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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Quarta-feira, 24 de Julho de 2013

Fado.... a alma do Povo Português

                                             

 

 


 O Fado nasceu no mar
                                              Ao balanço de ondas mil
                                              Por berço teve um navio
                                              Por cobertura um céu de anil
                                              Numa barquinha vogando
                                              Batida pelo luar
                                              Ouvi um nauta cantando
                                             “O FADO NASCEU NO MAR”
                                              E mal a gente põe os pés
                                              Nos sobrados do convés,
                                              Levamos da terra a imagem
                                              e a cantar, toda a viagem
                                              O Fado, de lés-a-lés!
 
In Ao sabor das ondas – Linhares Barbosa
 

 Fado.... a alma de um povo.

 
As viagens encetados pelos portugueses no século XVI, é um paradigma do destino de um povo que partiu durante séculos à procura do desconhecido, que nos criou um modo colectivo de ser e estar no mundo. É um gene da identidade portuguesa.
Naquelas horas da partida para a imensidão gigantesca dos mares, fizeram brotar lágrimas de todas as mães, de todos os pais, de todos os filhos, de todas as esposas, as noivas, os parentes e amigos, que ao dizerem adeus com soluços nos corações, na praia de Belém, que foi apelidada por isso mesmo de “Praia das Lágrimas” confrontavam-se com a descoberta da amargura da ausência.
Foi uma vivência que moldou as almas, era um povo aflito que via partir as naus com as suas gentes, sabe-se lá para onde iam, para o outro mundo ?
  
                         Ó Mar salgado, quanto do teu sal
                         são lágrimas de Portugal !

 

                         Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
                         Quantos filhos, em vão, choraram!
                         Quantas noivas ficaram por casar,
                         Para que fosses nosso, ó Mar!
 
                         Valeu a pena? Tudo vale a pena
                         Se a alma não é pequena.
                         Quem quer passar além do Bojador
                         Tem de passar além da dor.
                          Deu ao Mar o perigo e o abismo deu,
                          Mas nele é que espelhou o Céu
 

Poema de: Fernando Pessoa

 
É vida , é destino, é Fado, é a alma do nosso povo.
 
                             Em tão longo caminho e duvidoso,
                             Por perdidos as gentes nos julgavam,
                             As mulheres com choro piadoso ,
                             Os homens com suspiros que arrancavam;
                             Mães, esposas, irmãs, que o temerosos
                             Amor mais desconfia, acrescentavam.
                             A desesperação e frio medo
                             De já não nos tornar a ver tão cedo
 
Camões, Os Lusíadas, canto IV, 89)
 
Esta mentalidade, criada de uma vivência bivalente, amargurada por um lado, alegre por outro, isto porque o ritual da partida o medo a tristeza, o espectro da morte, se misturaram com a esperança, o sonho e quanto era maravilhoso estar vivo no regresso,  tais sentimentos moldaram a consciência que se cristalizou na música e no canto, com uma tonalidade própria, inconfundível e original como é a sua matriz..
O Fado é português, é toda uma mentalidade, é toda uma História, se o povo português é o único que canta o Fado, é porque também foi protagonista de uma vivência que mais nenhum povo teve.
 
Notas: In Fado, A alma de um povo M.L.Guerra
           In Fado, Mascarenhas Barreto
 

 

                                         O FADO É PORTUGUÊS

  

                       O Fado é tão português, que, de arnês,

                                     bateu-se em Fez;

                                     esteve em Alcácer-Quibir;

                                     arrostou o mar profundo

                                     e ao Mundo

                                     deu novo Mundo,

                                     na senda de Descobrir!

                                     Esteve em Malaca e Ormuz

                                     e, à luz do signo da Cruz,

                                     construiu impérios novos;

                                     da Guiné até Timor,

                                     com ardor,

                                     foi defensor

                                     do Destino doutros povos!

                                     Fê-lo Deus aventureiro:

                                     foi guerreiro

                                     e marinheiro;

                                     missionário, ou de má-rês

                                     e — vá ele p' ra' onde for —

                                     ­cante a dor,

                                    ou cante o amor,

                                     o que canta é Português!

Poema de: Mascarenhas Barreto  

 

 

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
música: Fado.... a alma de um povo.
Viva Lisboa: Viva o Fado
publicado por Vítor Marceneiro às 16:00
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