Estávamos no tempo do cinema mudo e os primeiros empresários que contrataram Alfredo Marceneiro foram Artur Emauz e Vicente Alcântara, para o Chiado Terrasse, no propósito de este cantar nos intervalos das exibições cinematográficas, pois o público andava arredado dos espectáculos da 7ª. Arte.
Alfredo Marceneiro e Júlio Proença estavam no auge das suas carreiras, razão pela qual o público começou a acorrer em maior número ao cinema.
Assim, além de assistir ao filme, também ouviam cantar o Fado.
Estes contratos no Chiado Terrasse tiveram um duplo benefício: o aumento das receitas do cinema e a possibilidade de um contacto mais próximo do grande público com os fadistas, que tinham fama de indivíduos de mau porte, o que permitiu a desmistificação dessa ideia de raízes tão perdidas no tempo.
Na sequência destas suas actuações no Chiado Terrasse, Alfredo Marceneiro, que já tinha criado o hábito de se cantar o fado à média luz, tem um dos seus repentes de criatividade e levanta-se para cantar o Fado.
Até esta altura todos os fadistas cantavam sentados e os espectadores mais distantes tinham a tendência de se levantarem, a fim de poderem ver quem estava a actuar. Isto provocava um certo burburinho, que prejudicava as actuações e, com esta atitude de Alfredo Marceneiro, o Fado ganhou outro respeito. A partir desse dia os tocadores e os fadistas passaram a ter um lugar de destaque nas salas onde actuavam e o Fado começou a ser cantado com o fadista de pé.
Foto de Alfredo Marceneiro a cantar no CAFÉ LUSO
© Vítor Duarte Marceneiro in “Recordar Alfredo Marceneiro”
Arranjou o seu primeiro emprego como aprendiz de encadernador numa oficina na Rua da Trindade, com o salário inicial de quatro vinténs. Mas por pouco tempo auferiu este vencimento pois os patrões, por indicação do Mestre Paulino, gostando da sua dedicação logo o aumentaram para um tostão, o que na época, e para um rapaz da sua idade, era um bom salário.
No entanto, Alfredo não permaneceu muito tempo como aprendiz de encadernador, porque aquele ofício tinha para ele um grande inconveniente: a saída ás 9 horas da noite (naquela época os operários trabalhavam 12 horas diárias), não lhe permitia dedicar-se ao seu grande sonho de ser actor e poder entrar numa das muitas cegadas carnavalescas. Cultivando o gosto de representar, continua a seguir atentamente as actuações dos actores de rua e é assim que, simultaneamente, Alfredo toma mais contacto com o Fado, pois nas cegadas os actores interpretam o seu papel cantando o tema da peça ao som da guitarra. Alfredo haveria de tomar parte numa, custasse o que custasse.
Júlio Janota, um fadista improvisador com quem tomou conhecimento e que era mestre na profissão de marceneiro, aconselhou-o a seguir o mesmo ofício, o que lhe permitiria auferir melhor salário e sair antes do pôr do sol, arranjando-lhe colocação como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique. Foi assim que Alfredo Duarte trocou a sua profissão de encadernador pela de marceneiro, ofício que ficou ligado para sempre á sua pessoa e ao seu nome.
Nesse tempo, para as camadas menos privilegiadas, os bailes populares eram decerto a grande diversão, organizados ao ar livres em jardins e verbenas. É nesses bailes, dos quais é assíduo frequentador, que se inicia a cantar fados, começando desde logo a criar nome entre a rapaziada da sua época. Graças a essa sua genial capacidade passa a ser solicitado para cantar em festas de caridade, também muito usuais na época, como forma de solidariedade para com os mais desafortunados.
© Vítor Duarte Marceneiro in “Recordar Alfredo Marceneiro”
Seus pais, Gertrudes da Conceição e Rodrigo Duarte, eram ambos naturais do Cadaval, descendentes de duas conhecidas famílias da região, os Coelho e os Duarte, mas gente humilde.
Amigos e companheiros de brincadeiras desde crianças atingiram a idade adolescente com a amizade transformada em amor. As perspectivas de futuro também nessa altura eram difíceis na aldeia, pelo que decidiram partir para Lisboa à procura de melhores condições de vida. Corria o ano de 1890. Gertrudes já trazia no seu ventre a semente do seu amor e mal chegam à capital casa com Rodrigo na Igreja de Santa Isabel, recebendo dos lábios do padre Santos Farinha a bênção matrimonial.
Rodrigo Duarte era mestre de corte de calçado, tendo arranjado colocação numa sapataria da Rua da Madalena e graças a esse salário consegue alugar uma pequena casa na freguesia de Santa Isabel, num prédio da Travessa de Santa Quitéria. Hoje já não existe: foi demolido para abertura da Avenida Álvares Cabral.
E foi nessa casa que nasceu para o mundo o primeiro filho do casal Duarte, no dia 29 de Fevereiro de 1888,, mas só foi possível registá-lo, por falta de posse, e foi asiim que lhe foi dado, na pia baptismal, o nome de ALFREDO RODRIGO DUARTE, pelo mesmo pároco que havia unido em casamento seus pais, mas três anos depois em 1891, como não era ano bissexto tiveram que adoptar a data de 25, e foi assim que nos registos oficiais consta que nasceu a 25 de Fevereiro de 1891.
Com o acréscimo de responsabilidades e um novo incentivo na sua vida, Rodrigo Duarte pensou em melhorar a sua situação económica e resolveu assim jogar a sua sorte estabelecendo-se por conta própria, com uma oficina de calçado na Rua de São Bento.
A vida decorreu normalmente para a família Duarte, que viu aumentar o seu lar com o nascimento de mais três filhos: o Júlio — que foi também fadista de nomeada —, o Álvaro e a Júlia, todos igualmente baptizados pelo bondoso padre Santos Farinha, na Igreja de Santa Isabel.
O pequeno Alfredo frequenta a escola primária, tendo desde cedo demonstrado uma especial aptidão para a leitura e gramática, repartindo a sua infância pelas brincadeiras no Jardim da Praça das Flores e ajudando seu pai na oficina, durante as férias escolares.
No carnaval quando as cegadas (representações teatrais populares) saíam para a rua, deliciava-se a ouvir os descantes e seguia alegremente as exibições dos actores de rua nas suas digressões pelo bairro, decorando os versos que ouvia. Chegado a casa, logo seus pais se transformavam em plateia, ouvindo com profundo deleite o génio do pequeno Alfredo.
O seu gosto pelo canto é influenciado por sua mãe que, nas descamisadas, nas romarias e nos bailaricos lá da terra, cantava que era uma delícia. No entanto, quer seu pai — que tinha pertencido à banda musical do Cadaval —, quer seu avô materno, José Coelho, transmitiram-lhe fortes influências, especialmente o segundo, que tocava guitarra e cantava fados de improviso.
Já homem feito, sempre que falava de sua mãe, recordava o seu cantar enquanto fazia a lide caseira. De entre os muitos versos populares que a ouvia entoar, um dos mais preferidos, rezava assim:
Nasci nas praias do Mar
Ás fúrias do vento irado
Tinha por berço, uma lancha
Por lençol, o Céu estrelado
Rodrigo Duarte apercebeu-se de que o seu pequeno Alfredo tinha intuição para a música e queria que o filho aprendesse os rudimentos musicais.
Infelizmente, não viveu o suficiente para ver satisfeitos os seus desejos, porquanto aos 38 anos de idade a morte o ceifou, arrancando-o brutalmente do convívio dos seus entes queridos.
Foi o padre Santos Farinha quem, apesar da avançada idade, integrou o cortejo, a pé (como era hábito na época), que acompanhou o corpo do desditoso Rodrigo Duarte à sua última morada, o cemitério dos Prazeres, revelando a grande amizade que nutria pela família Duarte.
Aquele sarcedote, que seguia de perto o desabrochar do pequeno Alfredo, chegou a sugerir a seus pais, o envio deste para o seminário, pois via no jovem grandes capacidades.
Decorria o ano de 1905 e o pequeno Alfredo, então com 13 anos, profundamente abalado pela perda do pai, viu-se forçado a abandonar os estudos para começar a ganhar a vida, ajudando assim sua mãe a criar os seus irmãos mais jovens. A ida para o seminário ficava também fora de hipótese.
Infelizmente não chegou a haver condições de ter ficado com uma foto do pai.
© Vítor Duarte Marceneiro in “Recordar Alfredo Marceneiro”
Saúdo os músicos de todo o sempre...Como seria o Mundo se não houvesse música...
Para homenagear este dia, tenho o prazer de apresentar novamente um vídeo clipe do meu querido amigo Maestro Rui Serôdio, interpretando o Fado Cravo (ou Viela) ao piano, como sabem do meu saudoso avô ALFREDO MARCENEIRO
No dia 20 de Setembro fiz uma página sobre a história deste Fado, e lamentei não ter o original cantado pelo meu avô, mas o meu amigo Fernando Pedroso tinha esta preciosidade nos seu arquivos, que tinha captado num programa de RDP.
É retirado de um disco de massa dos anos 40, pelo que a qualidade sonora não é a mais perfeita, é interessante verificar ainda, que os versos também foram encurtados, já tinha começado a exigência das editoras, que não queriam que os Fados tivessem mais de 3 minutos.
Alfredo Marceneiro
canta Fado Cravo
Aproveito também este dia para esclarecer umas dúvidas que sei têm alguns investigadores (embora nunca o discutissem comigo), sobre a origem/história de duas músicas da autoria de meu avô:
O FADO CUF
O FADO MARIA MARQUES
O Fado CUF, foi criado para um poema de Armando Neves, "O Marceneiro" , que ele considerava o seu cartão de visita cantado.
Foi feito em 1937 ou 1938, e Alfredo Marceneiro ainda era funcionário dos estaleiro navais, administrados por Alfredo da Silva (CUF).
Foi Casimiro Ramos o guitarrista que com ele ensaiou o tema e o ajudou simultaneamente no registo.
Praticamente na mesma altura Henrique Rego escreve-lhe o poema "A Minha Freguesia", em que Casimiro Ramos não tem dificuldades em lhe fazer uma música bem ao seu estilo o "Fado Margaridas", que algumas pessoas por vezes pensam que é de Marceneiro.
NOTA: Quer o Fado CUF quer o Margaridas foram feitos nos anos 30, no entanto nos anos sessenta meu avô grava para a Casa Valentim de Cravalho ambos os Fados, só que pela razão que só ele saberia explicar, gravou o CUF no poema A Minha Freguesia, e o Margaridas no poema O Marceneiro.
Quanto ao Fado Maria Marques, o que passo a expor, é a versão real.
Meu avô era um homem discreto, nunca lhe conheci uma namorada (ou amante como se dizia na época), e nem o meu pai ou meu tio alguam vez se referiram a este assunto.
Ora sabemos que Alfredo, era um homem que teve as suas aventuras, em jovem, teve filhos de três mulheres incluindo a minha avó.
Já quarentão decerto que teve as suas paixões, mas nunca se exibiu nem as exibiu. Já eu homem feito, contou-me que teve uma paixão por uma senhora, que morava ali para o Chile. Foi por esta altura que me contou que tinha pedido ao seu compadre Henrique Rego, que lhe fizesse uns versos para dedicar a uma amiga (era um segredo deles), "O TEU VESTIDO AZUL" cantou os versos no seu estilo e nasceu mais um Fado em Versículo, a que deu o nome de Maria Marques ( era o nome da tal senhora, que ninguém conhecia). Como havia uma fadista que se chamava Maria Marques, alguém associou o título a essa pessoa, mas não foi assim, meu avô não tinha nenhuma ligação de amizade, ou outra, com essa fadista, para lhe dedicar um Fado.
Meu avô, deixou de cantar este Fado, mas o meu tio Carlos cantava-o na Cesária e gravou para o Valentim de Carvalho, assim como eu também.
Carlos Duarte
canta O teu Vestido Azul
Vítor Duarte
canta O teu Vestido Azul
Meu pai sabedor da intencionalidade do poema , gostou do mote, mas achou que não o devia cantar, e pede ao Henrique Rego que lhe escreva um poema diferente, visando o mesmo tema vestido/cor, e assim canta e grava "Vestido Azul" versos em quadras de Henrique Rego, mas na musica do Fado Pajem.
Alfredo Duarte Júnior
canta Vestido Azul
O Fado Cravo, cuja música foi composta por Alfredo Marceneiro para um poema de Fernando Teles com o mesmo título, que infelizmente não possuo gravação pelo próprio, embora o cantasse bastante nos retiros e espectáculos, mas com maior assiduidade nas festas dos Santos Populares.
Trata-se de um Fado para versos em sextilhas. Mais tarde o Dr. Guilherme Pereira da Rosa escreve o poema "A Viela", para o repertório de Marceneiro, e este em boa hora decide cantá-lo e gravá-lo nesta música, e assim a mesma passa também a ser conhecida também pelo Fado da Viela.
Esta música é considerada por muitos musicólogos a maior obra musical de Alfredo Marceneiro.
Há pouco tempo recuperei com a ajuda do meu amigo Fernando Batista do Porto, um EP que eu gravei em 1973. para os Discos Estúdio este e outos temas, mas neste caso decedi gravar com a música da Marcha de Alfredo de Marceneiro, neste disco sou acompanhado na guitarra portuguesa por António Chaínho e na Viola José Maria Nóbrega
Vítor Duarte Marceneiro
Canta: Fado Cravo
Letra de Fernando Teles
Música de Alfredo Marceneiro
" FADO CRAVO"
Foi em noite de luar
Na noite de São João
Que eu te vi, óh! minha amada
No baile foste meu par
E dei-te o meu coração
Foste minha namorada
Andámos na roda os dois
E saltamos á fogueira
Meu peito era uma brasa
Findou o baile e depois
Foste minha companheira
Levei-te p´ra minha casa
Nessa madrugada santa
Por meu mal me deste um cravo
No lado esquerdo o guardei
Minha paixão era tanta
Fui do teu capricho escravo
Eterno amor te jurei
Foram dias decorrendo
Semanas, um ano feito
De amor eu tinha a fragrância
Mas o cravo murchecendo
Revelava que o teu peito
Não tinha a mesma constância
Numa noite, ao conhecer
Mentira no teu amor
De raiva desfiz o cravo
Não mais quis por ti sofrer
Deitei fora a murcha flor
Deixei de ser teu escravo
A CASA DA MARIQUINHAS
Foram muitos os temas que Alfredo Marceneiro cantou, mas, de entre todos eles, houve um que teve grande êxito com versos da autoria do grande jornalista e poeta Silva Tavares e que foi, aliás, considerado o "ex-libris" das suas criações, " A Casa da Mariquinhas".
Todos os que o escutavam, eram unânimes em afirmar que os versos que Silva Tavares escreveu, quando cantados pelo Alfredo, "viam imagens reais". Marceneiro, numa ideia genial, decide demonstrar a todos que, também no seu ofício, é um mestre e na escala de 1/10 constroi em madeira a Casa da Mariquinhas, recriando todos os pormenores que são descritos nos versos do fado.
"CASA DA MARIQUINHAS"
É numa rua bizarra
A casa da Mariquinhas
Tem na sala uma guitarra
Janelas com tabuínhas.
Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo
E não há maior regalo
De vida de raparigas
É doida pelas cantigas
Como no campo a cigarra
Se canta o fado á guitarra
De comovida até chora
A casa alegre onde mora
É numa rua bizarra
Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas
Muitas rendas, muitas fitas
Lenços de cor variada
Pretendida e desejada
Altiva como as rainhas
Ri das muitas, coitadinhas
Que a censuram rudemente
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas
É de aparência singela
Mas muito mal mobilada
No fundo não vale nada
O tudo da casa dela
No vão de cada janela
Sobre coluna, uma jarra
Colchas de chita com barra
Quadros de gosto magano
Em vez de ter um piano
Tem na sala uma guitarra
Para guardar o parco espólio
Um cofre forte comprou
E como o gás acabou
Ilumina-se a petróleo
Limpa as mobílias com óleo
De amêndoa doce e mesquinhas
Passam defronte as vizinhas
Para ver oque lá se passa
Mas ela tem por pirraça
Janelas com Tabuinhas
O tema " A Casa da Mariquinhas ", teve tal êxito, que levou outros poetas a se basearem nele, Linhares Barbosa, Carlos Conde e Dr. Lopes Victor, compondo outras versões igualmente cantadas por Marceneiro:
O poeta João Linhares Barbosa, escreveu:
O LEILÃO DA MARIQUINHAS
Ninguém sabe dizer nada
Da famosa Mariquinhas
A casa foi leiloada
Venderam-lhe as tabuinhas
Ainda fresca e com gagé
Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené
Fui-lhes falar, já se vê
E perguntei-lhes, de entrada
P´la Mariquinhas coitada?
Respondeu-me o Chico: e vê-la
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada.
E as outras suas amigas?
A Clotilde, a Júlia, a Alda
A Inês, a Berta e a Mafalda?
E as outras mais raparigas?
Aprendiam-lhe as cantigas
As mais ternas, coitadinhas
Formosas como andorinhas
Olhos e peitos em brasa
Que pena tenho da casa
Da formosa Mariquinhas.
Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se
A vizinhança zangou-se
Fez um abaixo assinado,
Diziam que havia fado
Ali até de Madrugada
E a pobre foi intimada,
A sair, foi posta fora
E por more de uma penhora
A casa foi leiloada.
O Chico foi ao leilão
E arrematou a guitarra
O espelho a colcha com barra
O cofre forte e o fogão,
Como não houve gambão
Porque eram coisas mesquinhas
Trouxe um par de chinelinhas
O alvará e as bambinelas
E até das próprias janelas
Venderam-lhe as tabuinhas.
Nota:ver o restante batando clicar na foto de Marceneiro no lado direito desta página ou em:
QUE O FADO PERTENCE Á HISTÓRIA,
JÀ NÃO PODE SER NEGADO
O MARCENEIRO É A GlÓRIA
MAIS DIGNIFICANTE DO FADO
Foi no dia 25 de Fevereiro de 1891, há 118 anos que Alfredo Rodrigo Duarte foi registado na Conservatória do Registo Civil.
Nasceu em Lisboa na freguesia de Campo d'Ourique, faleceu em Lisboa a 26 de Junho 1982.
"Universo musical, onde cabem, a dor, a saudade, a revolta e a esperança, o Fado tem a sua corte própria.
Foi neste mundo, à parte dentro do nosso mundo, que Alfredo Marceneiro cantou durante mais de meio século.
É neste mundo que ainda hoje, apesar de já não estar entre nós, que ele ainda ocupa, por direito próprio, o trono que é, como quem diz, a posição cimeira na memória dos fadistas e na história do Fado.
Como artista privilegiado que foi, Alfredo Marceneiro não se aprecia, venera-se. Velha relíquia do Fado, a sua memória identifica-se com o próprio Fado que, na sua voz velada, ungida de sortilégio, soava como se fosse um gemido dolente, pleno de dor e de ternura. Alfredo Marceneiro foi um ídolo do seu tempo, mas hoje goza da mesma fama, da mesma extraordinária popularidade.
Alfredo Marceneiro foi o «Patriarca do Fado», como alguém o apelidou certo dia.
O rememorar episódios do seu tempo, como venho fazendo, é um serviço à actual geração, dando-lhe a conhecer aquele que é, por direito próprio, o primeiro entre os primeiros.
HOMENAGEM A ALFREDO MARCENEIRIO
Versos de Abílio Duarte (1960)
BATEM-ME Á PORTA QUEM É
NINGUÉM RESPONDE QUE MEDO
QUE EU TENHO DE ABRIR A PORTA
DEU MEIA-NOITE NA SÉ
QUEM VIRÁ TANTO EM SEGREDO
ACORDAR-ME A HORA MORTA
ESTA SEXTILHA FAMOSA
CANTADA POR UM FADISTA
QUE DOS MELHORES FOI O PRIMEIRO
TEVE UMA CARREIRA HONROSA
POIS FOI NO FADO UM ARTISTA
ESSE ALFREDO MARCENEIRO
CANTAR COMO ELE CANTOU
JAMAIS ALGUÉM CANTARÁ
DESSO TENHO EU A CERTEZA
É SAUDADE QUE FICOU
DECERTO PERDURARÁ
NA GERAÇÂO PORTUGUESA
SOU NOVO ISSO QUE IMPORTA
P'RA LEMBRAR O PIONEIRO
QUE FELIZMENTE OUVI
BATEM-ME Á PORTA QUEM É ?
DEU MEIA-NOITE NA SÈ
VERSOS QUE EU NUNCA ESQUECI
ESTES VERSOS BEM MODESTOS
PODEM CRER QUE SÂO HONESTOS
REPRESENTAM FADISTAGEM
SEM TER MOTIVO INTERESSEIRO
DEDICO-OS AO MARCENEIRO
PRETAM-LHE A MINHA HOMENAGEM
Homenagem de Euclides Cavaco a Alfredo Marceneiro (http://euclidescavaco.com/)
INSIGNE MARCENEIRO
O Alfredo Marceneiro
Ocupa lugar cimeiro
Na história do nosso fado
Seu notável contributo
Honra e dá estatuto
Ao património legado !...
Nobre fadista e autor
Compôs com todo o rigor
Fado... Que lhe ia na alma
De Lisboa insigne filho
Deu à noite vida e brilho
Com sua voz rouca e calma.
Despertava as madrugadas
Dessas noites bem passadas
Num estilo por si criado
Qual peculiar boné
Um cigarro e cachené
Davam carisma ao seu fado.
Jamais será cotejado
Este gigante do fado
Que dele fez culto ledo
P’la sua garbosidade
Lembraremos com saudade
Para sempre o “Ti Alfredo”!...
Euclides Cavaco
Esta foto é deveras histórica, pois foi tirada no Faia em 1953, altura em que Linhares Barbosa escreve para o repertório de Berta Cardoso o "Fado Fracasso," uma letra em versículo. Berta que parcece estar a ouvir atentamente Linhares Barbosa assim como Marceneiro, lendo o poema, que Berta vai óbviamente cantar na música do Fado Menor, com complemento de Versículo de Alfredo Marceneiro.
BERTA CARDOSO
canta FRACASSO
Letra de Linhares Barbosa
Música de Alfredo Marceneiro
Aliás esta parceria de poeta e compositor, já vinha dos anos 30 com o grande êxito que foi o Fado Pierrot (Letra) que levou Marceneiro a fazer a música a que deu o título de Fado Versículo, desde então para cá muitos poemas tem sido cantado com esta música, por muitos e conceituados interpretes.
Mais um exemplo também com poema de Linhares Barbosa, para o saudoso Manuel de Almeida (que também foi autor e compositor).
MANUEL DE ALMEIDA
canta SE O MUNDO DÁ TANTA VOLTA
Letra de Linhares Barbosa
Música de Alfredo Marceneiro
QUE O FADO PERTENCE Á HISTÓRIA,
JÀ NÃO PODE SER NEGADO
O MARCENEIRO É A GlÓRIA
MAIS DIGNIFICANTE DO FADO
HOJE FORAM ACTUALIZADAS VÁRIAS PÁGINAS DO BLOG
"ALFREDO MARCENEIRO é só fado..."
um Blog sobre a vida e obra de meu avô, Alfredo Marceneiro, tal como já o fiz em livros e video.
Espero a vossa vista e que seja do vosso agrado, todos os comentários e sugestões são sempre bem recebidos.
http://alfredomarceneiro.no.sapo.pt/
http://alfredomarceneiro.blogs.sapo.pt/
Sobre este tema, tenho montado um espectáculo/conferência, em que com a colaboração de outros fadistas, e com a ajuda de um diaporama projectado em video, se oferece um espectáculo com dignidade, e em que o Fado acontece, em moldes inéditos, espectáculo este, que tem merecido o agrado das entidades e organizações que nos têm contratado.
Para mais informações: fado.em.movimento@sapo.pt
Telefone
Acabei de começar a publicar um Blog exclusivo sobre a vida e obra de meu avô, Alfredo Marceneiro, tal como já o fiz em livros e video.Espero a vossa vista e que seja do vosso agrado.
Todos os comentários e sugestões são sempre bem recebidos.
http://alfredomarceneiro.no.sapo.pt/
http://alfredomarceneiro.blogs.sapo.pt/
Sobre este tema, tenho montado um espectáculo/conferência, em que com a colaboração de outros fadistas, e com a ajuda de um diaporama projectado em video, se oferece um espectáculo com dignidade, e em que o Fado acontece, em moldes inéditos, espectáculo este, que tem merecido o agrado das entidades e organizações que nos têm contratado.
PORTO, BRAGA, ALMEIRIM, ALGARVE, CADAVAL e ainda várias colectividades na área de Lisboa
Actuam comigo mais um fadista e uma fadista, assim como guitarristas, sendo o som e animação do palco da nossa competência
Para mais informações: fado.em.movimento@sapo.pt
Telefone 965240817
Grande Noite do Fado próximo sábado dia 14 |
Cadaval homenageia Alfredo Marceneiro Participação dos nossos associados (APAF) FRANCISCO PINTÉUS (apresentação) e VÍTOR DUARTE MARCENEIRO que apresentará o seu diaporama sobre o avô e interpretará castiços fados. O Clube Atlético do Cadaval irá acolher, no próximo dia 14 de Junho, pelas 22h00, com o apoio da Câmara Municipal do Cadaval, uma Grande Noite de Fado, numa iniciativa que pretende constituir uma homenagem a Alfredo Marceneiro, incontornável figura do fado, de origens cadavalenses. A apresentação deste espectáculo, consagrado a uma das mais ilustres figuras do fado, Este tributo ao ícone do fado que celebrizou “A Casa da Mariquinhas” contará com a participação especial de Rodrigo e de outros fadistas convidados, cujo acompanhamento ficará a cargo de Luís Ribeiro, à guitarra portuguesa, e de A iniciativa contará, também, com a especial participação de Ruy de Matos, encenador reformado do teatro nacional, que, para além de assegurar a cenografia do espectáculo, proporcionará declamação de poesia alusiva ao Fado. O espectáculo, que sucede 26 anos após o desaparecimento de Alfredo Marceneiro, decorrerá na vila do Cadaval, mais propriamente no Pavilhão Augusto Simões, junto ao Campo de Jogos Municipal. |
NOTÍCIA DA LUSA
Lisboa, 10 Jun (Lusa) - O fadista e compositor de fado Alfredo Marceneiro é tema de uma noite de fados, no próximo sábado, no Cadaval, terra dos seus pais, numa iniciativa da associação em formação que ostentará o seu nome. "Filho de cadavalenses, é intenção de um grupo de apreciadores de fado desta região constituir uma associação que valorize activamente a obra do grande criador que foi Alfredo Marceneiro", disse à Lusa Francisco Pintéus, da comissão instaladora da Associação Alfredo Marceneiro (AAM). "Outro objectivo da associação é distinguir anual ou bi-anualmente um disco de fado ou uma criação fadista com o Prémio Alfredo Marceneiro, a exemplo do que acontece com os prémios José Afonso e Carlos Paredes, respectivamente na Amadora e Vila Franca de Xira", acrescentou. Para Pintéus, “figura maior do fado, Alfredo Marceneiro nem sempre tem tido o destaque que merece”. A AAM "tem ainda como objectivo constituir um acervo documental sobre o fadista, bem como um núcleo musológico, estando activamente a trabalhar com familiares seus", acrescentou. A noite de fados de sábado decorrerá no Pavilhão Augusto Simões, sendo a primeira parte preenchida pela exibição de um diaporama sobre a vida e obra do criador de "A casa da Mariquinhas", de autoria do seu neto Vítor Duarte Marceneiro, distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues de Ensaio e Divulgação.
Autor de dois livros sobre Alfredo Marceneiro, uma biografia de Hermínia Silva e do blog - http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt -, Vítor Duarte Marceneiro interpretará, no espectáculo do Cadaval, fados celebrizados pelo seu avô. Participam ainda na noite de fados João Paulo, Miraldina, Luísa Soares e Manuel Domingos (Prémio Amália Fado Amador 2006), entre outros, sendo acompanhados por Luís Ribeiro, à guitarra portuguesa, e Jaime Martins, à viola. Alfredo Marceneiro faleceu há 26 anos, em Lisboa, cidade onde nasceu, mas segundo o seu neto e biógrafo "foi gerado no Cadaval". Alfredo Marceneiro é autor de dezenas de composições de fados, entre elas, "fado cravo" e "fado versículo". As suas músicas continuam hoje a ser cantadas com novos poemas, como sucedeu no novo álbum de Camané, intitulado “Sempre de mim”. Entre os seus êxitos cite-se, "A Lucinda camareira" (Henrique Rêgo/A. Marceneiro), "A casa da Mariquinhas" (Silva Tavares/A. Marceneiro), "Conceito" (Carlos Conde/A. Marceneiro), "Ser fadista" (Armando Neves/A: Marceneiro), ou "Cabelo branco" (H. Rego/A. Marceneiro). Alfredo Marceneiro teve uma longa carreira, que abrangeu praticamente todo o século XX, tendo-se distinguido como estilista [forma de variar dentro da mesma linha melódica] e compositor. Cantou dos bailes de bairro, nos cafés de camareiras e retiros até às casas de fado. Deixou numerosos discos, de que se destaca "The fabulous Marceneiro", mas escassos registos televisivos.
NL. Lusa
Como é possivel que o Maestro Pedro Osório, Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, tome esta posição, quando a própria SPA, me informa que está a ser elaborado o processo, e que irá para os serviços jurídicos!
Transcrevo os "mails" enviados
-----Mensagem original-----
De: Vitor Duarte Marceneiro [mailto:marceneiro@sapo.pt]
Enviada: quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2008 22:34
Para: grandes.direitos@spautores.pt
Assunto: Fado Versículo de Alfredo Marceneieo
Caros amigos
Após a minha exposição pelo telefone e envio de "mails", sobre a usurpação dos direitos de uma música de meu avô.Fui informado via telefone que o processo estava em formação, para seguir para os serviços os juridicos. Tive hoje a supresa de ver numa peça de reportagem do 1º Jornal na Sic, em que sou entrevistado, que foi também entrevistado o Exmº Senhor Presidente da SPA, Maestro Pedro Osório, em que dà já uma opinião/decisão nessa qualidade! (ver video no meu blog).
Nenhum dos herdeiros teve qualquer resposta á nossa justa reenvidicação.
Agradeço esclarecimento sobre este assunto, com a maior brevidade possivel.
Atentamente
Vítor Manuel de Azevedo Duarte
Herdeiro de Alfredo Marceneiro