Que saudades daquela noite no «Solar da Hermínia», em que cantei pela primeira vez, na presença do meu pai e do meu avô
O «Solar da HERMÍNIA» e a própria Hermínia Silva fazem parte de um dos episódios mais marcantes da minha vida, na relação pai/avô/fado
Corria o ano de 1966, tinha cerca de 21 anos, fiz uma pausa nos bailaricos e outros «poisos» e comecei a frequentar o fado amador, que praticamente desconhecia, pois, até essa altura, costumava acompanhar o meu avô e o meu pai às casas tradicionais.
Certo dia, uns amigos convidaram-me para uma noite de fados no Galito, que ficava no Estoril. Lá fui e, como é lógico entre os frequentadores habituais, ao saberem de quem eu era filho e neto, logo pensaram que havia mais um para cantar. Gostei imenso do ambiente e passei a ser frequentador assíduo. Ali conheci o Zé Pracana, o malogrado Carlos Zel, o Frazão, pai deste, e do saudoso Alcino, que era então um miúdo mas já demonstrava o gosto que tinha pela música e pela guitarra portuguesa (estava sempre a dedilhar a guitarra do Zé Inácio, mal este parava de tocar e a poisava), o Valdemar Silva, o saudoso Carlos Barra, a Maria do Carmo «Micá», e tantos outros amadores do Fado, na época.
Ora eu não cantava. Para ser sincero, com muita pena minha, achava que não conseguia e, para «meter água», era melhor estar calado. Isto porque tinha a noção da responsabilidade de ser filho e neto de quem era.
Mas a rapaziada estava sempre a apertar comigo (este gajo é filho de fadistas e não canta?), alguns até aventavam a hipótese de que eu não cantava porque tinha a mania de que era bom de mais para cantar ali! Mal sabiam eles a pena que eu tinha de sentir que não era capaz.
Certa noite, por insistência do Zé Inácio, grande executante de viola, mas que, na altura, fazia o acompanhamento à guitarra, acompanhado à viola pelo «Pirolito da Ericeira», começaram a dedilhar a Marcha do Marceneiro, o Zé Inácio começou a desafiar-me, era no princípio da noite, não havia ainda muitos clientes, timidamente comecei a entoar o poema Amor é Água Que Corre (eu nem calculava que, afinal, sabia o poema todo). Parece que não saiu muito mal, recordo que o tom em que cantei foi Fá (hoje canto em So/); no final, o Zé Inácio disse-me:
- Como vês, é preciso não ter medo, perder a vergonha e, a partir de agora, ir praticando. Tomei-lhe o gosto e, durante algum tempo, só cantava este fado. Foi ainda com a ajuda do Zé Inácio que comecei a ensaiar e a cantar outros poemas, mas cantava sempre letras e músicas do repertório do meu avô.
Uma noite, no fim da fadistice do costume no Galito, o Valdemar Silva, que era conhecido pelo «Chico Fadista» e passou a ser o meu companheiro destas andanças, aceitou o meu convite para irmos até ao Bairro Alto, ter com o meu pai, Alfredo Duarte Júnior, que estava a cantar contratado no «Solar da Hermínia».
Chegámos, as luzes estavam reduzidas, como é costume quando se canta o fado, era o meu pai que estava a cantar, pelo que ficámos logo ali na entrada, sentámo-nos na mesa da Dona Hermínia que, prontamente, com o ar carinhoso e sorridente com que sempre me recebia, segredou-me ao ouvido que o meu avô, Alfredo Marceneiro, se encontrava na sala.
O meu pai termina o fado que estava a cantar e informa os presentes:
— Senhoras e Senhores, o meu pai, Alfredo Marceneiro, a pedido da Dona Hermínia, vai cantar.
Esta informação foi, de imediato, estrondosa e efusivamente recebida pela assistência, pois era do conhecimento geral, o quanto era difícil convencer Alfredo Marceneiro a cantar.
O meu avô cantou, julgo que uns três fados, sempre escutados num rigoroso silêncio e, no final, vigorosamente aplaudidos.
Ainda com as luzes reduzidas e após uma das entusiásticas ovações que o meu avô teve, sublinhada por ditos do tipo «- Ah! Grande Ti' Alfredo», houve um curto espaço de tempo de relativo silêncio e eis que o Valdemar, o «Chico Fadista», se levanta de repente e, com uma voz possante, diz sensivelmente isto:
- O que vocês não sabem é que aqui o Vitó, neto do Ti Alfredo também canta, e não deixa a família ficar mal!
Fez-se um silêncio total na sala, eu fiquei sem pinga de sangue! (- Ó Chico, tu és maluco?)
A assistência começou a bater palmas, insistindo para que cantasse, eu nem conseguia levantar-me, olhei de relance para o meu pai e para o meu avô, estavam ambos na expectativa, eu só queria que aparecesse ali um buraco onde pudesse desaparecer. A Dona Hermínia, então, com o seu habitual bom humor, disse-me: «- Vai, filho, não tenhas medo. Quando a música começa, a gente esquece tudo.»
Levantei-me, hesitante, e dirigi-me para junto dos guitarristas, pedi que tocassem a «Marcha do meu Avô». Aos acordes iniciais da música, todo eu tremia, mas foi um momento inesquecível, eu ia cantar à frente do meu pai e do meu avô. E, logo a seguir ao meu avô, era uma grande responsabilidade.
Comecei a cantar e nunca tirei os olhos do meu avô. Este, com o cotovelo sobre a mesa e a cabeça apoiada no braço, de olhos fechados, ouvia-me atentamente. Reparei que trauteava baixinho os versos que eu ia cantando e ia acenando com a cabeça.
Quando terminei, o público foi generoso e aplaudiu-me. Dona Hermínia comentou: «- Temos fadista.»
O comentário do meu avô foi: «- Não está mal, mas tem é que aprender outros versos, para não andar a cantar a mesma coisa que eu ando a cantar há mais de trinta anos.» !.
O meu pai avisou-me logo: «- Deixa lá as fadistices, que isto não dá nada, tira mas é o teu curso, e fado, só por desporto.»
Não segui estes conselhos e, sempre que me dão a oportunidade continuo a cantar, nas suas músicas, os versos do seu repertório não enjeitando o “apelido” MARCENEIRO.
Com este episódio ultrapassei algumas barreiras que até então julgava intransponíveis, e assim acabava de entrar no Fado, bem ou mal, mais um elemento da família, dando a origem ás “ 3 GERAÇÕES DE FADO de MARCENEIRO”
Gravei em disco e em Televisão com meu avô e meu pai
2016-01-14VideoClip com imagens das pinturas de Mestre Real Bordalo
Música "Strrets of Sintra" do Maestro Rui Serodio
Sintra é uma vila portuguesa no Distrito de Lisboa, na região de Lisboa, sub-região da Grande Lisboa e na Área Metropolitana de Lisboa.
É sede um município com 317 km² de área e 445 872 habitantes (2008), subdividido em 20 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Mafra, a leste por Loures e Odivelas, a sueste pela Amadora, a sul por Oeiras e Cascais e a oeste pelo oceano Atlântico.
Podemos encontrar em Sintra testemunhos de praticamente todas as épocas da história portuguesa e, não raro, com uma dimensão que chegou a ultrapassar, pela sua importância, os limites deste território. Na candidatura de Sintra a Património Mundial/Paisagem Cultural junto da UNESCO, tratou-se de classificar toda uma área que se assumiu como um contexto cultural e ambiental de características específicas, uma unidade cultural que tem permanecido intacta numa plêiade de palácios e parques, de casas senhoriais e respectivos hortos e bosques; de palacetes e chalés inseridos no meio de uma exuberante vegetação, de extensos troços amuralhados que coroam os mais altos cumes da Serra. Também de uma plêiade de conventos de meditação entre penhascos, bosques e fontes, de igrejas, capelas e ermidas, pólos seculares de fé e de arte, enfim, uma unidade cultural intacta numa plêiade de vestígios arqueológicos que apontam para ocupações várias vezes milenárias.
Nasceu em Lisboa no Bairro de Capo d´Ourique a 9 de Dezembro de 1921.
Começa a cantar como amador nas Sociedades de Recreio aos 15 anos.
Estreia-se em 1938 na verbena de Santa Catarina, passando mais tarde para o Solar da Alegria, Mondego e Luso.
Cantou em Angola , Estados Unidos e Brasil onde grava o seu primeiro disco.
Em 1957 é o representante da música portuguesa no Festival de Música Latina em Génova.
Fez parte do elenco da peça teatral “A Rosinha dos Limões” no Coliseu
Foi atracção na peça “Muitas e Boas” no Teatro ABC .
A 4 de Maio de 1962 comemora as suas Bodas de Prata artísticas no Pavilhão dos Desportos, sendo a comissão organizadora composta por Filipe Pinto e Alfredo Marceneiro.
Esteve muito anos contratado no Restaurante Típico A Severa no Bairro Alto, onde se manteve até á sua retirada.
Na sua longa carreira gravou creca de 70 discos entre Singles, EP e LP.
Das muitos poemas que cantou, houve um que cantava com muito sentimento, era o fado “ A Vassourinha”, poema criado por Silva Tavares e que mais tarde Domingos Gonçalves Costa aproveitando o mote, e faz um novo poemas para Manuel Fernandes. (ver vídeo):
A minha linda Filhinha
Com sua saia de roda
Parce uma vassourinha
A varrer-me a casa toda
Manuel Fernandes faleceu em Lisboa a 20 de Maio de 1994.
Poema de Carlos Conde a homenagear Manuel Fernandes
Na canção como no Fado
Manuel Fernandes tem,
O desejo inconformado
De ser mais, de ir mais além!
Na sua linha traçada
Nada o prende nem assusta,
Porque já conhece a estrada
De quem sobe à sua custa!
E assim, Manuel Fernandes
Um homem que anda na berra,
Pertence à marca dos grandes
Artistas da nossa terra!
Do repertório de Manuel Fernandes um lindo Fado a Lisboa
Fui à noite á Mouraria
Letra de: Artur Ribeiro
Música de: Nobrega e Sousa
Quis ver Lisboa bairrista
E andei
A correr de lés a lés a cidade
Fui ver Alfama fadista
Onde nasceu a saudade
Fui depois à Madragoa
E passei
Ao Bairro Alto velhinho
E em todos os bairros de Lisboa
Encontrei
O Fado até nas pedras do caminho,
Refrão
Fui à Mouraria
E vi
Tudo o que há muito não via
Ali .
Vi o fado a bailar nas vielas
E os cravos a rir nas janelas
Uma guitarra a trinar
Ouvi
E um velho a chorar o passado
Vi passar a procissão
E a Rosa Maria rezar a meu lado
E ao passar junto ao Capelão
Ouvi a Severa cantando o seu fado
À noite o fado é mais fado
E eu
Quis cantar nas ruas da Mouraria
Cantei em tom magoado
Versos que ela nem sabia
Do alto duma trapeira
Desceu
O som duma guitarrada
E foi assim que esta Lisboa.
Inteira aprendeu
Um fado que nasceu na madrugada
Nota: Esta página foi editada pela primeira vez em 2007
O público elege os seus artistas, e, se de uns se cansa ao fim de alguns anos, a outros nunca mais os larga, estabelecendo com eles uma mágica cumplicidade. E por isso que há cómicos que basta aparecerem em cena para, mesmo sem abrirem a boca, o público desatar logo a rir. Mas com Vasco Santana o caso ia mais longe. Era só ouvi-lo falar nos bastidores e a sala vinha abaixo à gargalhada.
Essencialmente um actor de comédia, Vasco Santana chegou ao teatro através da revista, e, à primeira vista, por acidente. Nascido numa família ligada ao teatro, sobrinho do empresário e autor Luís Galhardo, filho do conhecido encenador Henrique Santana (1876-1935), cursava as Belas-Artes, aos 19 anos, e era frequentador assíduo das caixas dos teatros. Sabia de cor o papel do ' 'compère" que Artur Rodrigues fazia na revista O beijo (1917). E, por isso, quando aquele actor adoeceu e Vasco passou pelo Avenida, numa tarde de domingo, de tipóia, pronto a bater para os toiros, a ver o Belmonte, pegaram nele, pintaram-no, vestiram-lhe a farpela do ' 'compère", meteram-no numa mala, fizeram-no subir num alçapão, e eis no palco, fazendo a sua improvisada estreia, um dos cómicos que o público mais iria amar.
Como o "compère" não melhorou, Vasco Santana ficou até ao fim da revista, a que logo outra se seguiu. Passou pela companhia Satanela-Amarante, onde criou o Nem de Míss Diabo (1918), e manteve-se muitos anos na companhia de operetas de Armando de Vasconcelos, destacando-se no repertório vienense, com breves escapadelas à revista.
A comédia O meu menino (1930) traz-lhe um daqueles sucessos que consagram definitivamente um artista. É durante as representações desta peça que morre uma das intérpretes, a actriz-cantora Aldina de Sousa, a quem Vasco Santana estava há anos ligado, o que provoca grande mágoa entre artistas e público.
Tirando partido da sua figura avantajada, inexcedível no improviso, no aparte, Vasco encabeça companhias de comédia, somando êxitos populares, como Desculpa, ó Caetano (1932), conquistando um público que acorre apenas o seu nome é anunciado e, até ao fim, se lhe mantém fiel. Quando aparece na revista, especialmente ao lado de Beatriz Costa (Santo António, 1934; Arre, burro, 1936), as suas rábulas são de efeito seguro.
Enquanto dura o seu casamento com Mirita Casimiro (1940-1946), representa quase sempre ao seu lado, em operetas (Ribatejo, 1939; Coíete encarnado, 1940; A invasão, 1945) e revistas (A grande paródia, 1941; Aleluia, 1942; Cantiga da rua, 1943; Baile de máscaras, 1944), formando com ela um par contrastante estilo Bucha e Estica, cheio de comicidade, que o público acarinha sem reservas. Vasco é autor de quase todos esses êxitos, assim como do argumento de filmes muito
populares.
É deste período Alto lá com o charuto (1945) — a revista que mais tempo esteve no cartaz, na década de 40 — onde Vasco teve excelentes rábulas de recorte político {o Fogueteiro e o Nero, deitando fogo a Lisboa, como já se fizera, em 1907, no O da guarda) e um travesti de sensação, em duo com Mirita: Manas Remendonças, paródia às cantoras da rádio — tipo irmãs Meireles — que então abundavam. Outro seu travesti famoso foi a cozinheira, ao lado de António Silva, o cómico que com ele melhor contracenou, fazendo então a criada de fora, nesse dueto da revista Se aquilo que a gente sente... (1947).
Além do cinema e do teatro, também a rádio foi um óptimo veículo para Vasco Santana. Os diálogos Zequinha e Lelé, cenas da vida de um casal lisboeta, que a Emissora Nacional transmitiu aos domingos durante muitos meses (1947-1948), foram imensamente populares e neles Vasco lançava ditos que toda a gente repetia, desde o bem disposto "tá bem ou não tá?", com que interrogava a Lelé (Irene Velez), ao enfadado "aquela santa", com que se referia à sogra (Maria Matos).
Nas pausas da comédia, onde agrada sempre ao público, mesmo que se repita em espectáculos de pouco nível, Vasco Santana consegue boas actuações na revista, contracenando com as estrelas do momento: Hermínia Silva (Ora agora viras tu, 1949, com rábulas de grande oportunidade política), Irene Isídro, sua companheira de muitas comédias (E de gritos, 1950), Laura Alves, (Mulheres há muitas, 1954) e a talentosa brasileira Bibi Ferreira, na sua última revista Há horas felizes (1957, com o notável Pintor do Torel uma boa imitação de Churchill).
Actor que o público ainda recorda de forma muito viva, Vasco Santana ficou no teatro português como um caso raro de popularidade e comunicação imediata.
In: Revista à Portuguesa de Vítor Pavão dos Santos
"Ó EVARISTO, TENS CÁ DISTO?..."
Este trocadilho dizia-o ele no filme "O Pátio das Cantigas", e ficou célebre!
Tudo o que dizia tinha graça. Bastava-lhe entrar em cena para o público começar a rir; abria a boca, as graças saíam em catadupa e as gargalhadas na sala soavam contínuas e estridentes. Era assim o Vasco Santana! a graça personificada.
A arte de transmitir a boa disposição e a alegria de viver!..
Seu pai queria que ele cursasse Belas-Artes, mas, para ele, a arte mais bela era o Teatro...
Seu tio, Luís Galhardo, era na juventude do Vasco empresario do teatro Avenida, e Vasco Santana, fugindo às aulas de Belas-Artes, passava a maior parte do seu tempo nos bastidores do teatro. Sabia de cor todos os papéis da revista que nessa altura lá estava em cena com grande êxito: "O Beijo"...
Era assim Vasco Santana.
Foi num domingo de Outubro de 1917, a matinée estava esgotada, mas o Vasco não apareceu no teatro, preparava-se para ir ver uma corrida ao Campo Pequeno, já com um bilhete de barreira na algibeira...
Porém, o destino marca a hora e, na hora em que o Vasquinho (como o tratava a família),embarcava num trem que o conduziria à praça de touros, aparece-lhe o seu tio Luís Galhardo , muito aflito a dizer-lhe que o compère da revista tinha adoecido e era preciso que o Vasco o substituísse...
"Não posso tio; vou ver o Belmonte tourear...", mas teimar com o seu tio era escusado e, contrariado lá foi para o teatro. Lá dentro meteram-no numa mala que,na devida altura, era empurrada para cena. E foi assim que o nosso Vasco Santana entrou no palco....fez o papel que (claro) sabia de cor, fez o melhor que pôde e o publico riu que se fartou. Tinha nascido o actor que durante quarenta anos fez rir o País.
Tornou-se o menino querido do Teatro, e em todos os géneros brilhou; Na Revista à Portuguesa, na Comédia, na Opereta e claro , no Cinema!!! Foi grande em tudo!
A propósito da sua estreia, costumava dizer: "Ia ver o Belmonte tourear e fui eu que, sem querer,fui colhido..." Era assim o Vasco Santana...
Uma vez , quando saía do teatro após a sessão, um homem de aspecto provinciano dirigiu-se-lhe e disse: " Fui ver a revista e o senhor fez-me rir como ainda ninguém tinha feito; tome lá cinco mil reis de gorjeta porque bem merece.....", Vasco Santana aceitou, comovido com a simplicidade e a boa intenção do homem, e arrecadou a moeda.... costumava dizer que essa moeda simbolizava a sua consagração, e guardou-a durante toda a sua vida.
Para a Revista à Portuguesa que progressivamente tem vindo a perder valores, a perda do Vasco Santana na altura, foi irreparável, ele era único e insubstituível.
Manuel Gírio
Carlos Escobar
CANTIGA PARA O VASCO SANTANA
Poema de Carlos Escobar
Ele foi Vasco Vasquinho
Ele foi o que quis ser
Foi policia, foi ladrão
Foi doutor, foi aldrabão
Vejam lá que foi mulher !!!
Ria tudo à gargalhada
Quando chegava o Santana
Ele era cada piela
Aos tombos pela viela
Que às vezes ia de cana
Foi talvez o mais Vascão
Foi desde a rádio à revista
Era gordo, nós sabemos
E que saudades nós temos
Desse gordo, desse artista
Fico triste quando penso
Porque não temos já disto
Tanta arte, na verdade
De perguntar dá vontade
"tens cá disto, ó Evaristo ???"
Inda agora, quem diria
Quando dá filme do vasco
Na família há alegria
Há gargalhada no tasco
Vasco Santana e Mirita Casimiro, a dupla mais cómica e que mais agradou ao povo do seu tempo (Foto 1936)
Foto da capa do disco Vítor Duarte (Marceneiro) 1972
Gravei este Fado, no meu segundo EP em 1972, para a etiqueta Estúdio. Os versos tiveram que ser reduzidos por imposição das rádios e das editoras.
Foi gravado nos anos 30 por Alfredo Marceneiro, nos antigos discos de massa, infelizmente, nunca mais, foi com este poema que teve a inspiração para fazer a música a que deu o nome da própria letra, como era costume na época.
O Fado do Cravo, é um dos mais importantes, do role dos "Fados Clássicos", pois é das músicas que mais tem inspirado poetas a fazer versos especificamente na sua melodia.
O Fado Cravo também é conhecido por Fado da Viela, em consequência do poema que o Dr. Guilherme Pereira da Rosa fez para o repertório de Alfredo Marceneiro, e que ele interpretou como ninguém.