Paulo Valentim Ribeiro de Almeida, mais conhecido por Paulo Valentim, nasceu em Lisboa em 9 de Dezembro de 1964.
Guitarrista de Fado, compositor, letrista e artista plástico.
Inicia a sua formação com Octávio Sérgio (musico de Coimbra, acompanhantede José Afonso).
Mais tarde, enceta aproximação à música de Lisboa e integra-se no meio fadista.
Acompanha quase todos os fadistas profissionais, incluindo Amália numa pequena festa particular na ilha da Madeira.
Participa em vários concertos de Simone de Oliveira, e em várias sessões de poesia com Rui de Carvalho, Eunice Muñoz e Lourdes Norberto.
Colabora com Dulce Pontes em alguns dos seus espectáculos.
Como musico participa em várias peças teatrais, destacando-se, “Maldita Cocaína”(Filipe lá Féria)“Passa por mim no Rossio”( Filipe lá Féria),” Dois actores um texto e uma conversa”(Varela Silva, Curado Ribeiro e Rui de Carvalho), “Judite nome de guerra”(João Grosso) e “Olhos nos Olhos” (Lourdes Norberto).
Paralelamente à actividade de acompanhador, desenvolve a sua intervenção como compositor e assim compõe para fado, teatro, cinema e dança. “Passa por mim no Rossio” (Teatro),”Três actores um texto e uma conversa” (Teatro), Teatro de Revista, “Noventa e oito octanas” (cinema),”Cais de Alcântara” (bailado), “Olhos nos Olhos” (Teatro) foram alguns dos projectos artísticos em que colaborou como compositor.
Recentemente compôs, em parceria, a música para o espectáculo “Fado – História de um Povo”, em cena no Casino Estoril.
Júri do concurso televisivo “Nasci para o fado”.
Detentor de uma carreira internacional com mais de vinte anos, actuou nas mais importantes salas de espectáculo do mundo.
Tocou entre outros para Kátia Guerreiro, Fernando Maurício, Maria da Fé e Mafalda Arnauth, foi com esta fadista com quem desenvolveu por ultimo, um trabalho constante e permanente, tendo composto para esta fadista os seus alguns dos seus maiores sucessos. “Segredos” e “Pranto de amor ausente”.
Por convite da Presidência da Republica, participou nas embaixadas culturais de três visitas de estado.
Tem ainda uma vasta colaboração com as Marchas Populares de Lisboa, para onde compõe desde o ano 2000, tendo ganho vários primeios prémios prémios.
È membro da SPA com registo de mais de 400 obras nas áreas da música e artes plásticas.
Também acompanhou o autor deste blogue, que o conhece desde o inicio da sua carreira no Fado.
Texto de Bruno Saavedra
Adolfo Correia Rocha, São Martinho de Anta ( adoptou o pseudónimo de Miguel Torga), nasceu a 12 de Agosto de 1907, no concelho de Sabrosa (Alto Douro), foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX.
Filho de gente humilde, trabalhadores do campo, frequentou brevemente o seminário.
Em 1920, com doze anos, emigrou para o Brasil, para trabalhar na fazenda do tio, na cultura do café. O tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado.
Em 1925 regressa a Portugal.
Em 1927 é fundada a revista Presença de que é um dos colaboradores desde o início.
Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro, "Ansiedade", de poesia.
É bastante crítico dapraxe e tradições académicas, e chama depreciativamente "farda" à capa e batina, mas ama a cidade de Coimbra.
Em 1933 concluiu a formatura em Medicina, com apoio financeiro do tio do Brasil e exerceu no início, nas terras agrestes transmontanas, de onde era originário e que são pano de fundo da maior parte da sua obra.
Em 1939 fixa-se em Coimbra e exerce medicina, e é a partir desta cidade que escreve a rande maioria dos seus livros
A obra de Torga tem um carácter humanista, criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza, sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência, para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração, (hinos aos deuses, não...os homens é que merecem, que se lhes cante: a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).
Para Miguel Torga o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras, e é com essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a natureza mau grado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, no ver de Torga fazem do homem, único ser digno de adoração.
Considerado por muitos como um avarento de trato difícil e carácter duro, foge dos meios das elites pedantes, mas dá consultas médicas gratuitas a gente pobre e é referido pelo povo como um homem de bom coração e de boa conversa. Foi o primeiro vencedor do Prémio Camões.
Miguel Toga faleceu em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995
Anjos - Almirante Reis dia de nevoeiro
Auguarela de Meste Real Bordalo
LISBOA
Poema de: Miguel Torga
A luz vinha devagar
Através do firmamento...
Vinha e ficava no ar,
Parada por um momento,
A ver a terra passar
No seu térreo movimento.
Depois caía em toalha
Sobre as dobras da cidade;
Caía sobre a mortalha
De ambições e de poalha,
Quase com brutalidade.
O rio, ao lado, corria
A querer fugir do abraço:
Numa vela que se abria,
E onde um sorriso batia,
O mar já era um regaço.
Mas a luz podia mais,
Voava mais do que a vela;
E o Tejo e os areais
Tingiam-se dos sinais
De uma doença amarela.
Ardia em brasa o Castelo,
Tinha febre o casario;
Cada vez mais nosso e belo,
O profeta do Restelo
Punha as sombras num navio...
Nas casas da Mouraria,
Doirada, a prostituição
Era só melancolia;
Só longínqua nostalgia
De amor e navegação.
Os heróis verdes da História
Tinham tons de humanidade;
No bronze da sua glória
Avivava-se a memória
Do preço da eternidade.
Nas ruas e avenidas,
Enluaradas de espanto,
Penavam, passavam vidas,
Mas espectrais, diluídas
Na cor maciça do encanto.
E a carne das cantarias,
Branca já de seu condão,
Desmaiava em anemias
De marítimas orgias
De um fado de perdição.
FADO
Poema de Miguel Torga
Já talhado
No livro da natureza.
Um destino reservado,
De riqueza
Ou de pobreza,
Consoante o chão lavrado.
E nada pode mudar
A fatal condenação.
No solo que lhe calhar,
A humana vegetação
Tem de viver, vegetar,
A cantar
Ou a chorar
Às grades desta prisão.
No livro da natureza.
Um destino reservado,
De riqueza
Ou de pobreza,
Consoante o chão lavrado.
E nada pode mudar
A fatal condenação.
No solo que lhe calhar,
A humana vegetação
Tem de viver, vegetar,
A cantar
Ou a chorar
Às grades desta prisão.
O FADO ESTÁ DE LUTO, faleceu hoje com 91 anos, o Engº Raul Nery, á família enlutada, as minha sinceras condolências.
Raul Filipe Nery nasceu em Lisboa na freguesia de Santa Engrácia, em1921.
Os seus poemas têm sido gravados, e são cantados todas as noites, pelas mais diferentes vozes, dos consagrados, quer de profissionais como os amadores.
Entre os inúmeros músicos que compuseram para os seus poemas, saliente-se José Fontes Rocha que muito admirava e que, Mário Rainho afirma: "com tantas geniais músicas vestiu os meus versos".
A formação de Mário Rainho foi feita na vivência fadista, mas passa também pelos estudos que realizou nas ordens religiosas Dominicana, Franciscana, e Jesuíta. Talvez por isso tenha escrito, para Fernando Maurício, falecido em Julho de 2003, um dos grandes nomes que mais o marcou, seu companheiro de várias fadistagens e amigo, esta quadra:
Cada verso é uma oração
Um Padre Nosso rezado
E na minha Confissão
Vão as rimas do meu fado
Profissionalmente destaca-se com os poemas que escreveu para fados e canções; a estreia como autor teatral no Teatro Villaret, com a revista “Ora Bate, Bate Manso”; como co-autor com Henrique Santana, Eduardo Damas e Carlos Ivo da revista “Quem Tem ECU Tem Medo”, no Teatro Maria Vitória; autor, com Francisco Nicholson, Nuno Nazareth Fernandes, Gonçalves Preto e Marcelino Mota, da revista “Lisboa Meu Amor” no Teatro ABC, bem como a revista “Mamã Eu Quero”. Voltando ao Teatro Maria Vitória, foi autor e chefe de parceria das seguintes revistas: “Ora Bolas Pró Parque”, “Aqui Há Muitos, Gatos”, “Ó Trolaré, Ó Troilará” e “Tem a Palavra a Revista”.
A partir de 2000 foi co-autor, chefe de parceria e encenador das revistas: “2001, Odisseia no Parque”, autor único, “Lisboa Regressa ao Parque”, “Vá P’ra Fora ou Vai Dentro”, “Arre Potter que É Demais!” e “A Revista É Linda!”. Em 2010 foi co-autor com Francisco Nicholson da Revista "Vai de em@il a Pior". No que toca à televisão, foi co-autor dos programas: “Quem Casa Quer Casa!”, “Ora Bolas Marina”, “Marina Dona Revista” e “Bora lá Marina”.
Escreveu ainda, em parceria com Filipe La Féria, para a RTP, o programa televisivo “Cabaret”.
Como poeta, Mário Rainho é cantado por nomes do fado e da música ligeira como Ada de Castro,Alice Pires, Ana Moura,Anita Guerreiro,António Zambujo, Beto, Carlos Zel, Cidália Moreira, Fernando Maurício, Filipa Cardoso, Joana Amendoeira, Jorge Fernando, José Manuel Barreto,Lenita Gentil, Mafalda Arnauth, Marco Oliveira, Maria Armanda, Maria da Fé,Maria da Nazaré,Mariza, Raquel Tavares,Ricardo Ribeiro, Rodrigo, Vasco Rafael, entre muitos outros.
Em 1999, foi distinguido como melhor autor com o Prémio Pateota, no mesmo ano, ainda, recebe as Máscaras de Ouro do Teatro Ligeiro. Em 2001 volta a ser considerado o melhor autor e distinguido de novo com o Prémio Pateota. Pelo seu trabalho, foi o primeiro poeta vivo, a ser homenageado pela Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa e pela Câmara Municipal de Lisboa. Em Novembro de 2006 recebeu, no Teatro São Luiz, o prémio Melhor Poeta do Ano da Fundação Amália Rodrigues. Em 2007 faz direcção de actores na série O Quinto Poder para a Rede Record produzida pela ProImage 7.
In: Programa da II Gala dos Prémios Amália Rodrigues e Wikipédia
A VOZ DA AMÁLIA
Poema de Mário Rainho
Nossa Senhora do Fado
Chamou-te Ary com ternura.
Já não estás ao nosso lado
"Ó meu limão d'amargura"!
Mas que nome te hei-de dar?
- "Ao poeta perguntei" -
"Gaivota", ou "Canção do Mar"?
"Não sei, não sabe ninguém"!
Partiu e deixou-nos sós,
A voz d'Amália.
Da terra subiu aos céus
A voz d'Amália.
Partiu mas ficou em nós
A voz d'Amália.
Partiu sem dizer adeus,
"Foi por vontade de Deus"…
Ai! A voz d'Amálial
"Se uma gaivota viesse"
Do céu, em desassossego,
O desenho que fizesse
Talvez fosse um barco negro.
Onde à proa a tua voz,
Que ao cais de outrora se amarra,
Talvez chorasse por nós:
"Meia-noite e uma guitarra".