Mais conhecido por Paquito, nasceu em 10-2-1935 em Vigo. Faleceu em Lisboa a 27 de Novembro de 2004.
Veio para Lisboa com 12 anos de idade. Seu tio Paço explorara o retiro do Charquinho e o seu avô Jesus abrira a Adega Perez na Rua Conde de Valbom, de que o pai, Manolo, foi o continuador e onde havia fado vadio. Aí Paquito conheceu poetas populares como Henrique Rego e Radamanto, cantadores e cantadeiras como João Maria dos Anjos, Júlio Proença, Júlio Vieitas, Fernando Maurício, Manuel de Almeida. Maria Marques e Fernanda Maria, que foram dos primeiros com quem contactou. E foi lá também que começou a interessar-se pela viola.
A Adega Perez transformou-se depois no restaurante típico Retiro Andaluz, e surgiu ali uma espécie de tertúlia onde cantadores e instrumentistas se juntavam para cultivarem o fado a preceito. Foi nesse ambiente que Paquito, então ainda a estudar, pôde desenvolver a sua aptidão, e com 19 anos de idade fazia a sua estreia como violista contratado pela Parreirinha de Alfama.
Numa primeira tournée, acompanhou Alberto Ribeiro em vários espectáculos através do País, participou em programas da rádio, gravou discos e tocou em casas de fados. Após a sua passagem pela Parreirinha de Alfama, esteve na Viela, na Tipóia, na Toca e em tempos mais recentes no Senhor Vinho.
Considerado, com inteira razão, um dos nossos melhores violistas, Paquito actuou no estrangeiro em espectáculos com Amália Rodrigues e outros artistas, designadamente na França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Suíça, Polónia, Roménia, Suécia, Dinamarca, Israel, Japão, Estados Unidos, Canadá, Brasil, África do Sul e Venezuela, assim como também actuou em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Nos últimos anos esteve contratado no "Embuçado"
Paquito que muito acompanhou o meu avô , quer como músico, quer como companheiro, gabava-se com muito orgulho de ter tocado para o "Ti Alfredo" ainda andava de calções.
in: Lisboa O Fado e os Fadistas de Eduardo Sucena
"Uma morte sempre se lamenta". Isto é bem verdade. ´"Não há pessoas insubstituíveis".
Isto é uma irritante mentira.
No que diz respeito ao fado, a morte do Paquito, após prolongado calvário — que o signatário acompanhou —, constitui uma perda irreparável. Se podemos dizer que o fado teve, até hoje, 5 ou 6 violistas que deixaram escola, este galego de Vigo, Francisco Perez Andión, o Paquito, está seguramente à cabeça dessa restrita lista, ombreando com Martinho d' Assunção e Jaime Santos Jr., tendo como guarda de honra Pedro Leal, Alfredo Mendes e Júlio Gomes.
Acompanhou a maior fadista de todos os tempos, Amália Rodrigues, durante alguns anos e gravou com ela, entre outros, um dos seus melhores álbuns, "Amália no Canecão" (ao vivo).
Foi amigo e também acompanhou um dos maiores fadistas de sempre, Carlos Ramos, e chegou a tocar para o grande mestre Alfredo Marceneiro, de quem se tornou igualmente amigo - era muito difícil conhecer o Paquito e não se ficar amigo dele -, captando-lhe o seu pitoresco modo de falar e os gestos característicos que acompanhavam a fala, não havendo, infelizmente, registo desses inesquecíveis momentos. Fez parte dos elencos das melhores casas de fado de Lisboa, com realce para a "Taverna do Embuçado" dos anos 60 e para o "Sr. Vinho", duas décadas mais tarde.
Mas é nos registos de instrumentais da música fadista, vulgo "guitarradas" ou "variações", que a sua arte e a sua técnica magistral vão perdurar para todo o sempre. As melhores gravações de Jaime Santos, José Nunes, José Fontes Rocha, Pedro Caldeira Cabral ou Ricardo Rocha têm o seu contributo -- com realce para esta última.
O signatário, seu amigo e colega de palco de longa data, nos vários recitais que lhe pediram para organizar a lembrar Amália, chamou-o naturalmente para todos eles, e os fadistas que também convidou tiveram a honra e o prazer de serem por ele acompanhados, como foi o caso de Mariza (na sua estreia perante o público português), Camané, Mafalda Arnauth, Maria Ana Bobone, Maria da Fé, Paulo Bragança, Carlos do Carmo, António Pinto Basto, Ana Sofia Varela, Katia Guerreiro (igualmente na sua estreia nacional), Ana Moura (idem), Gonçalo Salgueiro (ibidem), Maria Armanda, Teresa Tapadas, Carlos Zel, Cristina Branco, Margarida Bessa ou Nuno Guerreiro, entre muitos outros. Até mesmo Teresa Salgueiro teve essa honra no Garcia de Resende, em Évora, em 1990, quando a convidei para interpretar dois fados num concerto meu.
Paquito foi, além de tudo isto (como se fosse pouco), um homem cheio de humor, um amigo irrepreensível, e um contador de histórias — é lamentável que nunca tenham sido registados os inúmeros episódios que ele relatava, com uma mímica insuperável, na sua roda de amigos e colegas, apesar de ter o signatário pedido insistentemente aos responsáveis pelas estações de rádio e de televisão para que o fizessem. Seria uma contribuição oral inestimável para quando um dia se escrever, finalmente, alguma coisa parecida com a história do fado. Paciência.
Era bonito que os poderes instituídos homenageassem, agora a título póstumo, o galego que mais dignificou o fado.
Que o nosso querido Paco (o "Paquirri", como sempre o tratei) descanse finalmente em paz.
Bem hajam.
João Braga