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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Domingo, 24 de Junho de 2007

Entrevista ao Poeta Carlos Conde

O FADO ESTÁ DOENTE

Repertório de Gabino Ferreira

 

Letra de Carlos Conde

Música de: Gabino Ferreira

 

                                   O fado está doente, adoeceu o fado!

                                   Quando hoje o visitei quedei-me em sobressalto

                                   Ao vê-lo triste e só, com a guitarra ao lado

                                   Numa casa qualquer ali do Bairro Alto!

 

É triste a sua dor, profundo o seu abalo,

Saudoso do seu tempo alegre de conquistas!

O fado está doente, é preciso salvá-lo

Com o gosto do povo e a alma dos fadistas!

 

                                  Está muito abatido. Eu nem o conhecia!

                                  Ele, o Imperador ali da Madragoa,

                                  O Príncipe de Alfama, o Rei da Mouraria

                                  E acima de tudo o Senhor de Lisboa!

 

Fadistagem de garra, altiva e bem unida:

Se o fado é muito nosso, é grande, é imortal,

Nós temos o dever de lutar pela vida

Da mais bela canção que existe em Portugal!

 

 


De uma entrevista que o Poeta deu em 20 de Abril de 1967.

Como poderão verificar, e não querendo de forma alguma desvalorizar ninguém, mas acho que se isto fosse dito hoje 40 anos passados, nem uma vírgula seria necessário acrescentar.

 

 


 Há hoje  alguns novos interpretes de Fado, que ascenderam com rapidez fulgurante ao cume da popularidade... Porque será?

Carlos Conde: — A popularidade deve surgir naturalmente, por mérito próprio, e não por habilidades que todos nós conhecemos. A aura de verdadeiro artista deve conquistar-se pelo seu valor, pela sua arte, pelo seu talento e não por outros meios a que não é estranha uma certa forma de conluios (1)  e propagandas fáceis que, por vezes à força da insistência, chegam a comprometer e até a enganar os que julgam que a subida ( 2 )não custa.

 

(1) Hoje são "lobbies"

(2) A séria e honesta sem sofismas, custa e muito.

 

 

O Fado é devedor a alguém da sua popularidade?

Carlos Conde:—O Fado não deve nada a ninguém; todos os autores e compositores; todos os tocadores e cantadores; todos os empresários e aficcionados é que devem ao  Fado, o Fado é credor.

 

 

Como define o Fado de hoje?

Carlos Conde: — O Fado alcançou um lugar de dignidade,. Mudar-lhe o ritmo é deturpar-lhe o sentido. O Fado não pode sair do seu ambiente ainda que, por vezes, rodeado de cenários discutíveis e caricaturas exageradas.

O que é preciso acima de tudo, é que o Fado seja realmente Fado.

 

 

E os repertórios?

 

Carlos Conde — Antigamente cada artista tinha o seu repertório, nós os poetas a maioria das vezes já calculavamos para quem eram os poemas que faziamos. Hoje há bons poetas, mas pouco cantados, toda a gente canta a measma coisa que já tenha obtido êxito fosse por quem fosse.

 

 

E a música?

Carlos Conde — Tal com diz o Marceneiro, hoje toca-se muito bem, mas acompanha-se muito mal, há mais música, menos fado.

 Já tenho perguntado a mim próprio,  se  depois de Marceneiro alguém mais criou algum fado tradicional/clássico, daqueles apanhados pelos guitarristas ao estilo que o fadista dava ao cantar,  e que tenha vindo a ser um clássico, como são todos os dele... parece-me que não, e mesmo esses querem modernizá-los!

 

 

Acha que o fado está doente?

 

Carlos CondeOs grandes admiradores estudiosos do Fado são unânimes em afirmar que o fado (o genuíno)  está doente, que morre aos poucos.

Os modernos «fadistas» elevados à  «alta categoria » de cançonetistas famosos, empertigados no seu «alto prestígio» de vedetas de nomeada, afirmam  que eles é salvarão o Fado,  que é a eles que se deve a sua projeccção internacional! A ver vamos no futuro.

 

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
publicado por Vítor Marceneiro às 21:30
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8 comentários:
De pauloconde a 25 de Junho de 2007 às 12:40
Bem Vitor! O teu olho de lince mais uma vez foi mais que oportuno. Esta entrevista nunca esteve tão actual, embora eu só tivesse nascido 5 meses depois, mas a dar crédito aos testemunhos da época.....
Abraço,

(Paulo Conde)
De Célio Santos a 25 de Junho de 2007 às 18:13
Parabéns pelo seu blog, que é uma passagem quase obrigatória para quem gosta de fado.No entanto, e apesar de se aprender muito consigo, há aspectos dos quais podemos discordar. Gosto do poema do Carlos Conde como gosto de quase tudo o que ele escreveu mas não acho que esteja actualizado, porque me parece que o Fado não está doente, porque nunca foi tão internacionalizado como agora,onde temos com grande frequencia quatro ou cinco fadistas a cantarem no estrangeiro, como a Mariza,Camané,Katia Guerreiro,Ana Moura e até a Misia, embora esta não seja fadista na verdadeira acepção do termo. Estes fadistas teem cantado nas melhores salas do Mundo, em Londres e em Nova York. Deste modo pode dizer-se que o Fado está doente ? Concorda ou não, caro amigo ?
Parabéns pelo seu blog. Um abraço.
De Vítor Marceneiro a 25 de Junho de 2007 às 19:59
Muito obrigado pelos seus comentários e elogios. De vez em quando divago e vejo" cópias" e mais "cópias", e a base, exceptuando um ou outro, conhece alguém destes últimos nomes sonantes que cantem estilando , o menor, o corrido ou mouraria, como diz Carlos Conde e eu concordo, lembra-se de algum fado nos últimos anos "de estilo" . A Internacionalização é tal que até o realizador do filme o Fado é espanhol, e sabe quem dos antigos entra, quem fala de Fado?
será a mexicana a espanhola ou a brasileira? Veja o trailler do filme e depois verá. Concordará comigo que nos últimos anos há um grupo que são sempre os mesmos, cantam e até sabem de fado, de tal forma que dizem que se tem que modernizá-lo. Estamos decerto do mesmo lado, falamos é de outra maneira. Um Abraço
Vítor Marceneiro
De Victor Conde a 25 de Junho de 2010 às 12:59
Querido amigo.
Se o Fado está doente? Vejamos!
Fazem arranjos, modificam, desvirtuam, sem dó nem piedade, todo o património legado pelos nossos antepassados, que deveria permanecer intocável. Ninguém altera as cores de qualquer tela de um qualquer pintor.
Deve-se isto à falta de criatividade? Claro! Então o fado está mais pobre.
Usurpa-se as autorias.(recordo o prémio Goya)Deve-se isto à falta de respeito? Claro!
Então o fado é vitima de falta de caracter.
Utiliza-se o estrado ou o palco como se o fado fosse uma actividade circense.O fado não é isso.Deve-se isto à falta de coração quando se canta? Claro! Fazer do palco um circo é a maneira de alguns cantadores de fado infligirem no publico um sentimento que nem sequer sentem. Vendedores de Fado.
Então o fado é vitima de hipocrisia.
Onde houve uma estraordinária evolução (aparte os excessos) foi nos acompanhamentos. Justiça seja feita.
Mesmo os novos fadistas, e alguns de grande qualidade, passam o tempo a cantar Amália ou Fernando Mauricio etc..., e na maioria dos casos recorrem a Carlos Conde, Linhares Barbosa, Frederico Brito, Francisco Radamanto., e musicalmente ao Ti Alfredo, ao João Maria, ao Joaquim Campos etc.
Conclusão: O Fado está; doente, pobre, sem caracter e sem criatividade. Quando desaparecerem alguns iluminados que actualmente o dominam, estou certo que renascerá e voltará às suas raízes como sempre fez ao longo da história.
De Vítor Marceneiro a 25 de Junho de 2010 às 20:40
Meu Caro Victor Conde

Tens toda a razão, o "lobbie" continua a fazer o que lhe apetece, e quem fala é marginalizado.
Mas daqui a meia duzia de anos ninguém fala deles e os nossos avós e seus companheiros serão sempre lembrados, cantados e tocados.
Um abraço fadista
Vítor
De Celio Santos a 25 de Junho de 2007 às 21:05
Caro bloguista : Conheço vários blogues e sites de fado e penso que eles também deviam ser espaço para discussão saudavel, porque deste modo nós os amantes de fado escrevemos umas coisas e por vezes dão-nos respostas que não nos convencem e até fora do contexto. Fala-me a propósito da internacionalização do fado no filme do Saura e esse é um aspecto que quem gosta de fado há-de ver esclarecido, mas esse é só um aspecto da internacionalização, e no que se refere ao filme, o senhor tem razão, mas é ou não verdade que os fadistas que lhe referi andam no estrangeiro, como não me lembro, de tantos fadistas serem requisitados ? Isto não pode negar. E sendo assim parece-me que a doença do fado não será tão grave. Uma coisa é o Saura e outra são os fadistas que andam quase permanentemente no estrangeiro. Quanto ao estilar estamos de acordo, em parte, porque a Amália era grande estilista ? Onde me parece que a doença do fado se pode manifestar, é na falta de quem escreva, aí sim, não apareceram mais Carlos Condes, nem Linhares Barbosa, nem Henrique Rego etc. E não apareceu nenhum Alfredo Marceneiro para nos trazer "novos fados". Aí estou completamente de acordo. Sei do grupo a que se refere que fala em modernizar o fado, e aí há exageros, isto na minha opinião, porque fado com violino e sinfonietas, não me convence, mas por outro lado o senhor sabe tão bem como eu que o fado se modernizou na maneira de tocar, de cantar e sobretudo na poesia. Por muito que o senhor queira a entrevista do grande Carlos Conde não está tão actualizada como diz , mas todas as homenagens que se possam prestar a esse grande senhor do fado são benvindas. Vou continuar a ver o seu blogue, mas não gostei da sua resposta.
Deixo-lhe as melhores saudações fadistas.
De Vítor Marceneiro a 25 de Junho de 2007 às 21:13
Caro amigo
A minha resposta não era para contrariar, se assim pareceu peço desculpa, até porque é sempre um prazer receber um comentário, e como verificará os comentários são directos, portanto não há qualquer interferência no que cada um quer dizer.
Portanto espero receber mais comentários e críticas que poderei responder mas sempre no intuito de esclarecer ou debater a ideia.
Um abraço fadista
Vítor Marceneiro
De Flores de Verde Pino a 27 de Junho de 2007 às 12:27
Absoluto, oportuno! Faça agora a galeria da Velha Guarda - o Gabino , José Coelho, Frutuoso França, Júlio Vietas e Júlio Peres -, e nesse "passeio" ao ontem recorde também Maria do Carmo Torres, Alice Magina , Quinita Gomes, e delicie-nos

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