Na realidade, foi batizada como Maria Emília Ferreira Lima, a Mila para os amigos e familiares, nasceu na Barqueira a 19 de Julho de 1945, junto à Vila de Sobral de Monte Agraço, Vila onde viveu a sua infância, lá estudou e é lá tem ainda hoje tem a sua residência.
O seu primeiro emprego foi no Colégio Moderno, em Lisboa, depois trabalhou em diversas empresas no Sobral de Monte Agraço, até á sua reforma.
Desde muito jovem que se sentiu atraída pelas artes, mas no Fado começou a destacar-se a partir de 1970, nas festas da Vila, em especial na “Tasca do Carreiras”, tal como outros amigos sobralenses, destacando-se, o Egídio, o António Jordão, todos lá cantavam, mas á “cappela”.
A primeira vez que se apresentou em público devidamente acompanhada com guitarra e viola, foi numa Festa de Natal dos Bombeiros Voluntários do Sobral de Monte Agraço, em 1972, onde teve enorme êxito sendo estrondosamente aplaudida.
Foi o ponto de partida para ganhar confiança e começou a ir para Lisboa, frequentando as Tertúlias de Fado, onde sempre foi muito bem recebida e onde cultivou muitas amizades e admiradores.
Entre os seu admiradores, estava o seu amigo Manuel Tavares, que à altura, era trabalhador da RTP, que a convidou para uma Festa de Natal dos Trabalhadores da RTP, o que aconteceu por dois anos seguidos, tal foi o seu desempenho. Nestas festas, foi acompanhada na guitarra portuguesa por António Chainho, e na viola pelo José Maria Nóbrega, que muitos gostaram do seu estilo de cantar, deste encontro nasceu uma amizade, que mais se cimentou, quando da gravação do seu primeiro Disco EP, para a etiqueta Alvorada em 1976, pois o elenco musical foi o Conjunto de Guitarras de António Chainho, composto pelo próprio, pelo guitarrista José Luís Nobre Costa, o viola de acompanhamento José Maria Nóbrega, e o viola-baixo Raúl Silva. Neste trabalho, Maria Emília Sobral, dá-lhe o titulo “Meus Senhores Chamo-me Fado” , tal como o letra do Fado que canta, da autoria de Luiz Miguel Oliveira, é de lembrar que estávamos em 1976 e o Fado era muito contestado e apelidado de reacionário, senda esta letra, um grito de defesa do próprio Fado, canta ainda, “O Fado Monte Agraço”. “O Fado de Abril” e “Vejo-te ao Longe Partindo”. Em 1978, grava o seu segundo EP, também para a etiqueta Alvorada e novamente com o Conjunto de Guitarras de António Chainho, com os temas: “Mensagem”, “Sardinha na Brasa”, “De Novo” e “Não Passo de Ser Nada”
Em 1977, iniciam-se as suas deslocações para o estrangeiro, contratada para cantar, esteve três meses na África do Sul, onde Cantou em Joanesburgo, no Cabo e em Durban, integrada numa digressão artística, a que chamaram “Caravana da Saudade”, digressão esta muito assinalada, quer nos jornais, revistas e na Rádio local.
Em 1978, foi à Holanda, com Arlindo de Carvalho, com a Ágata (nessa altura Fernanda de Sousa) e outros artistas, onde atuaram em Haia, Amsterdão e Roterdão.
Ainda em 1978 na sequencia do êxito do seu segundo EP, atuou no programa da RTP – Último Fado.
Em 1979, voltou á Holanda, esteve em Antuérpia, na Bélgica, seguindo-se Alemanha, em Singen.
Em Portugal, fez muitos espetáculos em festas de beneficência, assim como, atuações em casas de Fados , Adega da Matilde, o Castiço, o Embuçado, o Nove e Tal, o Pátio das Cantigas, entre outros.
Em 1988 voltou à Africa do Sul, convidada para as Comemorações Oficiais do Dia de Portugal, tendo atuado em Joanesburgo, Pretória e Windhoek.
Regressada a Portugal conheceu o companheiro da sua vida, Diamantino Calisto e, em 1991, decidem ir para Angola, para tentarem uma nova experiência nas suas vidas, não foi nada fácil, dadas as condições politicas e sociais em Angola, nessa época. Abrem um restaurante, “O Pátio Alfacinha”, e como em Angola também se aprecia o Fado, passam a dar frequentemente, sessões de Fado, foi várias vezes contratada para atuar, no Hotel Ritz, no Méridien, no Vitória Garden, na Casa 70, na Associação 25 de Abril, e na Embaixada de Portugal em Luanda, ao lado de Carlos do Carmo, Camané, Beatriz da Conceição, Ricardo Ribeiro, Rodrigo, entre outros.
Como fadista que é, nunca deixou de cantar, sempre que é convidada ou como muitas das vezes acontece e vem até á Lisboa Fadista, onde é sempre recebida carinhosamente.
Tenho um carinho muito especial pela Mila, fui seu vizinho no Sobral de Monte Agraço, terra onde nasceu a minha filha Beatriz.
Maria Emilia Sobral
Canta: Sardinha na Brasa
QUE SAUDADES....
ALFREDO DUARTE JUNIOR
Faria hoje 92 anos de idade, se o meu saudoso pai estivesse entre nós, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, a 23 de Dezembro de 1924.
Foi apelidado de "Fadista Gingão" porque começou a dar às suas interpretações uma coreografia , inédita no Fado, o que lhe valeu muitas críticas, mas ainda hoje é relembrado e há muitos fadistas que o imitam, e com admiração, quer no gingar, quer usando o lenço, ou boné.
Por fim chamaram-lhe o "Fadista Bailarino" uns gostavam, outros não, mas meu pai marcou um estilo muito seu, e tem por mérito próprio um lugar na História do Fado, embora no Museu do Fado, onde até cantou na inauguração, não tem lugar naquele vasto painel de fotos. Não seria lógico estar ao lado de seu pai? Será porque eu ser "persona no grata"? É legítimo que eu questione, será que as "Três Gerações de Fado" - Avô, filho e neto, quer se goste ou não, não são um facto histórico do Fado?
Alfredo Duarte Júnior nos anos sessenta foi Rei da Rádio num concurso que era na época organizado pela revista "Plateia" da Agência Portuguesa de Revisras.
Ainda na memória dos verdadeiros amantes do Fado, como «Castiço e/ou fadista bailarino» Alfredo Duarte Junior, sempre fez por honrar o nome do seu pai, Alfredo Marceneiro.
Cantou em muitas casas de Fados, mas destaca-se a A Severa, na Viela, a Adega Machado, etc.
Faleceu a 6 de Junho de 1999, na casa onde viveu cerca de 30 anos na Rua do Cura à Madragoa.
A carreira de Alfredo Duarte Junior, meu pai merece, e terá decerto, um interessante e importante capítulo para o recordar, na história do Fado.
Na época do Natal, cantava sempre o Fado "Aí Vem o Natal" cuja letra é da autoria de Carlos Conde, afirmando que era o seu cartão de Boas Festas, para todos os amigos e admiradores.
Aí Vem o Natal
No Natal, durante muitos anos, o pinheiro era a árvores que levávamos para casa para decorar e comemorar o Natal, havia muito abate indiscriminado, que muito prejudicava a floresta, mas o abate pela necessidade do repovoamento pinhal, ébenéfico, mas nem toda a gente assim o entendia e o estado estava atento.
Como profissional de cinema fiz alguns alguns filmes para a então Direcção Regional das Florestas, com mensagens pedagógicas, hoje já não é tanto assim pois as árvores são artificiais.
Quando os meus filhos eram mais pequenos fiz este filme com eles para os sensibilizar e li o poema.
ORAÇÃO DA ÁRVORE
Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de Inverno;
Eu sou a sombra amiga que tu encontras
Quando caminhas sob o sol de Agosto;
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa,
A t á bua da tua mesa, a cama em que tu descansas
E o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira do teu berço, o aconchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da Beleza.
TU QUE PASSAS, OLHA-ME E NÃO ME FAÇAS MAL.
VideoClipe: Realização Vítor Duarte Marceneiro
Figurantes: Alfredo Duarte e Beatriz Duarte (4ª Geração de Marceneiro)
Ideia recolha de fotos na net: Alfredo Duarte
Palavras ditas por: Vitor Duarte Marceneiro
Música: Fado Ana Maria de Alfredo Marceneiro
Interprete: Arménio de Melo à Guitarra. Viola Jaime Santos, Viola Baixo José Elmiro
Oh! Lisboa, minha querida Lisboa,
teres sido a minha cidade berço
foi uma ventura divina.
Cescer e viver em ti, foi uma benção.
Amar-te é um dever, é profissão de fé.
Cantar-te são declarações de amor.
Mas através de ti, receber poemas que são para ti,
incluindo afagos para mim.... é um honra, é um orgulho.
Amo-te Lisboa
Assina Vítor Duarte (Marceneiro)
NOSSA SENHORA DO FADO
Lisboa é terço rezado
Nos passos de cada passo
Madrigal,cantar,jardim
Lisboa é uma aguarela
Que desanda n'um bailado
Em olhos d'olhares sem fim
Nossa Senhora do Monte
Desce em veleiro da Graça
Sangra a colina a descer
E segue a seguir p'ró Tejo
P'ró meu terreiro sem paço
Dos meus passos a doer
Lisboa é fado de luz,
Nossa Senhora da Luz
Desata-me o corpo ao céu
Dá-me o farol do teu mar
E desagua o luar
No cantar do fado meu
Lisboa é luar ao vento,
Três almas de Marceneiro
Que a levam de braço dado
Ai, meu amor cantadeiro
Não te percas d'esse jeito,
Nossa Senhora do Fado!
Para o Vítor com um xi-coração.
m.josépraça.
TENS NO OLHAR SETE COLINAS
Tens n' olhar sete colinas
Tens cantigas e marés
Tens quadras de Santo António
Brumas de Fado a teus pés
És terra à beira do rio
És fado a rasgar o tempo
Tens nas mãos-das-tuas-mãos
Asas que voam no vento
És peregrino de Lisboa
Solidão de mar de nardos
Guardas terraços nos olhos
Rasgados em mil pedaços
Porque quem poisar em ti
Vai p'ró céu de sete céus,
Sete colinas de ti ... ...
Beijinhos de mim para ti.
Eu.
Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, nasceu em Coimbra no dia 1 de Fevereiro de 1937 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1995. Notabilizou-se como jornalista, crítico , tradutor e escritor . Filho de pai médico e de mãe doméstica , licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, tendo vivido nesta cidade até que foi chamado para o serviço militar em 1961 Desde muito jovem se interessou pelas artes e letras, foi actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, o que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos. Publicou a primeira obra em Coimbra, com o patrocínio paterno, “Cuidar dos Vivos” , livro estreia, com poemas de protesto político e cívico, com afloramento dos temas da morte e do amor. Em apêndice, dois poemas sobre a guerra em Angola, que terão sido dos primeiros publicados sobre este conflito. O tema da guerra em África voltaria a impor-se em Câu Kiên: Um Resumo (1972), ainda que sob "camuflagem vietnamita", livro que em 1976 conheceria a sua versão definitiva: Katalabanza, Kilolo e Volta. Memória do Contencioso (1980) reúne "folhetos" publicados entre 1972 e 1980, e Variações em Sousa (1987) constitui um regresso aos temas da infância e da adolescência, com Coimbra como cenário, e refinando uma veia jocosa e satírica já visível nos poemas inaugurais. A novela Walt (1978) comprova-o exuberantemente. Era notável em Assis Pacheco a sua larga cultura galega (origens do avô), sobejamente explanada em alguns dos seus textos jornalísticos e no seu livro Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Em 1991 publica a “A Musa Irregular” em que reuniu toda a sua produção poética. Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, no jornal A República, no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi director-adjunto. Foi também redactor e chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária, tendo sido também colaborador da RTP. Entre os seus poemas destaco dois, Última Tesão e Nini dos meus Quinze Anos, este último musicado e cantado por Paulo de Carvalho. Fui um dia apresentado a Fernando Assis Pacheco, por um amigo jornalista que lhe informou quem era o meu avô, confidenciou-me que para ele havia dois tipos de Fado: — O outro e o de Marceneiro. Penso que nunca escreveu nenhum Fado, mas podia ter escrito, tinha “Alma” para tal. Escreveu um poema bem popular que já referi “Nini dos meus Quinze Anos”, mas que nas suas biografias, nem sequer é referido… Porque será? Se calhar até escreveu alguns Fados… Quem sabe se também foram ignorados!
ÚLTIMO TESÃO
De: Fernando Assis Pacheco
Alombo contigo há uma porção de anos
e vou-te dizer és um chato
não tens ponta de paciência
para a vida nem para ti próprio
já te ouvi discursos a mandar vir
já te carreguei às costas
bêbedo como um Baco de aldeia
mijando as ceroulas
és um adolescente retardado
faltou-te sempre a quadra do bom senso
vez por outra um livrinho
de versos vez por outra nada
qualquer um do teu tempo
está bastante melhor do que tu
deputado administrador de empresa
ministro da maioria
puta (alguns chegaram a isso)
só tu meu inocente brincas com a neta
açulas o cão pedindo
à família que te ature
o tipo um dia destes morde-te
que é para aprenderes
mas aqui entre amigos
vou-te dizer também
uma coisa importante não cedas
à tentação de mudar
fica nesta pele que é tua
como é que tu escrevias
merdalhem-se uns aos outros
o país mete dó
guarda o último tesão
para mandares
meia dúzia de canalhas à tábua
PAULO DE CARVALHO
De: Fernando Assis Pacheco
Canta: Nini do Meus Quinze Anos
Nini dos Meus Quinze Anos
Chamava-se Nini
Vestia de organdi
E dançava (dançava)
Dançava só p´ra mim
Uma dança sem fim
E eu olhava (olhava)
E desde então se lembro o seu olhar
É só p´ra recordar
Que lá no baile não havia outro igual
E eu ia para o bar
Beber e suspirar
Pensar que tanto amor ainda acabava mal
Batia o coração mais forte que a canção
E eu dançava (dançava)
Sentia uma aflição
Dizer que sim, que não
E eu dançava (dançava)
E desde então se lembro o seu olhar
É só p´ra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda sempre assim
Nini dançava só p´ra mim
E desde então se lembro o seu olhar
É só p´ra recordar
Os quinze anos e o meu primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Toda a ternura que tem o primeiro amor
Foi tempo de crescer
Foi tempo de aprender
Que a vida passa
Mas um homem se recorda, é sempre assim
Nini dançava só p´ra mim