
Cantadeira de mérito inconfundível, era dotada de uma linda voz, chamaram-lhe «a voz de ouro do Fado» quando cantava numa impecável dicção nem uma sílaba das suas cantigas nos escapava, sentia e fazia sentir reflectindo como um espelho a alma do seu povo, tal o sentimento e “garra” que imprimia nos poemas que interpretava, foi por mérito próprio uma das grandes “Cantadeiras de Fado” do seu tempo.
Esta quadra do poeta Silva Tavares, faz uma alusão que não nos pode passar despercebida.
A nossa Berta Cardoso
Onde surge faz agrado
Mas não vai só, leva o esposo
E o esposo chama-se Fado
O poema de Lisboa do repertório de Berta Cardoso, que abaixo transcrevo, não é talvez dos mais conhecidos do seu repertório, mas quem como eu, a ouviu cantá-lo no velho Fado Corrido, num estilo muito seu, como sempre era muito apreciada e estrondosamente aplaudida.
Esta é uma singela homenagem como venho fazendo a várias figuras do fado, mas para além do que já foi referido neste blog sobre a exposição e homenagem que decorreu no Museu do Fado (ver comentário da APAF em 18 de Fevereiro neste blog), convido-os a visitarem um trabalho de grande dignidade, possuidor de um acervo iconográfico bastante completo sobre Berta Cardoso,da autoria de Ofélia Pereira, em www.bertacardoso.com
TEMPOS DE OUTRORA
Repertório de: Berta Cardoso
Letra de: Fernando Teles
Música: Fado Tradicional
Dos Belos tempos de outrora
São Relíquias do passado
Dois impagáveis tesoiros
A guitarra mais o Fado
Era na Lisboa, antiga
Quinta- Feira de Ascensão
Dia da consagração
Porque era dia de espiga
Com farnéis e sem fadiga
Assim que raiava a aurora
Toda a gente campos fora
Procurando a sombra amena
Ai que saudades que pena
Dos belos tempos de outrora
As noites tradicionais
De todos os nossos santos
Eram motivos de tantos
Ranchos, bailes e festivais
Os sírios e arrais
Rabicha, senhor roubado
Atalaia sol doirado
Como tudo isto era lindo
Estas coisas tempo findo
São relíquias do passado
E nas vésperas das toiradas
Nos retiros que alegria
Até a nobreza se via
Pelas mesas abancada
Cantava-se ás desgarrada
Até à vinda dos toiros
Cobriam-se assim de loiros
Entre a fadistagem vária
A Severa e a Cesária
Dois empagáveis tesouros
Fidalgos boémios e artistas
E toureiros elegantes
Tinham por suas amantes
As cantadeiras bairristas
Nesses tempos de fadistas
E do saiote encarnado
Só nos resta por sagrado
Penhor bem tradicional
Dois filhos de Portugal
A guitarra mais o Fado
De Ai Deus e ue a 1 de Março de 2007 às 00:14
A memória de BERTA CARDOSO, figura cimeira do nosso fado, tem vindo a ser exemplarmente recuperada. A Grande Berta Cardoso merece-o, não apenas pelas suas qualidades artísticas como humanos, e o muito que deu ao fado! Está de parabéns o Vítor mas também a Sra. da. Ofélia Pereira que pugnou galhardamente para que não se esquecesse a memória da Grande Berta!
De Almeida Coelho a 1 de Março de 2007 às 21:30
É de elementar justiça a referência a Berta Cardoso neste blog. Berta Cardoso ainda hoje é uma referência. Entre testemunhos que ouvi sobre esta fadista, refiro o de Cruzeiro Seixas que disse: "Quando a malta de Belas Artes saía do Hot Clube de Portugal, acompanhada por outros universitários, costumávamos ir ouvir a espiritual Berta, como assim nos referiamos à fadista.".
De Pedro Pimenta a 3 de Março de 2007 às 11:32
De facto há de quando em quando umas "febres" e agora surgiu a da Berta. Uma bonita exposição no Museu do Fado, mais um espectáculo com fados e guitarradas bem orientado, o site da Berta que felicito, e agora o Vítor a homenageá-la, até a deve ter conhecido d'A Viela.
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