Dia 16 de Junho às 18,30 vai ter lugar no Casino Estoril - Foyer do Salão Preto e Prata,
a apresentação do CD de Carlos Zel, com algumas gravações das "Quartas de Fado"
Há nomes que passam pelo Fado e há outros que nele ficam, que o vivificam e engrandecem, como se a raiz desse cantar de um povo na sua voz se entroncasse, para dela renascer e ganhar novos desígnios.
Carlos Zel foi um desses raros Homens: nasceu a respirar o Fado, viveu para o cantar, partiu como se ele fosse o seu destino.
Conheci-o através do Júlio César. E a ele devo a iniciativa, que entusiasticamente partilhei, “de fazer o Fado regressar à Linha”, nesse memorável ciclo que, em cúmplice anseio, baptizámos de “Quartas-Feiras do Fado”, no Casino Estoril. Não me surpreendeu o êxito, pois, esse, só dependia do Carlos Zel e dos nomes que, com criterioso afã, ele se encarregava de reunir, qual tertúlia semanal, partilhada entre público e fadistas. E, para quem, como eu, com ele de perto convivia, sempre existia o Fadista, mas acontecia o Amigo.
Partiu, deixando-nos mais pobres; de fado e, também, de afectos. Mais ricos, porém, de memórias resgatadas nessa homenagem, que em cada ano devotadamente cumprimos, dedicando-lhe a “Grande Gala do Fado – Carlos Zel”, nesta Casa que foi sua. Sei que, nessas Galas, ele sempre nos acompanha: ouço-o na voz de cada fadista, sinto-o presente na saudade da sua ausência.
Que este CD, gravado nas memoráveis sessões das suas “Quartas-Feiras do Fado”, nos inspire no destino de jamais o poder esquecer.
Porque o Fado não se esquece.
E Carlos Zel era o Fado.
Não seria, nunca, fácil proceder a uma escolha de temas gravados pelo meu Pai, no Wonder Bar do Casino Estoril, em primeiro lugar pela grande quantidade, depois porque, sendo eu suspeito, gostaria certamente de incluir nesta edição toda e qualquer gravação existente e, ainda, pelo facto de terem passado nestas Quartas-Feiras, um sem número de prestigiados convidados, todos eles merecedores de destaque.
Desta forma, foi preciosa a ajuda do José Manuel Osório no afunilar das possibilidades, tendo em conta, sobretudo, a qualidade da gravação e felicidade da interpretação específica.
As razões pelas quais sugiro esta escolha de músicas estão ligadas ao método que utilizei para as escolher, de forma a que se enquadrassem dentro do número de faixas e do tempo apresentado pela editora, o qual passo coincidentemente a expor:
Comecei por seleccionar aquelas que têm duetos, com o cuidado de escolher uma por convidado, assim ficando:
- Do Carlos Azevedo, a Igreja de Santo Estevão, por ser única e julgo não haver, até agora, qualquer registo fonográfico do Pai a cantar este fado.
- Do Filipe Mendes, o Fado Pechincha. Acho que o Pai está extraordinário no Fado Menor, mas aqui também está muito bem e parece-me mais equilibrada a "cumplicidade" com a guitarra eléctrica.
- Do Filipe de Brito, o Estranha Contradição. Estão ambas muito boas, mas o Saudades Trago Comigo já está com o Pai a solo, por isso escolhi esta.
- Do Bernardo Sassetti, o Fado da Defesa. É a única e está um verdadeiro espectáculo sendo, para mim, a melhor de todas as faixas.
- Do Fernando Maurício, O Leilão. Primeiro, porque o Maurício, já também perto do fim da sua vida, está ainda com uma voz extraordinária e em segundo lugar, porque seria um crime, para os amantes de fado, haver um registo de um fado cantado "a meias" com o Pai e o Fernando Maurício e não ser editado.
- Do João Ferreira-Rosa, os Saltimbancos. É a única que me foi apresentada e está muitíssimo bem cantada por ambos, além de que, não editar um "dueto" com ambos seria também criminoso.
De todas as gravações, suponho que existam muitas mais "parcerias" de sucesso, contudo, estas são as que me pareceram melhores, dentro da “shortlist” que me mostraram.
Quanto às do Pai a solo, acho que, todas as que me foram apresentadas estão muito boas, pelo que as sugeri na sua totalidade, juntando a introdução do Júlio César, o grande responsável pelo Fado ter voltado à Linha, neste projecto.
Não posso deixar de agradecer à Estoril-Sol, nomeadamente ao Casino Estoril, na pessoa do Dr. Mário Assis Ferreira, mas também a todos os convidados das Quartas-Feiras de Fado, ao Júlio César, à minha Mãe, aos "músicos residentes", ao José Manuel Osório, à Filomena Cardinali e à família Serafim, da Movieplay, pois só com a participação de todos eles é possível levar agora a público este fonograma. Obrigado!
Nuno Frazão
CARLOS ZEL, Carlos Frazão, nasceu na Parede, a 29 de Setembro de 1950. Seu pai António Frazão, marceneiro de profissão era um apaixonado do fado, cantava como amador e editou um livro de poemas "O Poeta e Eu". Teve ainda um irmão ligado ao Fado, o saudoso Alcino Frazão, que foi um exímio guitarrista, que infelizmente nos deixou ainda muito jovem.
Carlos Zel, começou a cantar no Estoril e Cascais como amador
Iniciou a sua carreira profissional em 1967, cantando na Emissora Nacional, altura que adopta o nome artístico de Carlos Zel.
Fez teatro de revista e musical - "Aldeia da Roupa Suja" (1978), "A Severa" (1990) e "Ai Quem Me Acode" (1994) -,
Na televisão chegou a participar na telenovela "Cinzas", como actor.
Deixou-nos cerca de uma dezena de produções discográficas
Em 1993, recebe o Prémio Prestígio, atribuído pela Casa de Imprensa, em 1997 a mesma entidade concedeu-lhe o Prémio José Neves de Sousa.
Foi ainda condecorado com a Medalha de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa, e ainda a Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Cascais.
Em mais de 30 anos de carreira, fez vários espectáculos em Portugal e no Estrangeiro, cantou em casas de fado, e no fim da sua vida foi o impulsionador das “Quartas de Fado no Casino Estoril”
Faleceu repentinamente em Fevereiro de 2002.
Cascais deu o seu nome a uma rua do Concelho.