Fado.... a alma de um povo.
As viagens encetados pelos portugueses no século XVI, é um paradigma do destino de um povo que partiu durante séculos à procura do desconhecido, que nos criou um modo colectivo de ser e estar no mundo. É um gene da identidade portuguesa.
Naquelas horas da partida para a imensidão gigantesca dos mares, fizeram brotar lágrimas de todas as mães, de todos os pais, de todos os filhos, de todas as esposas, as noivas, os parentes e amigos, que ao dizerem adeus com soluços nos corações, na praia de Belém, que foi apelidada por isso mesmo de “Praia das Lágrimas” confrontavam-se com a descoberta da amargura da ausência.
Foi uma vivência que moldou as almas, era um povo aflito que via partir as naus com as suas gentes, sabe-se lá para onde iam, para o outro mundo ?
Ó Mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal !
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos, em vão, choraram!
Quantas noivas ficaram por casar,
Para que fosses nosso, ó Mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deu ao Mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o Céu
Poema de: Fernando Pessoa
É vida , é destino, é Fado, é a alma do nosso povo.
Em tão longo caminho e duvidoso,
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres com choro piadoso ,
Os homens com suspiros que arrancavam;
Mães, esposas, irmãs, que o temerosos
Amor mais desconfia, acrescentavam.
A desesperação e frio medo
De já não nos tornar a ver tão cedo
Camões, Os Lusíadas, canto IV, 89)
AO SABOR DAS ONDAS...
O Fado nasceu no mar
Ao balanço de ondas mil
Por berço teve um navio
Por cobertura um céu de anil
Numa barquinha vogando
Batida pelo luar
Ouvi um nauta cantando
“O FADO NASCEU NO MAR”
Linhares Barbosa
Esta mentalidade, criada de uma vivência bivalente, amargurada por um lado, alegre por outro, isto porque o ritual da partida o medo a tristeza, o espectro da morte, se misturaram com a esperança, o sonho e quanto era maravilhoso estar vivo no regresso, tais sentimentos moldaram a consciência que se cristalizou na música e no canto, com uma tonalidade própria, inconfundível e original como é a sua matriz..
O Fado é português, é toda uma mentalidade, é toda uma História, se o povo português é o único que canta o Fado, é porque também foi protagonista de uma vivência que mais nenhum povo teve.
Notas: In Fado, A alma de um povo M.L.Guerra
In Fado, Mascarenhas Barreto
De Carlos Henriques a 7 de Março de 2007 às 16:12
Meu caro
Não tenho o prazer de o conhecer pessoalmente, mas ouvi falar de si, vejo agora que algumas opiniões (são dor de corno) desculpe o dito popular mas é o que me apraz dizer.
Ao ver este seu trabalho, e antes de fazer este comentário adquiri no Museu do Fado os seus livros, do seu avô e da querida Hermínia.
Dou-lhe não os meus parabéns, porque o que faz nota-se que lhe está no sangue, mas obrigado por transmitir abertamente o que sabe.
Quero também felicitá-lo por este artigo Fado A Alma de um Povo, pois não me passou despercebido a forma airosa como responde ao artigo que publicou antes sobre o tal Filme que vamos ter!! seria bom que alguém responsável pelo filme lê-se este seu simples trabalho , mas objectivo , é uma lição de fado.
Continue e não se esqueça:
OS CÃES LADRAM MAS A CARAVANA PASSA
De Maria de Jesus a 11 de Março de 2007 às 15:37
Caro Vítor
Percebo por onde quer ir com esta explanação e "Fado a Alma de um Povo", calculo que esperasse algum contributo desses "conhecedores" dos antigamente, mas sabe meu amigo você é um homem culto, inteligente e modesto q.b., mas não é um intelectual, e está a entrar no campo deles! não faz parte do "Lobbie" ,portanto eu não estranho e afirmo-lhe, com conhecimento de causa, que vai no bom caminho, este seu trabalho é digno.
Um abraço
MJ
Minha cara amiga Maria de Jesus
Obrigado pelo apoio, mentiria se não lhe confessasse que foi gratificante, tendo a noção que não mereço tanto.
Qaunto ao lobby " é hoje na realidade um grupo muito poderosos.... mas é preferível ficarmos por aqui, como a minha amiga se referiu num comentário que há dias fez e com o qual eu concordo perfeitamente, "O Rei vai Nu"...!
Bem Haja
Vítor Marceneiro
De SÍLABA a 8 de Novembro de 2009 às 20:40
Descobrimentos, ... Emigração, ... Guerra Colonial,... floriram em SAUDADE n'A ALMA d'O POVO PORTUGUÊS, que A cantou FADO...
Sílaba
De Pedro Vieira a 12 de Novembro de 2009 às 23:48
Apenas lamento que tenha escolhido a gravura de um galeão espanhol para ilustrar o post.
Caro Pedro Vieira
Muito obrigado pelo seu reparo, tem toda a razão. Esta imagem foi intencional e tinha uma leganda por baixo, referindo que, hoje sabemos que até comandando um galeão espanhol, estava um português a dar novos mundos ao mundo, mas falhou o "paste" da legenda.
O seu reparo (lamento), que eu lamento, já não me permite rectificar porque poderia ser considerado oportunista, porque foi um lamento e não um simples reparo, ou chamada de atenção, foi um lamento....
Assim após esta nota vou retirar o "Galeão Espanhol" e colocar um português.
Obrigado mais uma vez, creia que são sempre bem recebidas, quer criticas, quer reparos ou ajudas, um lamento deixa-me triste, a minha intenção é recordar o passado para viver o futuro, sem magoar ninguém.
Um abraço fadista e dum português orgulhoso de o ser.
Vítor Marceneiro
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