Cartola”, conheceu fadistas e poetas, nomeadamente Vasco de Lima Couto, que lhe ofereceu um poema para cantar, e José Carlos Ary dos Santos, que lhe escreveu um poema, também para ser cantado, o decassílabo “Desespero”, a partir de um soneto incluído no livro “A Liturgia do Sangue”. Osório fundou o Grupo Independente de Teatro da Faculdade de Direito, que dirigiu e para o qual encenou “O Homúnculo”, de Natália Correia, o primeiro texto desta autora a ser representado em público. O investigador tinha-se anteriormente inscrito no curso de teatro do Conservatório e trabalhara durante seis anos no Teatro Estúdio de Lisboa, dirigido por Luzia Maria Martins. José Manuel Osório gravou o primeiro disco em 1968, com poemas de Ary dos Santos, Lima Couto, Manuel Alegre, Mário de Sá Carneiro, António Botto, João Fezas Vital, Lídia Neto Jorge, António Aleixo e Maria Helena Reis. No ano seguinte, gravou o segundo disco e recebeu o Prémio da Imprensa para o Melhor Disco do Ano. Em 1970 a Casa da Imprensa distinguiu-o com o Prémio para o Melhor Fadista, mas foi impedido de cantar no palco do Coliseu, pela polícia política de então, a PIDE-DGS. À agência Lusa Rui Vieira Nery afirmou que “José Manuel Osório foi dos primeiros da sua geração a fazer a ponte entre o fado e o sector intelectual da oposição democrática”. Partiu para Paris onde trabalhou num restaurante onde se cantava fado e conheceu José Mário Branco, Sérgio Godinho e Luís Cília, entre muitas outras personalidades. Na década de 1970, dinamizou o teatro amador, levando à cena dezenas de espectáculos que se apresentavam essencialmente nas colectividades de Lisboa. Conquistou o primeiro Prémio do Festival de Teatro Amador com o Grupo Oficina de Teatro de Amadores em Alfama, com o texto “Soldados” de Carlos Reyes. Editou o quarto disco, em que incluiu poemas de Fernando Pessoa, Manuel Alegre, António Aleixo, Francisco Viana, Martinho da Rita Bexiga, António Gedeão, Alda Lara, entre outros. Colaborou com vários músicos como António Chaínho, Arménio de Melo, Manuel Mendes, José Nunes, Raul Nery, José Fontes Rocha, Carlos Gonçalves, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Leal, Joel Pina e Martinho D’Assunção, entre outros. As pesquisas sobre o fado iniciou-as em 1973 quando definitivamente regressou a Portugal, tendo escolhido como matéria de investigação o fado operário e anarco-sindicalista, com o intuito de o cantar. Após a revolução de 1974, participou na fundação do grupo de teatro A Barraca, compôs música para peças de teatro e gravou três discos de fado tradicional. A carreira discográfica pode então ser dada como encerrada, apesar de ter gravado o ano passado “Fado da Meia Laranja” para uma colectânea do poeta José Luís Gordo. Iniciou uma carreira como produtor de espectáculos e agente de artistas, actividade que manteve até 1990. Sempre ligado à organização da Festa do Avante, participou activamente na criação de um espaço fadista, o “Retiro do Fado”.Em 1993, a convite do musicólogo Ruben de Carvalho, organizou “As Noites de Fado da Casa do Registo”, inseridas na Lisboa/94, Capital Europeia da Cultura. Em 1998 coordenou as Festas da Cidade de Lisboa. Colaborou com o Museu do Fado, organizou colóquios e várias iniciativas ligadas ao fado, participando como autor na obra “Um século de fado”. Em 2005 coordenou o projecto “Todos os Fados” para a revista Visão, posteriormente colaborou na antologia dos fadistas Fernanda Maria e Fernando Maurício, editadas pela Moviplay Portuguesa e, para esta mesma editora, as séries “Fados da Alvorada” e “Fados do Fado”, trazendo à ribalta o repertório fadista desde a década de 1950 até 1974. José Manuel Osório nasceu em Leopoldoville, atual Kinshasa, na República do Zaire, então Congo Belga, no dia 13 de Maio de 1947. Aos dez anos veio estudar para Portugal, ingressando dois anos depois no Conservatório de Música de Lisboa, tendo terminado aos 15 o Curso Básico e Superior de Solfejo. Terminou com louvor e distinção o curso de piano aos 24 anos.
In: Jornal "O Público"
José Manuel Osório nunca duvidou e sempre o afirmou, que a música do Fado Versículo é de Alfredo Marceneiro, ainda há pouco tempo também me confidenciou que achava de um mau gosto e de uma mesquinhês vingativa, que no Museu do Fado esteja em destaque a fotografia de meu avô Alfredo Marceneiro, com montagens que o colocam ao lado de muita gente, mas em, nenhuma se vê o seu filho (meu pai) Alfredo Duarte Júnior, mas há um facto indiscutivel é que Alfredo Marceneiro foi o maior fadista/compositor que o Fado conheceu, deixou uma geração que soube honrar o seu nome, geração à qual estou vinculado... por muito que incomode muita gente.
Vítor Marceneiro
1920
Nasce em Lisboa no Bairro da Mouraria a 23 de Julho
1929
Entra na Escola Oficial da Tapada da Ajuda, onde terminará a instrução primária.
1934
Trabalha como bordadeira, engomadeira e tarefeira.
1935
Desfila na Marcha de Alcântara e canta pela primeira vez, acompanhada à guitarra, numa festa de beneficência, usando o nome artístico de Amália Rebordão
1936
É solista na Marcha de Alcantara.
1938
Representando o Bairro de Alcântara era para participar no Concurso da Primavera, tal não aconteceu.
É levada à redação da Guitarra de Portugal e ouvida por João Linhares Barbosa
1939
Pela mão de Santos Moreira é apresentada a Jorge Soriano que é o director do Retiro da Severa. È de imediato contratada e com o nome artístico de Amália Rodrigues, no dia da estreia interpreta três fados e é acompanhada por Armandinho, Jaime Santos, José Marques, Santos Moreira, Abel Negrão e Alberto Correia. Teve um êxito redundante.
Ainda neste ano passa a actuar também no Solar da Alegria e no Café Luso.
1940
Casa com Francisco da Cruz, torneiro mecânico de profissão e guitarrista amador, que conhecera nos ensaios do Concurso da Primavera.
1942
Divorcia-se de Francisco da Cruz.
1944
A estada no Brasil, prevista para seis semanas, estende-se por três meses. Actua no Casino de Copacabana.
1945
No Brasil grava os primeiros dos 170 discos (em 78 rotações) da sua carreira.
1947
É protagonista no filme «Capas Negras», batendo todos os recordes de exibição ( 22 semanas em cartaz no Cinema Condes).
1948
Recebe o prémio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para a melhor actriz, pelo seu papel em «Fado», filme de Perdigão Queiroga.
1949
Actua pela primeira vez em Paris e Londres.
1951
Digressão a África: Moçambique, Angola e Congo.
1952
Actua pela primeira vez em Nova Iorque no La Vie en Rose, ficando 4 meses em cartaz. Assina contrato com a editora discográfica Valentim de Carvalho, que passa a gravar todos os seus discos.
1953
É a primeira artista portuguesa a cantar na televisão americana no programa «Eddie Fisher Show».
1954
Edita o primeiro LP nos Estados Unidos. Actua no Mocambo, em Hollywood.
1955
Interpreta a «Canção do Mar» e o «Barco Negro» no filme de Henri Verneuil «Os Amantes do Tejo». Filma no México «Música de Sempre» com Edith Piaf.
1957
Estreia-se no Olympia em Paris e começa a cantar em francês. Charles Aznavour escreve para ela «Ai, Mourrir pour Toi».
1961
Casa no Brasil na cidade do Rio de Janeiro com o Engº. César Seabra .
1962
Lança o disco «Asas Fechadas» e «Povo que Lavas no Rio» do poeta Pedro Homem de Mello.
1966
Actua no Lincoln Center (Nova Iorque) com uma orquestra sinfónica dirigida pelo maestro André Kostelanetz.
1967
Recebe em Cannes, pela mãos do actor Anthony Quinn, o prémio MIDEM (Disco de Ouro) para o artista que mais discos vende no seu país, facto que se repete nos dois anos seguintes, proeza só igualada pelos Beatles.
1970
Actua em Tóquio, Nova Iorque e Roma e recebe uma alta condecoração francesa.
1975
Regressa ao Olympia em Paris.
1976
É editado pela UNESCO o disco «Le Cadeau de la Vie» em que figura ao lado de Maria Callas e de Jonhn Lennon.
1977
Canta no Carnegie Hall de Nova Iorque.
1980
É condecorada com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, pela Câmara Municipal de Lisboa e na pessoa do presidente de então o Engº Nuno Crus Abecassis, conjuntamente com Alfredo Marceneiro e Hermínia Silva.
1982
Faleceu Alfredo Marceneiro, autor de músicas de fados que cantou e em especial o “Fado Bailado” para o seu poema “Estranha Forma de Vida”. Amália vai à Capela fúnebre da Igreja de Santa Isabel homenageá-lo.
1983
Actua na Grande Noite do Fado no Coliseu dos Recreios que nesse ano homenageia Alfredo Marceneiro.
1985
Volta a cantar no Olympia de Paris. Dá o primeiro concerto a solo no Coliseu dos Recreios de Lisboa.
1989
Comemora os 50 anos de carreira com uma exposição no Museu do Teatro em Lisboa.
1990
Dois grande espectáculos: Coliseu dos Recreios e no S. Carlos onde, pela primeira vez em 200 anos, se ouve cantar o fado.
1994
Actua pela última vez em público no âmbito de Lisboa, Capital da Cultura.
1995
É operada a um tumor no pulmão. Edita o seu último disco «Pela Primeira Vez».
1997
Faleceu seu marido o engenheiro César Seabra, estiveram casados 36 anos.
1998
É lançado o disco O melhor de Amália, muito aclamado pela crítica internacional. É homenageada na Expo 98.
1999
A 6 de Outubro morre em Lisboa, na sua casa na Rua de S. Bento.