Berta dos Santos Cardoso, nasceu na Rua da Condessa, freguesia do Sacramento em Lisboa, no 21 de Outubro de 1911. Ficou órfã de pai muito cedo e devido a dificuldades económicas de sua mãe, esteve internada numa instituição oficial, onde fez os seus estudos, saiu aos 16 anos e foi novamente viver com a mãe e os irmãos. Berta Cardoso, que não era filha única, teve um irmão de seu nome Américo dos Santos, que andava no Fado como amador e tocava viola, e assim a influenciou a para cantar o Fado. Berta Cardoso foi mãe de dois filhos. Corria o ano de 1927, com 16 anos de idade, estreia-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, que era gerido pelo Armandinho, foi tal êxito da sua actuação que de imediato ficou contratada, tendo adoptado o nome artístico de Berta Cardoso. Sendo o Salão Artístico no Parque Mayer, local, onde como se sabe apareceram os Teatros de Revista. Berta Cardoso não passou despercebida e logo em 1929 é a cantadeira contratada para a Revista Ricócó, levada à cena no Teatro Maria Vitória, segue-se “Viva O Jazz” e a “Nau Catrineta”. Nos intervalos das suas actuações na revista, é das cantadeiras mais solicitada nos recintos de Fado, Solar da Alegria, Salão Jansen, Café Luso, Retiro da Severa, etc. Integrada num elenco artístico com a Beatriz Costa, parte numa digressão ao Brasil onde obteve grandes êxitos. Infelizmente não havia os meios de comunicação de hoje, pois é indiscutível que Berta Cardoso foi uma das primeiras cantadeiras de Fado a internacionalizar o Fado, assim com a grande Ercília Costa. (1) Estas actuações internacionais tem mais expressão no Brasil e em todo o continente Africano, em particular nas Colónias Portuguesas. O que levou a que, em 1933 os diversos interveniente no espectáculo Fado, decidiram criar o “Grupo Artístico de Fados”, com Madalena de Melo e a Berta Cardoso, na guitarra o Armandinho e nas violas, Martinho d’ Assunção Jr. e João da Mata. Este conjunto de intérpretes de renome, parte a bordo do navio Niassa para um percurso de espectáculos na África Ocidental e Oriental e também nas ilhas portuguesas. Concretiza-se como a primeira viagem que o Fado faz a África, tornando-se numa digressão muito noticiada pelos jornais, uma vez que os espectáculos se desenrolam ao longo de quase um ano, passando por diversos locais, destacando Angola, Moçambique e Rodésia. No inicio dos anos trinta grava para a editora Odeon, e mais tarde passa a gravar de para a editora Valentim de Carvalho.
Berta Cardoso fica muito ligada ao Teatro de Revista, onde se apresenta com uma regularidade de cerca de várias peças por ano. Em 1936 no Retiro da Severa, ao lado de outros grandes fadistas da época, Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Alfredo Duarte Marceneiro, Júlio Proença e José Porfírio, são considerados e apresentados como a "Embaixada do Fado do Retiro da Severa", actuaram em muitos locais, com relevância as idas ao Porto, Teatro Sá da Bandeira e no Teatro Variedades, com lotações sempre esgotadas, a imprensa e a rádio destaca as actuações de Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro. Em 1939 é contratada novamente por Beatriz Costa, para uma série de espectáculos em todo o Brasil, com as revistas "Eh, Real", "Oh, meu rico São João", "Dança da Luta" e "Pega-me ao Colo", novamente estes espectáculos tiveram grandes êxitos. Mas, antes da sua partida, é homenageada pelos seus colegas no Retiro da Severa.
Foi também neste ano, que grava e filma com Alfredo Marceneiro, no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, actuações estas para o filme "O Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro, que estreou em 1940.
Após o regresso do Brasil, em 1940, é convidada para a "Embaixada do Fado do Solar da Alegria", que no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, obtém grandes elogios e lotações esgotadas, também faziam parte deste elenco, Maria Carmen, Júlio Proença e Amália Rodrigues. Berta Cardoso continua a cantar nos retiros de Fado e no teatro, até cerca de 1960, ano em que decide manter-se só a gravar, e cantar Fado em casas típicas, primeiro n´O Faia, segue-se a Viela e por último o Poeta, em Alfama, onde anteriormente tinha havido uma casa de fados bem pitoresca, que se chamava “A Nau Catrineta”. Em 1943 conclui na Faculdade de Medicina o curso de enfermagem, com a especialização em obstetrícia, mas nunca chegou a exercer. Desde muito miúdo que convivi com Berta Cardoso na Viela, do Sérgio onde eu para além de ter um pretexto para estar no Fado, arranjava “uns trocos para alimentar a moto”, era lá fotógrafo, nessa estudava à noite e já trabalhava na GM, meu avô, grande amigo da Berta, todos os dias aparecia para me lembrar que tinha que ir para casa a partir da meia-noite. Tenho da Berta Cardoso, gratas recordações, as estórias que me contava do meu avô e do meu pai, e lembro ainda, com saudade, quando ela tinha que cantar várias vezes o Fado “O Homem da Berta”, pois iam chegando mais clientes e admiradores, e como muitas das vezes ela já tinha cantado o tema, era tal a insistência, que tinha que o voltar a cantar. Há registos seus na RTP, no ZIP-ZIP, e no programa com o título “As bodas de ouro de uma Fadista”. Berta Cardoso foi internada num lar da Santa Casa da Misericórdia, em 1996, local onde veio a falecer a 12 de Julho de 1997. Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista e lançou um livro sobre a sua figura Também em 2006 no Restaurante Nini, fazendo eu parte da APAF, fiz uma pequena palestra sobre a Berta Cardoso, com um diaporama de minha autoria, que merecu o agrado dos presentes, foi uma sincera homenagem da minha parte. Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista e a edição de um livro evocativo.
(Nota)Meu avô Alfredo Marceneiro, poderia ter tido também uma carreira internacional, mas teve sempre o cuidado de não acreditar no profissionalismo no Fado, razão porque sempre se manteve na sua profissão de marceneiro, e como já escrevi só ficou a viver do Fado, a partir de 1946, na sequência das greves no Arsenal do Alfeite, tinha 54 anos pelo registo de nascimento e 57 na realidade.