O Fado ficou de luto, quando o meu querido amigo, o poeta Fernando Pinto Ribeiro, nos deixou em 20 de Fevereiro de 2009, sinto uma mágoa imensa, pois desde o dia em que tive a honra de o conhecer, nasceu ente nós uma amizade e carinho, que nunca esquecerei.
Ainda pouco tempo antes da sua morte, em conversa telefónica me informou que ía re-escrever um dos seus poemas, que enviou por carta, com uma dedicatória manuscrita, apelidando-me de "SEU PADRINHO NO FADO".
Tínhamos sido apresentados há pouco mais de um ano, que pena tive de e ter tido conhecido há mais tempo, fez questão de me conhecer para me elogiar pelo trabalho neste blogue, meu afilhado do Fado!, como me afirmava, com um misto de orgulho que eu sempre te disse , não merecer. Fazia ainda questão de me apelidar de Vítor Duarte "Marceneiro Terceiro" ( o III, por extenso).
A Vítor Duarte, “Marceneiro Terceiro” — Meu padrinho no Fado
Fernando Pinto Ribeiro
NAS RUAS DA NOITE
No crepitar de estilhaços(*)
de estrelas sobre os espaços
da Lisboa rua em rua —
crucificámos abraços
encruzilhados nos passos
que à noite a lua insinua
Nas nossas bocas unidas
sangrámos fados em feridas
dos beijos amordaçados —
salvámos vias vencidas
que andam pla treva perdidas
como num mar afogados
Cegos de sombras e lama
E da sede que se inflama
numa inquisição divina —
bebemos o vinho em chama
que sanguínea luz derrama
no candeeiro da esquina
Embriagados de lume
sem dissipar o negrume
do fumo que nos oprime —
rezamos todo o queixume
do cio deste ciúme
num amor que se faz crime
Crucificamos abraços
encruzilhados nos passos
que a noite nua desnua —
crepitantes de estilhaços
de estrelas quando em pedaços
vêm morrer sobre a rua
O Poeta e escritor Fernando Pinto Ribeiro, que faz questão de me chamar "Seu Padrinho no Fado" — quando eu nasci já ele escrevia para o Fado — isto, porque acha que eu fui a pessoa do Fado, que escreveu acerca dele e da sua obra, , de uma forma que ele considera a mais objectiva, em todos estes anos que tem de Fado. ("O percurso da História é muitas vezes estrangeiro ao percurso do artista. Nem sempre este se integra de forma tão sincronizada e congruente com aquele".
hoje somos somos duas almas gémeas do "Fado" que se encontraram, como que para reatar uma amizade que há muito estava estagnada.
É uma ternura para mim este seu sentir, como honrado fico com os versos que me dedica, e que gostariamos que eu um dia cantasse com música de meu avô.
(*) Este tema já foi cantado e gravado, por decisão própria de quem o cantou, o poeta autorizou através da SPA, por delegação, mas é a primeira vez que ele o dedica pessoalmente, com algumas, mas importantes reformulações, em última e definitiva versão, orientadas segundo ele, para a minha peculiar forma de me exprimir e venerar o Fado.
Fernando Pinto Ribeiro, é natural da Guarda. Nasceu a 10 de Janeiro 1928. Ao 17 anos vem para Lisboa após completar o Curso Liceal, inscrevendo-se na Faculdade de Direito, cujo curso não chegou a completar. Já em jovem começa a rimar as palavras, nunca deixando de escrever quadras soltas, tendo aos catorze anos escrito, o seu primeiro soneto a que dá o título de “Soneto dos 15 Anos”.
Colaborou nas Revistas Flama , Panorama, Páginas Literárias, em Jornais, como Diário de Notícia, Diário Ilustrado e em vários jornais regionais, tendo também sido publicados no Brasil alguns poemas de sua autoria.
Foi Director da Revista de Letras e Artes “CONTRAVENTO” (1968), da qual só se conseguiram editar quatro números, dado que o seu cariz intelectual e democrático, não podia de deixar de ser amordaçado pela censura.
Pertence aos corpos sociais da Sociedade da Língua Portuguesa, Sócio da Associação Portuguesa de Escritores, Cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores, Sócio da Colectividade Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”. (Colectividade Popular Centenária)
Frequenta algumas noites de Fado e fica fascinado com o ambiente da noite fadista, começando sem que se aperceba, a identificar-se com a “expressão fadista” o que apela à sua alma de poeta, começando a escrever alguns fados que desde logo foram bastante elogiados. Compositores de Fado colaboraram, e a qualidade dos seus poemas é tal, que logo houve nomes do panorama musical do Fado que os quiseram interpretar, fadistas como: Ada de Castro, Alexandra Cruz, Anita Guerreiro, António Mourão, António Laborinho António Passão , António Severino, Arlindo de Carvalho, Artur Garcia, Beatriz da Conceição, Branco de Oliveira, Carlota Fortes, Chico Pessoa, Estela Alves, tia e sobrinha, Fernando Forte, Francisco Martinho, Humberto de Castro, Julieta Reis e sua filha Sara Reis, Lenita Gentil, Lídia Ribeiro, Maria Jô-Jô Pedro Lisboa, Lurdes Andrade, Natércia Maria, Simone de Oliveira Toni de Almeida,, Tonicha , Tristão da Silva, Xico Madureira, e outros. No início Fernando Pinto Ribeiro usava ainda o pseudónimo "SÉRGIO VALENTINO".
Alguns das suas letras para fado mais conhecidos, são: Às Meninas dos Meus Olhos, A Cantiga dos Pardais, Era um Marinheiro, Fado Alegre, Hino à Vida, Nas Ruas da Noite, Bom Fim de Semana, Noites Perdidas, Pensando em Ti, Lisboa vai, Pensando em Ti, , etc.
© Vítor Duarte Marceneiro