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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Quinta-feira, 29 de Agosto de 2019

JÚLIA MENDES

 Cantadeira e actriz, nasceu em Lisboa (1885­-1911).

Revelando desde pequena especial talento, começou a cantar o Fado pelas ruas de Lisboa enquanto a mãe pedia esmola.
Estreou-se no teatro de revista no Teatro da Trindade, no dia 25 de Dezembro de 1902, numa matinée promovida pela Tuna do Diário de Notícias.
Foi a consolidação de uma carreira iniciada nos teatros de feira, situação que viria a prejudicá­-la junto de alguns empresários, nomeadamente José dos Santos Libório, do Casino de Paris, o qual apesar disso lhe assegurou o primeiro contrato estável, tornando-se desde logo conhecida do grande público pelo seu espírito trocista, ditos brejeiros e capacidade de improviso.
Passou pelo Príncipe Real e pelo teatro Aveni­da. Ficaram célebres as suas participações nas revistas Ó da Guarda!, P'rá Frente, Zig-Zag, ABC e Sol e Sombra.
Menina mimada do povo boémio da época pela beleza da sua voz e dicção claríssima, foi con­siderada Rainha da Revista, chegando a manter um teatro com o seu nome - Salão Júlia Mendes­ na Feira de Agosto.
Desempenhou o papel de Se­vera na ópera cómica do mesmo nome, acompa­nhando-se à guitarra.
Os seus grandes olhos expressivos e alegria na­tural criaram um estilo a que não era alheio, segun­do os críticos da época, uma subtil tendência para o trágico dentro do próprio humor que levaram ao carácter eminentemente popular da sua Severa.
Representou pela última vez, em 1910, na Fei­ra de Agosto, na revista Zig-Zag.
Tal como Maria Vitória desaparecida muito jovem, com ela se formou um dos grandes mitos dos tempos do Fado do início do século.
Em 1969, na Revista Ena, Já Fala, é relembrada por Fernanda Batista, que declamava:
Acabando em apoteoso cantando o Fado ”Saudades da Júlia Mendes”,
cujos autores foram: João Nobre e César de Oliveira, Rogério Bracinha e Paulo Fonseca
© Vítor Duarte Marceneiro

 

Maria da Nazaré canta:

Saudades da Júlia Mendes

 



Saudades da Júlia Mendes

Eu trago a vida suspensa
Das cordas duma guitarra
Mas oiço com indiferença
Quando me veem dizer
Naquela ideia bizarra
De eu não cantar p'ra viver.

 


Ó Júlia
Trocas a vida pelo fado Pelo fado
Esse malandro vadio
Ó Júlia
Olha que é tarde
Toma cuidado
Leva o teu xaile traçado
Porque de noite faz frio
Ó Júlia
Andas com a noite na alma
Tem calma
Inda te perdes p' raí
Ó Júlia
Se estás no mundo vencida
Não finjas gostar da vida
Que ela não gosta de ti.

Não fales coração
Tu és um tonto sem razão
Viver só por se querer
Não chega a nada
Aceito a decisão
Que os fados trazem ao nascer
Todos nós temos que viver
De hora marcada
Se Deus me deu voz
Que hei-de eu fazer
Senão cantar
O fado e eu a sós
Queremos chorar
Eu fujo não sei bem
De quê, do mundo ou de ninguém
Talvez de mim
Mas oiço alguém
Dizer-me assim:

 

Ó Júlia
Trocas a vida pelo fado Pelo fado
Esse malandro vadio
Ó Júlia
Olha que é tarde
Toma cuidado
Leva o teu xaile traçado
Porque de noite faz frio
Ó Júlia
Andas com a noite na alma
Tem calma
Inda te perdes p' raí
Ó Júlia
Se estás no mundo vencida
Não finjas gostar da vida
Que ela não gosta de ti.

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa: Ah! fadista
música: Saudades da Júlia Mendes
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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Quinta-feira, 15 de Agosto de 2019

A SEVERA

A SEVERA

      Imagem da Severa     

As relações amorosas ilícitas, entre o Conde de Vimioso e a canta­deira de Fado Maria Severa, constituíram motivo de inspiração para representações de arte plástica, de teatro, cinema, televisão, sendo decerto o livro de Júlio Dantas que mais se destacou, mais tarde Júlio Dantas com base no livro escreve uma peça (em quatro actos) represen­tada pela primeira vez no Teatro D. Amélia (actual S. Luís) em 25 de Janeiro de 1901, e tal como já  acontecera com o romance, obteve grande sucesso.

Em 1909 é mais um êxito como “Opereta” adaptada por André Brun e musicada pelo maestro Filipe Duarte
Em 1931 foi ainda usado como guião para o realizador Leitão de Barros rodar o filme “A Severa”, o primeiro filme sonoro gravado em Portugal.
Em 1955 a Severa foi reposta em cena no Teatro Monumental, com Amália Rodrigues no papel da protagonista e a participação, entre outros, de Madalena Sotto, Assis Pacheco, Santos Carvalho, Paulo Renato, Rui de Carvalho e Mário Pereira, ainda o público encontrou nela motivos de agrado.
Em Fevereiro de 1990 o empresário Sérgio de Azevedo leva à cena um musical no Teatro Maria Matos, “ A SEVERA” tendo o papel da Severa , a actriz Lena Coelho e Carlos Quintas no papel do Vimioso, Carlos Zel também fez parte do elenco.
Maria Severa Onofriana, filha de Severo Manuel de Sousa e de Ana Gertrudes Severa (alcunha adaptada do nome próprio do marido), nasceu em 1820 em Lisboa aos Anjos numas barracas nos montes,
Seu pai era de etnia cigana, e a mãe uma portuguesa de Ovar que, com outros pescadores da região, emigrara para Lisboa . Atri­bui-se a essa ascendência cigana a sua beleza exótica e o seu cantar expressivo, que conquistou os boémios da capital.
Sua mãe, Ana Gertrudes Severa, era uma célebre prostituta da Mouraria conhecida pelo sobrenome de "Barbuda", e Maria Severa terá ingressado muito cedo na mesma profissão, depressa se distinguindo nesse meio, não só - e muito em particular, como seria de esperar em semelhante contexto - pela beleza trigueira, como ainda pelos dotes invulgares de cantadeira de Fado.
Em 1831 morava na Rua Direita da Graça, terá ainda morado no Pátio do Carrasco, ao Limoeiro por alturas de 1844-45, viveu no Bairro Alto à Travessa do Poço da Cidade, antes de se fixar definitivamente na Mouraria, na Travessa do Poço da Cidade nº 35-A, ao tempo chamada de Rua Suja, era frequentada pela marujada portuguesa e inglesa.
De Severa à muitos estudiosos, contam-se muitas histórias dela e/ou com ela, umas talvez verdadeiras, outras talvez não tanto.
Conta-se que percorria os bairros populares de Lisboa, e a sua voz animou as noites de muitas tertúlias bairristas, tabernas ficaram famosa só pela sua presença.
Naquela época os “bastidores” da Mouraria, eram de má fama. Botequins, batota, ladrões, prostitutas e rufias, que lhe dava um estranho encanto, era esta a Lisboa popular e a Mouraria oitocentista — “chinela no pé, cigarro lambido, peúgo riscado, chapéu às três pancadas, navalha no bolso tendo como banda sonora a guitarra. Esperas e Touradas, hortas aos Domingos, pancadaria de vez em quando. Os nobres demandavam tabernas e as meretrizes eram recebidas nos salões” — escândalos cujas crónicas deixaram registo.
 
 
 

                                                                                                                   

             Inicio da  Rua do Capelão na época                                       Largo da Severa na Mouraria, onde a Severa viveu.
 
A Severa cantava e batia o Fado na taberna da Rosária dos óculos, situada ao cimo da Rua do Capelão na chamada casa de pedra.
A sua mocidade cheia de beleza, despertou paixões e ocasionou desvarios, fez perder a serenidade, e a compostura a fidalgos, burgueses, artistas e políticos.
Dizem escritos da época — Era linda, era alta um pouco delgada, seio e flancos esplêndidos, cabelos muito pretos, lábios muito vermelhos e nos olhos uma expressão indiscritível.
Diz-se que terão sido os seus olhos que terão atraído o Conde de Vimioso aliado ao seu doce canto e a paixão deste pelo som da guitarra.
O Conde era um homem garboso e de boa figura, foi o primeiro Cavaleiro Tauromáquico da sua época, arte que foi durante muitos anos ídolo dos espectadores das toiradas no Campo de Sant' Ana, o que não foi indiferente à Severa, o seu entusiasmo pelas corridas de touros, e sobretudo pelo toureio equestre, que a aproximou daquele, cuja popularidade exaltou cantando-o em letras de fados, de um dos quais chegou até nós esta quadra:
 
p'ra mim, o supremo gozo
É bater o fado liró
E ver combater c'um boi só
 
O contraste entre a condição social destes amores, foram por si só tema de conversa e de boatos e de muitos fados.
Má sina, na verdade, a da pobre Severa, que teve a intuição de que após a sua morte ainda havia de andar muito nas bocas do mundo, como resulta destas sextilhas da sua autoria:
 
                                    Quando a morte me levar
                                    Não há decerto faltar
                                    Quem diga mal da Severa!
                                    Pois neste mundo falaz
                                    De tudo se é capaz
                                    E só o mal se tolera...
 
                                    Lá na fria sepultura,
                                    Nessa cova tão escura
                                    Irei enfim descansar?
                                    Pressinto que em expiação
                                    E novamente ao baldão
                                   Aqui terei de voltar...
 
Leviano e mulherengo o Conde acaba por deixar a Severa e apaixona-se por uma cigana, o que a deixa desvairada, mas começa a não ter forças e a vivacidade para lutar pelo seu amante.
Por volta de 1845 já se manifestavam os sintomas da doença que a haveria de matar. (A sua morte terá sido devido a tuberculose pul­monar, de acordo com o estudo do Dr. Amaro de Almeida)
Severa morre pobre e abandonada num miserável bordel da Rua do Capelão, corria o ano de 1846, consta que as sus últimas palavras terão sido — “Morro, sem nunca ter vivido” — tinha 26 anos.
Foi sepultada em vala comum, sem caixão, que as amigas exigiram para fazer cumprir o que considerava seu desejo quando cantava versos dela:
 
                                     Tenho vida amargura
                                     Ai que destino infeliz!
                                     Mas se sou tão desgraçada
                                     Não fui eu que assim o quis.
 
                                     Quando eu morrer, raparigas,
                                     Não tenham pesar algum
                                     E ao som das vossas cantigas
                                     Lancem-me na vala comum.
 
 
Certidão de óbito da Severa
Assento de óbito, exarado pelo pároco da freguesia do Socorro, Padre Félix do Coração de Jesus,
"No dia trinta do mez de Novembro de mil oito centos e quarenta e seis annos na Rua do Capellaõ N° 35 A, falecêo apopletica sem Sacramentos, Maria Severa Honofriana, natural de Lisboa, idade de vinte e seis annos, solteira, filha de Severo Manoel de Souza e de Anna Gertrudes Sevéra. Foi a sepultar ao Cemiterio do Alto de Saõ Joaõ, de q fiz este assento”.
 
Registo do enterramento
 
1º cemitério de Lisboa
(Oriental – Alto de S. João)
Lº. Nº 3 a fls. 117
Nome: – Maria Severa Honofriana
Idade: - 26 anos
Estado: – Solteira
                Meretriz
Onde faleceu: - Rua do Capelão nº 35- A – Loja
Freguesia: - Socorro
Quando faleceu: - às 21 horas de 30 de Novembro de 1846
Entrou no cemitério: - às 16 horas e trinta de 1 de Dezembro de 1846
Quando sepultada: - às 7 horas do dia 2 de Dezembro de 1846
Onde: - Vala comum
Faleceu de: - Congestão cerebral
 
Mas foi após a sua morte que ela se tornou, de facto, um símbolo do fado. Na ver­dade, desde então jamais os autores de letras de fados deixaram de a celebrar, suges­tionados pela lenda dessa mulher de baixa condição que, todavia, logrou transpor os umbrais da fama. E, de entre as muitas composições que falam dela, uma alcançou teve grande êxito, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão:
 
                                           Num beco da Mouraria
                                           Onde a alegria
                                           Do Sol não vem,
                                           Morreu Maria Severa.
                                           Sabem quem era?
                                           Talvez ninguém!
 
Consultas:
“Severa” de Júlio de Sousa e Costa
“História do Fado” Pinto de Carvalho (Tinop)
 
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