Poeta popular, nasceu e morreu em Lisboa (1885-1963).
Cantador na juventude, foi na poesia que se celebrizou, abordando temas bucólicos e líricos, tendo legado uma vasta obra, com versos de grande perfeição.
Fez parte dos concílios poéticos muito na moda na época.
Foi quem mais versos escreveu para Alfredo Marceneiro
Alfredo Marceneiro tinha uma sensibilidade muito especial para escolher os fados que cantava, e a partir de certa altura eram os poetas que o assediavam para que interpretasse os seus poemas.
Dos muitos poetas que para ele escreveram, Henrique Rêgo foi decerto o que mais admirou. Mas no início desta relação houve um episódio que Alfredo relembrava:
Henrique Rêgo afirmou certo dia num "concílio poético" de fado:
— Que os versos só tinham valor e eram sentidos, quando escritos ou recitados, mas que nunca poderia senti-los quem os cantasse.
Alfredo Marceneiro ao ouvir tal afirmação, discordou firmemente e solicitou ao guitarrista Henrique Simas que o acompanhasser, e cantou um fado da autoria de Henrique Rêgo, Amor de Mãe.
Este ao ouvir os seus versos cantados com tal sentimento e intuição, comovido disse:
— Isto define um cantador... retiro o que tinha dito
Deve ter sido a partir desta altura, que amizade de ambos mais se cimentou, Henrique Rêgo veio a ser seu compadre, pois fez questão de ser padrinho de baptismo da sua filha Aida.
Certo dia perguntaram-lhe a sua opinião sobre Alfredo Marceneiro, ao que ele respondeu em verso:
Como existe compadrio
Ente mim e «Marceneiro»,
O meu maior elogio
É dizer, abertamente,
Que este fadista afamado
Enebria toda a gente
Que gosta de ouvir o Fado!...
© Vítor Duarte Marceneiro
Eis um resumo da produção desse grande poeta popular Henrique Rêgo, para o repertório de Alfredo Marceneiro.
" COLCHETES D´OIRO "
Toma lá colchetes d´oiro
Aperta o teu coletinho
Coração que é de nós dois
Deve andar aconchegadinho
" CABELO BRANCO"
Cabelo Branco é saudade
Da mocidade perdida
Às vezes não é da idade
São os desgostos da vida
" O LENÇO"
O lenço que me ofertaste
Tinha um coração no meio
Quando ao nosso amor faltaste
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o
"A MENINA DO MIRANTE "
Menina lá do mirante
Toda vestida de cassa
Deite-me vista saudosa
E um adeus da sua graça
" MOINHO DESMANTELADO"
Moinho desmantelado
Pelo tempo derroído
Tu representas a dor
Deste meu peito dorido
" AVÓZINHA "
Ainda me lembro bem
Dessas noites invernosas
Em que o vento sibilava
E das lendas amorosas
Que a minha avó que Deus tem
Junto á lareira me contava
" SINAS "
Já mandei ler tantas sinas
Na palma da minha mão
E todas elas constatam
Que as buliçosas meninas
Dos teus olhos é que são
As meninas que me matam
"AS FONTES DA MINHA ALDEIA"
As fontes da minha aldeia
Murmuram, gemem em coro,
E as águas que vão correndo
Levam consigo o meu choro
" OS VÉLHINHOS "
Sentado nos degraus
Musgosos d´uma Ermida
Dois velhos aldeões
Mortinhos de saudade
Com palavras de amor
Cândidas como as rosas
Lembravam com ternura
A morta mocidade
" O NATAL DO MOLEIRO "
Que noite de Natal, tristonha agreste
De neve amortalhava-se o caminho
E o vento sibilada do nordeste
Por entre as frinchas da porta do moinho
" TRÊS TABULETAS "
De ferro três tabuletas
Todas três numeros seguidos
Dizem eternas moradas
Desses três na morte unidos
" OH ÁGUIA "
Oh águia que vais tão alta
Num voar vertiginoso
Por essas serras d´além
Leva-me ao céu, onde tenho
A estrela da minha vida
A alma da minha mãe
" AMOR DE MÃE "
Há vários amores na vida
Lindos como o amor perfeito
Belos como a Vénus querida
De tantos que a vida tem
Só um adoro e respeito
É o santo amor de mãe
“ANTES QUE QUEIRA NÃO POSSO”
Antes que queira não posso
Deixar o fado é morrer
É ele o meu Padre-Nosso
Que eu vou rezando a sofrer
"CABARÉ"
Foi num cabaré de feira, ruidoso
Que uma vez ouvi cantar, comovido
Uma canção de rameira, sem ter gozo
Que depois me fez chorar, bem sentido
" O BÊBADO PINTOR"
Encostado sem brio
Ao balcão da taberna
De nauseabunda cor
E tábua carcomida
O bêbado pintor
A lápis desenhou
O retrato fiel
Duma mulher perdida
"A LUCINDA CAMAREIRA"
A Lucinda Camareira
Era a moça mais ladina
Mais formosa e mais brejeira
Do Café da Marcelina
" FADO BAILADO "
À mercê dum vento brando
Bailam rosas nos vergéis
E as Marias vão bailando
Enquanto vários Manéis
Nos Harmónios vão tocando
“O CAMPONÊS E O PESCADOR”
Eu adoro do mar
As ondas imponentes
Que vão morrer á praia
Em finos rendilhados
Eu adoro a campina
A rústica montanha
Adoro enfim a Paz
Nostálgica dos prados
" O BAILADO DAS FOLHAS "
Foi numa pálida manhã de Outono
Soturna como a cela dum convento
Que num vetusto parque ao abandono
Dei largas ao meu louco pensamento
" O LOUCO"
Quiseste que eu fosse louco
Para que te amasse melhor
Mas amaste-me tão pouco
Que eu fiquei louco de amor
"TRICANA"
Não sabes Tricana linda
Porque chora quando canta
O rouxinol no choupal
É porque ele chora ainda
P´la Rainha mais Santa
Das Santas de Portugal
“QUADRAS SOLTAS”
Junto ao Moinho cantando
Lavam roupa as lavadeiras
Os patos brincam nadando
Arrulham pombos nas eiras
Nota: Todos estes poemas forma cantados e gravados por Alfredo Marceneiro, com músicas da sua autoria.