Arranjou o seu primeiro emprego como aprendiz de encadernador numa oficina na Rua da Trindade, com o salário inicial de quatro vinténs. Mas por pouco tempo auferiu este vencimento pois os patrões, por indicação do Mestre Paulino, gostando da sua dedicação logo o aumentaram para um tostão, o que na época, e para um rapaz da sua idade, era um bom salário.
No entanto, Alfredo não permaneceu muito tempo como aprendiz de encadernador, porque aquele ofício tinha para ele um grande inconveniente: a saída ás 9 horas da noite (naquela época os operários trabalhavam 12 horas diárias), não lhe permitia dedicar-se ao seu grande sonho de ser actor e poder entrar numa das muitas cegadas carnavalescas. Cultivando o gosto de representar, continua a seguir atentamente as actuações dos actores de rua e é assim que, simultaneamente, Alfredo toma mais contacto com o Fado, pois nas cegadas os actores interpretam o seu papel cantando o tema da peça ao som da guitarra. Alfredo haveria de tomar parte numa, custasse o que custasse.
Júlio Janota, um fadista improvisador com quem tomou conhecimento e que era mestre na profissão de marceneiro, aconselhou-o a seguir o mesmo ofício, o que lhe permitiria auferir melhor salário e sair antes do pôr do sol, arranjando-lhe colocação como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique. Foi assim que Alfredo Duarte trocou a sua profissão de encadernador pela de marceneiro, ofício que ficou ligado para sempre á sua pessoa e ao seu nome.
Nesse tempo, para as camadas menos privilegiadas, os bailes populares eram decerto a grande diversão, organizados ao ar livres em jardins e verbenas. É nesses bailes, dos quais é assíduo frequentador, que se inicia a cantar fados, começando desde logo a criar nome entre a rapaziada da sua época. Graças a essa sua genial capacidade passa a ser solicitado para cantar em festas de caridade, também muito usuais na época, como forma de solidariedade para com os mais desafortunados.
© Vítor Duarte Marceneiro in “Recordar Alfredo Marceneiro”