Dom Vicente da Câmara deixou-nos.
O corpo estará em câmara ardente hoje na Igreja da Graça.
O enterro será amanhã no cemitério dos Prazeres às 15.30 Hrs.
D. Vicente Maria do Carmo da Câmara, conhecido artisticamente por Vicente da Câmara, nasceu em 1928, em Lisboa na freguesia de Santa Catarina.
É Bisneto do dramaturgo, poeta e jornalista D. João da Câmara, que distinguiu-se desde novo pelo seu estilo pessoal (Fado das Caldas), que ninguém conseguiu até hoje imitar.
Vicente da Câmara estreou-se em público em 1948, com 20 anos na Emissora Nacional.
Acompanhando-se à guitarra, Vicente da Câmara mantém a tradição do fidalgo fadista, fiel ao fado castiço, não dispensando os outros acompanhadores.
Gravou vários discos com um repertório muito próprio para o seu estilo de cantar.
Vicente da Câmara cantou em festas e espectáculos por todo o País (incluindo Açores e Madeira), em Angola, Moçambique, África do Sul, França, Alemanha.
Actuou no S. Luís na Festa de Homenagem a Alfredo Marceneiro em 1963.
Em 1983/1984, em Hong-Kong, China Continental e Macau, território aonde voltaria outras vezes, a última delas em 1990.
Tem um filho que lhe segue as pisadas no Fado, o José da Câmara.outos seu descenedentes também cantam.
Teve um enorme êxito com o Fado das Caldas, mas dos seus fados mais conhecidos, com letra da sua autoria é decerto:
A MODA DAS TRANÇAS PRETAS
Como era linda com seu ar namoradeiro,
'Té lhe chamavam menina das tranças pretas.
Pelo Chiado caminhava o dia inteiro
Apregoando raminhos de violetas.
E as raparigas de alta-roda que passavam
Ficavam tristes a pensar no seu cabelo.
Quando ela olhava, com vergonha disfarçavam,
E pouco a pouco todas deixaram crescê-lo.
Passaram dias e as meninas do Chiado
Usavam tranças enfeitadas com violetas.
Todas gostavam do seu novo penteado
E assim nasceu a moda das tranças pretas.
Da violeteira já ninguém hoje tem esperanças.
Deixou saudades, foi-se embora, e à tardinha
Está o Chiado carregado de mil tranças,
Mas tranças pretas, ninguém tem como ela tinha.
Manuel Da Graça, que foi amigo e empresário de Fernando Farinha nos Estados Unidos e em França, fez questão de oferecer ao espólio da Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado" - Alfredo Marceneiro, a Guitarra Portuguesa que o Fernando Farinha possuia, e que embora não tocasse sempre que ia ao estrangeiro gostavde levar o simbolo do fado, na útima vez que esteve nos Esrados Unidos ofereceu ao Manuel DaGraça. Foiu uma honra esta oferta
Nasceu no fim do Século XIX em Lisboa no bairro de Alcântara (1891-1956).
Era a época do «Fado das Hortas». Lisboa divertia-se nesses sítios, com vinhos e petiscos e fados em mote e glosas. Nos Salões mais nobres, nos pátios e adegas típicas, nas esperas de gado, as cantigas à guitarra soavam em grandes despiques. Era a áurea de Júlia Mendes e Maria Vitória, das feiras de Agosto e das Touradas reais.
Pois foi nesta época que João Maria dos Anjos acompanhou o Fado, sendo um dos cantadores mais aplaudidos, fez parte dessa plêiade de genuínos a que pertenceram José Bacalhau, João Junça, Joaquim Real, João Espanta, José Peres e outros, na companhia dos quais começou a cantar o Fado nos antigos retiros do João da Ermida, Tia Iria e José dos Pacatos, e, depois, no Ferro de Engomar, Pedralvas, Charquinho, Caliça, Perna de Pau, António da Rosa e Quinta da Montanha.
Cantou também nos teatros Luís de Camões, Étoile, Trinas, Salão dos Anjos, Moderno e Coliseu da Rua da Palma, e mais tarde no Coliseu dos Recreios, S. Luiz, Eden, Apolo e Gimnásio.
Num concurso, de Fados, em que concorreram muitos fadistas de nomeada na época, ganhou a medalha de oiro.
Possuía também o dom de ser poeta, compunha versos que passou também a cantar, bem compostos e com rimas muito bem improvisadas.
Era um fadista da «Velha Guarda».
Sim, um fadista da «Velha Guarda». Nasceu nos fins do Século XIX, que foi considerado, o tempo do «Fado das Hortas. Lisboa divertia-se nesses sítios endémicos de evasão, com vinhos e petiscos e Fados em mote e glosas. Nos Salões mais nobres, nos pátios e adegas típicas, nas esperas de gado, as cantigas à guitarra soavam em grandes despiques. Era a nos tempos áureos da Júlia Mendes e Maria Vitória, das feiras de Agosto e das Touradas reais.
Pois foi por essa época que João Maria dos Anjos veio acompanhando o fado, sendo cantador dos mais distintos. Entrou num concurso, e ganhou o primeiro prémio, a medalha de oiro.
Também possuía o dom de ser poeta, compunha os versos que entoava, com aquela voz arrastada e ritmada, de que só os eleitos conseguem.
Foi no tempo do Fado no reinado de D. Carlos – quando o Hilário vinha de Coimbra a Lisboa, para saudar João de Deus!...
Fado do tempo da efervescência romântica e republicana — com Guerra Junqueiro a escrever «A Pátria», Ângela Pinto a viver «A Severa», Adelina Abranches a «Rosa Enjeitada», Malhoa a pintar «S. Martinho» e o seu «Fado»!.,.
Fado do tempo da Grande Guerra — o Soldado Desconhecido sepultado nas lajes do Mosteiro da Batalha e Estêvão Amarante a cantar o «ganga> e o «Trinta e Um».
O povo tomava conta dessas cantigas todas. Os cegos andavam de rua em rua a divulgar em panfletos estes temas.
João Maria dos Anjos passou por isto tudo, foram 65 anos de vida fadista.
Ainda hoje é com melancolia que se faz esta evocação.
Fado de outros tempos! Fado, saudoso de outras eras.
Ó fado que foste fado!
João Maria dos Anjos, e tantos outros que como ele souberam dignificar e prestigiar o verdadeiro Fado, já partiram à muito. Perderam-se essas figuras da boémia sadia dos velhos tempos, em que a camaradagem pairava acima das conveniências, enquanto o valor dominava a questão dos interesses e até a fúria da publicidade.
Pobre “Velha Guarda” Que ao menos o vosso passado, honrado e digno, pudesse servir de estímulo, de exemplo e de encorajamento, para alguns fadistas da moderna geração, desses raros fadistas que ainda não se subverteram nem vincaram na onda alta que se desfaz na espuma das vaidades, nem no brilho balofo e efémero dos triunfos passageiros.
© Vítor Duarte Marceneiro
Nasceu em Lisboa em 1856, no bairro da Mouraria
Tal como era hábito na altura , ainda muito jovem teve que ira trabalhar, aprendeu o oficio, de “oficial de corte” vulgo sapateiro.
Começa a frequentar as tascas da Mouraria só para ouvir Fados, e logo sente a sua aptidão para a música.
Começou a aprender guitarra por intuição e mais tarde com a ajuda de alguns executantes da época.
As suas qualidades de executante de guitarra, eram muito comentados e consequentemente deram-lhe fama.
O Rei D. Carlos, que muito apreciava o Fado e a sonoridade da guitarra, contrata-o para lhe dar lições de execução da guitarra portuguesa.
João Maria dos Anjos, aos vinte e oito anos começa a ficar doente dos pulmões e é o próprio Rei D.Carlos, que fazia questão de pagar o médico e os tratamentos, bem como assumiu as despesas do respectivo funeral, quando este veio a falecer.
Fundou o Sexteto de Guitarras João Maria dos Anjos, que era composto pelos seguintes elementos, nas Guitarras – João Maria dos Anjo, Luís Cardoso da Silva ( alcunha, O Petrolino), João da Preta e Augusto Pinto de Araújo (alcunha, O Camões), nas Violas - António Eloy Cardoso e José Maria Uriceira ( alcunha, O Zaraquitana).
O Sexteto de Guitarras João Maria dos Anjos, fizeram a sua apresentação num concerto público, no dia 3 de Maio de 1873
Escreveu um livro para ensinar de forma simples a tocar guitarra portuguesa, “NOVO METHODO DE GUITARRA” que foi publicado muito pouco antes da sua morte.
João Maria dos Anjos morre na casa onde vivia, na Rua Direita de Arroios, no dia 25 de Junho de 1889, tinha 33 anos.
Logo após a sua morte por deliberação camarária de 16 de Agosto de 1889, passou a chamar-se Rua dos Anjos à rua direita de Arroios antiga rua do registo Civil, em sua memória.
Capa e uma página do livro "Methodo de Guitarra
Imagem da Guitarra Portuguesa em 1796
Ana Maria Gonçalves Dias, nasceu em Luanda a 23 de Outubro de 1952 no bairro da Samba.
Desde os 4 anos de idade que foi educada juntamente com portugueses da Metrópole, o que lhe proporcionou não ter sotaque africano, a falar o português, exprimindo-se correctamente, quer oralmente, quer gramaticalmente.
Desde sempre que se lembra da mãe a cantarolar Fados, enquanto fazia as lides da casa, e, naturalmente os temas ficavam-lhe na memória, começando também, a cantarolar com ela.
Tinha 10 anos, foi a um concurso em Luanda, que se realizava no Cinema Restauração, era o programa “Chá das Seis” , tendo ficado em primeiro em 1ºlugar, com apreço e unanimidade.
Por esta altura, estava-se em 1962, estava radicado em Angola, o Maestro Casal Ribeiro, que ao ouvi-la, logo se propôs dar-lhe aulas de canto, ensino e exercício da colocação da voz, que durou cerca de nove anos, mas entretanto, já era muito solicitada para actuar em espectáculos.
Corria o ano de 1975, parte para Portugal, e fixa-se em Santarém. Arranjou trabalho numa sapataria mas continua a cantar o Fado sempre que tem oportunidade.
Integrando-se cada vez mais na na comunidade portuguesa, cedo começa a ser solicitada para cantar em certames com Fado, sendo bastante aplaudida.
Em 1981 vem para Lisboa, foi de imediato contratada por João Ferreira da Rosa, à altura proprietário da Taverna do Embuçado, onde se manteve vários anos. Mais tarde transitou para a Taverna Del-Rei, pela mão de Maria JóJó.
Em 1987 é convidada a ir para o Porto actuar no Mal-Cozinhado, cujo proprietário era o Zé Martinho.
É no Porto que ana Maria conhece quem viria a ser seu marido e de quem teve um filho, era o Joaquim Dias, filho do fadista Manuel Dias.
Volta para Lisboa e após o parto, está uns tempos sem cantar.
Mal se sente em condições, retorna à Taverna Del-Rei, onde se mantém até aos dias de hoje.
Ana Maria ou Ana Maria Dias faz questão de se apresentar como a “Fadista-Negra”
Hoje em dia é usual, os fadistas por acordo dos proprietários das casas de fado, actuam intercaladamente entre umas e outras, razão pela qual, a encontrei numa ida ao Restaurante Típico Guitarras de Lisboa, o que me deu a oportunidade de realizar o vide-clip que se segue, julgo mesmo que será o primeiro que Ana Maria passa a ter no Youtube, filmado e gravado ao vivo, já lá tem um, realizado pela minha amiga “TiaMacheta”, com base em fotos, e como é habitual no que ela faz, está muito bem conseguido.
Ana Maria faleceu a 28 de Novembro de 2011
Vítor Marceneiro
FILMADO EM ALTA DEFINIÇÂO "HD", SE NÃO VIR A JANELA COMPLETA, ACTIVE A JANELA PARA VER EM "ECRAN" INTEIRO
Ana Maria Dias - Fadista Negra
Canta: Zanguei-me como o meu amor
Letra: João Linhares Barbosa
Música: Jaime Santos