Clique aqui para se inscrever na
Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Quarta-feira, 7 de Setembro de 2016

ESTEVÃO AMARANTE

ESTEVÃO DA SILVA AMARANTE (1889-1951)

Tudo começou em 1900, com apenas doze anos, Amarante fez a sua estreia no “Avenida” na peça “A viagem de Suzette”, que iria conhecer as noites de maior glória.
No ano seguinte, na Avenida da Liberdade, nascia o Teatro do Infante, onde uma companhia infantil fazia o gáudio da petizada com “A história da Carochinha”. Durante três anos o pe­queno Amarante é notado por entre a miudagem, pela fantasia e graça das suas interpretações.

O menino-actor era muito pobre e órfão de pai. Por isso, se de tarde fazia rir os da sua idade, à noite divertia os adultos, para ajudar ao sustento da casa. O público, ruidosamente popular que enchia os teatros embarracados das feiras de Alcântara e Algés, começou a delirar com a brejeirice e o à-vontade do rapazola e não se cansava de cantar com ele o “Toma lá cerejas”. Amarante tinha aos catorze anos, a primeira das suas inúmeras canções de sucesso.
Quando o caso constou nos teatros da Avenida, o empresário Luís Galhardo logo o contratou para  repetir a cançoneta para uma plateia mais vasta mas igualmente deliciada, na revista “P'rá frente” (1906), ao lado de Júlia Mendes.
A voz agradável e a bela figura do jovem Amarante tornaram-no rapidamente admirado pelo grande público e a sua vivacidade e mocidade iam bem com a revista profundamente crítica e irreverente que  brotara da liberdade conseguida em 5 de Outubro. Sempre em ascensão, medindo-se com os grandes talentos dessa época, a sua notoriedade não pára.
 Quando as manchetes dos jornais só falavam da guerra que destroçava o "velho mundo" e Portugal   se  preparava para entrar no conflito, nesse "Verão quente de 1916, sobe à cena, no Eden, uma revista   bem recheada e significativamente chamada “O novo mundo”.
 Porém, a suprema sensação, a interpretação que ia marcar uma época era “Ganga” por Estêvão   Amarante.
 A sua observação do carroceiro tinha ido tão longe, em tudo copiando com minúcia os modelos   longamente estudados na rua, fazendo o público Amarante repetir “O Fado do Ganga” dezenas de   vezes em cada noite.
 Estava fixada a imagem e a popularidade alcançada era vitalícia.

 

Em 1925 de colaboração com Henrique Roldão, adaptação dum"vaudeville" francês (Tir au flanc) - a história do rapaz mimado que na tropa, aprende a ser homem. Fica em cena oito meses a fio e Amarante atinge um dos seus momentos máximos, quando canta um fado paradigmático:

"Soldado que vais para a guerra 

ao deixares a tua terra 
e o cantinho do teu lar 
quantas mágoas te consomem
não choras porque és um homem 
e é feio um homem chorar"

No Verão de 1927, a companhia resolve levar à cena uma revista, nascendo assim a histórica “Água-pé”. Com o grande triunfo pessoal de Amarante em nesta revista, fe­chava-se um período dos mais brilhantes que a carreira de qualquer actor português já conheceu.

Outra revista, na esteira de Água-pé, “Tremoço Saloio” (1929), teve pouco sucesso mas deu a Amarante um novo êxito, o Cauteleiro, cantado na música do Fado da Loucura, um tema popular.

Depois de passar rapidamente no filme Lisboa (Leitão de Barros, 1930), Vai a  Paris filmar para a Paramount, a versão portuguesa de “A minha noite de núpcias” (1931), ao lado de Beatriz Costa.

Corta relações com Luísa Santanela com algum falatório, que lhe é adverso e por isso decide-se por um longo afastamento, que é quebrado com uma comédia, ao lado de Ilda Stichini (Uma para três, 1933). Depois, na revista Nobre Povo (1934), o seu trabalho fica muito abaixo do antigo prestígio. Falava-se abertamente, nas tertúlias teatrais da decadência de Amarante a sua separação de Luísa Satanela, deixa um gosto amargo no público.
No início da década de 40 Amarante firma-se, mais uma vez, como um grande nome da revista, voltando ao Avenida para colher novos triunfos. O Fado do Marial­va (De fora dos eixos, 1943) demonstrava que, aos 54 anos, ele era ainda o único galã dos palcos revisteiros. Ao lado da jovem Laura Alves, na opereta O Zé do Te­lhado (1944), canta a sua última grande cantiga: "A sorte só favorece / quem / na vida uma boa estrela tem”.
Embora mantendo uma grande reputação, as duas revistas que faz, no Apolo, ao lado de Hermínia Silva, a sensação do momento (A canção nacional, 1944; O fado da Mouraria, 1945), apresentam já sintomas de que o crepúsculo se avizinha, com rábulas sem interesse (1948), marcam o final da sua actuação nos palcos revisteiros de Lisboa e decide dedicar-se primordialmente ao teatro dito declamado, ingressando inclusive na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro instalada no Teatro Nacional D. Maria II.
Em 18 de Abril de 1950, comemoraram-se festivamente no S. Luiz, os 50 anos de Teatro de Estêvão Amarante

in: Revista à Portuguesa de Vitor Pavão dos Santos

 


Desenho de Amarelhe 1943 - Criação do Fado Marialva

 FADO DO MARINHEIRO

 

Criação de: Estêvão Amarante

 
                                                     O marujo criou fama.
                                                    Desde um tal Vasco da Gama
                                                     Que no mar foi o primeiro;
                                                     E o Pedro Álvares Cabral
                                                     Só foi grande em Portugal
                                                      Por ter sido marinheiro.

A lutar como um soldado,
Peito ao léu, rosto queimado,
Ao sol da terra africana,
Com a farda em desalinho,
(Foi às ordens de Mouzinho
Que deu caça ao Gungunhana !

                                                      Quando o mar era um segredo,
                                                     Os antigos tinham medo
                                                     De perder-se ou ir a pique;
                                                     Só zombavam das porcelas
                                                     As primeiras caravelas
                                                     Do Infante Dom Henrique!

 Fartos já de andar nos mares,
Também vamos pelos ares
Sem temor, abrir caminho;
Pois bem sabe toda a gente
Que o marujo mais valente
É o avô Gago Coutinho!
 
                                                     Nessa Alcântara afamada,
                                                     O marujo anda à pancada
                                                     E arma sempre espalhafato;
                                                     É que guarda na memória
                                                     O banzé que houve na história
                                                     Do António Prior do Crato.

Quando vai p'rá Fonte Santa
E dá largas à garganta,
P'la guitarra acompanhado.
Até chora o mundo inteiro,
Porque a voz do marinheiro
É a voz do próprio Fado!...

Caravela Portuguesa dos Descobrimentos

 

FADO DAS CARAVELAS

 

­­Criação de Estêvão Amarante

 

 Quando foi das descobertas e conquistas,

Os fadistas,
Guitarristas
De mais fama,
Lá no fundo do porão,
Deram alma e coração
Às descobertas do Gama.
 
                                                      No alto mar
                                                      Ia o barco a naufragar,
                                                      O vento rijo a soprar,
                                                      Que até os mastros levou.
                                                      Foi ao sentir,
                                                      Uma guitarra a carpir,
                                                      Que o Neptuno querendo ouvir,
                                                      A tempestade abrandou.
 
E nas horas d'incerteza, à marinhagem
Deu coragem
Na miragem
Da vitória.
Cabe ao fado o seu quinhão,
De todo e qualquer padrão,
Dos que fala a nossa História.
 
                                                      No alto mar
                                                      Quando em noites de luar,
                                                      O pensamento a pairar,
                                                      Na nossa aldeia natal.
                                                      Ai, era ver,
                                                      Quanta lágrima a correr,
­                                                      Na guitarra a descrever,
                                                      Saudades de Portugal.
 

 

 

Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa: Grandes ídolos
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
link do post | comentar | favorito
4 comentários:
De Anónimo a 1 de Junho de 2008 às 22:14
Queria saber a letra da canção da opereta "Zé do Telhado", cujo início menciona:

"A sorte só favorece quem
na vida uma boa estrela tem

Desde então até parece
Que a vida nos tece
..."

E mais não sei. Tem alguma informação que me ajude? Obrigado?
De Anónimo a 14 de Abril de 2009 às 21:28
(...)Ninguém foge ao seu destino
A sorte não cai do céu(...)
De nel a 8 de Maio de 2010 às 21:01
A sorte só favorece...quem.. na vida uma boa estrela tem...pois com fé até parece, que a vida nos torna mais bela também

Santa mãe que estais no céu ...oh! mãe...tem pena dos seus filhinhos, sim ... pois com fé até parece, que a vida nos torna mais bela também.
Quer entrar em contato? nel_figueiredo@yahoo.com.br
De nel a 8 de Maio de 2010 às 21:43
Ninquem foge ao seu destino.
A sorte não cai do céu
Já se traz de pequenino
A sina que Deus nos deu

A sorte só favorece a quem
Na vida uma boa estrela tem
Pois com fé até parece...
Que a vida nos torna mais bela também

Santa mãe que estais no céu... oh, mãe!
Tem pena dos seus filhinhos, sim
Pois com fé até parece...
Que a vida nos torna mais bela também.

Quer entrar em contato: nel_figueriedo@yahoo.com.br

Comentar post

Clique na Foto para ver o meu perfil!

Contador

arquivos

Abril 2024

Março 2024

Agosto 2021

Maio 2021

Fevereiro 2021

Maio 2020

Março 2020

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Novembro 2018

Outubro 2018

Agosto 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Aguarelas gentilmente cedidas por MESTRE REAL BORDALO. Proibida a sua reprodução.

tags

10 anos de saudade

2008

50 anos de televisão

a severa

ada de castro

adega machado

adelina ramos

alberto ribeiro

alcindo de carvalho

alcino frazão

aldina duarte

alfredo correeiro

alfredo duarte jr

alfredo duarte jr.

alfredo duarte júnior

alfredo marcemeiro

alfredo marceneiro

alice maria

amália

amália no luso

amália rodrigues

américo pereira

amigos

ana rosmaninho

angra do heroísmo

anita guerreiro

antónio dos santos

antónio melo correia

antónio parreira

argentina santos

armanda ferreira

armandinho

armando boaventura

armando machado

arménio de melo - guitarrista

artur ribeiro

beatriz costa

beatriz da conceição

berta cardoso

carlos conde

carlos escobar

carlos zel

dia da mãe

dia do trabalhador

euclides cavaco

fadista

fadista bailarino

fado

fado bailado

fados da minha vida

fados de lisboa

feira da ladra

fernando farinha

fernando maurício

fernando pinto ribeiro

florência

gabino ferreira

guitarra portuguesa

guitarrista

helena sarmento

hermínia silva

herminia silva

joão braga

josé afonso

júlia florista

linhares barbosa

lisboa

lisboa no guiness

lucília do carmo

magusto

manuel fernandes

marchas populares

maria da fé

maria josé praça

maria teresa de noronha

max

mercado da ribeira

miguel ramos

noites de s. bento

oficios de rua

óleos real bordalo

paquito

patriarca do fado

poeta e escritor

porta de s. vicente ou da mouraria

pregões de lisboa

raul nery

real bordalo

santo antónio de lisboa

santos populares

são martinho

teresa silva carvalho

tereza tarouca

tristão da silva

vasco rafael

vítor duarte marceneiro

vitor duarte marceneiro

vítor marceneiro

vitor marceneiro

zeca afonso

todas as tags