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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Segunda-feira, 6 de Maio de 2019

Artur Ribeiro - Poeta e Fadista 1923-1988

Artur Ribeiro.jpg

Artur Ribeiro nasceu no Porto em 1923, mas cedo vem para Lisboa e aqui fica radicado, onde se envolveu no meio-fadista, não só pela sua qualidade de poeta, mas também as suas qualidades de convivência com os seus pares
Foi quanto a mim o poeta que fez um dos poemas mais lindos sobre Lisboa:
-  Canção de Lisboa - A Grande Marcha de Lisboa 1965 – Só Lisboa - Lisboa à meia-noite - Adeus Mouraria e muitas mais.
O seu reportório registado na Sociedade Portuguesa de Autores desde 1949, com mais de mil poemas, que para além do Fado Tradicional, tem temas para o Fado-Canção, folclore, marchinhas, bailinho, etc… Cachopa do Minho, A Rosinha dos Limões, A Fonte das Sete Bicas, Sete Saias, Nem às Paredes Confesso, Pauliteiros do Douro, Eu nasci Amanhã, O Meu Coração Parou, Adeus Mouraria, Lisboa à meia-noite, Fiz Leilão de Mim, Anda o fado Noutras Bocas,
É Urgente que Venhas, Vielas de Alfama, O Meu Coração Parou, etc.

Fez várias parcerias com Fernando Farinha  com Max, que foram êxitos ainda hoje recordados,  raro foi o artista que não tenha cantado poemas  da sua autoria.
Conheci o Artur Ribeiro e convivi com ele desde muito jovem, meu pai e meu avô eram seus grandes amigos, era uma pessoa muito
afável e de uma clarividência intelectual notável, aprendi muita coisa em ouvilo, ficou-me a honra de ter gravado um poema seu, que escreveu de propósito para mim,  a que deu o título “Ser Mais Um Entre Tantos”  ao receber o poema, e  ao lê-lo,  logo me apercebi que aqueles versos, tinha a ver comigo,  pois constatei que aquele grande “Senhor e Poeta” durante aqueles anos em  que falava com o rapazinho que eu era,  como ele me levava a sério, nas conversa que tinha comigo,   e eu naquela altura,  já homem, ia  fazer  28 anos, ao saber que eu ia gravar, escreve num poema para Fado,  tudo aquilo que viu em mim desde miúdo,  analisando a minha maneira de ser e de estar na vida que colocou em verso. (ver poema mais abaixo)
Ser Mais Um Entre Tantos

Letra de: Artur Ribeiro   
Música de: Alfredo Marceneiro

Ser mais um entre tantos
Não é Mundo que baste
Seguir religiões
Das quais não sou devoto
Obedecer a quantos
Me dizem que me afaste
Ouvir lamentações
A fingir que me importo

Ser vela deste mar
Onde não sopram ventos
Ser grito de rua
Que ninguém entendeu
Um sonho de cantar
Onde só há lamentos
Essa verdade nua
Que ninguém entendeu


Ser deste Mundo incrível
De gente introvertida
Que deixa pregar Santos
Onde tudo é vendido
P´ra ficar impassível
De cabeça caída
P´ra ser mais um entre tantos
Antes não ter nascido

ESTE POEMA, A MINHA GRAVAÇÃO EM DISCO E A CENSURA

Até finais dos anos cinquenta os artista tinham que ter um “Dossier” com o seu repertório aprovado pela censura, funcionava da seguinte forma, esse dossier estava sempre na posse do artista quando cantava em casa de fado ou noutros espectáculos públicos.

Algumas censuras eram tão estúpidas que veja que até que a Casa da Mariquinhas foi censurada.

Com já afirmei tive  o privilégio de conhecer e ser admirador desde muito miúdo de Artur Ribeiro, na altura em que a minha formação de cidadão consciente da sociedade em que vive começa a "querer respostas",tive muitas conversa com Artur Ribeiro, sei que de letras dele que nem sequer chegou a registar, pois sabia que não passavam na censura.

No inicio dos anos setenta deixa de haver a censura prévia, mas continua haver a repressão após a Gravação (ou seja,  já depois de editado e muitas vezes já à venda ao público), podia haver um senhor (da DGS ou mesmo da EN) que por alguma razão achava que o que estava a ouvir era contra os valores instituídos, e a DGS mandava retirar todo o material do mercado.

Artur Ribeiro em 1973 faz-me um poema que afirmou ser a forma como me via pelas conversas e discussões que tinha com ele, e gravei esse número para Valentim de Carvalho, tinha o título: "Ser mais um entre tantos" , acontece, que passado pouco tempo do seu lançamento fui gentilmente convidado pelo Sr. Inspector Dr. Rosa Casaco (1), para ter uma conversa comigo sobre esse tema ( que considerava  ser contrário á ordem vigente).

No caso do poema do Artur Ribeiro. o que incomodava os Censores  era esta frase, "Seguir religiões das quais não sou devoto..." e  "Ser deste Mundo incrível, que deixa pregar Santos", enfim como podem verificar estes versos estavam dentro do contexto de todo o poema. Com algum charme e persuasão consegui demo-vê-los da retirada do disco., mas acabou por ser proibido de ser passado na Rádio Renascença e na Emissora Nacional.

(1): Rosa Casaco, (Amador de fotografia e conhecedor da poda) era cliente assíduo da Foto-Cine, no Chiado junto ao elevador de Stª Justa,  onde eu pela minha paixão pela fotografia  lá estava assiduamente pois o Amadeu Ferrari, os filhos Vítor  Ferrari e Nuno Ferrari eram amigos do meu avô e eu era considerado como de família, lá fui apresentado como neto de Alfredo Marceneiro ao PIDE Dr. Rosa Casaco, que me confidenciou que era admirador de meu avô, mas que não gostava de alguns dos Fados que ele cantava, e sempre que me encontrava me cumprimentava com cerimónia  ) facto porque esta chamada de atenção foi mais em termos de aviso … Cuidado não se exceda) aliás mais tarde também fui chamado quando gravei com meu avô em dueto “ O Camponês e o Pescador” ver  em:

 https://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/victor-duarte-discos-e-censura-330996

 https://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/recordar-o-passado-para-viver-o-futuro-102684

©Vitor Duarte Marceneiro



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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
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