Hoje dia 22 de Outubro de 2011, estarei em Santarém, no Cine-Teatro Sá da Bandeira, num espectáculo de «Fados de HELENA SARMENTO», que teve a amabilidade de me convidar para cantar alguns Fados.
Recordações e factos históricos:
Os factos históricos, referem-se ao Cine-Teatro Sá da Bandeira, local onde em 1946 se estreou o filme português "Um Homem do Ribatejo" do realizador Henrique de Campos, com Hermínia Silva, que contracena com Barreto Poeira e Eunice Munhoz, é neste filme que Hermínia canta um dos seus grandes êxitos, o Fado da Sina.
A estreia deste filme, efectuou-se em Santarém, por ser a terra natal do realizador Henrique Campos, e ele fez questão que assim fosse.
Sou o biógrafo oficial de Hermínia Silva, (Recordar Hermínia Silva), e nas minhas investigações para a execução do livro, entre várias ocorrências fantásticas da vida desta grande artista deparou-se esta:
No dia da estreia do filme, com a sala "à cunha", no decorrer da projecção, aconteceu um caso inédito, hilariante e fantástico. Quando Hermínia surge no ecrã a cantar o Fado da Sina, a assistência, logo desata a aplaudir estrondosamente, e de pé, obviamente, perdeu-se a visualização das cenas seguintes, por esse facto, tiveram que parar a projecção do filme, e foi preciso rebobinar as bobinas para voltar a projectar o filme a partir da mesma cena, mas pasme-se, isto repetiu-se três vezes... Grande Hermínia.
O que eu me deliciei a escrever isto... e hoje 65 anos depois vou estar a cantar neste palco... é mais um Fado, dos Fados da minha vida.
As Recordações:
Já passaram 44 anos e uns meses, que entrei no serviço militar obrigatório, na Escola Prática de Cavalaria em Santarém, foi no dia 10 de Abril de 1967.
Quando cheguei com os outros mancebos, foi-nos apresentado o nosso comandante de pelotão, o aspirante-miliciano João Coutinho.
Após os preâmbulos sobre o que seria o serviço militar, o então aspirante Coutinho, pergunta:
— Disseram-me que temos entre nós um fadista, quem é?
Eu não respondi, já calculava que fosse comigo, pois entre os que assentaram praça, havia mais rapazes de Alcântara, que me conheciam, e deduzi que lhe tivessem dito algo sobre o meu avô.
Ele insiste.
— Então,ninguém se acusa? Não há um fulano que é fadista, ou familiar de fadistas.
Ao que eu respondo, familiar sou, mas fadista não, para se ser fadista tem que se ter uma série de predicados, que eu não tenho, sou sim,filho e neto de fadistas, meu pai é o Alfredo Duarte Júnior, e meu avô Alfredo Marceneiro, tudo isto dito, com aquela impulsividade que me é característica.
Retorquiu o aspirante Coutinho.
— É pá não te exaltes, só queria saber quem era, o familiar, porque Alfredo Marceneiro é uma lenda.
Logo no dia seguinte já fardados e após uma noite de grande forrobodó, é formado o pelotão e começa a chamada,e eis que o Aspirante Coutinho, chama pelo Duarte, e após o meu – presente – ele diz:— a partir de hoje passas a ser tratado por, Alfredinho.
Iniciou-se uma amizade, que levou a que tivéssemos passado aquela recruta, sem grandes sacrifícios.
Conheci também e passou a ser meu amigo e do Aspirante Coutinho, o Rui, que por ser de Alfama, era apelidado de Rui-Alfama.
E assim durante cerca de 40 meses de serviço militar, passei a ser tratado por “Alfredinho”.
Perguntarão os meus amigos, o que tem tudo isto a ver com o Fado?Tem e muito, aliás “tudo isto é Fado”, senão vejamos:
É graças ao Fado, que escrevo este blog, que contribuiu para que passados estes 44 anos o meu amigo João Coutinho, de quem eu nunca mais tinha tido notícias, após o final da recruta, pois ele foi logo mobilizado,entre em contacto comigo através do blogue. Fiquei deveras radiante e logo lhe enviei uma foto que guardava exposta na parede, de nós os dois em Santarém.
Falámos e recordámos velhos tempos, pusemos como se costuma dizer a escrita em dia.
Passados dias envia-me um livro que tinha escrito sobre Angola, e a guerra, que mais abaixo irei apresentar.
Pouco tempo logo após este contacto, estávamos perto do Natal de 2007, recebo um telefonema, mais ou menos nestes termos:
— É o Sr. Vítor Marceneiro, peço desculpa de estar a maçá-lo, mas consegui o seu contacto telefónico, e estou a ligar-lhe, para lhe dizer, eu sou o Rui-Alfama, que estive consigo na tropa em Santarém, lembra-se? Peço desculpa se o estou a maçar...
As lágrimas embargaram-me a voz e logo respondi, é pá vai chamar Senhor.....!! a maçar-me?..... ( enfim, uma linguagem da nossa juventude), que saudades, então não me havia de me lembrar!.
Combinámos que eu iria a Lisboa logo no dia seguinte, para nos reencontrar-mos e nos abraçar-mos.
Assim aconteceu, e lá estivemos a lembrar em amena cavaqueira,o nosso passado comum, e como era obvio, logo lhe conteir que tinha sido contactado pelo nosso Aspirante Coutinho.
Contou-me que porque tinha feito todos os esforços para me contactar , é que viu na montra de uma livraria o meu livro sobre o meu avô, logo o adquiriu, e queria como prenda de Natal, que o mesmo fosse assinado por mim, e foi assim que logo encetou todos os esforços para me encontrar, trouxe-me duas fotos nossas e do Coutinho, tiradas quando da nossa recruta, que ele guarda no seu álbum de recordações.
Quando estávamos na recruta, íamos nas saídas diárias, assistir assistir aos filmes que eram exibidos no Cine Teatro Sá da Bandeira.
Como é bom recordar. ISTO É FADO, são Fados da minha vida!
Nunca cantei em Santarém... hoje através da Helena Sarmento, vou fazê-lo... e digam lá que isto não é Fado...
Hermínia Silva Canta o Fado da Sina