Esta página foi escrita e publicada neste blogue a 26 de Maio de 2007, e não teve qualquer constetação!?
A 14 de Novembro de 2001 foi dada a uma rua de Lisboa no bairro de Campolide.
Aqui está a foto da placa e um artigo de Appio SottoMayor publicado no Jornal "A Capital", em que refere a "particularidade do epíteto Poeta Popular"
País de poetas é expessão já cansada do uso para definir Portugal. E, no entanto, continua verdadeira como no dia da sua invenção. Parece, porém, que na Poesia como em tudo o mais na vida, se formam classes: há uns tantos servidores das musas já tidos como académicos; há alguns (raríssimos) cujas novas produções são garantia de rápido desaparecimento dos escaparates; há uma multidão que vai esgotando sentimentos em edições de autor...
E há depois aqueles que, aparentemente sem escola e não se arrogando de angústias universais, vão compondo alo longo da vida com a facilidade de quem respira, encontrando rimas, ritmos e imagens como se tal faculdade lhes viesse de graça logo no berço. Chamam-lhes Poetas Populares. Metem a dor, a alegria, a raiva, o ciúme, o desejo, a bondade e a morte em meia dúzia de versos e passam a mensagem como se fosse dever natural. Todo um tratado de filosofia do comportamento pode, para eles, caber em poucas palavras.
Trabalho é letra vencida
Que o suor já pagou bem.
Quem trabalha toda a vida
Não deve nada a ninguém.
Carlos Conde, autor da quadra transcrita, escreveu versos em grande parte da sua vida e tornou-se conhecido porque as suas letras foram musicadas e depois cantadas por gente grande do fado. De Amália a Marceneiro, de Hermínia a Fernanda Maria, quantos fadistas interpretaram as palavras deste homem que sabia transmitir emoções.
Lisboa e o Fado têm tido a sorte de encontrar quem os sirva desta forma, eivada de simplicidade mas eminentemente artística. E, querendo ter boa memória, a cidade hoenageia o poeta, em vésperas do seu centenário, com um gesto singelo: dá hoje o seu nome a uma rua.
Carlos Conde, nascido em 1901 no Concelho da Murtosa em Aveiro e filho de pescadores, muito cedo teve de procurar melhor sorte e partiu para a então cidade dos sonhos, Lisboa!
Chegado à capital, o seu fascínio pelo Fado e o acolhimento no meio fadista, deverão ter despertado o talento nato do poeta, para a concretização da maravilhosa obra que nos legou e que hoje recordamos com saudade e emoção!
É um facto, que a grande paixão de Carlos Conde foi o Fado, mas não nos podemos esquecer das lindas cegadas, um género de teatro de rua, que faziam as delícias de multidões por alturas do Carnaval.
Não devemos apagar da memória, os célebres motes e quatro décimas com que o poeta descreveu os típicos Bairros de Lisboa, onde ainda hoje, podemos apreciar muitos detalhes que têm resistido aos malefícios do tempo e à desenfreada evolução.
Carlos Conde, foi dos melhores poetas, senão mesmo o melhor, a descrever com tal exactidão, pormenor e sentimento, os hábitos e costumes das gentes desses lindos bairros, que ao lermos a sua obra, somos, quase que por magia, transportados para a época e para os locais descritos.
Isto, para não falarmos nas deliciosas quadras, que correram Portugal inteiro, vencendo concursos de Norte a Sul e espalhando o talento do poeta, pelas almas sedentas, de palavras harmoniosas e verdadeiras.
Mas, como já afirmei, foi de facto no Fado que Carlos Conde se notabilizou, autor de centenas de letras:
( A mulher que já foi tua, Sótão da Amendoeira, Marquês de Linda-a-Velha, Feira da Ladra, Bairros de Lisboa, Revista de Fados, Não passes com ela à minha rua, Trem desmantelado, etc, etc.)
e para sempre imortalizadas nas vozes de: Amália, Argentina Santos, Maria da Fé, Carlos do Carmo, Fernando Maurício, Fernanda Maria, os Marceneiros (Pai, filho e neto), Lucília do Carmo, Ercília Costa, Ada de Castro, Rodrigo, João Ferreira Rosa, Gabino Ferreira, Raul Pereira, Adelina Ramos, Maria Amélia Proença e tantos outros.
Carlos Conde deixou de escrever para nós dia 12 de Julho de 1981, levando consigo as mais douradas décadas de fado.
Apesar da saudade latente, de um homem humilde e sincero, gravada para sempre em nossos corações, o que mais nos deve angustiar, é o facto de só após todos estes anos, compreendermos a dimensão do vazio deixado pelo homem que mais escreveu para o fado e só por isso a sua chama será eterna.
O reconhecimento por parte da Câmara Municipal de Lisboa, ao atribuir o seu nome a uma das artérias da cidade, vem repor justiça, à memória de um homem que tanto amou Lisboa.
Obrigado Carlos Conde!
http://carlosconde.com.sapo.pt/
Paulo Conde, 25 de Maio de 2007
Vitor Duarte e Paulo Conde
Paulo Conde é bisneto de Carlos Conde, é o autor da sua monobiografia “FADO – Vida e Obra do Poeta Carlos Conde”. Escreve o autor na contracapa do seu livro:
Quando decidi eternizar em livro a vida e obra do poeta Carlos Conde, moveu-me para além do sangue e impulsos de descendência, uma vontade expressa de tributar o Fado.
Nutro pelo Paulo uma amizade e carinho, que nasceu no momento em que nos conhecemos, honra-me saber que o sentimento é recíproco, a nossa troca de “cartões” como se pode verificar na foto abaixo, foi a troca das nossas obras de que muito nos orgulhamos.
Obrigado Paulo Conde pelo documento que deixaste para a história do Fado e desse grande poeta entre os poetas, Carlos Conde teu bisavô.
Vitor Duarte Marceneiro 26-05-2007
Alma fadista
Conheço o Vítor Duarte destas andanças de homenagear o fado, é algo que nos está no sangue e como temos amizades cruzadas por consagrados ascendentes do meio fadista, não degenerámos. Prova disso é o notável trabalho (e se não conhecesse o Vítor pessoalmente, diria que era um génio) de colocar Lisboa no Guiness. Lisboa a cidade mais cantada do mundo, vai concerteza encher de orgulho o povo lusitano, porque nisto de reconhecimentos fora de portas há que deixar regionalismos de parte.
Deixo aqui um abraço de carinho e admiração ao Vítor, para quem o fado é uma forma de vida, sem aprumos de circunstância nem vaidades mascaradas, mas simplesmente um acto natural e reflexo como o pulsar do coração.
Paulo Conde - Bisneto 25-05-07
Carlos Conde é um dos poetas com mais poemas sobre Lisboa:
FLORES DE LISBOA
Letra de Carlos Conde
Música de: Túlio Pereira
Sempre a rir, sempre a cantar
Esta Lisboa bonita
Beija quem a sabe amar
E abraça quem a visita
Lisboa não se afadiga
De cantar a vida inteira
Tem p´ra tudo uma cantiga
A Cidade Cantadeira
A quem visita
Esta Lisboa
Terra que o mundo prende em fortes laços
Os nossos beijos
Com os desejos
A que voltam de novo a nossos braços
O meu país
P´ra ver feliz
Quem nos rende amizade fraternal,
Concede flores
De vivas cores
Colhidas nos jardins de Portugal!
Lisboa deita-se tarde
E tão bem o fado entoa
Que nunca falta quem guarde
Uma nesga de Lisboa!
Canta e sente um bem profundo
Pois é feliz e contente
A cantar p´ra todo o mundo
E a sorrir para toda a gente
Vítor Duarte Marceneiro canta: Bairros de Lisboa
Carlos Conde também era um poeta de esperança, de fé no futuro.
Carlos Conde (Trineto de Carlos Conde
Beatriz Duarte e Alfredo Duarte (Bisnetos Marceneiro)
Oh! Desventura, Oh! Saudade
Causas da minha inconstância
Dai-me pedaços de infância
Retalhos de mocidade
Dai-me a doce claridade
Roubando-a ao tempo atroz
Eu queria ter a minha voz
Para cantar o meu passado
E é tão bom cantar o fado
E ter quem goste de nós
Alfredo Marceneiro canta
È Tão bom Ser Pequenino
Carlos Conde tinha uma visão muito profunda das injustiças sociais, foi dos poetas de fado com mais poemas censurados.
Alfredo Marceneiro fala de Carlos Conde
"JANELA DA VIDA"
Letra de: Carlos Conde
Música: Alfredo Marceneiro
Para ver quanta fé perdida
E quanta miséria sem par
Há neste orbe, atroz ruim
Pus-me à janela da vida
E alonguei o meu olhar
P´lo vasto Mundo sem fim.
Pus todo o meu sentimento
Na mágoa que não se aparta
Do que mais nos desconsola;
E assim a cada momento
Vi buçais comendo à farta
E génios pedindo esmola!
Vi muitas vezes a razão
Por muitos posta de rastos
E a mentira em viva chama;
Até por triste irrisão
Vi nulidades nos astros
E vi ciências na lama!...
Vi dar aos ladrões valores
E sentimentos perdidos
Nas que passam por honradas
Vi cinismos vencedores
Muitos heróis esquecidos
E vaidades medalhadas
Vi no torpor mais imundo
Profundas crenças caindo
E maldições ascendendo
Tudo vi neste Mundo
Vi miseráveis subindo
Homens honrados descendem
Por isso afirmo com siso
Que p´ra na vida ter sorte
Não basta a fé decidida
P´ra ser feliz é preciso
Ser canalha até à morte
Ou não pensar mais na vida.
Vítor duarte Marceneiro
Diz o poema Janela da Vida