Julieta de Sousa Brigue, nasceu em 30 de Dezembro de 1932 em Folques, concelho de Arganil, e veio viver para Lisboa ainda criança.
Começou a cantar em público aos 15 anos e foi ainda na década de 40 que se apresentou a interpretar fados no Clube Radiofónico de Portugal, da Rua Maria Andrade, dirigido por Mário Lisboa, tendo sido a primeira cantadeira, além da própria Amália Rodrigues, a cantar fados desta aos microfones da rádio.
No Clube Radiofónico de Portugal interpretou também outras canções, designadamente do repertório de Maria Clara, acompanhada pela orquestra de Victor Bonjour .
Em 1947 obteve o 2.° lugar no concurso da Grande Noite do Fado, cujo 1.° lugar coube a Isaura Alice de Carvalho, classificação essa controversa, pois o público manifestou-se ruidosamente a favor de Julieta Brigue.
Actuações em festas particulares, em embaixadas, casinos, hotéis e salões aristocráticos, marcaram a vida artística desta cantadeira, que contratada pela antiga Emissora Nacional participou ali em programas de fados, acompanhada pelo grande Raul Néri, tendo ainda actuado em espectáculos dos "Serões para trabalhadores".
Fez parte dos elencos de várias casas de fados, tais como o Faia (logo na inauguração), na Kaverna, no Casebre (de Carlos Barra), no Folclore, no Pátio das Cantigas (de João Braga), na Tia Ló e na Severa, entre outras.
Em 1974 esteve durante 3 meses no Brasil, São Paulo, onde actuou com notável sucesso na Adega Lisboa Antiga, de Joaquim Pimentel, e no programa "Caravela da Saudade" da televisão paulista.
Na RTP (Radiotelevisão Portuguesa) interveio no programa "Fado Vadio".
Participou em espectáculos no Algarve, na Madeira e nos Açores e, em 1981, cantou em Bruxelas num espectáculo da NATO, acompanhada à guitarra por José Pracana e à viola por Segismundo Bragança.
Retirada da vida artística profissional depois de uma carreira de mais de 40 anos, Julieta Brigue continua a cantar e a encantar com a bela voz que tantos êxitos lhe valeu, inclusivamente junto de públicos estrangeiros, mas agora apenas para amigos.
Texto de Eduardo Sucena
Julieta Brigue
Canta: Pescador que vais p´ro mar
Eduardo Damas/Manuel Paião
ERMELINDA VITÓRIA, nasceu em Lisboa no bairro da Mouraria, em 1892.
Viveu durante algum tempo em Setúbal. Aos nove anos já cantava ao lado do velho fadista Calafate.
Em dada fase da sua vida andou a cantar pelas ruas com cegos, mas veio a tornar-se depois uma das primeiras cantadeiras do seu tempo sendo muito apreciada pelos assíduos do fado nos anos 20 e 30 do século passado.
Tomou parte em descantes com cantadores afamados, como Jorge Cadeireiro, Júlio Janota, Carlos Harrington, Ginguinha, António Rosa, Armando Barata, António Lado, Fortunato Coimbra e outros. Cantou na maior parte dos retiros de Fado da época, Bacalhau, Ferro de Engomar, José dos Pacatos, Perna de Pau, da Fonte do Louro e Quinta da Montanha.
Nunca faltava nas esperas de toiros em Vila Franca de Xira e na Azambuja.
Foi uma das primeiras fadistas a profissionalizar-se. Em 1928, actuou no Salão Jansen, no Solar da Alegria, nos teatros Ginásio, S. Luís, Maria Vitória, Apolo, Trindade e Capitólio, e ainda nos teatros de província.
Foi companheira do violista Georgino de Sousa. Teve a sua festa de homenagem em 1930 no Salão Jansen.
Gravou discos, cantou em directo na Rádio Luso, na Rádio Peninsular.
Depois decaiu, ficando numa situação difícil de sobrevivência, mas passou a ser solidáriamente protegida, pela sua colega e amiga Maria Emma Ferreira, tendo vivido até cerca dos 90 anos de idade.
Um dos fados da sua criação que obteve maior sucesso foi "Meu Portugal" de autores desconhecidos, e “O Fado Altaneiro” com letra de Carlos Conde na música do Fado Mouraria:
© Vítor Duarte Marceneiro
O FADO ALTANEIRO
Cantar o Fado altaneiro,
Erguê-lo como um padrão,
É ter Portugal inteiro
Metido no coração.
Há quem me ponha em baixeza
E me tenha censurado
Por eu ter cantado o Fado
Sendo mulher portuguesa;
Porém, a nobre defesa
Para o dito traiçoeiro,
É ter por forte guerreiro
O som do Fado imortal,
E por todo o Portugal
Cantar o Fado altaneiro.
Uma guitarra a gemer
Por alguém ao Fado atreito,
Geme a aquecer-nos o peito
Para também se aquecer.
Quero cantar e viver
Nesta sonhada ilusão,
Porque o Fado é a canção
Calmante de quem padece,
Rezá-lo como uma prece,
Erguê-lo como um padrão.
Assim, nas notas bem-vindas,
Onde vibram mocidades,
Quero cantar as saudades
Doutras saudades infindas;
Desprezar as mal-avindas
Línguas do povo embusteiro,
Porque ter o lisonjeiro Fado
profundo e dolente,
Não é ter alma somente,
É ter Portugal inteiro.
Cantar o Fado que encanta
Desde o mais sábio ao mais rude,
É ter a santa virtude
Sobre a virtude mais santa.
Toda a mulher que não canta
Por devaneio ou paixão,
Perde toda a sedução,
Toda a ternura e valor
Por não ter um puro amor
Metido no coração.
Nasceu na Costa da Caparica, filha de pescadores, Ercília Costa iniciou-se na música quase por acaso. Sem ter prévia experiência musical ou artística, apenas motivada pelo gosto de cantar, ainda adolescente apresentou-se no Conservatório de Lisboa em resposta a um anúncio, para encontrarem cantores para uma récita a realizar no Teatro de São Carlos. Ercília foi apurada, mas a representação acabou por não se fazer.
O actor Eugénio Salvador, ouve-a nas provas do Conservatório, a sua voz agrada-lhe e logo a convida para fazer parte do elenco da companhia do Teatro Maria Vitória, onde actuou ao lado das maiores vedetas do palco da altura, como Luísa Satanella e Beatriz Costa.
Dotada de uma voz privilegiada, com certo acento dramático, bem cedo conquistou posição invejável a interpretar o fado. Tornar-se-ia verdadeiramente popular como fadista, actuando em muitos retiros e nas mais importantes casas típicas da altura.
A sua estreia como profissional foi no retiro Ferro de Engomar, onde lançou a moda do xaile negro que as fadistas ainda hoje usam, chamavam-lhe então a “Sereia Peregrina do Fado” e também a “Santa do Fado” (por cantar de mãos postas em gesto de oração).
Em 1931 entra na revista "O Canto da Cigarra", levada à cena no Teatro Variedades, onde tem um êxito estrondoso com o “Fado Lisboa” com letra de Álvaro Leal e música de Raul Ferrão.
Em 1932 desloca-se à Madeira e aos Açores com João da Mata, Armandinho e Martinho d'Assunção.
Em 1936 vai ao Brasil com a Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, de que foi primeira figura de cartaz, obtendo enorme sucesso, pelo que no seu regresso a Portugal foi distinguida com homenagens realizadas uma no salão de chá do Café Chave d' Ouro e outra no Retiro da Severa.
Realiza vários espectáculos no estrangeiro, França em 1937, EUA em 1939 acompanhada por Carlos Ramos, onde cantou no pavilhão português da Feira Internacional de Nova Iorque.
Participou igualmente em alguns filmes, e, caso raro, chegou a compor algumas das suas criações mais célebres, como o Fado da Mocidade ou O Filho Ceguinho (conhecido como o Menor da Ercília).
Voltou ainda ao Brasil (onde permanece quinze meses seguidos) na época de 1945-46, integrada na Companhia Alda Garrido.
Depois de participar em 1951 no filme Madragoa e de algumas actuações pontuais em espectáculos de beneficência, abandonou a carreira para se dedicar ao seu casamento, sem nunca ter cedido à tentação de regressar ao palco.
Em 1972 Ercília Costa gravou o seu último disco com o título de “Museu do Fado”, incluindo alguns dos seus maiores sucessos.
Tentam fazer-lhe uma festa de despedida, mas não aceitou, alegando que algum dia podia precisar de voltar.... Mas tal não aconteceu.
Ercília Costa foi uma das grandes cantadeiras de fado da primeira metade do século XX. O seu nome é hoje pouco recordado, pois as gravações que realizou são anteriores aos anos cinquenta, altura em que se começou a popularizar o disco gravado, mas no seu tempo foi uma vedeta acarinhada pelo público e foi certamente, antes de Amália uma das fadistas mais internacionalizadas.
Do seu vasto reportório relembramos os fados: Meu Tormento, Saudades Que Matam, Pobreza Envergonhada, Pesar Profundo, Divina Graça, Amor de Mãe, O Meu Filho, Rosas, A Minha Vida, Fado Tango, Fado Sem Pernas, Fado Dois Tons, Fado Corrido, Fado Aida, Fado Ercí1ia, Negros Traços, Desilusão, Um Desgosto, Padre-Nosso Pequenino, Juro, Fado da Amargura, e as desgarradas com o Dr. António Menano e Fado da Mouraria também à desgarrada com Joaquim Campos.
FADO DA AMARGURA
Letra de João da Mata
Repertório de Ercília Costa
I
Que tristeza
Deus me deu,
Não existe, com certeza,
Ninguém mais triste do que eu.
Com descrença
Vou cantando
Minada pela doença
Que aos poucos me vai matando.
Cantar; cantar;
Versos de amor; de prazer;
Oh! Quem me dera poder
Cantá-los sem me esforçar.
A toda a hora
Sinto minha alma doente
Pois não sou, infelizmente,
A mesma que fui outrora.
II
Que saudade, Que amargor;
Dos tempos da mocidade
Feitos de sonho e de amor!
Sonho lindo,
Doce e brando
Outrora cantei sorrindo
Mas hoje canto chorando...
Ai! Se eu pudesse
Gozar saúde outra vez
Ao bom povo português
Cantaria numa prece,
Agradecendo
À gente que é tão amiga
Desta infeliz rapariga
Que vai cantando e morrendo.
Deolinda Rodrigues Veloso nasceu em Lisboa, em Telheiras a 30 de Dezembro de 1924,
Foi na Sociedade de Recreio União Familiar de Telheiras que dá os seus primeiros passos como cantora de fados, ainda criança.
Em 1944 ganhou um concurso organizado pelo Diário Popular, denominado “Concurso da Primavera” tendo ficado em 2º Lugar. É nesta altura que chama a atenção ao empresário José Miguel, que a contrata para o “Retiro dos Marialvas”, cantou ainda no Casablanca.
A partir de então levou a sua voz à rádio, ao teatro de Revista, à televisão e ao cinema.
Participou em diversos filmes, desde “Cantiga da Rua” (1950), “O Passarinho da Ribeira” (em 1960), passando por “O Noivo das Caldas” com António Silva (1956) e “Madragoa” e (1952).
No teatro de revista estreou-se no Teatro Apolo com a peça “Cartaz da Mouraria”, ao lado de Hermínia Silva e Barroso Lopes. Actuou, ainda, em diversas operetas.
Participou regularmente nos programas da Emissora Nacional.
Também para a RTP, Deolinda teve diversas aparições.
Fez várias digressões por Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e Brasil, e ainda nas antigas colónias de Angola e Moçambique.
Cantou em quase todos os restaurante típicos, locais onde ainda hoje afirma, serem o melhor ambiente para cantar o Fado.
Em 1996 participou na telenovela “Vidas de Sal”.
Comemorou os 60 anos de carreira em 2005 com um espectáculo no Fórum Lisboa.
Foi-lhe atribuída a Medalha Municipal de Mérito, Grau Prata.
Faleceu em Lisboa na Casa do Artista onde estava alojada no dia 11 de Outubro de 2015.
Cantor e compositor da canção coimbrã, juiz de Direito, juiz Desembargador e juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça. Nasceu na Ilha do Pico, Açores a 3 de Setembro de 1930. Cursou Direito na Universidade de Coimbra. Considerado uma das melhores vozes de sempre e dos melhores compositores da canção Coimbrã, a par de nomes como José Afonso, Luiz Góes ou Fernando Rolim. Estudioso dos clássicos de Coimbra, neles procurou diferenciar as raízes étnico-folclóricas da canção de Coimbra, para, sem copiar, relançá-las ou recriá-las em moldes actualistas, capazes de sensibilizar as novas gerações, com base nas experiências de Edmundo Bettencourt e Artur Paredes. Com o impacto das suas interpretações e o enorme poder de comunicação, gravou vários discos, ainda como estudante. Após uma série de actuações em Bruxelas, foi contratado pela Philips para gravar um LP com vista a um lançamento internacional. Por motivos de saúde na altura das gravações, foi substituído por Luiz Góes. Alguns dos temas gravados são da autoria de Machado Soares, como o Fado do Estudante (Fecha os Olhos de Mansinho), Toada Beira (Abaixa-te ó Serra d'Arga), Cantares do Penedo e Canção Açoriana (O Meu Bem Se Tu Te Fores), sendo esta muitas vezes aproveitada por outros cantores. Ainda como estudante, actuou de Norte a Sul de Portugal e em quase todos os países da Europa, no Brasil e em África. Participou no filme Rapsódia Portuguesa. Após ter concluído o curso superior, suspendeu durante alguns anos a sua actividade artística, tendo no entanto acompanhado o Orfeão Académico de Coimbra aos Estados Unidos, onde cantou com êxito em cidades como Nova York (Lincoln Center), Boston, Chicago ou Atlanta, tendo participado num programa televisivo da NBC. Após Abril de 1974, veio trabalhar para os tribunais de Lisboa e arredores (Almada e Seixal), tendo recuperado definitivamente a vida artística. Actuou de novo em muitos pontos de Portugal, cantou na Alemanha, Itália, Estados Unidos da América. Venezuela, Rússia e outros. Em 1976 a Polygram gravou em disco a primeira parte do CD Coimbra Tem Mais Encanto (10 temas) com o título Fernando Machado Soares, no qual interpreta, Balada da Despedida (Coimbra Tem Mais Encanto), letra e música de sua autoria, O Fado dos Passarinhos (Passarinho da Ribeira), de António Menano e Alberto Menano, Canção das Lágrimas, de Armando Góes, Fado da Mentira, de António Menano e António Menano/F Machado Soares, Rosas Brancas, de António de Sousa, Vira de Coimbra (Popular), O Meu Menino, de Alexandre Resende, Santa Clara, de Angelo de Araújo,Fado das Andorinhas, de António Almeida d'Eça, Fado Corrido (popular), Canto de Amor e de Amar, letra de Ana Costa Nunes/Luís de Camões/F. Machado Soares e música de Fernanndo Machado Soares, Serra d'Arga (Popular) e F. Machado Soares, Balada de Outono, de José Afonso, Maria, de Angelo de Araújo, Maria Faia (Popular), Foi Deus, de Alberto Janes, homenagem a Amália Rodrigues pelos 50 Anos de Carreira Artística, Estrelinha do Norte, de A. Jardim e Fado Resende, de Alexandre Resende. Fernando Machado Soares compôs os arranjos do 3º tema, Angelo de Araújo do 8º, António Portugal do 10º e dos restantes José Fontes Rocha. A produção foi de José Luís Gordo na I parte, na II parte (8 temas), gravado em 1988, a produção foi de João Calado. Foi acompanhado à guitarra por José Fontes Rocha e à viola por Durval Moreirínhas. Em 1987 actuou em Toronto, Paris (Olympia), em S. Paulo, no Rio de Janeiro e noutras cidades. De salientar o recital que realizou em 18 de Março de 1987 no Grand Auditoire da Radio France, gravado e editado em compacto disco em Paris pela Ocara (Radio France), cuja apresentação teve lugar a 18 de Outubro de 1988, quando realizou novo recital na Ópera de Bordéus. Nesse ano recebeu o Prémio Popularidade da Casa da Imprensa. Cantou na RTP com Amália Rodrigues. Depois disso realizou quatro recitais no Thêatre de Ia VilIe, em Paris. Em 1994 gravou na editora francesa Auvidis (Ethnic) um CD com o título Le Fado de Coimbra, acompanhado à guitarra por José Fontes Rocha e Ricardo Rocha, e à viola por Durval Moreirinhas. Com literatura em francês e inglês, nele interpretai Ilha e o Sonho, de F Machado Soares e arranjos dej. Fontes Rocha, Senhora d'Aires, popular e arranjos de F. M. Soares, Elegia, popular e música dejosé Afonso, com arranjos de Fontes Rocha e F. Machado Soares, Santa Luzia, de F. Machado Soares e arranjos de J. Fontes Rocha que interpretou Variações em Lá Menor, Teu Nome, de F. Machado Soares, com arranjos de José Fontes Rocha, Balada Para Uma Vida, de F. Machado Soares e arranjos de Fontes Rocha, Noites de Festa, de F. Machado Soares e arranjos de Fontes Rocha, Balada de Outono, de José Afonso e arranjos de Fontes Rocha, Canção de Alcipe, Trova do Vento Que Passa, de Manuel Alegre e António Portugal, que compôs os arranjos, Fado Mentira, e de António Menano e António Menano/F. Machado Soares. Após a morte de Amália Rodrigues, da qual tinha sido bastante amigo, foi eleito Vice-Presidente do Conselho de Administração da Fundação Amália Rodrigues.
Actualmente esta´retirado.
in: Programa I Grande Gala dos Troféus Amália Rodrigues
Fernando Machado Soares
Canta: Despedida
Fado de Coimbra de sua autoria