Escritor português, natural de Vila do Conde, onde viveu até completar o quinto ano do liceu, após o que continuou a estudar no Porto. José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, publicou, em Vila do Conde, nos jornais O Democrático e República, os seus primeiros versos. Aos 18 anos, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese «As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa». Esta foi pouco apreciada, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas então quase desconhecidos, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Esta tese, refundida, veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa (1941).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença (cujo primeiro número saiu a 10 de Março, vindo a publicar-se, embora sem regularidade, durante treze anos), que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.
Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969.
Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio. Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão, do dilaceramento interior perante a relação entre o espírito e a carne e a ânsia humana do absoluto. Levando a cabo uma auto-análise e uma introspecção constantes, a sua obra é fortemente marcada pelo tom psicologista e, simultaneamente, por um misticismo inquieto que se revela em motivos como o angelismo ou a redenção no sofrimento. A sua poesia, de grande tensão lírica e dramática, apresenta-se frequentemente como uma espécie de diálogo entre níveis diferentes da consciência. A mesma intensidade psicológica, aliada a um sentido de crítica social, tem lugar na ficção. Como ensaísta, dedicou-se ao estudo de autores como Camões, Raul Brandão e Florbela Espanca. Na revista Presença, assinou um editorial («Literatura Viva») que constituiu uma espécie de manifesto dos autores ligados a este órgão do segundo modernismo português, defendendo a necessidade de uma arte viva, e não livresca, que reflectisse a profundidade e a originalidade virgens dos seus autores.
Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima), Primeiro Volume de Teatro: Jacob e o Anjo e Três Máscaras (1940), Davam Grandes Passeios aos Domingos (novela publicada em 1941 e incluída, em 1946, em Histórias de Mulheres), Fado (1941, livro de poesia com desenhos do irmão Júlio, principal ilustrador da sua obra), O Príncipe Com Orelhas de Burro (1942, romance), A Velha Casa (obra inacabada, mas de que chegaram a sair os volumes Uma Gota de Sangue, em 1945, As Raízes do Futuro, em 1947, Os Avisos do Destino, em 1953, As Monstruosidades Vulgares, em 1960, e As Vidas São Vidas, em 1966), Mas Deus É Grande, (1945, poesia), Benilde ou a Virgem-Mãe (1947, peça de teatro adaptada ao cinema, em 1974, por Manuel de Oliveira), El-Rei Sebastião (1949, «poema espectacular em 3 actos»), A Salvação do Mundo (1954, tragicomédia em três actos), A Chaga do Lado (1954, sátiras e epigramas), Três Peças em Um Acto: Três Máscaras, O Meu Caso e Mário ou Eu Próprio-O Outro (1957), O Filho do Homem (1961), Há Mais Mundos (1962, livro de contos, pelo qual recebeu o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores), Cântico Suspenso (1968, poesia) e, a título póstumo, Música Ligeira (1970, poesia), Colheita da Tarde (1971, poesia) e Confissão Dum Homem Religioso (1971, obra de reflexão). Na sua obra ensaística, destacam-se ainda os Três Ensaios Sobre Arte (1967), que reúnem textos publicados anteriormente, e Páginas de Doutrina e Crítica da Presença, recolha feita por Alberto Serpa, relativamente à colaboração de Régio na Presença (1977).
Partilhou ainda, com o irmão Júlio, o gosto pelas artes plásticas, tendo chegado a desenhar uma capa para a Presença e feito os oito desenhos que, a partir da 5ª edição, ilustram os Poemas de Deus e do Diabo.
É considerado, por alguns, como um dos vultos mais significativos da moderna literatura portuguesa. Recebeu, em 1961, o prémio Diário de Notícias e, postumamente, em 1970, o Prémio Nacional de Poesia, pelo conjunto da sua obra poética. As suas casas de Vila do Conde e de Portalegre são hoje museus
In: www.astormentas.com/regio.htm
AMÁLIA RODRIGUES canta:
Fado Português
Letra de José Régio e música Alain Oulmain
Natural da Marinha Grande, começou a cantar aos 16 anos pela mão do maestro Resende Dias aos microfones dos Emissores Reunidos do Norte, vindo a profissionalizar-se pouco tempo depois na Emissora Nacional.
Começa a experimentar o fado ainda nos começos da década de 1970, grava entre outros, "A tantos do tal" (Artur Ribeiro/Fernando Farinha/Fado Alexandrino) acompanhada pelo conjunto de guitarras de Jorge Fontes.
Esteve contratada na Toca de Carlos Ramos.
Com uma carreira de assinaláveis êxitos na canção, como "Partir, voltar" ou "Eles foram tão longe". Representa Portugal em vários festivais internacionais, salientando-se duas vitórias consecutivas no Festival Hispano-Português do Douro e o Prémio da Crítica nas Olimpíadas da Canção, em Atenas, para além de destacadas participações em festivais no México, Roménia e Polónia.
"Tarde triste no Campo Pequeno" foi o “pasodoble” que fez saltar o nome de Lenita para a ribalta
Em 1983 gravou aquele que se tornará num dos seus temas emblemáticos: "Preciso de espaço" (Vasco de Lima Couto/Verónica), nesta década vai-se dedicando cada vez mais ao fado que torna sua carreira por opção e dedicação.
Entre outros álbuns de fado editou "Fado-Lenita Gentil" (Movieplay), "Maria la portuguesa" e "Fado para dois" com Natalino de Jesus, ambos com a etiqueta Ovação.
Além das várias digressões ao estrangeiro, Lenita Gentil canta habitualmente nas Arcadas do Faia, ao Bairro Alto, em Lisboa.
Ao longo da sua carreira foi já distinguida com o Óscar da Imprensa e o Prémio Prestígio da Imprensa.
Em 2006 recebe o “Troféu Amália Rodrigues” – Melhor Álbum de Fado – "OUTRO LADO DO FADO', editado pela Ovação em 2005, pela sua interpretação quer em alguns temas já conhecidos, como "Fria Claridade" que canta na melodia do Fado Mouraria, ou "Maldição" (David Mourão-Ferreira / Alfredo Marceneiro), quer em inéditos como "As penas que me deixaste"(Rogério de Oliveira / Otério José Lopes). O acompanhamento esteva a cargo de Fernando Silva na guitarra portuguesa, Jaime Santos na viola e Joel Pina na viola baixo.
Nota: Quando da gravação do tema Preciso de Espaço, produzi e realizei um Tele-Disco para a RTP da Lenita Gentil - Vítor Marceneiro
Lenita Gentil canta: Preciso de Espaço
JÚLIO VIEITAS (1915 – 1990), nasceu nas Caldas da Rainha, cidade onde muito jovem, começou a cantar o fado entusiasmado com as interpretações de fadistas de Lisboa que lá iam participar em espectáculos.
Com 15 anos, decidiu vir trabalhar para a capital, mas a sua ideia era desenvolver as suas qualidades de cantador.
Aos 17 anos cantou no retiro da Bazalisa, em Campolide, onde o velho fadista Júlio Janota, (pessoa de muito mau feitio), despeitado com a sua interpretação castiça e a sua bela voz, lhe disse que pensasse noutro futuro pois a cantar não se «safava» (para tentar desmoralizar o rapaz), mas não conseguiu desanimá-lo, pois continuou a cantar como amador durante alguns anos em sociedades de recreio e verbenas.
Estreia como profissional em 1937 no Café Mondego, tendo cantado, sucessivamente, no Solar da Alegria, Café Vera Cruz e Café Latino. Actuou também nas casas típicas: Café Luso (da Travessa da Queimada), Sala Júlia Mendes, Café Monumental e Cervejaria Artística.
Em 1943, fez uma tournée pelo Centro e Norte do País com Ercília Costa como empresária, actuando durante algum tempo no Cinema Olímpia, do Porto, mais tarde voltaria ao Porto várias vezes ao longo da sua carreira, actuando na Taverna de S. Jorge, no Hotel D. Henrique, na Cozinha Real do Fado, na Casa da Mariquinhas e n'O Rabelo (Vila Nova de Gaia). Em Coimbra cantou no Retiro do Hilário
Em 1954 cantou num programa de fados da Emissora Nacional, e mais tarde, em 1960, tambem participou no Rádio Clube Português e nos Emissores Associados de Lisboa.
Em 1955 gravou discos para a etiqueta “Estoril”, com as composições Bairro Eterno, Campinos, A Cigana, Vem Comigo e Aquela Luz.
Em 1957 foi um dos primeiros artistas do fado a cantar nos programas experimentais da RTP.
Foi contratado no retiro do Caliça, na Parreirinha do Rato, no Ritz Clube, na Adega da Lucília, na Adega Mesquita, n'O Faia, na Nau Catrineta, no Paraíso das Guitarras e na Parreirinha de Alfama.
Em 1970 é o director artístico no Arabita, em Alfama.
Em 1973 para a etiqueta “A Roda”, grava: Juventude, Aguarela Portuguesa, A Varina dos Olhos Verdes e Doce Visão
Em 1977 grava: Embriaguez do Amor, O Regresso do Soldado, O Fado... Apenas Isto e Um Artista.
Em 1979 gravou para a etiqueta “Riso e Ritmo” um LP com o título (Fado da Velha Guarda), com Gabino Ferreira, Júlio Peres, Manuel Calixto, José Coelho e Frutuoso França, em que canta Ser Fadista e Não te Quero Perder
Júlio Vieitas, foi um conceituado intérprete do Fado de Lisboa, distinguiu-se também como poeta popular, autor de conhecidas letras de fados, algumas delas com música sua, das quais destacamos: Princesa do Tejo (fado-canção gravado por Fernanda Maria, Ana Hortense e Francisco Martinho e orquestrado por Shegundo Galarza), A Cigana e Varina dos Olhos Verdes.
Júlio Vieitas foi um dos últimos representantes de uma escola fadista, que persistiu em manter a tradição do fado autêntico, embora cultivando também o fado-canção.
© Vítor Duarte Marceneiro
Lucilia do Carmo com Alfredo Marceneiro
Artista versátil, José Inácio, cantava Fado e tocava também guitarra, podia ter sido, se quisesse, um bom executante deste instrumento, mas foi a viola que sempre o interessou mais e é como violista que atingiu o lugar que ocupou entre os melhores da sua geração.
Era funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, mas nunca deixou de actuar assiduamente nas casas típicas: Retiro dos Marialvas, Café Salvaterra , Patrício, Lobos do Mar, Tradição e Pampilho (Calçada de Carriche); no Retiro da Bairrada (Benfica), na Parreirinha do Rato e na Nau Catrineta, esteve várias vezes na Viela, no Solar da Hermínia e na Tipóia, passou também pelo Ritz Club, pelo Cristal e pelo Olímpia.
Em 1979 acompanhou Cidália Moreira numa digressão à Alemanha, em que aquela artista obteve um dos seus maiores êxitos cantando num castelo romântico perto de Hamburgo, na festa internacional de uma empresa vinícola alemã.
Durante alguns anos actuou em Cascais, tocando em casas como o Galito, Arreda, Tabuinhas e Kopus Bar.
Ao longo da sua vida de instrumentista emparceirou com os mais diversos guitarristas. Gravou discos a acompanhar vozes e a executar guitarradas, tendo sido um dos violistas preferidos de José Nunes, que muito o apreciava. Dotado como compositor, são da sua autoria os fados Maria Sozinha, A Malva Rosa e Velha Capa (letras de Linhares Barbosa), Moda Fadista (letra de Luís Simão), Foi Hoje (letra de Raul Dias), Adeus, Tentação! (letra de Jorge Rosa), Fado Augusta (quadras), Fado Rina (quintilhas), Fado Galeno (sextilhas) e Fado Dinora (decassílabos), etc. Compôs também, entre outras, as seguintes variações: Dança Portuguesa, Retalhos Clássicos, Dança Gitana, Oração, Rapsódia Portuguesa (arranjo com números seus intercalados) e Marcha Militar.
Conhecidíssimo no meio fadista, onde é estimado pelo seu temperamento bonacheirão, José Inácio é também figura familiar do Bairro Alto, que habita desde criança e que, popular como ele o é, faz parte da sua própria existência.
José Inácio estará sempre ligado á minha experiência de cantar o Fado, embora já o tenha explicado aqui, mas permitam que repita o que se passou:
… Corria o ano de 1966, tinha cerca de 21 anos, fiz uma pausa nos bailaricos e outros «poisos» e comecei a frequentar o fado amador, que praticamente desconhecia, pois, até essa altura, costumava acompanhar o meu avô e o meu pai às casas tradicionais.
Certo dia, uns amigos convidaram-me para uma noite de fados no Galito, que ficava no Estoril. Lá fui e, como é lógico entre os frequentadores habituais, ao saberem de quem eu era filho e neto, logo pensaram que havia mais um para cantar.
… Ora eu não cantava. Para ser sincero, com muita pena minha, achava que não conseguia e, para «meter água», era melhor estar calado. Isto porque tinha a noção da responsabilidade de ser filho e neto de quem era.
Mas a rapaziada estava sempre a apertar comigo (este gajo é filho de fadistas e não canta?), alguns até aventavam a hipótese de que eu não cantava porque tinha a mania de que era bom de mais para cantar ali! Mal sabiam eles a pena que eu tinha de sentir que não era capaz.
Certa noite, por insistência do Zé Inácio, grande executante de viola, mas que, na altura, fazia o acompanhamento à guitarra, acompanhado à viola pelo «Pirolito da Ericeira», começaram a dedilhar a Marcha do Marceneiro, o Zé Inácio começou a desafiar-me, era no princípio da noite, não havia ainda muitos clientes, timidamente comecei a entoar o poema Amor é Água Que Corre (eu nem calculava que, afinal, sabia o poema todo). Parece que não saiu muito mal, recordo que o tom em que cantei foi Fá (hoje canto em So/); no final, o Zé Inácio disse-me:
— Como vês, é preciso não ter medo, perder a vergonha e, a partir de agora, ir praticando.
Tomei-lhe o gosto e, durante algum tempo, só cantava este fado. Foi ainda com a ajuda do Zé Inácio que comecei a ensaiar e a cantar outros poemas, mas cantava sempre letras e músicas do repertório do meu avô.
© Vítor Duarte Marceneiro
Esta página foi escrita e publicada neste blogue a 26 de Maio de 2007, e não teve qualquer constetação!?
A 14 de Novembro de 2001 foi dada a uma rua de Lisboa no bairro de Campolide.
Aqui está a foto da placa e um artigo de Appio SottoMayor publicado no Jornal "A Capital", em que refere a "particularidade do epíteto Poeta Popular"
País de poetas é expessão já cansada do uso para definir Portugal. E, no entanto, continua verdadeira como no dia da sua invenção. Parece, porém, que na Poesia como em tudo o mais na vida, se formam classes: há uns tantos servidores das musas já tidos como académicos; há alguns (raríssimos) cujas novas produções são garantia de rápido desaparecimento dos escaparates; há uma multidão que vai esgotando sentimentos em edições de autor...
E há depois aqueles que, aparentemente sem escola e não se arrogando de angústias universais, vão compondo alo longo da vida com a facilidade de quem respira, encontrando rimas, ritmos e imagens como se tal faculdade lhes viesse de graça logo no berço. Chamam-lhes Poetas Populares. Metem a dor, a alegria, a raiva, o ciúme, o desejo, a bondade e a morte em meia dúzia de versos e passam a mensagem como se fosse dever natural. Todo um tratado de filosofia do comportamento pode, para eles, caber em poucas palavras.
Trabalho é letra vencida
Que o suor já pagou bem.
Quem trabalha toda a vida
Não deve nada a ninguém.
Carlos Conde, autor da quadra transcrita, escreveu versos em grande parte da sua vida e tornou-se conhecido porque as suas letras foram musicadas e depois cantadas por gente grande do fado. De Amália a Marceneiro, de Hermínia a Fernanda Maria, quantos fadistas interpretaram as palavras deste homem que sabia transmitir emoções.
Lisboa e o Fado têm tido a sorte de encontrar quem os sirva desta forma, eivada de simplicidade mas eminentemente artística. E, querendo ter boa memória, a cidade hoenageia o poeta, em vésperas do seu centenário, com um gesto singelo: dá hoje o seu nome a uma rua.
Carlos Conde, nascido em 1901 no Concelho da Murtosa em Aveiro e filho de pescadores, muito cedo teve de procurar melhor sorte e partiu para a então cidade dos sonhos, Lisboa!
Chegado à capital, o seu fascínio pelo Fado e o acolhimento no meio fadista, deverão ter despertado o talento nato do poeta, para a concretização da maravilhosa obra que nos legou e que hoje recordamos com saudade e emoção!
É um facto, que a grande paixão de Carlos Conde foi o Fado, mas não nos podemos esquecer das lindas cegadas, um género de teatro de rua, que faziam as delícias de multidões por alturas do Carnaval.
Não devemos apagar da memória, os célebres motes e quatro décimas com que o poeta descreveu os típicos Bairros de Lisboa, onde ainda hoje, podemos apreciar muitos detalhes que têm resistido aos malefícios do tempo e à desenfreada evolução.
Carlos Conde, foi dos melhores poetas, senão mesmo o melhor, a descrever com tal exactidão, pormenor e sentimento, os hábitos e costumes das gentes desses lindos bairros, que ao lermos a sua obra, somos, quase que por magia, transportados para a época e para os locais descritos.
Isto, para não falarmos nas deliciosas quadras, que correram Portugal inteiro, vencendo concursos de Norte a Sul e espalhando o talento do poeta, pelas almas sedentas, de palavras harmoniosas e verdadeiras.
Mas, como já afirmei, foi de facto no Fado que Carlos Conde se notabilizou, autor de centenas de letras:
( A mulher que já foi tua, Sótão da Amendoeira, Marquês de Linda-a-Velha, Feira da Ladra, Bairros de Lisboa, Revista de Fados, Não passes com ela à minha rua, Trem desmantelado, etc, etc.)
e para sempre imortalizadas nas vozes de: Amália, Argentina Santos, Maria da Fé, Carlos do Carmo, Fernando Maurício, Fernanda Maria, os Marceneiros (Pai, filho e neto), Lucília do Carmo, Ercília Costa, Ada de Castro, Rodrigo, João Ferreira Rosa, Gabino Ferreira, Raul Pereira, Adelina Ramos, Maria Amélia Proença e tantos outros.
Carlos Conde deixou de escrever para nós dia 12 de Julho de 1981, levando consigo as mais douradas décadas de fado.
Apesar da saudade latente, de um homem humilde e sincero, gravada para sempre em nossos corações, o que mais nos deve angustiar, é o facto de só após todos estes anos, compreendermos a dimensão do vazio deixado pelo homem que mais escreveu para o fado e só por isso a sua chama será eterna.
O reconhecimento por parte da Câmara Municipal de Lisboa, ao atribuir o seu nome a uma das artérias da cidade, vem repor justiça, à memória de um homem que tanto amou Lisboa.
Obrigado Carlos Conde!
http://carlosconde.com.sapo.pt/
Paulo Conde, 25 de Maio de 2007
Vitor Duarte e Paulo Conde
Paulo Conde é bisneto de Carlos Conde, é o autor da sua monobiografia “FADO – Vida e Obra do Poeta Carlos Conde”. Escreve o autor na contracapa do seu livro:
Quando decidi eternizar em livro a vida e obra do poeta Carlos Conde, moveu-me para além do sangue e impulsos de descendência, uma vontade expressa de tributar o Fado.
Nutro pelo Paulo uma amizade e carinho, que nasceu no momento em que nos conhecemos, honra-me saber que o sentimento é recíproco, a nossa troca de “cartões” como se pode verificar na foto abaixo, foi a troca das nossas obras de que muito nos orgulhamos.
Obrigado Paulo Conde pelo documento que deixaste para a história do Fado e desse grande poeta entre os poetas, Carlos Conde teu bisavô.
Vitor Duarte Marceneiro 26-05-2007
Alma fadista
Conheço o Vítor Duarte destas andanças de homenagear o fado, é algo que nos está no sangue e como temos amizades cruzadas por consagrados ascendentes do meio fadista, não degenerámos. Prova disso é o notável trabalho (e se não conhecesse o Vítor pessoalmente, diria que era um génio) de colocar Lisboa no Guiness. Lisboa a cidade mais cantada do mundo, vai concerteza encher de orgulho o povo lusitano, porque nisto de reconhecimentos fora de portas há que deixar regionalismos de parte.
Deixo aqui um abraço de carinho e admiração ao Vítor, para quem o fado é uma forma de vida, sem aprumos de circunstância nem vaidades mascaradas, mas simplesmente um acto natural e reflexo como o pulsar do coração.
Paulo Conde - Bisneto 25-05-07
Carlos Conde é um dos poetas com mais poemas sobre Lisboa:
FLORES DE LISBOA
Letra de Carlos Conde
Música de: Túlio Pereira
Sempre a rir, sempre a cantar
Esta Lisboa bonita
Beija quem a sabe amar
E abraça quem a visita
Lisboa não se afadiga
De cantar a vida inteira
Tem p´ra tudo uma cantiga
A Cidade Cantadeira
A quem visita
Esta Lisboa
Terra que o mundo prende em fortes laços
Os nossos beijos
Com os desejos
A que voltam de novo a nossos braços
O meu país
P´ra ver feliz
Quem nos rende amizade fraternal,
Concede flores
De vivas cores
Colhidas nos jardins de Portugal!
Lisboa deita-se tarde
E tão bem o fado entoa
Que nunca falta quem guarde
Uma nesga de Lisboa!
Canta e sente um bem profundo
Pois é feliz e contente
A cantar p´ra todo o mundo
E a sorrir para toda a gente
Vítor Duarte Marceneiro canta: Bairros de Lisboa
Carlos Conde também era um poeta de esperança, de fé no futuro.
Carlos Conde (Trineto de Carlos Conde
Beatriz Duarte e Alfredo Duarte (Bisnetos Marceneiro)
Oh! Desventura, Oh! Saudade
Causas da minha inconstância
Dai-me pedaços de infância
Retalhos de mocidade
Dai-me a doce claridade
Roubando-a ao tempo atroz
Eu queria ter a minha voz
Para cantar o meu passado
E é tão bom cantar o fado
E ter quem goste de nós
Alfredo Marceneiro canta
È Tão bom Ser Pequenino
Carlos Conde tinha uma visão muito profunda das injustiças sociais, foi dos poetas de fado com mais poemas censurados.
Alfredo Marceneiro fala de Carlos Conde
"JANELA DA VIDA"
Letra de: Carlos Conde
Música: Alfredo Marceneiro
Para ver quanta fé perdida
E quanta miséria sem par
Há neste orbe, atroz ruim
Pus-me à janela da vida
E alonguei o meu olhar
P´lo vasto Mundo sem fim.
Pus todo o meu sentimento
Na mágoa que não se aparta
Do que mais nos desconsola;
E assim a cada momento
Vi buçais comendo à farta
E génios pedindo esmola!
Vi muitas vezes a razão
Por muitos posta de rastos
E a mentira em viva chama;
Até por triste irrisão
Vi nulidades nos astros
E vi ciências na lama!...
Vi dar aos ladrões valores
E sentimentos perdidos
Nas que passam por honradas
Vi cinismos vencedores
Muitos heróis esquecidos
E vaidades medalhadas
Vi no torpor mais imundo
Profundas crenças caindo
E maldições ascendendo
Tudo vi neste Mundo
Vi miseráveis subindo
Homens honrados descendem
Por isso afirmo com siso
Que p´ra na vida ter sorte
Não basta a fé decidida
P´ra ser feliz é preciso
Ser canalha até à morte
Ou não pensar mais na vida.
Vítor duarte Marceneiro
Diz o poema Janela da Vida
JÚLIO PROENÇA (de facto Júlio da Fonseca), cantador de voz quente e sentimental, nasceu em Lisboa, na Rua do Capelão, n.º 20 (perto da casa onde morou a Severa), em pleno coração da Mouraria, e ali aprendeu a cantar com a mãe, mais tarde mudou-se para o Bairro Alto (Rua das Gáveas).
Em 1917, pela mão do cantador António Lado, começou a cantar como amador em festas de beneficência, nos retiros, em esperas de touros, em cinemas, nos teatros ApoIo, Trindade, Avenida, Maria Vitória e no Salão Artístico de Fados. E em 1927 tomou parte, ainda como amador, numa digressão por várias localidades do País - a primeira que se realizou no género - com Joaquim Campos, Alberto Costa, Raul Ceia e Maria do Carmo, os guitarristas Armandinho e Herculano Rodrigues e o violista Abel Negrão.
Júlio Proença tornou-se cantador profissional em 1929, ano em que no Coliseu dos Recreios participou na opereta Mouraria. Actuou também nos teatros Joaquim de Almeida, Eden-Teatro, S. Luís, Capitólio e Variedades, nos clubes Monumental, Ritz, Olímpia e Maxim's, no Retiro da Severa, no Solar da Alegria (que reabriu sob a sua direcção e a de Deonilde Gouveia em Março de 1931) e nos Cafés Ginásio, Mondego e Luso.
Com um estilo sentimental e boa dicção, Júlio Proença cantou versos dos poetas Augusto Sousa, Fernando Teles, Júlio Guimarães, Henrique Rego, Frederico de Brito e João Linhares Barbosa, e distinguiu-se como autor de música de fados, entre eles o Fado Proença, Fado Camélias e Fado Moral. Das suas interpretações gravadas em disco, citam-se: Como Nasceu o Fado, Três Beijos, Olhos Fatais, Mentindo Sempre, Meu Sonho, Minha Terra, Meu Sentir, Saudade, etc.
Em 1946 foi homenageado numa festa realizada na Sala Júlia Mendes no Parque Mayer.
Parte para Moçambique onde veio a falecer em 1970
© Vítor Duarte Marceneiro
Em 29 de Setembro de 2012 após receber esta mensagem, que me enterneceu, e me fez ver quanto esteb trabalho é importante para alguns, publiquei uma página sobre este grande músico, que tive o prazer de conhecer pessoalmente.
-----Mensagem original-----
De: Virgínia gomes
Enviada: quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008 13:10
Para: fado.em.movimento@sapo.pt
Assunto: Conhece o viola Júlio Gomes?
Importância: Alta
Caro Vítor Marceneiro,
Em primeiro lugar os meus parabéns pelo seu site. Deve ter lido isto um milhão de vezes mas o que e um facto e que depois de muitos anos a tentar no "Trilho das Memórias " encontrar imagens do meu tio avo Júlio Gomes que era um viola de vários fadistas afamados, vejo na sua pesquisa uma possibilidade de ajuda nesta tarefa.
Vivo desde há cinco anos em Londres e actualmente dividida entre UK e Franca. Tenho procurado na net e youtube sem sucesso. Cresci a ver o meu tio na Tv a acompanhar vários fadistas, sei que acompanhou mesmo Amália Rodrigues nos seus primórdios, creio que no Luso. Apesar de não ser uma expert em assuntos de fado sinto por esta expressão musical tudo o que um português normal deveria sentir...admiração e nesta coisa de genes toda a minha família e musical e tenho um filho que curiosamente depois de passar pelo violino e piano escolheu agora como instrumento preferencial a guitarra. Mais uma razão para que lhe mostre aquilo que o tio-bisavô deu ao fado.
Será que me pode ajudar?
Atentamente
Virgínia Gomes
Natural do bairro de Alcântara, onde nasceu em 1909. Faleceu em 1995
José Nunes Alves da Costa (José Nunes) nasceu no Porto na freguesia de Paranhos em 28 de Dezembro de 1916.
Com cerca de 5 anos aprende a dedilhar o Fado Menor numa guitarra que pertencia a um sapateiro vizinho de seus pais.
Com oito anos de idade vem para Lisboa estudar, co dezasete anos completou o Curso de Electrotecnia.
Começa a frequentar uma taberna à Rua dos Cavaleiros, que tinha à disposição de quem soubesse tocar uma guitarra e uma viola, à tarde o local era frequentado por gente do Fado onde os seus dotes a ninguém passou despercebido.
Ainda como amador mas já não sendo um principiante José Nunes exibe-se no Café Ginásio, no Café Luso (Avenida da Liberdade), e ainda em tertúlias fadistas.
É em 1936 com vinte anos de idade que se estreia como profissional no Café Mondego (mais tarde Retiro dos Marialvas), acompanhado por um dos mais conceituados tocadores de viola de Fado da época, Alfredo Mendes.
Em 1945 com a reabertura do Solar da Alegria, sob a direcção artística de Júlio Proença, é contratado, ali levam a efeito as noites de “Fado Antigo” era nessa altura cabeça de cartaz Fernanda Peres “ a voz nostálgica do Fado”, José Nunes à frente de um conjunto de guitarras e violas dos quais fazem parte Casimiro Ramos, Alfredo Mendes e Pais da Silva, onde cada vez ganha mais admiradores, há quem o compare ao Grande Armandinho .
Mais tarde actua no Café Luso ( Travessa da Queimada), onde se mantém sete anos, rescinde o contrato porque decide tirar partido do seu curso e talvez uma maior estabilidade profissional, e ingressa na Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, onde chega a exercer o cargo de Chefe Ajunto da rede geral de gás, conseguindo no entanto conciliar esta actividade com a de músico.
Tocou em directo como era costume na época em várias rádios, mas foi na Emissora Nacional que mantém às sextas-feiras durante cerca de trinta anos um programa que foi decerto inspiração para muitos futuros guitarristas.
Em 1956 é o primeiro guitarrista a actuar na Radiotelevisão.
José Nunes tocou praticamente para todos os fadistas e gravou com muitos deles, permitam-me que realce, eu próprio tive a honra de gravar um EP para a Valentim de Carvalho, e um dos temas desse disco era precisamente o poema que Artur Ribeiro fez para mim, e uma pessoa que tal como se diz do meu avô tinha (um certo mau feitio), só me posso recordar que foi de uma simpatia e de uma colaboração, aliadas a alguns conselhos que nunca poderei esquecer.
Foi guitarrista de Amália em Portugal e no Estrangeiro, mas acaba por dar lugar a outro, pois tem a fobia de andar de avião.
È autor de vários fados e variações, saiu à cerca de dois anos um "cd - O Melhor de José Nunes" com as suas variações que é uma tal virtuosidade, ouvi-lo causa arrepios de prazer fadista.
A sua guitarra cala-se em 23 de Janeiro de 1979, no seu cortejo fúnebre a grande maioria dos músicos e gente do Fado, prestam-lhe a sua sentida homenagem.
José Nunes toca em homenagem a Lisboa e ao Poeta/compositor Artur Ribeiro e ao compositor Raul Ferrão
Video-Clip realizado por Vítor Marceneiro
Ficha Técnica:
Imagem , montagem e sonorização: Vítor Duarte Marceneiro
Execução musical por: José Nunes
Temas: Lisboa -música de Raúl Ferrão para o poema de Artur Ribeiro
Rosinha dos Limões - Música de Artur Ribeiro
Lisboa não sejas Francesa - Raúl Ferrão