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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Domingo, 26 de Agosto de 2007

MARIA DO CARMO (Alta)

Maria do Carmo (Alta) canta:

 

Os Beijos são como as rosas

 

MARIA DO CARMO (Alta)

Cantadeira, nasceu em Moura em 1885 e faleceu em Lisboa em 1964. De nome completo Maria do Carmo Fontes Páscoa Bernardo, foi a eleva­da estatura que lhe proporcionou a alcunha que a celebrizou, imposta também para a distinguir da sua contemporânea Maria do Carmo Torres.

Filha de lavradores, deixou Moura com 3 anos e mudou-se para Lisboa com a família, onde foi aprendiza de camiseira na casa Ramiro Leão e mais tarde costureira com atelier próprio. Teófilo Braga, que habitava na residência frente à sua, es­timulou-a a cantar canções populares.

Com apenas 11 anos, foi uma das primeiras fadistas a cantar em retiros fora de portas.

A partir de 1918 dedicou-se mais ao Fado, nunca abandonando a sua profissão. O prestígio como cantadeira ligado à sua personalidade orga­nizada e empreendedora, levou-a a fundar o res­taurante Ferro de Engomar que geriu em conjun­to com Alberto Costa. Foi talvez o primeiro restaurante com elenco privativo, onde se cantava o Fado (às segundas, quintas e sábados) e onde acorriam figuras importantes de Lisboa.

Por vezes acompanhava-se à guitarra, instru­mento que aprendera a tocar com um tio. Apre­sentou-se praticamente em todos os recintos de Fado de Lisboa (Águia Roxa, Caliça, Pedralvas, Nova Cintra, Magrinho, Manuel dos Passarinhos, Bacalhau, Perna de Pau, Quebra-Bilhas, Tia Ele­na, Montanha, Charquinho, José dos Pacatos), efectuando algumas digressões ao Brasil, no­meadamente em 1920, onde permaneceu dois anos e meio. De regresso a Lisboa, preocupou-se em reorganizar o seu atelier, não descurando o Fado. Voltou ao Brasil em 1926 e apresentou-se no Cinema Central do Rio de Janeiro.

Em 1931 integrou o elenco da opereta História do Fado, apresentada pela companhia Maria das Neves, no Teatro Maria Vitória, juntamente com Ercília Costa, Maria Alice, Maria Albertina e       Al­berto Costa. Ainda com esta companhia, desem­penhou o papel de Cesária na opereta Mouraria, no Coliseu dos Recreios.

Fez várias parcerias com Alfredo Marceneiro (ver foto anexa)

Maria do Carmo fez parte de uma “troupe” cómi­ca tauromáquica de nome Charlot, Max e D. José, com a qual cantou durante três anos em muitas das praças de toiros do país.

Embarcou novamente para o Brasil em 1934, como figura principal da Embaixada do Fado, que integrava nomes como o guitarrista Armando Freire (Armandinho) o violista Santos Moreira, Maria do Carmo Torres,  Filipe Pinto e Joaquim Pimentel.

Formou o Grupo Artístico de Fados Maria do Carmo, que integrava Manuel Cascais, Cecília d´Almeida,  José Marques e Armando Machado.

Alguns dos Fados do seu repertório mais conhecidos foram, Fado Maria do Carmo, Beijos Venenosos, sendo uma das suas criações o bonito poema de João Linhares Barbosa, “É Tão Bom Ser Pequenino”

 

É TÃO BOM SER PEQUENINO

 

Letra de: João Linhares Barbosa

Música: Fado Corrido

 

É tão bom ser pequenino,

Ter pai, ter mãe, ter avós,

Ter esp'rança no Destino

E ter quem goste de nós.

 

Vem cá, José Manuel!

Dás-me a graciosa ideia

De Jesus na Galileia

A traquinar no vergel.

És moreninho de pele

Como foi o Deus Menino.

Tens o mesmo olhar divino;

Ai que saudades eu tenho

 Em não ser do teu tamanho!

É tão bom ser pequenino.

 

Os teus dedos delicados                                                

Nas tuas mãos inquietas

Lembram-me dez borboletas

A voejar nos silvados.

Fui como tu, sem cuidados,

Também corri veloz;

Vem cá, falemos a sós

Do caso sentimental,

Que eu vou dizer-te o que vale

Ter pai, ter mãe, ter avós.

 

Ter avós, afirmo-to eu,

— Perdoa as imagens minhas­

É ter relíquias velhinhas,

E ter mãe é ter o céu;

Ter pai, assim como o teu,

Que te dá o pão e o ensino,

É ter sempre o Sol a pino

E o luar com rouxinóis,

Triunfar como os heróis

Ter esp' rança no Destino.

 

Sabes o que é a esperança.

O sonho, a ilusão, a fé?

Sabes lá o que isso é

Minha inocente criança.

Tu és fonte na pujança

E o rio que chegou à foz;

Eu sou antes, tu após,

Ai que saudades, saudades,

A gente a fazer maldades

E ter quem goste de nós.

 

 

 

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publicado por Vítor Marceneiro às 22:39
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