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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Terça-feira, 14 de Maio de 2019

FERNANDO FARINHA - O Miúdo da Bica

Fernando Farinha (Vulgo Miúdo da Bica)

2-Fernando Farinha.jpg

Fernando Tavares Farinha, nasceu no Barreiro no dia 20 de Dezembro de 1928, mas só foi registado a 5 de Maio de 1929.

Em 1933 seus pais vêm par Lisboa e fixam-se no Bairro da Bica, tinha  então 4 anos.

Sendo o Bairro da Bica essencialmente bairrista e fadista decerto o fado logo o marcou e fez vir ao cimo todos os seu dotes de artista.

Aos 7 anos já cantava e entrou em vários concursos infantis, teve tanto êxito que passou a ser chamado de “Miúdo da Bica”, por esta altura foi convidado para mascote da Marcha da Bica (1935).

Aos catorze anos actua no Café Luso, Café Latino, Retiro da Severa, Café Mondego, e Solar da Alegria.

1940 Grava o seu primeiro disco EP com quatro temas: Descrença, Meu Destino, Tem Juízo Rapaz e Sempre Linda,. Acabaria por gravar durante a sua vida quase 50 discos, ainda neste ano  foi presença assídua nos serões para trabalhadores organizados pela FNAT.

1942 - Estreia como atracção no Teatro na revista “Boa Vai Ela”, em que também entrava Hermínia Silva, mais tarde nos anos sessenta ainda é atracção na revista “Sal e Pimenta”

1951 - Tem a sua primeira deslocação ao estrangeiro indo ao Brasil onde teve grande aceitação.

Ainda em 1951 é contratado pela Adega Mesquita onde se mantém durante dez anos.

È por esta altura  que sente a vocação para escrever, e começa a cantar letras feitas por si:

  • Belos Tempos, Mãe há só Uma, Ciumenta, Menina do Rés-do-Chão, Quero-te mais do que à vida, Eu ontem e hoje, Um Fado a Marceneiro, Um Fado à Juventude e Um Copo mais um Copo, Estações de Amor, Rosa Peixeira, Dias Contados, Grande Verdade, Ti´Ana da Fava Rica, Deus queira, Cinco Bairros, Sou do Povo, Beijo Emprestado.

Dos seus poemas decerto o que mais êxito teve foi “ Belos Tempos” na música do fado “Loucura” de Júlio de Sousa, mas Fernando Farinha tem muitos êxitos de outros autores dos quais destaco:

  • Fado das Trincheiras letra de João Bastos e Félix Bermudes e Música de António Melo
  • Guitarra Triste letra e música de Álvaro Duarte Simões
  • Eterna Amizade letra de João Linhares Barbosa e música de Joaquim Campos

Mais tarde sempre inspirado começa também a compor, e a sua arte não fica por aqui começa, também a caricaturar as figuras com quem convive.

1955 - Comemora as suas “Bodas de Prata” de carreira artística no Coliseu dos Recreios em Lisboa e é premiado com a Guitarra de Prata.

1957 - A Rádio Peninsular atribui-lhe o galardão de a “Voz mais portuguesa de Portugal”

  • - É coroado Rei da Rádio Portuguesa numa gala organizada no Eden-Teatro, e ainda neste ano recebe o “Microfone de Ouro do RCP. Ainda neste ano no festival do Casino do Estoril recebe o “Disco de Ouro”.
  • - Foi-lhe atribuído o “Òscar da Imprensa” no Festival no Pavilhão dos Desportos

Protagoniza dois filmes “ O Miúdo da Bica” e “ A Última Pega”

 Ente finais dos anos 60 em diante faz digressões artísticas por todo o mundos, Bélgica, França, Inglaterra, Alemanha, África do Sul, Argentina e E.U.A..

Depois de 1974 faz parte do projecto “Cantar Abril”. A sua frontalidade ao assumir-se como um homem politicamente de esquerda, criou-lhe algumas inimizades, mas uma coisa é certa, Fernando Farinha tem um lugar na História do nosso Fado.

Em 1982, Manuel DaGraça,  seu amigo e empresário e proprietário da "Graça Records Company", produz um LP " Fernando Farinha - hoje e aqui - grande como sempre - UM FADINHO Á JUVENTUDE", o qual foi o seu último trabalho em disco,  tendo gravado doze temas. Apraz-me destacar o poema dedicado a Alfredo Marceneiro, logo após a sua morte,   em que se sente nas palavras que escreve, um grito de saudade/tristeza/revolta, de admiração e amizade, que ele nutria por aquele que foi o "Patriarca do Fado", e seu amigo.

Com Fernando Farinha.jpg

Um Fado a Marceneiro

Letra de Fernando Farinha

 À solta e desvairada, a morte certo dia

Entrou no velho pátio e ali quase em segredo

Num golpe traiçoeiro de raiva e cobardia

Maldosa nos levou p'ra sempre o Tio Alfredo

 

Ao chorar das guitarras, como se fosse um hino

Juntou-se a voz do povo, de Portugal inteiro

Tinha morrido o rei, fadista genuíno

O mais de todos nós, o grande Marceneiro

 

Sua garganta rouca, tinha o condão o bem

De nos dar fado a sério, sem ais, sem fantasia

Se o fado p'ra ser fado, algum segredo tem

Então esse segredo só ele o conhecia

 

Sempre que a noite chega, eu julgo ainda vê-lo

Fazendo a sua ronda p'los retiros do fado

De boné, ou mostrando o seu farto cabelo

E o seu lenço varino ao pescoço ajustado

 

Recordo as suas birras, e em grande cavaqueira

Seus gritos graciosos, se bem disposto estava

Oiço até o seu riso no Cacau da Ribeira

Onde, já madrugada, sua ronda findava

 

De Alfredo Marceneiro eu guardo um disco antigo

E um retrato dos dois sobre um fundo bairrista

Um fado ao desafio que ele cantou comigo

E uma eterna saudade desse enorme fadista

 

Fernando Farinha deixou-nos em 12 de Fevereiro de 1988.

Além da Rua que edilidade lhe atribuiu há pouco tempo, e de uma placa que o povo da Bica tem afixada numa parede do bairro, desconheço que lhe tenham sido prestadas mais homenagens (politiquices!?)

 
 
 
©Vitor Duarte Marceneiro - Biógrafo de Fernando Farinha - 2014 Edição Tradisom
A Guitarra que se vê  na foto foi construida pelo Guitarrista Manuel Mendes e neste momento está em exposição na Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado" Alfredo Marceneiro
Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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