Fernanda Baptista nasceu em 1920. Já com dez anos o seu amor pelo teatro era bem visível: a jovem Fernanda adorava mascarar-se e entrara já em peças infantis.
Foi como fadista que se revelou publicamente, no Café Luso, pela mão de Filipe Pinto, no início dos anos quarenta, abandonando a sua carreira de modista.
A sua estreia profissional ocorreu em 1945, na sequência de um convite do maestro João Nobre para participar na revista Banhos de Sol, substituindo Leónia Mendes. Foi apenas a primeira de mais de trinta revistas em que participou.
Um dos seus maiores sucessos foi em 1969 na revista “Ena Pá Já Fala” com o fado Saudades da Júlia Mandes, entre outros êxitos contam-se o "O fado está-lhe nas veias", "Ai, ai, Lisboa", "Fado para esta noite", "Trapeiras de Lisboa", "Fui ao baile", "Fado das sombras", "Um fado para Stuart" e "Fado da carta", etc.
A sua gravação mais recente é de 1981, "Meus amigos, isto é fado", um êxito seu na revista "Dentadinhas na maçã" no Teatro Laura Alves, em Lisboa, em 1974.
Actuou também no Brasil, em Angola e na Argentina e, em 1968, viajou até aos Estados Unidos.
Ao longo de 56 anos de palcos, Fernanda Baptista participou em mais de 45 espectáculos de revista e opereta.
Fernanda Baptista integrou recentemente o elenco do musical de Filipe la Feria "A Canção de Lisboa".
"Fernanda Baptista é um exemplo de longevidade do êxito.
Em 2003 o Presidente da República condecorou-a com a Ordem de Mérito.
Fernanda Batista faleceu em Lisboa no dia 25 de Julho de 2008
Francisco Faria Pais ,nasceu em Portalegre.
Veio para a capital e licenciou-se em medicina e cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi assistente da cadeira de Química Fisiológica da mesma Faculdade.
Dedicou-se e fez vida profissional na especialidade de Estomatologia , tendo sido um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Ortopedia Dento-Facial , onde desempenhou os lugares de Secretário Geral , Vice-Presidente da Direcção e Presidente da Assembleia Geral.
É membro da Academia Portuguesa da Medicina Dentária.
Há cerca de quarenta anos que tem como "hobby" a pintura em tela a escultura em cerâmica, tendo já participado em mais de 26 exposições do Norte ao Sul do país.
Executou uma serie de Imagens Marianas em terracota policromada, que apresentou em duas exposições, fazendo algumas delas parte actualmente do património de algumas Igrejas.
Admirador incondicional da Obra de Rafael Bordalo Pinheiro , dedicou-se a partir duma certa altura , à caricatura em cerâmica , realçando sobre tudo o aspecto gestual e postural das personagens que lhe servem de modelo, pelo que muitas dessas figuras representadas , comportam apenas aspectos parciais do seu todo.
Adepto fervoroso do Fado, foi casado com Rosebele Faria Pais, que embora amadora, cantava muito bem o Fado, que infelizmente já não está entre nós. (http://lisboanoguiness.com/299560.html)
É com base no Fado, que dedicado grande parte da sua criatividade de caricaturista , modelando um conjunto de gestos e posturas de figuras de relevo do actual e remoto Fado.
É desde a primeira hora, sócio fundador da Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado", tendo já e feito e oferecido á associação, duas estatuetas em cerâmica de Alfredo Marceneiro e agora o seu busto em tamanho real.
Depoimento sobre a sua obra
Nasceu em Lisboa no bairro de Alfama em 1936.
Desde muito jovem que gostava de cantar.
Nunca se intitulou a si própria fadista, pois foi sobretudo conhecida pelas suas interpretações de marchas populares.
Com uma inconfundível cabeleira loura, tinha uma voz muito bonita e era uma pessoa de fácil trato, cantora muito comunicativa, Alice Amaro veio a conquistar um público fiel ao longo dos anos sessenta, cativado pelo modo alegre e desinibido como actuava.
Foi no Centro de Preparação de Artistas de Rádio, dirigido por Motta Pereira, que desenvolveu os seus dotes de artista.
Gravou vários discos, em que para além das marchas populares, se destacam os temas
Triste Sino, Bom Dia Lisboa, Simpatia, Vaidosa, Alfacinha de Gema, Lisboa dos Milagres, Tic Tac do Amor, A Rua do Zé Ninguém.
Alice Amaro canta:
QUANDO O ALTO PINA PASSA
Letra de: Silva Nunes
Música: Jorge Ávila
Lisboa vem à janela
Olha a marcha, vem com ela
Lisboa vem ver num trono
Um Santinho que é o meu patrono
O bairro aonde eu moro
Tem lá tudo que eu adoro
Lisboa cantando de novo
Traz o Alto Pina na boca do povo
Refrão
O Alto Pina faz um vistão
De cravo ao peito e arraiais no coração
O Alto Pina por brincadeira
Diz que ao passar põe a cantar Lisboa inteira
Lisboa quem foi que disse
Que ir na marcha é tolice
A marcha tem luz aos molhos
E fogueiras nos teus lindos olhos
Cantiga que o povo canta
Põe a alma na garganta
Lisboa gaiata ladina
Não há melhor marcha
Que a do Alto Pina
Refrão
Rui Pinho Ferreira (o cançonetista Rui de Mascarenhas), nasceu a 14 de Dezembro de 1929 em Vila Pery - Moçambique, onde viveu até à idade de cinco anos.
Devido à vida profissional de seu pai , oficial do Exército, veio para a Metrópole, e em 1946 para São Miguel nos Açores, onde acabou o curso dos liceus no Liceu Nacional Antero de Quental, estava planeado que viesse cursar arquitectura e assim ingressou na Escola de Belas- Artes em Lisboa.
Em 1950 concorreu a um campeonato musical chamado “Aja”, tendo alcançado o primeiro lugar, e é assim que, em 1951, Rui de Mascarenhas desiste de arquitectura e abraça a carreira de cantor profissional.
Foi aberto pela Emissora Nacional um concurso para fadistas, cantores, cançonetistas e conjuntos vocais, Rui concorreu e conquistou o primeiro lugar, foi contratado, onde se manteve no elenco como cançonetista durante cerca de 6 anos.
Rui de Mascarenhas, que gravou na Europa, Canadá, América, Texas, Brasil, em 1952 no Brasil, esteve integrado nos “Companheiros da Alegria”, programa que era coordenado pelo actor Igrejas Caeiro.
Fez vários espectáculos nas ilhas, mas em São Miguel, era muito solicitado e aplaudido, contava com inúmeras amizades, que datavam desde o seu tempo em que lá viveu e estudou.
Em 1959 o cantor foi viver para França onde permaneceu cerca de quatro anos, depois transferiu-se para Espanha, passando a residir desde 1964 em Nova Iorque, mas deslocava-se com frequência a Portugal.
Em Montreal no Canadá, foi convidado para integrar o elenco da companhia que levou à cena no maior teatro daquela cidade, a opereta “Viúva Alegre”, em que ele era o único artista estrangeiro.
Faleceu a 22 de Fevereiro de 1987, em vésperas de regressar aos palcos portugueses, no antigo Jardim Cinema pela mão de José Nuno Martins.
Conheci o Rui de Mascarenhas no Galito em Cascais, no inicio das minhas "fadistices" era uma homem muito afável e simpático.
Rui de Mascarenhas
canta: Os Pauliteriros de Miranda
Lá vai Lisboa - canta Maria José Valério
Amostra dos trajes dos Padrinhos das Marchas
Letra de: Silva Tavares
OS SANTOS POPULARES
O mês de Junho é o coração do ano
que ora canta, ora sofre, ora perdoa.
Um coração que desde há muito irmano
ao coração do povo de Lisboa.
Que espanta, pois, que os dois se queiram bem?
O idílio nada tem de singular
e, assim que Junho lá vem,
lá vai Lisboa a cantar!
Canta nos mastros e festões que à toa
documentam a ingénua fantasia
da gente boa da Madragoa,
de Alfama, do Bairro Alto e Mouraria.
Canta no tom dolente e pedinchão
dos garotos do bairro - e quantos há,
Santo Deus! - que nos barram o caminho
de bandeja na mão:
— « meu senhor, dê cá um tostãozinho
p'ró Santo António! Meu Senhor... dê cá!»
Canta nas alcachofras que se queimam
e, depois de ficarem qual tição,
vão espetar-se na terra — a ver se teimam
em reflorir ou não!...
Canta em ingénuas tradições caseiras;
em mil superstições e mil caprichos: ´
— No verde manjerico, nas fogueiras,
nas cornetas de barro, nos cochichos!
Nas bichas de rabiar, entre o clamor
estouvanado da histérica donzela;
nas bombas que rebentam com fragor;
na luz viva do fósforo de cor
que se acende à janela!
No balão de papel, cheio de fumo,
que, verdadeira imagem da ilusão,
domina o espaço e sobe e vai, sem rumo,
até extinguir-se a chama — o coração!
Canta nos bailaricos do mercado,
e nas sinas compostas a granel,
e nos trilos do grilo encarcerado,
e nas quadras dos cravos de papel!...
Quando virdes passar festivos arcos
de que pendam balões, simbolizando
velhas fachadas, monumentos, barcos
— é Lisboa que passa e vai cantando!
Canta p'lo Santo António, p'1o São João
e p 'lo São Pedro, enfim, num testemunho
fervente do seu culto à tradição
e num último adeus ao mês de Junho!
Tão velho afecto será sempre novo,
enquanto aos dois restar sombra de alento:
— Se Junho é cem por cento o mês do povo,
Lisboa, em Junho, é, povo cem por cento!
Evocação da Marchas Populares de 1955
LETRA DE; Silva Tavares Música de: João Andrade Santos
É Lisboa! Venham vê-la !
São de sonho as graças que encerra!
Só Deus sabe se foi estrela
E baixou lá do Céu à terra
Pôs craveiros à janela;
No amor é leal, ardente.
A falar — não há voz mais bela !
A cantar — não há voz mais quente !
ESTRIBILHO
Esta Lisboa bendita,
Feita cristã p'ra viver,
É a menina bonita
De quem tem olhos p'ra ver!
Moira sem alma nem lei,
Quis dar-lhe o céu cor e luz.
E o nosso primeiro rei,
Deu-lhe nova grei
E o sinal da cruz !
Nas airosas caravelas,
Tempo após, com génio profundo.
Cruz sangrando sobre as velas
— Portugal dilatou o mundo !
—
E a Lisboa ribeirinha.
Ao impor sua cruz na guerra,
Foi então a gentil rainha
Ante a qual se curvou a Terra.
O Fado nasceu no mar
Ao balanço de ondas mil
Por berço teve um navio
Por cobertura um céu de anil
Numa barquinha vogando
Batida pelo luar
Ouvi um nauta cantando
“O FADO NASCEU NO MAR”
E mal a gente põe os pés
Nos sobrados do convés,
Levamos da terra a imagem
e. a cantar, toda a viagem
O Fado, de lés-a-lés!
In Ao sabor das ondas – Linhares Barbosa
Fado.... a alma de um povo.
As viagens encetados pelos portugueses no século XVI, é um paradigma do destino de um povo que partiu durante séculos à procura do desconhecido, que nos criou um modo colectivo de ser e estar no mundo. É um gene da identidade portuguesa.
Naquelas horas da partida para a imensidão gigantesca dos mares, fizeram brotar lágrimas de todas as mães, de todos os pais, de todos os filhos, de todas as esposas, as noivas, os parentes e amigos, que ao dizerem adeus com soluços nos corações, na praia de Belém, que foi apelidada por isso mesmo de “Praia das Lágrimas” confrontavam-se com a descoberta da amargura da ausência.
Foi uma vivência que moldou as almas, era um povo aflito que via partir as naus com as suas gentes, sabe-se lá para onde iam, para o outro mundo ?
Ó Mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal !
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos, em vão, choraram!
Quantas noivas ficaram por casar,
Para que fosses nosso, ó Mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deu ao Mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o Céu
Poema de: Fernando Pessoa
É vida , é destino, é Fado, é a alma do nosso povo.
Em tão longo caminho e duvidoso,
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres com choro piadoso ,
Os homens com suspiros que arrancavam;
Mães, esposas, irmãs, que o temerosos
Amor mais desconfia, acrescentavam.
A desesperação e frio medo
De já não nos tornar a ver tão cedo
Camões, Os Lusíadas, canto IV, 89)
VASCO DA GAMA
Esta mentalidade, criada de uma vivência bivalente, amargurada por um lado, alegre por outro, isto porque o ritual da partida o medo a tristeza, o espectro da morte, se misturaram com a esperança, o sonho e quanto era maravilhoso estar vivo no regresso, tais sentimentos moldaram a consciência que se cristalizou na música e no canto, com uma tonalidade própria, inconfundível e original como é a sua matriz..
O Fado é português, é toda uma mentalidade, é toda uma História, se o povo português é o único que canta o Fado, é porque também foi protagonista de uma vivência que mais nenhum povo teve.
Notas: In Fado, A alma de um povo M.L.Guerra
In Fado, Mascarenhas Barreto
AMÁLIA RODRIGUES canta:
Fado do Marujo Português
Letra de Linhares Barbosa e música de Artur Ribeiro
O FADO É PORTUGUÊS
O Fado é tão português, que, de arnês,
bateu-se em Fez;
esteve em Alcácer-Quibir;
arrostou o mar profundo
e ao Mundo
deu novo Mundo,
na senda de Descobrir!
Esteve em Malaca e Ormuz
e, à luz
do signo da Cruz,
construiu impérios novos;
da Guiné até Timor,
com ardor,
foi defensor
do Destino doutros povos!
Fê-lo Deus aventureiro:
foi guerreiro
e marinheiro;
missionário, ou de má-rês
e — vá ele p' ra' onde for —
cante a dor,
ou cante o amor,
o que canta é Português!
Poema de: Mascarenhas Barreto
AMÁLIA RODRIGUES canta:
Fado Português
Letra de José Régio e música Alain Oulmain
Pediram-me para um trabalho na Faculdade que respondesse a um inquérito.
Na realidade eu não sou a pessoa mais indicada para responder a este inquérito, visto não ser um “fadista/cantor/profissional.
A minha ligação ao Fado vem por herança de família, cantar pela primeira vez foi um devaneio, mas como vivi desde muito jovem ao lado do maior fadista de todos os temos , do qual sou o seu biógrafo, continuei a investigar e relembrar os intervenientes que viveram o Fado, e por vezes gosto de cantar “talvez porque como diz o dito popular … filho de peixe sabe nadar.
E porque ainda continuo a escrever sobre o assunto, e a debater muitas teorias estas, perguntas não têm muito a ver com a minha concepção sobre o Fado (*), mas vou tentar responder.
(*) Eu ecrevo Fado com letra grande.
Perguntas aos fadistas
a) Voz .. Não é o mais importante
b) Viola .. O instrumento que marca o compasso
c) Guitarra.. O instrumento que nos dá a melodia
d) Vestido preto.. Sóbrio, e tem uma história que está deturpada
e) Xaile.. Hoje em dia um adorno, que muita gente que o usa não sabe porquê
f) O corpo como deve estar? Depende se é ensaiado ou se é uma forma de estar própria de cada um quando está a cantar/comunicar
António Pires da Ascensão (Tó Moliças), nasceu na Aldeia da Ponte no distrito da Guarda, a 31 de Maio de 1937, tinha 77 anos.
FALECEU HOJE DIA 2 DE JUNHO, O MÚSICO E POETA TÓ MOLIÇAS.
O FADO ESTÁ MAIS POBRE.
Tó Moliças, foi empresário do Clube Amália, em Cascais na Quinta da Bicuda, tocava viola-baixo e para além de muitos fadistas acompanhou Amália em várias digressões, era também poeta, com poemas muito apreciados e cantados por vários fadistas.
Este Video-Clip que eu realizei em 2012, na Adega do João na Loubagueira, com José Luis Nobre Costa, Jaime Santos Jr., e Tó Moliças, que hoje volto a apresentar, é o meu tributo á sua memória.
Já lá estão, algures onde Deus tudo determina, os intervenientes, José Luís e o Tó Moliças, paz ás suas almas.
Que Deus nos dê muitos anos de vida aos que cá ficamos, porque deles não nos esqueceremos.