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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Segunda-feira, 31 de Março de 2014

MALHOA... Mestre José Malhoa (1855-1933)


 

José Victal Branco Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha.

Veio para Lisboa onde fez toda a sua educação artística. Foi no início um pintor de assuntos de ar-livre. Passa por várias fases do desenrolar da sua criatividade. É assim que pinta a festa de S. Martinho e «O Fado», onde as figu­ras saem fora da vida para se impre­gnarem duma transfiguração impar. São os bêbados e os párias, vinho, e a meia-luz das vielas sombrias.

«O Fado», sobretudo, é uma alegoria pungente; um par amoroso numa atitude aviltante, num interior de lupanar onde não falta o olhar comise­rado duma estampa do Senhor dos Passos, com a túnica roxa e a cruz às costas.

Mas o povo de Lisboa tem-lhe prestado o culto da admiração, glosando o seu motivo com pretextos da glorificação, e ama este quadro como jóia preciosa. O Fado de Malhoa!          

Cantou-o a voz de Amália Rodrigues e tantas outras. Tem sido motivo de inspiração de cantigas e bailados nos teatros musicados; foi argumento de filmes, legenda de calendário, polémica de estudos, glosa de versos populares… e anda decorado na pupila dos lisboetas como estampa que é bem sua.

«A Voz de Portugal» na sua edição de 15 do Outubro de 1955 transcreve a história desta obra de arte ligada à cantiga popular portuguesa, como homenagem ao pintor que foi enaltecido em bronze numa praça da sua terra natal, num texto de António Montez.

Amigo de Lisboa e português dos melhores, entendeu o artista dever mostrar ao mundo a pintura que tanto o prendeu.

A França, a Espanha, a Inglaterra e a Argentina apreciaram o trabalho, deram-lhe altas recompensas, o que, por si só, justifica a sua aquisição pela Câmara Municipal de Lisboa, que não quis, perder a oportunidade de guardar no «Museu da Cidade» um quadro de realismo impressionante, sem dúvida a pintura mais lisboeta na obra do Mestre.

Mas para Malhoa não foi tarefa fácil a escolha dos modelos para o quadro!

Ao tempo, havia na Mouraria um fadista que dava que falar, conhecido pela alcunha de «Pintor».

As visitas diárias de Malhoa, à viela sombria da Rua do Capelão, começaram a chamar a aten­ção das desgraçadas do bairro castiço, que, para evitar confusões, passaram a chamar a Malhoa «O Pintor Fino». Aliás foi uma delas que lhe indicou o rufião Amâncio – tocador de guitarra que manejava a navalha como poucos –, para modelo do qua­dro que havia de imortalizar Malhoa.

O primeiro encontro do pintor com o fadista, em plena Mouraria, consti­tuiu um acontecimento sensacional, pois deu lugar à apresentação da Adelaide, também chamada «Adelaide da Facada», por virtude dum traço largo e profundo que tinha do lado esquerdo do rosto, razão que levou o Mestre a mudar a posição que tinha esboçado inicialmente para os retratos.

Malhoa disse o que queria, pôs con­dições, e como a oferta de seis vinténs por sessão, foi considerada bastante compensadora, o Amâncio garantiu que Adelaide não faltaria nunca!

Foi sol de pouca dura, pois Amân­cio, ruído de ciúmes, agredia a compa­nheira logo que o pintor voltava costas, acabava por vir a polícia, e lá iam os dois para o Governo Civil, a insultarem-se mutuamente, mas o mestre Malhoa, com a sua influência pessoal, lá conseguia li­bertar os turbulentos modelos.

A certa altura, Malhoa fez descer a alça da camisa da infeliz. O Amâncio, cada vez mais ciumento, não gostou da graça, azedou-se, e de mão no bolso e ar ameaçador, disse ao Mestre que não era para brincadeiras. Não se sabe o que se passou, mas a verdade é que a alça subiu para o seu lugar, da mesma forma que a saia branca gomada foi substituída pelo saiote de baeta vermelha.

 

 

 Quadro do Mestre José Malhoa " o Fado"

 

 FADO MALHOA

Criação de Amália Rodrigues

Letra de: José Galhardo 

Música de: Frederico Valério


 

 

A publicidade que aparece no video é da responsabilidade do Youtube

 

 

FADO MALHOA

Alguém que Deus já lá tem

Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.

                                               Subiu a um quarto que viu
                                               A luz do petróleo
                                               E fez o mais português
                                               Dos quadros a óleo
                                               Um Zé de Samarra
                                               Com a amante a seu lado
                                               Com os dedos agarra
                                               Percorre a guitarra
                                               E ali vê-se o fado.

Faz rir a ideia de ouvir

Com os olhos senhor
Fará mas não para quem já

Ouviu mas em cor

Há vozes de Alfama

Naquela Pintura

E a banza derrama

Canções de amargura

 

                                                 Dali vos digo que ouvi
                                                 A voz que se esmera
                                                 Dançando o Faia banal
                                                 Cantando a Severa
                                                 Aquilo é bairrista
                                                 Aquilo é Lisboa
                                                 Aquilo é fadista
                                                 Aquilo é de artista
                                                 E aquilo é Malhoa

 

 

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Sexta-feira, 28 de Março de 2014

Manuel Fernandes

MANUEL FERNANDES

Nasceu em Lisboa no Bairro de Capo d´Ourique a 9 de Dezembro de 1921.
Começa a cantar como amador nas Sociedades de Recreio aos 15 anos.
Estreia-se em 1938 na verbena de Santa Catarina, passando mais tarde para o Solar da Alegria, Mondego e Luso.
Cantou em Angola , Estados Unidos e Brasil onde grava o seu primeiro disco.
Em 1957 é o representante da música portuguesa no Festival de Música Latina em Génova.
Fez parte do elenco da peça teatral “A Rosinha dos Limões” no Coliseu
Foi atracção na peça “Muitas e Boas” no Teatro ABC .
A 4 de Maio de 1962 comemora as suas Bodas de Prata artísticas no Pavilhão dos Desportos, sendo a comissão organizadora composta por Filipe Pinto e Alfredo Marceneiro.
Esteve muito anos contratado no Restaurante Típico A Severa no Bairro Alto, onde se manteve até á sua retirada.
Na sua longa carreira gravou creca de 70 discos entre Singles, EP e LP.
Das muitos poemas  que cantou, houve um que  cantava com muito sentimento, era o fado “ A Vassourinha”, poema criado por Silva Tavares e que mais tarde Domingos Gonçalves Costa aproveitando  o mote, e faz um novo poemas para Manuel Fernandes. (ver vídeo):
A minha linda Filhinha
Com sua saia de roda
Parce uma vassourinha
A varrer-me a casa toda
Manuel Fernandes faleceu em Lisboa a 20 de Maio de 1994.
 
Poema de Carlos Conde a homenagear Manuel Fernandes
Na canção como no Fado
Manuel Fernandes tem,
O desejo inconformado
De ser mais, de ir mais além!
 
Na sua linha traçada
Nada o prende nem assusta,
Porque já conhece a estrada
De quem sobe à sua custa!
 
E assim, Manuel Fernandes
Um homem que anda na berra,
Pertence à marca dos grandes
Artistas da nossa terra!
 

Do repertório de Manuel Fernandes um lindo Fado a Lisboa

 

Fui à noite á Mouraria
                 Letra de: Artur Ribeiro                
Música de: Nobrega e Sousa
 
                                           Quis ver Lisboa bairrista
                                           E andei
                                           A correr de lés a lés a cidade
                                           Fui ver Alfama fadista
                                           Onde nasceu a saudade
                                           Fui depois à Madragoa
                                           E passei
                                           Ao Bairro Alto velhinho
                                           E em todos os bairros de Lisboa
                                           Encontrei
                                           O Fado até nas pedras do caminho,
 
                                           Refrão
 
                                          Fui à Mouraria
                                          E vi
                                          Tudo o que  há muito não via
                                          Ali .
                                          Vi o fado a bailar nas vielas
                                          E os cravos a rir nas janelas
                                          Uma guitarra a trinar
                                          Ouvi
                                          E um velho a chorar o passado
                                          Vi passar a procissão
                                          E a Rosa Maria rezar a meu lado
                                          E ao passar junto ao Capelão
                                          Ouvi a Severa cantando o seu fado
 
                                          À noite o fado é mais fado
                                          E eu
                                          Quis cantar nas ruas da Mouraria
                                          Cantei em tom magoado
                                          Versos que ela nem sabia
                                          Do alto duma trapeira
                                          Desceu
                                          O som duma guitarrada
                                          E foi assim que esta Lisboa.
                                          Inteira aprendeu
                                          Um fado que nasceu na madrugada
 

 Nota: Esta página foi editada pela primeira vez em 2007

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Viva Lisboa: Fadstas do Passado
música: A Vassourinha
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Quinta-feira, 27 de Março de 2014

LÍDIA RIBEIRO

 

Este blogue, para além do prazer que me deu, em falar de Fado, e recordar Lisboa, deu-me também a oportunidade de voltar a encontrar, e conviver de perto, com gente ilustre da vida artística portuguesa. Desta vez, para além do prazer, tive a honra de conviver, com a ilustre senhora que é Lídia Ribeiro, a quem quero desde já agradecer, a maneira simpática e amável, como me recebeu. Por isso e por tudo, deixo-lhe o meu muito obrigado.

Lídia Ribeiro, nasceu em Lisboa, em 21 de Setembro de 1934, sendo a mais velha de sete irmãos.
Desde muito jovem, que se sentiu atraída pelo canto e pela musica, tendo mesmo estudado piano, embora durante pouco tempo Para cantar decorava os versos, que os cegos, e não só, cantavam nas ruas de Lisboa, acompanhados de guitarras e acordeões, e também tudo o que ouvia na telefonia, que ela depois cantava nas festas de bairro, e na escola primária, durante os intervalos.
O seu sonho era ser cançonetista, sonho que se transformou em realidade, para satisfação de todos nós, que assim tivemos oportunidade, de ouvir canções e fados, na sua bonita voz, e apreciar a sua bonita imagem.
Em 1951, com 17 anos, no famoso programa de Igrejas Caeiro, " Os Companheiros da Alegria", que tinha lugar no Jardim Cinema, inscreveu-se para prestar provas, que consistiam em cantar durante cinco minutos à capela, tendo como júri o público, que distinguia os seus eleitos, através do tempo que duravam os aplausos. O prémio para o vencedor era de 500 escudos, quantia algo significativa naquele tempo, e o tema que ela escolheu foi o fado " Foi Deus ", que lhe deu a vitória nesse dia.
A sua já bonita figura, e a sua voz, impressionaram, Igrejas Caeiro, que logo a convidou para se inscrever num concurso que ele preparava, com o nome de "À Procura de uma Estrela", embora, a tivesse convencido, para que pudesse ter mais êxito, a cantar Fado e não canção, o que ela aceitou, mas, ainda hoje afirma, sempre se tenha sentido mais cançonetista, do que fadista. Efectuado o concurso, que decorreu ao longo de cerca de um ano, Lídia Ribeiro foi eliminando as concorrentes de outros bairros, até que chegou à final, interpretando também " Foi Deus ", "vencendo" a concorrente da Voz do Operário, que era, a hoje conhecida e famosa Anita Guerreiro, que foi eliminada na pré-final. Ainda hoje, na sua simplicidade, e humildade, Lídia Ribeiro diz que desconhece, como foi possível "vencer" Anita Guerreiro! Como prémio, Lídia, passou a integrar o elenco dos " Companheiros da Alegria ", e recebeu a carteira profissional. Entretanto, também se candidatou a um concurso da extinta Emissora Nacional, dirigido pelo poeta Jerónimo Bragança, cujo vencedor foi D. Vicente da Câmara, tendo recebido uma menção honrosa, que lhe daria direito a integrar os quadros da E.N., hipótese que recusou, não só porque o cachet era inferior ao que auferia nos "Companheiros da Alegria", como também, e sobretudo, pelo reconhecimento e gratidão para com Igrejas Caeiro, que ela reconhece ter sido o seu padrinho artístico.
Todavia, por circunstâncias politicas, que são do domínio público, os "Companheiros da Alegria", tiveram curta duração, pelo que, Lídia, acabou por ingressar na Emissora Nacional. No entanto, foi durante o contrato que manteve com a Companhia, de Igrejas Caeiro, que conheceu um jovem cançonetista, o conhecido Luis Guilherme, com quem casou em 1954, tendo nascido no ano seguinte, a sua filha, a hoje conhecida e reconhecida profissional de televisão, Teresa Guilherme.

Com Luis Guilherme, e com a sua filha, (foto do lado)partem para o Brasil, em 1955, onde obtiveram grandes êxitos, tendo sido contratados para a TV Record, percorrendo depois o Brasil com um show musical, intercalando as canções de Luis Guilherme com os fados de Lídia Ribeiro, que gravou o seu primeiro disco no Brasil, que incluía o fado "Foi Deus", disco esse que enviou a Alberto Janes, que, por tanto o ter apreciado, escreveu para ela o poema " Á Janela do meu Peito", que acabou também por gravar no Brasil, e que foi o seu maior êxito, tendo sido mais tarde, cantado também por Amália Rodrigues.
Regressada a família a Portugal, em 1961, motivada pela idade escolar de sua filha, e perante o grande êxito que tinha sido o "A Janela do meu Peito", tornou-se artista da Casa Valentim de Carvalho.
Prosseguiu a sua carreira, tendo sido contratada para o Restaurante Folclore, (propriedade de Manuel Vinhas/Portugália) onde se manteve durante treze anos, participando num espectáculo vocacionado para o turismo, que proporcionava grandes digressões pelo estrangeiro, para divulgação do nosso folclore, e que contava com nomes muito prestigiados do nosso meio artístico, como, Arminda Vidal, Ada de Castro, os acordeonistas Fernando e Fernanda Guerra, o guitarrista António Chainho, o violista José Maria Nóbrega etc. Entretanto, durante a vigência do contrato com o Restaurante Folclore, foi sempre contratada, durante dois meses por ano, para actuar no Casino Estoril, então, palco apenas, para alguns eleitos.   Em 1962, com Luis Guilherme, partem para uma tournée, pelo continente africano, tendo percorrido durante ano e meio, Angola, Moçambique, África do Sul, Ex-Rodésia etc.
Em 1973, o Restaurante Folclore, fecha definitivamente, e Lídia Ribeiro é contratada, para actuar em rotação, em todos os casinos portugueses.

 

Lídia Ribeiro com a filha Teresa Guilherme, e Tony de Matos


Em 1979, une-se sentimentalmente a Tony de Matos, efectuando espectáculos em várias partes do mundo, até que, em 1985, aceitam o desafio de Marcelino de Brito, ao tempo, proprietário da casa de fados, O Fado Menor, para integrarem o elenco, juntamente com Carlos Zel e Filipe Duarte, projecto este que durou apenas dois anos.
Em 1989 Tony de Matos, deixou-nos,  partiu para o Céu, mas Lídia continuou a cantar Fado, nas Arcadas do Faia, e, por muita insistência de Maria Jó-Jó, na Taverna del Rei, onde se manteve até se retirar definitivamente em 1999.
Todavia, Lídia Ribeiro, como grande artista que é, deixou de cantar, e começou a pintar, tem quadros lindos, que eu tive o privilégio de apreciar, considera-se uma mulher feliz, continua muito bonita, (de que cor são os seus olhos, Lídia?), e é também, uma mulher e mãe privilegiada, porque tem o amor e o carinho da sua filha, agora também, apreciadora e critica dos trabalhos de pintura da sua mãe.

Além do prazer e da honra que tenho  de  ter esta foto no meu álbum de recordações, publico-a principalmente para chamar à atenção do quadro a óleo que se vê por cima do sofá, que é um dos belos quadros pintados por Lídia Ribeiro 

 

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música: Á Janela do meu peito
Viva Lisboa: Fadistas do Passado
publicado por Vítor Marceneiro às 21:00
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Terça-feira, 25 de Março de 2014

JÚLIA FLORISTA

Desde muito jovem vendia flores pelas ruas de Lisboa. Era o seu sustento que nunca abandonou. Mesmo perdendo as noites nas fadistices, era vê-la logo pela manhã na ribeira para arranjar as flores para o seu negócio, mantendo assim a sua independência.
A sua vivência na ruas da cidade boémia no inicio do Século XX, fez dela uma rapariga irreverente, provocadora nos seus ditos sarcásticos, tinha sempre uma resposta na ponta da língua para os mais atrevidos piropos, perdia a noite a cantar pelas tascas, foi muitas vezes convidada para cantar nos salões da aristocracia,
Era uma fadista sentimental de voz melodiosa, acompanhava-se à guitarra que dedilhava em estilo arrastado para cantar os seus fados.
Morreu em 1925.
Amália canta "Júlia Florista"
Júlia Florista
Letra de: Joaquim Pimentel
Música: Leonel Vilar / J. Pimentel
 
A Júlia Florista
Boémia fadista
Diz a tradição
Foi nesta Lisboa
Figura de proa
Da nossa canção
Figura bizarra
Que ao som da guitarra
o fado viveu
Vendia as flores
Mas os seus amores
Jamais os vendeu
 
Refrão
 
Ó Júlia Florista
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória
Ó Júlia Florista
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas
boémias fadistas
Da nossa Lisboa
 
Chinela no pé
Um ar de ralé
Um jeito de andar
Se a Júlia passava
Lisboa parava
P'ra ouvir cantar
No ar um pregão
Na boca a canção
Falando d'amor
Encostado ao peito
A graça e o jeito
Do cesto das flores
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música: Amália canta Júlia Florista
Viva Lisboa: Fadistas do passado
publicado por Vítor Marceneiro às 20:00
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Segunda-feira, 24 de Março de 2014

José Carlos Ary dos Santos

Ary dos Santos, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937.
Em 1954, com dezasseis anos de idade, que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garret
Em 1963 faz publicação do livro de poemas “ A Liturgia do Sangue”
Entretanto, concorre, sob pseudónimo, ao Festival da Canção da RTP com os poemas “Desfolhada” e “Tourada” obtendo os primeiros prémios.
Autor de mais de seiscentos poemas para canções, gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira.
Numa iniciativa do Partido Copmunista Português houve dois espectáculos em Lisboa e no Porto, sendo  Ary dos Santos o apresentador intitiulado "25 Canções de Abril". (*)
À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado, “As Palavras das Cantigas” onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada.
O poeta deixou-nos a 18 de Janeiro de 1984. Postumamente, o seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida.
ARY DOS SANTOS É SEM SOMBRA DE DÚVIDAS UM DOS GRANDES POETAS QUE "CANTOU" LISBOA...
(*) Deste espectáculo foi feito um filme em 16mm, com imagem de Carlos Gaspar, realização de Luís Gaspar e direcção de som Vítor Duarte (Marceneiro). Também foi editado um LP
Poema declamado por Ary dos Santos
"Retrato de Amália"
 
 
ALGUNS POEMAS FEITOS POR ARY DOS SANTOS PARA OS SEGUINTES ARTISTAS:
Amália Rodrigues
Meu amor, Meu Amor, Alfama, Rosa Vermelha, Amêndoa Amarga, O Meu é Teu, O Meu Amigo está Longe
 
Beatriz da Conceição
Meu Corpo
 
Carlos do Carmo
"Um Homem na cidade, Rosa da Noite, O Amarelo da Carris, O Cacilheiro, Fado da Pouca Sorte,
Fado do Campo Grande, Fado dos Azulejos, Fado Varina, O Homem das Castanhas, Nova Feira da Ladra,
Namorados da Cidade, Balada para uma Velhinha, Kirie, Lisboa Menina e Moça, Fado dos Cheirinhos,
Estrela da Tarde, Fado dos Açores, Fado da Madeira, Fado Lezíria, Fado Burrico, Fado da Serra,
Fado das Amendoeiras, Fado do Minho, Fado do Trigo, Fado Moliceiro, Fado Transmontano,
Fado Excursionista, Fado Manguela, Os Putos"
 
Fernando Tordo
"Carta para um Amigo, Cavalo à Solta, Tourada, É Tarde Meu Amor, Canto Franciscano, O Trabalho, Fado do Operário Leal, Os Bonzinhos e os Malvados, Balada para os Nossos Filhos, Retrato, O Amigo que Eu Canto"
 
Hugo Maio de Loureiro
Canção de Madrugar
 
José Afonso
A Cidade
 
José Manuel Osório
Desespero, Fado do Miradouro
 
Luísa Basto
De Pé, Oh Companheiro
 
Maria Armanda
Mãe Solteira, Fado-Mulher
 
Paulo de Carvalho
Semente, Quando um Homem Quiser, Amor Livre
 
Simone de Oliveira
Desfolhada, Avé Maria do Povo, Intróito, Sete Letras, Mulher Presente, As Pedras Preciosas, Os Metais,
Planta Carnívora, Os Pinheiros, Os Gatos, O Marisco, A Cidade, O País, O Nome
 
Teresa Silva Carvalho
Adágio
 
Tonicha
Menina, A Voz do Meu Povo, Rosa Rosa,
 
Vasco Rafael
"Roseira, botão de gente"
 
 
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Viva Lisboa: Grande Poeta
música: Retrato de Amália - Fado Amália
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José Carlos Ary dos Santos - O Cacilheiro

    

Quadro a óleo do Mestre Real Bordalo

 

 

O  CACILHEIRO 

 

 

 Poema de: Ary dos Santos

Música de: Paulo de Carvalho


Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
comboio de Lisboa sobre a água:
Cacilhas e Seixal Montijo mais Barreiro.
pouco Tejo pouco Tejo e muita mágoa.
 
Na ponte passam carros e turistas
iguais a todos que há no mundo inteiro,
mas embora mais caras a ponte não tem vistas
como as dos peitoris do Cacilheiro.
 
Leva namorados
marujos soldados
e trabalhadores
e parte dum cais
que cheira a jornais
morangos e flores.
Regressa contente
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.
 

 
Num carreirinho aberto pela espuma
lá vai o Cacilheiro Tejo à solta,
e as ruas de Lisboa sem ter pressa nenhuma
tiraram um bilhete de ida e volta.
 
Alfama Madragoa Bairro Alto,
tu cá tu lá num barco de brincar
metade de Lisboa à espera no asfalto e
já meia saudade a navegar.
 
Se um dia o Cacilheiro for embora
fica mais triste o coração da água
e o povo de Lisboa dirá como quem chora, 
pouco Tejo pouco Tejo e muita mágoa.

 

  

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Viva Lisboa: Grande amante de Lisboa
música: Poema O Cacilheiro
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Sábado, 22 de Março de 2014

Lisboa Vista do Céu - Eu amo Lisboa

Magníssimo video de "LISBOA VISTA DO CÉU" gentilmente cedido para ser inserido neste blog,  por «FALCÃO AZUL» Penso que todos os que amamos Lisboa, ficamos gratos, por nos ser possivel ver a nossa linda cidade por ângulos para alguns inimagináveis.

O muito obrigado a todos os intervenientes, em especial a Carlos Sargedas, pela sua anuência imediata ao meu pedido.

FICHA TÈCNICA

 

 Falcão Azul Serviços Aéreos em Helicopteros

http://www.falcaoazul.com/site/index.php,

  • Produção   : Carlos Sargedas
  • Texto           : Francisco Figueiredo
  • Realização : Jorge Humberto
  • Este extraordinário filme foi galardoado com uma mensão honrosa, no Festival Internacional de Filmes de Turismo, que realizou   em Barcelos  em  Setembro de 2009

    A toda a equipa do Falcão Azul os meus sinceros parabéns, e mais uma vez o agradecimento pela permissão de usar o filme neste blogue.

    Viva Lisboa

 

 

Em 1923 Jaime Cortesão, faz-nos esta descrição, que não sei se foi da sua imaginação, se na realidade teve a oportunidade de sobrevoar Lisboa , mas o certo é, que embora  diferente seja a paisagem de então para cá, diferentes as palavras, mas Lisboa é sempre Lisboa.

 

 LISBOA VISTA DO CEU 

 

IMPRESSÕES DE UM VOO DE AVIÃO

Poema de: Jaime Cortesão (1923)

 

"Ó!, Lisboa do Tejo e das viagens,

Onde é mais fundo o Céu, há mais azul.

Perspectivas de sonho e de miragens,

Já voei sobre ti, fui alma exul,

— Pasmavam os navios junto à amarra.

Estiravam-se os serros contra o sul,

Riam ondinas alvas para a barra!

 

                                        Rias, e eu ri, lá donde as águias pairam;

                                        Nunca tão fundo riso em vida ri.

                                        Meus olhos inda, atónitos, desvairam,

                                        Ao rever-te da altura a que me ergui.

                                        O ser humano, em sua exiguidade,

                                        É pó, já não existe, acaba ali:

                                        Some-se o homem; ergue-se a cidade.

 

Vi lá em baixo, e duvidei da vista,

Parada a sombra pálida das asas,

Enquanto um alto monte, desde a crista

À base se encurvava e pelas rasas

Planuras abatia em torva espuma.

Fitei o olhar: já não se viam casas;

Dobravam-se as colinas, uma a uma.

 

                                       Dobravam-se aos galões, como o possante

                                       Oceano em seu vaivém, quando onda após

                                       Onda balouça; e eu era tão distante

                                       Que, parado, te via andar veloz;

                                       Dos homens nem a sombra lá no fundo;

                                       Só tu ganharas ser e, em vez de nós,

                                       Caminhavas agora sobre o Mundo.

 

Caminhavas ligeira, que eu bem via,

E, quanto mais as asas me libravam,

Mais fundo o olhar no abismo se embebia

E as coisas mais a custo se enxergavam.

E, ao baloiçar violento no vazio,

Eram as velas brancas que acenavam

Duma varanda em pé - o azul do Rio.

 

                                        De súbito caí num desses poços

                                        Do ar, e vi teu vulto milenário

                                        Dum tom sangrento, a carne sobre os ossos

                                        Como o rosto de Cristo no sudário;

                                        E tu, crucificada na amplidão,

                                        — Cada colina em sangue era um Calvário,

                                        ­Sofrias sete vezes a Paixão!

 

Vi-te com fundos golpes lacerada

Pela dor, pelo tempo que destrói:

O Castelo sem paço, a Sé tombada,

A Ribeira sem naus (como isto dói!);

Era o Carmo em ruína um mausoléu,

Que destaparam para ver o Herói

E, trágico, ficou de ossos ao léu!

 

                                        Baixei o olhar entre o Castelo e o Carmo

                                        E d'aí ao Terreiro, e logo veio

                                        Não sei que frio súbito gelar-mo;

                                        Cortam-te sulcos hirtos pelo meio,

                                        E bem se vê, de fundos, quem os fez:

                                        Da praça aos cinco golpes do teu seio

                                        Gravam-se a palma e os dedos do Marquês.

 

Como antigas ossadas de gigantes,

Vi o mosteiro e a torre de Belém;

E, em baixo, pela praia, os mareantes,

Levando uma ave enorme para o vau,

Agitavam-se inquietos, como dantes,

Ao desfraldar as velas duma nau.

 

                                        E sob um arco de triunfo aberto

                                        (Via-se à barra o arco da Aliança)

                                        Encarnando o fantasma do Encoberto,

                                        Em corpo de saudade e de esperança,

                                        Sopro de luz, de vento e azul etéreo,

                                        Larguei à desfilada, erguendo a lança

                                        Pelas planícies desse Quinto Império.

 

E ao longe o vulto, eu bem te vi erguê-lo.

Oh! Lisboa dos Mares, de monte a monte,

Desde o Castelo à praia do Restelo;

Poisaram-te Os Lusíadas defronte,

Sonhavas o que foste, mas não és:

Então tocaste as nuvens com a fronte

E o Tejo, manto azul, caiu-te aos pés 

Segui e à beira d'água, mais além,

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Sexta-feira, 21 de Março de 2014

Carlos Conde - Poeta Popular

 

 

 FADO DE ESPERAÇA E FÉ, Carlos Conde também era um poeta de esperança, virado para o futuro.

 

Carlos Conde (Trineto de Carlos Conde      Beatriz Duarte e Alfredo Duarte (Bisnetos Marceneiro)               

                                          

“È TÃO BOM SER PEQUENINO”
Letra de: Carlos Conde
Música: Corrido ou Mouraria
 
                            É tão bom ser pequenino
                            Ter pai, ter mãe, ter avós
                                     Ter esperança no destino
                                     E ter quem goste de nós
 
                                     A velhice traz revés
                                     Mas depois da meninice
                                     Há quem adore a velhice
                                     Para ser menino outra vez
                                     Ser menino que altivez
                                     De optimismo e desatino
                                     Ver tudo bom e divino
                                     Tudo esperança, tudo fé
                                     Enquanto a vida assim é
                                     È tão bom ser pequenino
 
                                     Ver tudo com alegria
                                     Sem delongas sem demoras
                                     Viver a vida numa hora
                                     Eternidade num dia
                                     Ter na mente a fantasia
                                     Dum bem que ninguém supôs
                                     Ter crença sonhar a sós
                                     Com a grandeza deste mundo
                                     E para bem mais profundo
                                     Ter pai, ter mãe, ter avós
 
                                     Ter muito enlevo a sonhar
                                     Acordar e ter carinho
                                     Ter este Mundo inteirinho
                                     No brilho do nosso olhar
                                     Viver alheio ao penar
                                     Deste orbe torpe ferino
                                     Julgar-se eterno menino
                                     Supor-se eterna criança
                                     E num destino sem esperança
                                     Ter esperança no destino

 

 

                                    

                                     Oh! Desventura, Oh! Saudade

                                     Causas da minha inconstância

                                     Dai-me pedaços de infância

                                     Retalhos de mocidade

                                     Dai-me a doce claridade

                                     Roubando-a ao tempo atroz

                                     Eu queria ter a minha voz

                                     Para cantar o meu passado

                                     E é tão bom cantar o fado

                                     E ter quem goste de nós

 

                       

 

 Alfredo Marceneiro canta

É TÃO BOM SER PEQUENINO

Letra de Carlos Conde

Música Popular

 

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música: É tão bom ser pequenino
Viva Lisboa: Grande Poeta Popular
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Quinta-feira, 20 de Março de 2014

ALBERTO RIBEIRO - Actor de Cinema e Cançonotista

 

 Nasceu em Ermesinde a 29 de Fevereiro de 1920.

Oriundo de uma família de artistas, tinha um irmão e uma irmã que também cantavam, mas que não foram muito conhecidos.

Com a sua voz extensa, de grande facilidade nos agudos, de timbre quente, que se podia colocar ao lado dos grandes cantores da sua época mesmo no estrangeiro, onde também era apreciado.

Obteve grande de popularidade, surgiu como intérprete principal do filme "Capas Negras" contracenando com Amália Rodrigues, continuando no período que se lhe seguiu como vedeta de cinema em várias películas nacionais e internacionais.

Em 1946 é inaugurada no Parque Mayer a “Sala Júlia Mendes” sendo Alberto Ribeiro primeira figura de cartaz ao lado de Amália Rodrigues.

Foi o galã de inúmeras operetas, quer pela sua figura, quer pelo seu cantar era o intérprete ideal, para um espectáculo muito em voga na época, mas muito cedo se retirou de cena sem que houvesse uma quebra de popularidade e de prestígio, que o justificasse.
Eis que vinte e cinco anos depois da primeira apresentação da opereta "Nazaré" reaparece novamente, igual a si mesmo, sem a mínima perca nos dotes da sua voz, que tantos admiradores conquistou.
Passado pouco tempo, retira-se novamente de cena, sem que ninguém o compreenda, remetendo-se a um silêncio que ninguém conseguiu até hoje quebrar, mas o público não o esquece, e com os seus a serem reeditados consecutivamente,  são a prova definitiva que a fidelidade dos admiradores de sempre tem arrastado consigo novos ouvintes interessados, e também eles fascinados por uma voz cujas raras qualidades perduram, a despeito da sua inexplicável decisão de se afastar dos palcos, no apogeu da sua carreira.

Alberto Ribeiro faleceu em Lisboa no ano de 2000

 

 

 

Video-Clip com pinturas de Mestre Real Bordalo. Alberto Ribeiro canta " Adeus Lisboa "

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música: Adeus Lisboa
Viva Lisboa: Grande Artista
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Terça-feira, 18 de Março de 2014

ADELINA RAMOS - Fadista

 

 

Nasceu em Lisboa (Monte Pedral), no bairro da Graça, a 14 de Junho de 1916.

 

Aos  14 anos, canta pela primeira vez no Grémio Instrutivo Familiar Os Trovadores,  nesta sociedade recreativa do bairro da Graça, fazima-se grandes noites de Fado, por lá passaram, Leonor Duarte (cunhada de Alfredo Marceneiro) , o próprio  Alfredo Marceneiro e seu irmão Júlio Duarte, Ercília Costa, Berta Cardoso e muito outros.

 

Adelina Ramos faz assim a sua entrada na vida artística, mantendo-se como amadora durante cerca de quatro anos (1929-1933), espaço de tempo em que é muito solicitada para actuar em clubes recreativos e festas de beneficência. Aos 17 anos, em Março de 1933, com o intuito de auxiliar nas despesas da casa e por a sua mãe se encontrar doente, Adelina Ramos tira a carteira profissional.

 

Adelina Ramos foi uma­ das verda­deiras fadistas, que o Fado conheceu.

Os Fados que ela cantava saíam-lhe da garganta onde o bairrismo alfa­cinha, puro e nato, tem todo o encanto pitoresco da genuína expressão fadista!

Ade­lina Ramos soube conservar-se humildemente, uma grande fadista!

Foi a criadora do conhecido Fado "Não Passes com ela à minha Rua".

Ao ouvi-la cantar o «menor», o «cor­rido», o «meia-noite», etc., afirmavam os seus admiradores:

— Sente-se o que ela canta, no mo­dular espontâneo e natural das frases musicais, que lhe saem da garganta, como saem – isto é que é Fado, meus senhores... – ela dá-nos toda uma gama de sentimentos e emoções que no Fado procura­mos e admiramos. Em noite grande, Adelina empolga, can­ta a garganta, cantam os olhos, cantam os gestos… E, quase sem nos apercebermo-nos, suavemente fi­camos presos na magia da sua voz, que nos embala a alma, dizendo-nos coisas de amor, de saudade, de ciúme, de re­volta... Sentimo-nos extasiados, fere-nos a carícia da sua voz a desvendar-nos esse mundo íntimo e profundo, que palpita em todos nós, e só o Fado consegue revelar.

Adelina Ramos, recolheu-se nos últimos tempos da sua vida na Casa do Artista, local onde faleceu a 27 de Julho de 2008, como a data foi num fim-de-semana, não houve uma divulgação eficaz da efeméride, e assim,  os seus amigos e admiradores, nos quais me incluo, não puderam prestar-lhe a última e condigna homenagem.

Assisti desde muito miúdo,   quando ía com o meu avô ao Bairro Alto, pois este,  não deixava de passar sempre pelo restaurante típico, de que era proprietária com o marido, Batista Coelho, onde assisti a grandes noites de Fado.

A Tipoia foi um recinto por onde passaram quase todos os grandes nomes do Fado da época, assim como figuras de relevo da nossa  sociedade e da cultura.

Recordo noites fantásticas em que José Carlos Ary dos Santos,  lá se encontrava,  e não se escusava a declamar poemas seus, que faziam o delirio dos presentes.

 

                                                    

                

 

Adelina Ramos

versos de: Carlos Conde     

 

Adelina Ramos. Pronto.

Não é preciso mais nada,

Nem há lugar p'ra confronto

Nesta artista consagrada.

 

Canta o fado à moda antiga,

E dos laivos do passado

Às rimas de uma cantiga

Tudo tem sabor a fado.

 

Pela expressão saudosista

Que imprime aos fados que entoa,

Há quem lhe chame a fadista

Mais fadista de Lisboa

 

 

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Viva Lisboa: Grandes vultos do passado
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Segunda-feira, 17 de Março de 2014

ANTÓNIO ROCHA - Fadista e Poeta

É não só um reconhecido talentoso fadista, estilista notável, como um poeta de mérito. Começou a cantar aos 8 anos, e aos 13 conquistou o 1º lugar do concurso do jornal Ecos de Portugal (1951). Canta no restaurante Ribamar, na Cova da Piedade e no Pancão em Almada, mas só em 1956 obtém a carteira profissional, estreando-se no Retiro Andaluz. Rocha inicia então uma fulgurante carreira actuando nas mais diversas casas típicas e palcos nacionais. Em 1959 no Café Luso é eleito “Rei do Fado Menor”, voltará a ser “coroado”oito anos mais tarde como “Rei do Fado”, resultante de um concurso da revista Plateia, paralelo ao dos Reis da Rádio.

No final da década de 1960 na companhia de Ema Pedrosa e Armando Marques Ferreira, assina uma rubrica semanal no Clube Radiofónico de Portugal intitulada “Pergunte o que quiser sobre fado. António Rocha responde”. Esta terá sido a primeira experiência de divulgação do modus faciente do fado junto do grande público. Aliás este mesmo entusiasmo levá-lo-á a integrar, em 1994, o núcleo fundador da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, de que é sócio honorário.

Entretanto continua a editar discos, onde inclui letras suas, de António José, Artur Ribeiro, Domingos Gonçalves Costa, Hermano de Sobral e de vários outros poetas. Foi o primeiro fadista a gravar “Vou dar de beber à dor” (Alberto Janes ), depois da sua criadora, Amália Rodrigues.

Actualmente integra o Gabinete de Ensaios do Museu do Fado e além das várias actuações no estrangeiro, canta nas Arcadas do Faia, ao Bairro Alto.

Além fronteiras, refira-se a sua participação no Festival de Música de Nantes, no de Música da Flandres em Gent ou no de Músicas do Mundo em Barcelona, nos Encontros da Música em Tenerife e no XXIII Festival Sabandeño , em 2001, também em Tenerife.

Entre a sua vasta discografia, saliente-se o álbum Tears of Lisbon ” gravado com Beatriz da Conceição, sob a direcção do maestro Paul van Nevel , ou “Silêncio, ternura e Fado” (Ovação) onde canta poemas de sua autoria, entre eles, “Um hino à vida”, “Procura vã” ou “Olhos esquivos”.

Em 2006 é-lhe atribuído o “PRÉMIO AMÁLIA RODRIGUES CARREIRA MASCULINA”

Nuno Lopes

 

Conheço o António Rocha, desde que me conheço no Fado, nutro por ele uma admiração quer artística, quer pessoal, pois é uma pessoa que tem uma postura e uma maneira de estar a todos os níveis irrepreensível , o que hoje se vai tornando raro quer na nossa sociedade quer no meio artístico .

 

Vítor Marceneiro

 

O fadista António Rocha. Trata-se de uma grande figura do Fado dos nossos dias, que preserva uma tradição de bem estilar hoje cada vez mais rara, mostrando bem de que maneira mesmo no repertório fadista mais clássico é possível a um grande artista deixar uma marca individual inconfundível . Ouvi-lo é sempre uma lição de inteligência musical e de uma força expressiva que nos afecta profundamente. É por coisas como estas, é por fadistas desta fibra que o Fado é tão importante para todos nós e que o queremos defender na sua essência, sem negarmos a sua capacidade evidente de evoluir mas salvaguardando sempre a sua ligação às raízes em que nos reconhecemos.

 

Rui Vieira Nery

 

 

António Rocha canta Boneca de Porcelana

 

 

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Viva Lisboa: Grande Fadista
música: Boneca de Porcelana
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Domingo, 16 de Março de 2014

Natália Correia - Grande Mulher Portuguesa

 

Natália de Oliveira Correia nasceu na Fajã de Baixo na ilha de São Miguel – Açores, em 13 de Setambro de 1923.

Veio ainda criança estudar para Lisboa, iniciando muito cedo a sua actividade literária.

Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou se como poetisa, ensaísta, romancista, passando pelo teatro e investigação literária, Natália foi também uma figura destacada da luta contra o fascismo. Vários livros seus foram apreendidos pela censura, tendo sido condenada a três anos de prisão com pena suspensa, por abuso de liberdade de imprensa. Foi também deputada depois do 25 de Abril e também nesse papel foi uma figura marcante e inesquecível.

Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.

Faleceu em Lisboa em 1993 no dia 16 de Março

A sua obra está traduzida em várias línguas.

Obras poéticas: "Rio de Nuvens" (1947), "Poemas" (1955), "Dimensão

Encontrada" (1957), "Passaporte" (1958), "Comunicação" (1959), "Cântico do

País Imerso" (1961), "O Vinho e a Lira" (1966), "Mátria" (1968), "As Maçãs

de Orestes" (1970), "Mosca Iluminada" (1972), "O Anjo do Ocidente à Entrada

do Ferro" (1973), "Poemas a Rebate" (1975), "Epístola aos Iamitas" (1976),

"O Dilúvio e a Pomba" (1979), "Sonetos Românticos" (1990), "O Armistício"

(1985), "O Sol das Noites e o Luar nos Dias" (1993), "Memória da Sombra"

(1994).

Ficção: "Anoiteceu no Bairro" (1946), "A Madona" (1968), "A Ilha de Circe"

(1983).

Teatro: "O Progresso de Édipo" (1957), "O Homúnculo" (1965), "O Encoberto"

(1969), "Erros meus, má fortuna, amor ardente" (1981), "A Pécora" (1983).

Ensaio: "Poesia de arte e realismo poético" (1958), "Uma estátua para

Herodes" (1974).

Obras várias: "Descobri que era Europeia" (1951 viagens), "Não Percas a

Rosa" (1978 diário), "A questão académica de 1907" (1962), "Antologia da

Poesia Erótica e Satírica" (1966), "Cantares Galego Portugueses" (1970),

"Trovas de D. Dinis" (1970), "A Mulher" (1973), "O Surrealismo na Poesia

Portuguesa" (1973), "Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco"

(1982), "A Ilha de São Nunca" (1982).

In: Truca de Luis Gaspar

 

 

As premonições de Natália

 

"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

 "A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."

 

Natália Correia

 

Nota: Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

 

 

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Sábado, 15 de Março de 2014

MARIA LEOPOLDINA DA GUIA

Nasceu em 1946 no Ribatejo e faleceu a 19 de Junho de 2006.

Desde muito jovem que começou a cantar musica ligeira, tendo como referências, as grandes vozes dos anos sessenta, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, Maria de Lurdes Resende, etc.

Mas passada a puberdade, já muito dedicada à tauromaquia, segue-se  o gosto pelo Fado, e logo marcou um estilo muito próprio que lhe grangeou admiradores.~

Maria Leopoldina da Guia gravou o seu primeiro disco aos 20 anos., também fez parte do elenco do cd "Fado em Alcochete". Ribatejana logo aficionada pela tauromaquia, e foi com naturalidade que foram surgindo letras de Fados sobre o tema, gravou um CD dedicado ao matador de toiros Alexandre Pedro "Pedrito de Portugal" e à poetisa vila-franquense Maria Adelaide de Carvalho. Durante toda a sua vida colaborou em iniciativas de beneficência dirigidas a Clubes de Futebol, Grupos de Forcados, Escolas, Misericórdias, Lares de 3ª Idade, entre outras instituições. Em 1993, a Câmara Municipal de Alcochete atribuiu-lhe por unanimidade a Medalha de Mérito Cultural do Concelho no decorrer da homenagem que lhe foi prestada pelo Aposento do Barrete Verde de Alcochete. No ano 2000 foi também homenageada na vila da Moita - localidade onde residiu cerca de 30 anos - durante as Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem. É recordada com profunda saudade , pelo seu exemplo de vida vida, a família, os amigos, os toiros, a música e tantas e tantas actividades em que se envolveu com paixão e dedicação.                        

Foi-lhe feita uma homenagem no decorrer de um espectáculo de tauromaquia, em que a banda interpretou o “pasodoble taurino” intitulado “Maria Leopoldina Guia”, da autoria do músico e compositor António Maria Catalão Labreca, interpretado em primeira audição pela Banda da Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense. Ao longo da sua carreira gravou vários trabalhos, nos quais a alma de grande fadista esteve sempre em evidência.Esteve em alguns programas de televisão, o que nos permite vê-la e ouvi-la no video-clip que aqui public. em que canta o Fado das Penas.

 

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música: Fado das Penas
Viva Lisboa: Grande Mulher
publicado por Vítor Marceneiro às 13:00
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Sexta-feira, 14 de Março de 2014

Celeste Rodrigues

Nasceu no Fundão a 14 de Março de 1923.
Poderia ter tido o estigma de ser irmã da grande Amália, mas os amantes do fado sabem bem que ela é também uma grande fadista de alma e coração, com um estilo próprio e uma voz muito característica, voz suave, melodiosa e distinta, felizmente ainda está entre nós e canta quando lhe apetece o seu próprio repertório.
Amália e Celeste foram aquilo que é o mais natural entre duas irmãs, eram amigas e amavam-se, nunca foram rivais, as filhas da Celeste Maria Rita e Maria José eram a alegria da tia, que se não me engano era madrinha de uma delas, ou mesmo das duas.
Após a morte da sua irmã, houve atitudes de pessoas e organizações que se deviam envergonhar do seu comportamento para com a Celeste. A forma como a Celeste é recriada num espectáculo recordando a sua irmã Amália , é de um mau gosto do mais baixo nível, infelizmente não ouvi mais vozes a tomarem posição,  a critica, os investigadores, conhecedores e outros com muitas credenciais de sabedores de coisas do Fado, nada disseram sobre  o vexame feito a esta grande senhora.  Foi mais fácil bajular o empresário e encenador, o que vale, e contra isso não há argumento, é que a história traz sempre a verdade ao de cima.
Faz hoje  91 anos e é a mais antiga fadista que felizmente se encontar entre nós.
© Vítor Duarte Marceneiro
Na Viela, com Alfredo Marceneiro e o então marido Varela Silva
Com a irmã Amália ,  Alfredo Marceneiro e casal de estrangeiros
num carnaval passado na Viela

 

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Viva Lisboa: Fadistas...eu amo o Fado
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Domingo, 9 de Março de 2014

AMÁLIA em A SEVERA

Alguém profetizava em 1955:

 

 

DAQUI A CEM ANOS OS PALCOS REPRESENTARÃO A VIDA DA AMÁLIA COMO AGORA SE FAZ À SEVERA

 

 

Mas não foi preciso tanto tempo,  enquanto na história da Severa, os dados poderão ser pouco rigorosos, porque não temos fotos e pouca documentação.  No caso das histórias de Amália, que foi nossa contemporânea, penso que seja de lamentar, que havendo tantas recordações, relativamente ainda recentes, como a sua casa transformada em museu, e com tantos biógrafos, como é possível que cometam tantos erros…???!!!

 

Amália um dia disse: Quando eu morrer muita coisa se irá inventar e deturpar a meu respeito.

 

 

AMÁLIA...

 

A Última Severa

Lisboa gosta muito que lhe contem histórias da sua história.

Na galeria dos grandes amores de Portugal, a Severa e o Marialva pertencem à história da Cidade, passando contados de pais a filhos, e destes, a netos e bisnetos, como do mais enternecedor e pitoresco. O Marialva é o homem poderoso, varonil, dominador de toiros e conquistador dos salões; á fidalgo de boa estirpe e de primeira água: A Severa, erva da rua, mulher com ascendência de ciganagem, nada mais tem para se fazer valer do que a preponderância da graça da sua graça. De lume nos olhos e uma voz de estúrdia para cantar a melodia plangente e fatalista dos que choram, sofrem e gemem.

Através de um século, aparece-nos este par apaixonado, em crónicas, romances e cantigas, onde a imaginação popular se recreia e se encarna com obsessão e encanto. Não importa saber até que ponto o facto foi verdadeiro ou imaginário. É uma história bonita e apaixonada, dum fidalgo por uma

Fadista.

Ao teatro chegou esta efabulação, Júlio Dantas escreveu um drama sobre o tema, depois um romance e ainda, e a seguir, foi adaptada uma opereta.

Milhentas vezes se tem aberto a cortina dos proscénios para a Severa passar de braço dado com o Marialva, travando o diálogo fatal:

— Severa!

— Meu amor, se tu não viesses eu morria.

Com estes episódios romanceados tem vibrado as multidões em delírio, como crónica sentimental. Ângela Pinto, Palmira Bastos, Ester Leão, Emília de Oliveira, Júlia Mendes, Alice Gomes, Maria Emília Ferreira, Maria Clementina, Rafaela Haro e Dina Tereza — grandes nomes da cena — encarnaram a figura que ficou assinalada.

Mas isto foi no passado. Hoje, a cidade de Lisboa tinha de ter a Severa do nosso tempo. Um nome só a escolher — AMÁLIA. A última Severa que o público vê é pois Amália Rodrigues.

O Monumental é um teatro feito neste dobrar de meio século. É portanto o palco mais jovem do burgo. Também seria digno para o empreendimento. Possui imponência arquitectónica e o conforto da arte funcional. Cristais facetados e incandescentes, veludos, sedas e doirados conjugaram-se em propensão e deslumbramento para erguer num trono de glória à fadista Amália Rodrigues, que vai subir mais um degrau da fama.

Na crónica do grande mundo social todos marcaram a data com pedra branca.

A sala do teatro do Saldanha regurgita em solenidade grande. Os maiores nomes da política, da finança e da arte. É a mesma fina-flor da Lisboa de 1955 que se rendeu e assistiu deslumbrada, ainda não há muito, ao casamento, em Cascais, da Princesa Maria Pia de Sabóia. E agora aqui se encontra de novo.

Três pancadas surdas com a luz apagada. Lentamente o drapejado cor de mel claro sobe. Uma cortina de linhagem, pintada por Manuel Lima com as figuras do drama, afasta se para deixar ver a cena. Claridade. Andam dum lado para o outro com entradas os boleeiros e as amásias, vivendo um mundo lendário. Esboça-se o conflito. Numa adega da Lisboa Velha... Num balcão de baiuca... E o caso complica-se. Eis a Severa que chega. Vem de vermelho labareda, esfuziante como água childra, dá gargalhadas de rainha do seu meio, entre chofras de rufiões e graça das marafonas. Vem de vermelho, sim. E estão com ela o Timpanas, o Roque, o Diogo e tantos mais que as pedras das vielas do Capelão conhecem e reconhecem. Amália canta. Amália é a Severa. Mas não sabemos diferenciar onde começa uma e acaba outra. Uma Severa amalista, bela, castiça, com a voz orvalhada de emoções. Viu o Marialva a tourear. E o coração ao pé da boca sai em catadupas de gritos e ais. Não podemos concluir se é riso ou se é pranto. De resto, a voz de Amália reflecte esse estado de feição.

Agora, depois, estamos numa casa da Mouraria. Ao fundo, o bairro da Senhora da Saúde desenha-se em sombras. Entra pela porta da rua uma rascoa a pedir socorro. È a pobre da Chica espancada pelo Roque. A Severa desanca o rufia e protege a débil que juntamente com o Custódio preenchem o amplexo carinhoso que a fadista tem pelos humildes.

O Conde é nobre, forte, valente. Mas tem ciúmes do Custódio. Há brigas e traições onde o Romão e o Custódio fazem tingir de sangue as vielas e as alfurjas do bairro típico.

Cai o pano com os trinados da Mouraria.

O outro acto é o da toirada. Amália vem de branco. Traz um cravo rubro no cabelo de azeviche e atira a chinela mais alta do que a vedação da praça de toiros.

A última cena é da morte. A fadista extingue-se com um lamento entrecortado de versos. Um canapé de palhinha serve de leito de dor. Dir-se-ia um friso a lamentar o infortúnio, com presságios e com penas. É um adeus á vida, ao tempo, ao mundo. O Fado é sempre triste e desventurado. Uma elegia passa no proscénio em honra da que foi a encarnação dessa boémia romântica. Lisboa gosta muito que lhe contem histórias da sua história.

Aqui se narrou a crónica da Severa feita por Amália, que traçou o xaile, tomou a guitarra de cravelhas e soltou quadras para o triste fado corrido. Viveu a Severa do nosso tempo. Nenhuma fadista podia encarnar melhor este papel. Severa e Amália! Severa ficou na história e Amália passa para a história do fado, onde tem o lugar marcado. As duas são irmãs no génio e na arte de cantar. Daqui a cem anos os palcos representarão a vida de Amália como agora se faz à Severa.

 

in: Voz de Portugal 1955

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Sexta-feira, 7 de Março de 2014

JÚLIO DANTAS - Autor de "A SEVERA"

Nasceu a 19 de Maio de 1876 e faleceu em Lisboa, a 25 de Maio de 1962. Foi um escritor, médico, político e diplomata, que se distinguiu como um dos mais conhecidos intelectuais portugueses das primeiras décadas do século XX.

Na sua actividade cultural, cultivou os mais variados géneros literários, da poesia ao romance e ao jornalismo, mas foi como dramaturgo que ficou mais conhecido, em particular pela sua peça A Ceia dos Cardeais (1902), uma das mais populares produções teatrais portuguesas de sempre.

Foi eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa (1908), instituição a que presidiu a partir de 1922.

Na política foi deputado, Ministro da Instrução Pública e Ministro dos Negócios Estrangeiros,  terminando a sua carreira pública como embaixador de Portugal no Brasil em 1949, ali recebeu o título de Doutor "Honoris Causa" pela Universidade do Brasil, título que em 1954 também lhe foi atribuído pela Universidade de Coimbra.

Considerado retrógrado por alguns intelectuais seus contemporâneos, sendo de destacar o caso de Almada Negreiros, que escrever e publicou, o Manifesto Anti-Dantas, para publicamente o desconsiderar.

Júlio Dantas conseguiu granjear em vida grande prestígio social e literário, prestígio que decaiu após a sua morte.

Alcançou grandes êxitos com as suas peças teatrais, com obras como A Severa (*), A Ceia dos Cardeais (obra que foi traduzida para mais de 20 línguas), Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.

Publicou o seu primeiro artigo em 1893 no jornal Novidades, e o seu primeiro livro de versos em 1897. A maior parte das suas obras de teatro e novelas são sobre o passado histórico, mas as suas melhores obras, Paço de Vieiros (1903) ou O Reposteiro Verde (1921 estão escritas num estilo naturalista.

Nas suas obras defende o culto do heroísmo, da elegância e do amor, situando a trama das suas obras quase invariavelmente no século XVIII, época que escolhia quase sempre como cenário das suas produções, salientando a decadência da vida aristocrática da época.

Na sua vasta obra predomina as obras de teatro, as novelas e os temas históricos. Contudo, as melhores obras de Júlio Dantas, nomeadamente Paço de Vieiros (1903) e o O Reposteiro Verde (1921) têm um claro pendor para o naturalismo. Foi durante décadas um dos autores portugueses mais apreciados no estrangeiro.

A primeira produção de uma das suas peças ocorreu em 1899, no Teatro Dona Amélia (actual Teatro São Luiz) de Lisboa, com a apresentação da peça em quatro actos, O que morreu de amor, pela Companhia Rosas & Brasão. 

A Ceia dos Cardeais (1902) foi enormemente popular no seu tempo. Com base na sua obra teatral A Severa, José Leitão de Barros realizou o primeiro filme sonoro português em 1931. A sua peça Os Crucificados aborda, pela primeira vez no teatro português, a temática da homossexualidade.

Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

Foi director do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo ali professor de História da Literatura e director da Secção de Arte Dramática.

Em 1938-1940 presidiu à Comissão Executiva dos Centenários, dirigindo a Exposição do Mundo Português que teve lugar em Lisboa.

Em 1941 foi um dos Embaixadores Especiais enviados ao Brasil para dignificar a cultura de Portugal e em 1949 foi nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. Nessas funções teve papel destacada na elaboração de um acordo ortográfico com o Brasil.

Politicamente foi considerado um oportunista, que é com quem diz, esteve sempre ao lado de quem detinha o poder. (vale a pena ler ou ouvir o Manifesto anti-Dantas de Almada Negreiros)

Quando foi proclamada a República, Júlio Dantas aderiu ao regime e publicou, no diário A Capital, o folhetim "Cruz de Sangue", depois em livro com o título Pátria Portuguesa (1914), fazendo a exaltação do povo e a condenação da nobreza.

Em 1911, desencadeado o conflito entre a Igreja Católica e o Estado Português por causa da Lei da Separação de Afonso Costa, publica a peça A Santa Inquisição (1910), um libelo contra a Inquisição. Com o advento do salazarismo, publicou Frei António das Chagas, um "elogio de quem se sacrifica, se imola pela Pátria".

Terminada a Segunda Guerra Mundial, prevendo a queda do Estado Novo, reformulou introduziu, em 1946, na Antígona, peça de estreia de Mariana Rey Monteiro, uma crítica velada ao velho ditador por meio da personagem de Creonte

Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

Júlio Dantas é lembrado na sua cidade natal, Lagos, por um busto, localizado em Santo Amaro, na área envolvente ao Mercado Novo, dando também o nome à biblioteca pública da cidade. É também patrono da Escola Secundária Júlio Dantas, a principal escola pública de ensino secundário daquela cidade.

 

 

Peças de Teatro de que foi autor:

 

O Que Morreu de Amor (1899)

Viriato Trágico (1900)

A Severa (1901)

Crucificados (1902)

A Ceia dos Cardeais (1902)

Paço de Vieiros (1903),

Um Serão nas Laranjeiras (1904)

Rosas de Todo o Ano (1907)

Auto de El-Rei Seleuco de Camões (1908)

Soror Mariana (1915)

O Reposteiro Verde (1921)

Frei António das Chagas (1947)

 

Teatro do Príncipe Real onde se estreou a peça "A Severa " em 1901
Posteriormente passou a ter a designação de  Teatro Apolo

 

(*)A actriz Palmira Torres primeira interprete de " A Severa"

 

A peça de teatro, A Severa data de 1901, o que explica o entusiasmo do público, nessa época cativo do pitoresco trágico, uma das garras do romantismo. A artista principal foi a actriz Palmira Torres. Palmira Torres

«Como se sabe, Dantas não fugia ao ardor sentimental de uma estória com sabor e cheiro a pecado e a drama, como a de Maria Severa Onofriana (Lisboa, 1820-1846), a que morreu na rua do Capelão à Mouraria, a rua do fado que Dina Teresa consagrou em A Severa, o nosso primeiro filme sonoro (1931), realizado por Leitão de Barros.

 Cartaz do Filme de Leitão de Barros e a Actriz Dina Teresa

a primeira interprete do célebre tema de Frederico de Brito "Severa"

 

A peça A Severa (mais tarde adaptada a romance, à opereta e depois ao cinema, sendo nestes dois casos, ainda mais popularizada pela música de Frederico de Freitas, com uma melodia afadistada que granjeou  grande aplauso  e que  teve um êxito duradouro.

A peça converteu-se em novela, com o andar do tempo, veio a converter-se em opereta, em filme, em zarzuela, em ópera, em bailado, em pintura, em escultura de arte, e até  em quadro de revista.

 

 

Amália com Assis Pacheco no Monumental em "A Severa"

ver detalhes neste blogue em 

 http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/190948.html

 

 Para finalizar o tema "A Severa" brilhantemente cantado pela grande fadista Fernanda Maria

 

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Viva Lisboa: Estórias e Lendas
música: Maria Severa
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Quarta-feira, 5 de Março de 2014

SEVERA - MARIA SEVERA

 

 

 

Imagem da Severa

(Desenho da època não confirmado)

 

A SEVERA

 

 

As relações amorosas ilícitas, entre o Conde de Vimioso e a canta­deira de Fado Maria Severa, constituíram motivo de inspiração para representações de arte plástica, de teatro, cinema, televisão, sendo decerto o livro de Júlio Dantas que mais se destacou, mais tarde Júlio Dantas com base no livro escreve uma peça (em quatro actos) represen­tada pela primeira vez no Teatro D. Amélia (actual S. Luís) em 25 de Janeiro de 1901 que, tal como viria a acontecer com o romance, obteve grande sucesso.
Em 1909 é mais um êxito como “Opereta” adaptada por André Brun e musicada pelo maestro Filipe Duarte
Em 1931 foi ainda usado como guião para o realizador Leitão de Barros rodar o filme “A Severa”, o primeiro
filme sonoro gravado em Portugal.
Em 1955 a Severa foi reposta em cena no Teatro Monumental, com Amália Rodrigues no papel da protagonista e a participação, entre outros, de Madalena Sotto, Assis Pacheco, Santos Carvalho, Paulo Renato, Rui de Carvalho e Mário Pereira, ainda o público encontrou nela motivos de agrado.
Em Fevereiro de 1990 o empresário Sérgio de Azevedo leva à cena um musical no Teatro Maria Matos, “ A SEVERA” tendo o papel da Severa , a actriz Lena Coelho e Carlos Quintas no papel do Vimioso, Carlos Zel também fez parte do elenco.
Maria Severa Onofriana, filha de Severo Manuel de Sousa e de Ana Gertrudes Severa (alcunha adaptada do nome próprio do marido), nasceu em 1820 em Lisboa aos Anjos numas barracas nos montes,
Seu pai era de etnia cigana, e a mãe uma portuguesa de Ovar que, com outros pescadores da região, emigrara para Lisboa . Atri­bui-se a essa ascendência cigana a sua beleza exótica e o seu cantar expressivo, que conquistou os boémios da capital.
Sua mãe, Ana Gertrudes Severa, era uma célebre prostituta da Mouraria conhecida pelo sobrenome de "Barbuda", e Maria Severa terá ingressado muito cedo na mesma profissão, depressa se distinguindo nesse meio, não só - e muito em particular, como seria de esperar em semelhante contexto - pela beleza trigueira, como ainda pelos dotes invulgares de cantadeira de Fado.
Em 1831 morava na Rua Direita da Graça, terá ainda morado no Pátio do Carrasco, ao Limoeiro por alturas de 1844-45, viveu no Bairro Alto à Travessa do Poço da Cidade, antes de se fixar definitivamente na Mouraria, na Travessa do Poço da Cidade nº 35-A, ao tempo chamada de Rua Suja, era frequentada pela marujada portuguesa e inglesa.
De Severa à muitos estudiosos, contam-se muitas histórias dela e/ou com ela, umas talvez verdadeiras, outras talvez não tanto.
Conta-se que percorria os bairros populares de Lisboa, e a sua voz animou as noites de muitas tertúlias bairristas, tabernas ficaram famosa só pela sua presença.
Naquela época os “bastidores” da Mouraria, eram de má fama. Botequins, batota, ladrões, prostitutas e rufias, que lhe dava um estranho encanto, era esta a Lisboa popular e a Mouraria oitocentista — “chinela no pé, cigarro lambido, peúgo riscado, chapéu às três pancadas, navalha no bolso tendo como banda sonora a guitarra. Esperas e Touradas, hortas aos Domingos, pancadaria de vez em quando. Os nobres demandavam tabernas e as meretrizes eram recebidas nos salões” — escândalos cujas crónicas deixaram registo.

                                                                 

Inicio da Rua do Capelão na época Largo da Severa na Mouraria, onde a Severa viveu.
A Severa cantava e batia o Fado na taberna da Rosária dos óculos, situada ao cimo da Rua do Capelão na chamada casa de pedra.
A sua mocidade cheia de beleza, despertou paixões e ocasionou desvarios, fez perder a serenidade, e a compostura a fidalgos, burgueses, artistas e políticos.
Dizem escritos da época — Era linda, era alta um pouco delgada, seio e flancos esplêndidos, cabelos muito pretos, lábios muito vermelhos e nos olhos uma expressão indiscritível.
Diz-se que terão sido os seus olhos que terão atraído o Conde de Vimioso aliado ao seu doce canto e a paixão deste pelo som da guitarra.
O Conde era um homem garboso e de boa figura, foi o primeiro Cavaleiro Tauromáquico da sua época, arte que foi durante muitos anos ídolo dos espectadores das toiradas no Campo de Sant' Ana, o que não foi indiferente à Severa, o seu entusiasmo pelas corridas de touros, e sobretudo pelo toureio equestre, que a aproximou daquele, cuja popularidade exaltou cantando-o em letras de fados, de um dos quais chegou até nós esta quadra:
p'ra mim, o supremo gozo
É bater o fado liró
E ver combater c'um boi só
O contraste entre a condição social destes amores, foram por si só tema de conversa e de boatos e de muitos fados.
Má sina, na verdade, a da pobre Severa, que teve a intuição de que após a sua morte ainda havia de andar muito nas bocas do mundo, como resulta destas sextilhas da sua autoria:
Quando a morte me levar
Não há decerto faltar
Quem diga mal da Severa!
Pois neste mundo falaz
De tudo se é capaz
E só o mal se tolera...
Lá na fria sepultura,
Nessa cova tão escura
Irei enfim descansar?
Pressinto que em expiação
E novamente ao baldão
Aqui terei de voltar...
Leviano e mulherengo o Conde acaba por deixar a Severa e apaixona-se por uma cigana, o que a deixa desvairada, mas começa a não ter forças e a vivacidade para lutar pelo seu amante.
Por volta de 1845 já se manifestavam os sintomas da doença que a haveria de matar. (A sua morte terá sido devido a tuberculose pul­monar, de acordo com o estudo do Dr. Amaro de Almeida)
Severa morre pobre e abandonada num miserável bordel da Rua do Capelão, corria o ano de 1846, consta que as sus últimas palavras terão sido — “Morro, sem nunca ter vivido” — tinha 26 anos.
Foi sepultada em vala comum, sem caixão, que as amigas exigiram para fazer cumprir o que considerava seu desejo quando cantava versos dela:
Tenho vida amargura
Ai que destino infeliz!
Mas se sou tão desgraçada
Não fui eu que assim o quis.
Quando eu morrer, raparigas,
Não tenham pesar algum
E ao som das vossas cantigas
Lancem-me na vala comum.
Certidão de óbito da Severa
 
Assento de óbito, exarado pelo pároco da freguesia do Socorro, Padre Félix do Coração de Jesus,
"No dia trinta do mez de Novembro de mil oito centos e quarenta e seis annos na Rua do Capellaõ N° 35 A, falecêo apopletica sem Sacramentos, Maria Severa Honofriana, natural de Lisboa, idade de vinte e seis annos, solteira, filha de Severo Manoel de Souza e de Anna Gertrudes Sevéra. Foi a sepultar ao Cemiterio do Alto de Saõ Joaõ, de q fiz este assento”.
Registo do enterramento
1º cemitério de Lisboa
(Oriental – Alto de S. João)
Lº. Nº 3 a fls. 117
Nome: – Maria Severa Honofriana
Idade: - 26 anos
Estado: – Solteira
Meretriz
Onde faleceu: - Rua do Capelão nº 35- A – Loja
Freguesia: - Socorro
Quando faleceu: - às 21 horas de 30 de Novembro de 1846
Entrou no cemitério: - às 16 horas e trinta de 1 de Dezembro de 1846
Quando sepultada: - às 7 horas do dia 2 de Dezembro de 1846
Onde: - Vala comum
Faleceu de: - Congestão cerebral
Mas foi após a sua morte que ela se tornou, de facto, um símbolo do fado. Na ver­dade, desde então jamais os autores de letras de fados deixaram de a celebrar, suges­tionados pela lenda dessa mulher de baixa condição que, todavia, logrou transpor os umbrais da fama. E, de entre as muitas composições que falam dela, uma alcançou teve grande êxito, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão:
Num beco da Mouraria
Onde a alegria
Do Sol não vem,
Morreu Maria Severa.
Sabem quem era?
Talvez ninguém!
Consultas:
“Severa” de Júlio de Sousa e Costa
“História do Fado” Pinto de Carvalho (Tinop)
Nota. Esta p]agina já foi publicada em 2007 no dia 9 de Abril, e em 30 de Novembro de 2009.

 

Fernanda Maria

Canta: Maria Severa

 

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música: Fernanda Maria, canta Maria Severa
Viva Lisboa: Ah! Fadista
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Terça-feira, 4 de Março de 2014

JAIME SANTOS - Guitarrista

 

 

 

Jaime Tiago dos Santos nasceu na freguesia de Santa Engrácia, de Lisboa, em 1-6-1909 e faleceu a 4 de Julho de 1982.

 

Os seus antepassados já tinham vocação musical, nomeadamente o avô materno, que tocava guitarra e cantava o fado.

Ainda muito miúdo com cinco ou seis anos de idade pegou numa velha guitarra, e começou a dedilhar espontaneamente as cordas do instrumento.

Começou com o ofício de aprendiz de marceneiro, mas a música estava-lhe na alma e aos 12 anos já tocava viola, bandolim e violino.

O instrumento que, porém, mais o entusiasmou inicialmente, foi a viola, à qual se dedicou no início da sua carreira de instrumentista em que acompanhou, entre outros, os guitarristas José Marques (Piscata­rete), Fernando de Freitas, Gonçalves Dias e Bento Camacho.

Nas horas vagas começou a aprender a tocar guitarra, começa-lhe a tomar o jeito, mas não larga a viola, consta que Georgino de Sousa, quem o incentivou a trocar a viola pela guitarra e integra-o no seu conjunto de guitarras e violas (1937 a 1938).

Passou depois a actuar com o violista Miguel Ramos no Café Luso da Avenida da Liberdade (1939/1940).

Foi contratado para o Retiro da Severa onde já actuava o Armandinho, logo tentaram criar uma rivalidade entre eles, chegando a ser anunciado nos jornais um despique entre eles. Mas Armandinho, (homem de espírito aberto) teria dito que finalmente depois de tantos anos aparecera, finalmente, um guitarrista à sua altura, e recusou o confronto atitude em que foi acompanhado por Jaime Santos.

Integrado em 1944 no Conjunto Português de Guitarras, de Martinho d'Assunção, de que também faziam parte, além deste, António Couto e Alberto Correia, Jaime Santos, mais tarde (1945) com os mesmos elementos formam o Conjunto Típico de Guitarras.

No período em que acompanhou Amália, que com algumas interrupções se prolongou até 1955, participou com ela em imensos espectáculos quer em Portugal quer no estrangeiro, designadamente em Espanha, França, Estados Unidos e México. Participou no filme “Fado/ História Duma Cantadeira” (1947) e ainda nas curtas-metragens de Augusto Fraga sobre temas de fados, filmadas no mesmo ano, em 1954 tem uma intervenção no filme “Les Amants du Tage” em que, com Santos Moreira, igualmente acompanhou Amália.

Com Alberto Ribeiro fez digressões pelos antigos terri­tórios portugueses da África e pela República da África do Sul,

Em 1960, com o violista Américo Silva, acompanhou à Holanda a artista Clara de Ovar, em 1961 foi actuar durante um ano em Paris, na casa típica desta artista, O Fado.

Autor das músicas de considerável número de fados (com letras de diferentes poetas), Jaime Santos compôs também variações, como A Minha Guitarra, Corrido Fidalgo, Corrido do Mestre Zé, Danças Portuguesas, De Nova Iorque a Lisboa, Fado das Berlengas, Festa na Aldeia, Marcha Fadista, Menor da Velha Guarda, Nostalgia, O Meu Sentir, Primavera em Flor, Quando o Meu Filho Nasceu, Rapsódia de Fados Antigos, Suite em Mi Maior, Tempos Antigos, Variações em Lá Menor, Variações em Mi Menor, Variações em Ré Maior, Variações em Si Menor, Variações Sobre o Fado Corrido, Variações Sobre o Fado Maggioli, Variações Sobre o Fado Mouraria, Variações Sobre o Fado Zé da Melena, etc.

Jaime Santos foi dos guitarristas que nos deixou um vasto espólio da sua arte, nas imensas gravações fonográficas que nos deixou.

Tive o prazer de cantar com ele no Luso nos anos setenta, onde fiquei a conhecer melhor e admirar este grande músico.

Como tive o prazer de ser convidado para escrever sobre o Fado nos anos 50 para a RTP - Programa Estramha Forma de Vida, época em que Jaime Santos foi grande figura. executante e criador de grandes Fados                                    

 

 

Jaime Santos deixou  uma 2ª geração ao Fado, o seu filho Jaime Santos Júnior que toca viola de Fado, tal qual como o pai se iniciou, mas não parece até agora pensar em mudar de instrumento.

 

Jaime Santos, filho, é quanto a mim actualmente um dos grandes executantes e perfeccionistas da viola de Fado clássico.

 Jaime Santos 

Toca variações sobre o Fado Menano

 

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Domingo, 2 de Março de 2014

LUÍS RIBEIRO - Guitarrista

Luís Manuel Ribeiro, nasceu em Bragança, a 2 de Dezembro de 1953.
Desde muito cedo ficou a gostar da sonoridade da guitarra, porque seu pai tocava o instrumento.
O pai estava no negócio das madeiras (Serração Ribeiro), e um dia um “guitarreiro” de Bragança precisando de um determinado tipo de madeira, que este tinha em stock, quis negociar a sua aquisição. O Sr. Ribeiro, logo ali viu a possibilidade de ter um instrumento em casa, e assim, propôs ao “guitarreiro”, dar-lhe a madeira que ele necessitasse, mas em pagamento, queria uma guitarra para ele, o que este aceitou.
E assim o jovem Luís lá foi dedilhando na guitarra, com a ajuda do pai e de um vizinho que também tocava, o Sr. Adérito, com quem aprendeu a afinar o instrumento, e sempre que podia ensaiava, e ia aprendendo de ouvido os Fados mais conhecidos na época.
Tirou o Curso Industrial de Electromecânica, e em 1972 veio para Lisboa, sendo admitido nos quadros da Portugal Telecom, onde se manteve até se reformar em 2002.
Em Lisboa esteve dois anos sem tocar na guitarra. Certo dia um patrício levou-o a frequentar a Casa de Trás-os-Montes, onde conheceu uns senhores do Ousilhão, que eram primos dos Cancelas, e que tinham lá umas guitarras, tendo conhecido através deles, um senhor já de certa idade, que dava aulas de guitarra, que o entusiasmou, levando-o de novo ao contacto com a guitarra, e a aprender com mais rigor.
Com um amigo alentejano que tocava viola, começaram a reunir na Casa de Trás-os-Montes, todas as terças-feiras, para ensaiar, mas a partir de certa altura, os ensaios passaram a ser noites de Fado, tendo levado, a que a Casa de Trás-os-Montes, vivesse um período áureo, uma vez que às terças-feiras passou a registar grande afluência, o que constituiu para ele uma grande e valiosa experiência.
Segue-se o ritual de começar a frequentar as Casas de Fado, e passado pouco tempo começou a ser convidado para acompanhar alguns fadistas, e raro era o fim de semana que não frequentasse o “fado vadio”, onde tocava, e passou a ser apreciado, tendo tocado para amadores e muitos profissionais.
Foi também na Casa de Trás-os-Montes, que conheceu o Rodrigo, tendo-se tornado amigos. Nessa altura o Rodrigo para além da sua casa de Fados em Cascais, o Forte D. Rodrigo, tinha muitos espectáculos e havia necessidade de, quando ele saía, ficar alguém a assegurar o acompanhamento dos fadistas ali contratados, e assim o Luís Ribeiro lá se manteve durante cerca de 3 anos.
Seguidamente foi contratado por Fernando Martins, ex-presidente do Benfica, e dono do Hotel Altis, para tocar no restaurante do hotel todas as noites, das 21 horas à meia-noite, para acompanhar os artistas que iam sendo convidados, tais como, Lenita Gentil, Simone de Oliveira, Maria Valejo, Maria do Espírito Santo, e muitos outros, tendo estado ao serviço do hotel cerca de 5 anos.
Seguiu-se uma breve passagem pela Casa da Simone, tendo passado a ter “agenda solta” acompanhando os mais variados fadistas.
Tocou também em vários programas de televisão, de que se destacam o “Bravo Bravíssimo”, “Diogo Infante” e “Chuva de Estrelas”, para além de outros.
Foi guitarrista de Amália Rodrigues, que começou a acompanhar em 1970, precisamente no dia do seu aniversário, num espectáculo em Santiago de Compostela.
Manteve-se com Amália durante 5 anos, tendo feito espectáculos com ela por quase todo o mundo.
Continua a tocar quer em espectáculos, quer em gravações, para praticamente todos o artistas.
Luís Ribeiro também tem também como “hobbie”, a construção de guitarras portuguesas, já fez duas, mas para seu uso próprio.
Em 1994 fui o produtor do CD “Alfredo Duarte Júnior – 50 Anos de Fado” (meu pai) onde tive o prazer de ter trabalhado com ele, e onde melhor o passei a conhecer, julgo mesmo que nasceu um sentimento de amizade entre nós, e é com o Luís Ribeiro e com o Jaime Martins que actuo, sempre que tenho algum espectáculo.
De há uns anos para cá, que praticamente quase todas as Quintas-Feiras nos encontramos na “Nini” em Campolide, onde há grande noites de Fado.
Para além de grande artista, quero e devo realçar, a sua maneira de ser, uma vez que no mundo “conturbado do espectáculo”, não se lhe conhecem inimizades, sendo um homem sempre bem disposto e pronto a colaborar com quem lhe solicita, os seus préstimos.
Luís Ribeiro tem um filho, o David Ribeiro,  que também toca guitarra portuguesa, e como quem sai aos seus não  degenera, também é um jovem muito correcto de uma simpatia extrema, que não tenho dúvidas  que a curto prazo será um grande guitarrista como o pai, como se pode verificar no vídeo que eu produzi, em que pai e filho tocam com o nosso comum amigo e grande violista Jaime Martins.

 

 

 

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música: Vira de Frielas
Viva Lisboa: Grande músico
publicado por Vítor Marceneiro às 18:00
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