BRAGA, João de Oliveira e Costa, cantor e autor de melodias, nasceu na Rua da Creche, no bairro lisboeta de Alcântara, a 15 de Abril de 1945. Estreou-se em público, aos nove anos, como solista do coro do Colégio S. João de Brito. Em
O ano de 1967 marcou o começo da sua carreira musical, com a saída, em Janeiro, do seu 1º disco, "É Tão Bom Cantar o Fado" (título tirado daquela letra de Carlos Conde), editado pela Aquila, que lançou nesse ano mais 3 EP, ("Tive um Barco", "Sete Esperanças, Sete dias", "Jardim Abandonado") e 1 LP , "A Minha Cor", o que lhe valeu actuar, pela primeira vez, num programa da RTP ("Alerta Está!"). Em 1969 ficou definitivamente conhecido do grande público, por via dos serões televisivos do Villaret (Zip-Zip). Um ano antes conhecera Luís Villas-Boas, que viria a tornar-se seu produtor (gravou mais 7 discos com ele, para a Philips) e com quem organizaria o 1º Festival Internacional de Jazz de Cascais (1971). No ano seguinte, participou no Festival da Canção e fundou a revista Musicalíssimo (onde foi editor) e lá permaneceu até 1974, altura em que foi emitido um mandato de captura em seu nome, forçando-o a ir para Madrid até Fevereiro de 1976.
Quando voltou do exílio, abriu a casa de fados O Montinho, em Montechoro, que esteve em actividade apenas durante um Verão. A abertura do Páteo das Cantigas (1978-1982) marcou o seu regresso a Lisboa. Entre 1977 e 1987 gravou mais sete álbuns: 2 para a Orfeu ("Canção Futura", 1977, "Miserere", 1978), um para a Valentim de Carvalho ("Arraial", 1980), 3 para a Sassetti ("Na Paz do Teu Amor", 1982, "Do João Braga Para a Amália", 1984, "Portugal/Mensagem, de Pessoa", 1985) e um para a Silopor ("O Pão e a Alma", 1987).
Após o encerramento daquela casa de fados, centrou a sua actividade nos concertos e na composição musical, tendo, a partir dos anos 90, dado início à renovação do panorama fadista através de convites a jovens intérpretes para integrarem os seus concertos: Maria Ana Bobone, Rodrigo Costa Félix, Miguel Capucho, Mafalda Arnauth, Ana Sofia Varela, Mariza, Cristina Branco, Katia Guerreiro, Nuno Guerreiro e Filipa Pais, Gonçalo Salgueiro, Joana Amendoeira, Ana Moura, António Zambujo, Diamantina, Lina Rodrigues, Raquel Peters e, mais recentemente, Pedro Silva Miguel e Alexandra Guimarães.
Em 1984 surgiu pela 1ª vez como autor de melodias, "O Menino da Sua Mãe" e "Prece" (Pessoa), "Ai, Amália" (Luísa Salazar de Sousa) e "Ciganos" (Pedro Homem de Mello), num álbum a que chamou "Do João Braga para a Amália" -- em homenagem à grande diva do Fado. Desde então já assinou mais de 50 temas de grandes poetas. Em 1990 gravou o seu 1º CD ("Terra de Fados", Edisom, vendas superiores a 30.ooo cópias), onde incluiu inéditos de Manuel Alegre, que pela primeira vez escreveu expressamente para um cantor. Mais um CD para a Edisom ("Cantigas de Mar e Mágoa", 1991), um para a Strauss ("Em Nome do Fado", 1994), outro para a BMG ("Fado Fado", 1997), um para o BNC ("Dez Anos Depois", 2001), outro para A Capital ("Fados Capitais", 2002) e três para a Farol ("Cem Anos de Fado" vol. 1, 1999, vol. 2, 2001, e "Cantar ao Fado", 2000, — considerado por Braga como o melhor da sua carreira, com poemas de Pessoa, O'Neill, Torga, Mourão-Ferreira e Alegre, entre outros).
Foram assim já editadas para cima de 50 gravações suas (28 originais e mais de 20 compilações), concebeu e/ou protagonizou cerca de 250 programas televisivos e radiofónicos, tendo escrito até à data um número muito próximo de 300 crónicas e um livro, posto no mercado em Novembro de 2006, pela Esfera dos Livros, sob o título, “Ai Este Meu Coração”..
Desde os tempos da Musicalíssimo, desenvolveu actividade na imprensa escrita (como editor, redactor e cronista: Eles & Elas, Sucesso, Independente, DN, Euronotícias, A Capital), na rádio (TSF e Antena 1) e na televisão (RTP, SIC e TVI). Desde 1970 actuou em muitos países da Europa, África, América do Norte e do Sul e foi distinguido, entre outros, com os seguintes prémios: Medalha de Mérito Cultural do Governo Português (1990, o único cantor de fado, até à data, assim galardoado), Prémio Neves de Sousa, atribuído pela Casa da Imprensa (1995), Medalha da Cruz Vermelha de Mérito (1996), Prémio de Carreira, da Casa da Imprensa (1999) e com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, entregue pelo então chefe do estado, em Fevereiro de 2006.
Além do fado, interpreta um repertório diversificado, incluindo música francesa, brasileira e anglo-saxónica. O seu emocionado estilo interpretativo é caracterizado por um timbre bem pessoal, pela primazia do texto (que divide com eficácia — teve bons mestres, como Alfredo Marceneiro) e por uma abordagem melódica imaginativa, sempre actualizada e de constante improviso (muito "estilada", em jargão fadista).
(Biografia resumida pelo próprio)
Fado de Lisboa
Repertório de João Braga
poema: Manuel Alegre
música: João Braga
Tem navios nas vogais
Gaivotas nas consoantes.
Em cada sílaba um cais
Para o mar de nunca dantes.
Lisboa tem brancas velas
Suas letras são sinais
Caravelas, caravelas;
Que não voltam nunca mais.
Cais de partida e chegada
Cheira a sul e oriente.
Esta é Lisboa prezada
De tão desvairada gente.
Com Fernão Lopes, foi prosa;
Com Cesário, alexandrino;
Rua a rua, rosa a rosa,
Lisboa é fado e destino.