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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Quinta-feira, 23 de Agosto de 2007

ANTÓNIO ROCHA

António Rocha canta: 

Boneca de Porcelana

 

Conheço o António Rocha, desde que me conheço no Fado, nutro por ele uma admiração quer artística, quer pessoal, pois é uma pessoa que tem uma postura e uma maneira de estar a todos os níveis irrepreensível , o que hoje se vai tornando raro quer na nossa sociedade quer no meio artístico .

Pedi ao meu amigo Nuno Lopes que me escrevesse  algo sobre o António Rocha, que logo acedeu.

 

 

 

ANTÓNIO ROCHA é não só um reconhecido talentoso fadista, estilista notável, como um poeta de mérito. Começou a cantar aos 8 anos, e aos 13 conquistou o 1º lugar do concurso do jornal Ecos de Portugal (1951). Canta no restaurante Ribamar, na Cova da Piedade e no Pancão em Almada, mas só em 1956 obtém a carteira profissional, estreando-se no Retiro Andaluz. Rocha inicia então uma fulgurante carreira actuando nas mais diversas casas típicas e palcos nacionais. Em 1959 no Café Luso é eleito “Rei do Fado Menor”, voltará a ser “coroado”oito anos mais tarde como “Rei do Fado”, resultante de um concurso da revista Plateia, paralelo ao dos Reis da Rádio.

No final da década de 1960 na companhia de Ema Pedrosa e Armando Marques Ferreira, assina uma rubrica semanal no Clube Radiofónico de Portugal intitulada “Pergunte o que quiser sobre fado. António Rocha responde”. Esta terá sido a primeira experiência de divulgação do modus faciente do fado junto do grande público. Aliás este mesmo entusiasmo levá-lo-á a integrar, em 1994, o núcleo fundador da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, de que é sócio honorário.

Entretanto continua a editar discos, onde inclui letras suas, de António José, Artur Ribeiro, Domingos Gonçalves Costa, Hermano de Sobral e de vários outros poetas. Foi o primeiro fadista a gravar “Vou dar de beber à dor” (Alberto Janes ), depois da sua criadora, Amália Rodrigues.

Actualmente integra o Gabinete de Ensaios do Museu do Fado e além das várias actuações no estrangeiro, canta nas Arcadas do Faia, ao Bairro Alto.

Além fronteiras, refira-se a sua participação no Festival de Música de Nantes, no de Música da Flandres em Gent ou no de Músicas do Mundo em Barcelona, nos Encontros da Música em Tenerife e no XXIII Festival Sabandeño , em 2001, também em Tenerife.

Entre a sua vasta discografia, saliente-se o álbum Tears of Lisbon ” gravado com Beatriz da Conceição, sob a direcção do maestro Paul van Nevel , ou “Silêncio, ternura e Fado” (Ovação) onde canta poemas de sua autoria, entre eles, “Um hino à vida”, “Procura vã” ou “Olhos esquivos”.

Em 2006 é-lhe atribuído o “PRÉMIO AMÁLIA RODRIGUES CARREIRA MASCULINA”

Nuno Lopes

 

  


 

 

O fadista António Rocha. Trata-se de uma grande figura do Fado dos nossos dias, que preserva uma tradição de bem estilar hoje cada vez mais rara, mostrando bem de que maneira mesmo no repertório fadista mais clássico é possível a um grande artista deixar uma marca individual inconfundível . Ouvi-lo é sempre uma lição de inteligência musical e de uma força expressiva que nos afecta profundamente. É por coisas como estas, é por fadistas desta fibra que o Fado é tão importante para todos nós e que o queremos defender na sua essência, sem negarmos a sua capacidade evidente de evoluir mas salvaguardando sempre a sua ligação às raízes em que nos reconhecemos.

Rui Vieira Nery

 


Ao fadista ANTÓNIO ROCHA

Poema de: Euclides Cavac

 

Para ti

Fadista e sonhador,

Eu canto neste poema

Os teus dotes sublimes

Por teres dado a cada tema

Da forma como te exprimes

Ao fado maior valor !...

 

Para ti

Nobre talento de alma inteira

Para quem a música e as palavras

São brinquedos

Fizeste da guitarra companheira

Em eternas noites de folguedos...

 

Para ti

Ilustre fadista...

Parabéns aqui te dou

Por deleitares tanta gente

Com teu carisma de artista

E tua voz sapiente

Que o nosso fado honrou...

 

Para ti

Nesta leve cortesia

De sabor a nostalgia

Que te presto hoje aqui

Recordo os fados solenes

Como pétalas perenes

Que são pedaços de ti !...

 

Para ti

fiz este poema

Inspirado e confiante

Que sempre irás  dizer sim...

À carreira triunfante

Que fez do fado um jardim!...

 

Para ti

Egrégio amigo

Nesta modesta mensagem

A mais merecida homenagem

Deixo hoje aqui contigo !...

 

 


VELHOS PREGÕES

 Letra de António Rocha

 

Já se não ouvem agora

Pregões como antigamente

Vozes que ao romper da aurora

Vinham acordar a gente

A vozearia aumentava

Tal com a manhã crescia

E a cidade se inundava

De luz cor e alegria

 

                                                     Refrão

 

                                                     Vozes que pareciam trovas

                                                     Fava rica, quem não gosta

                                                     Quem quer azeitonas novas

                                                     Olha a vivinha da costa

                                                     Era o ferro velho à porta

                                                     Que tudo vinha comprar

                                                     Rica amora que é da horta

                                                     Figos quem quer merendar

 

Rica amora que é da horta

Figos quem quer merendar

Erre e erre mexilhão

Olha os marmelos assados

Petrolino e o carvão

E tantos mais já passados

Onde estão os pregoeiros

Que hoje recordo com mágoa

Acabaram os aguadeiros

E anda tudo a meter água

 

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
música: Boneca de Porcelana
Viva Lisboa: AH! Fadista
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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10 comentários:
De Maria Luísa Castanheira a 25 de Agosto de 2007 às 21:51
Parabéns pois o António Rocha é absolutamente brilhante, pena só o vermos no Faia e nunca na televisão nem passar na rádio.
O texto do jornalista está brilhante, os meus parabéns, há tão poucos que gostem de fado.
De Alexandre Almeida a 29 de Agosto de 2007 às 13:03
Ter nomes como Nuno Lopes e Rui Vieira Nery a colaborar no blog é outra coisa! Nota-se a diferença de texto e estilo, se me permite para melhor! Bem haja pela iniciativa!
De Vítor Marceneiro a 29 de Agosto de 2007 às 22:08
Caro Alexandre Almeida
Desde sempre, e principalmente no Fado, quero é dar-me com pessoas cultas e bem formadas. Foi uma honra Nunes Lopes ter acedido ao meu pedido e fornecer-me os referidos textos.
Pena tenho eu, de não ter a colaboração de mais figuras deste gabarito, como Nuno Lopes e Rui Vieira Nery . Quem ficaria a ganhar era o Fado e os seus admiradores, nos quais eu me incluo.
Tenho pedido muitas ajudas, mas as pessoas não têm tempo, incluindo mesmo familiares que nem sempre proporcionam a colaboração desejada sobre a figura que se pretendia lembrar.
Sabe, um trabalho destes não é só a escrita, são horas e horas de busca, são a composição, as fotos, os filmes etc.
Olhe, por exemplo, um dos nossos maiores pintores/aguarelista da actualidade, o Mestre Real Bordalo, autorizou-me a usar aqui a sua obra, o que eu tenho feito, e que é sem sombra de dúvida uma mais valia para este trabalho e para o Fado... mas pasme-se nunca recebeu um elogio!
Ainda sobre António Rocha, o meu texto é na realidade pobre em termos literários, mas afirmo-lhe que foi escrito com o coração, com a alma, e com muito carinho, como aliás, é meu hábito.
Espero continuar a merecer a sua atenção.
Um abraço Fadista
Vítor Duarte Marceneiro
De mlcastanheira@hotmail.com a 31 de Agosto de 2007 às 12:48
É minha opiniao que a participaçao de outras personalidades só enriquece este magnífico blog. Investigadores de quilate como Vítor Duarte Marceneiro naturalmente "puxam" à participacao de outros nomes de importância, refiro-me concretamente a Vieira Nery que é absoluto. Quanto ao jornalista conheço mal mas tenho boa impressao.
De apaf@netcabo.pt a 10 de Setembro de 2007 às 12:19
O texto de Rui Vieira Nery e o poema de Euclides Cavaco foram enviados expressamente pelos seus autores para uma homenagem ao fadista e poeta realizada em Lisboa a 27 de Outubro de 2003 pela APAF . Por lamentarem não estarem presentes, por compromissos anteriores de agenda, mas reconhecendo a justiça da homenagem e o mérito de António Rocha enviaram estes os respectivos textos que foram lidos na citada homenagem em que participaram, entre outros, Anita Guerreiro, Fernanda Baptista e actriz Alina Vaz que leu vários poemas de autoria de António Rocha.
De Rui Neves a 31 de Agosto de 2007 às 12:49
Este texto exprime uma coisa: A APAF em peso! De qualquer forma até gosto de ouvir o Rocha e é um fadista que merecia muito mais!
De Ai Flores de Verde Pino a 15 de Setembro de 2007 às 18:00
Não pertencemos à APAF, temos as nossas ideias sobre a Associação, nomeadamente os seus fundadores, mas aqui a APAF com qualidade, desde o Marceneiro que se lembrou do Rocha e tem-se lembrado de tantos e do FADO na internet, ao excelente texto de Nuno Lopes, ao comentário de Rui Nery e à magnífica e extraordinária voz, e fadistice castiça que tem e é me pleno ANTÓNIO ROCHA! Para além de poesta e empenhado na causa fadista!
De Ricardo Manuel a 2 de Setembro de 2007 às 15:02
Colocar o Rocha é de inestimável justiça. Apesar de um percurso bem mais vasto do que eu pensava e conhecia, hoje é um fadista praticamente desconhecido, por que será? É lamentável, quem perde é quem o nao conhece mas quem será o artista que nao gosta de ver o seu talento reconhecido?
De Vítor Marceneiro a 2 de Setembro de 2007 às 16:29
Meu amigo
Não basta ser grande, como o nosso amigo António Rocha, infelizmente é precios fazer parte do "Lobbie", e ele como muitos de nós não fazemos parte.
Um abraço
Vítor Marceneiro
De Hilário Bocchi Junior a 22 de Fevereiro de 2010 às 23:42
Conheço António Rocha e acompanho seu trabalho desde 11/01/1996 quando tive o prazer de vê-lo cantar no NONO FADOS (The portuguese Song) no bairro velho de Lisboa.
Parabéns por sua obra.
Foi uma noite inesquecível.
Abraços.
Hilário

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