MARIA CESÁRIA, figura mítica do Fado oitocentista, ignora-se a data de nascimento e morte da cantadeira, e mesmo o seu nome de baptismo completo, apenas se sabendo que seria efectivamente Maria.
Residente no bairro de Alcântara ali trabalhava numa fábrica como engomadeira. Inicialmente companheira de um fadista local, terá acabado por" o trocar por José Cesário Sales, canteiro, homem de algumas posses e talento na sua profissão, filho de Francisco Sales, proprietário de uma importante oficina de cantaria em Lisboa. Desta ligação terá resultado o Maria do Cesário e daí Maria Cesária. Ficando igualmente conhecida como Mulher de Alcântara.
Tão famosa quanto Maria Severa, proferia as palavras com receio e trajava de modo simples, recusando ousadias e vestes originais. Era normalmente acompanhada pelo guitarrista Carreira.
Segundo as crónicas, a qualidade da sua voz era equiparável à qualidade da sua memória, dando Tinop notícia de inúmeros desafios em que terá participado, nomeadamente com uma rival sua, Luzia a Cigana, alguns dos quais durariam dois e três dias de Fados e comezainas.
Terá sido bastante famosa nas décadas de 60 e 70 do século XIX, tendo o guitarrista Ambrósio Fernandes Maia composto um Fado que lhe dedicou, o Fado da Cesária ou Fado de Alcântara.
Cesária foi a figura central da opereta com o mesmo nome, escrita por Lino Ferreira, Silva Tavares e Lapa Lauer e musicada por Filipe Duarte, que subiu à cena no Teatro Apolo em 1926.
Nota:Desconhece-se a existência de alguma foto da Cesária, a imagem em cima, representa uma mulher fadista do século XIX
Na opereta "Mouraria", a Cesária foi recordada:
Fado da Cesária
Tanto a desgraça me alcança
que já me sinto cansada,
da vida que não se cansa
de me tornar desgraçada.
E como o Fado alivia
as mágoas que a gente sente,
eu minto à minha agonia,
noite e dia,
cantando constantemente.
Refrão
Foi um beijo venenoso,
demorado,
langoroso,
que perversa me tornou.
E eu faço o que me fizeram,
pois ninguém foge ao seu fado;
— Foi a mentir que mo deram,
é a mentir que eu os dou...
Aquele a quem dei a vida
e o que eu tinha de mais meu,
hoje chama-me perdida
mas não diz quem me perdeu.
É por isso que no Fado
a minha alma se desgarra,
pois esqueço o meu passado,
torturado,
quando chora uma guitarra.