Alfredo Marceneiro nasceu a 29 de Fevereiro de 1888
Foi registado a 25 de Fevereiro de 1891
Faleceu a 26 de Junho de 1982
UM FADO "A MARCENEIRO"
À solta e desvairada a morte certo dia
Entrou no velho pátio e ali quase em segredo,
Num golpe traiçoeiro de raiva e cobardia,
Maldosa nos levou p'ra sempre o Ti Alfredo
Ao chorar das guitarras como se fosse um hino
Juntou-se a voz do povo de Portugal inteiro
Tinha morrido o rei fadista genuíno
O mais de todos nós o grande Marceneiro
Sua garganta rouca tinha o condão cubano
De nos dar fado a sério sem ais, sem fantasias
Se o fado para ser fado algum segredo tem
Então esse segredo só ele o conhecia
Sempre que a noite chega eu julgo ainda vê-lo
Fazendo a sua ronda p'los retiros de fado
De boné ou mostrando o seu farto cabelo
E o seu lenço varino ao pescoço ajustado
Recordo as suas birras e em grande cavaqueira
Seus ditos graciosos se bem disposto estava
E oiço até o seu riso no Cacau da Ribeira
Onde já madrugada sua ronda findava
De Alfredo Marceneiro eu guardo um disco antigo
E um retrato dos dois sobre um fundo bairrista
Um fado ao desafio que ele cantou comigo
E uma eterna saudade desse enorme Fadista
Nota: Para além desta, não mereceu mais nenhuma notícia a efeméride, nem uma palavra daqueles que passam a vida a contar histórias e que dizem terem tantas lembranças dele, e os inspirados e seguidores?, mas uma coisa é certa "MARCENEIRO É PARTE INTEGRANTE DA GRANDE HISTÓRIA DO FADO, È TAL O SEU LEGADO QUE A SUA LEMBRANÇA NÃO SERÁ TEMPORAL, MAS PARA TODO O SEMPRE, ENQUANTO HOUVER FADO EM PORTUGAL".
Enquanto este neto tiver um sopro de vida não deixará de relembrá-lo para que as gerações actuais saibam quem ele foi, para as gerações futuras também já dei o meu testemunho escrevendo dois livros biográficos.
Dirão alguns, como já aconteceu quando escrevi o 1º Livro da sua biografia, "Recordar Alfredo Marceneiro", que não faço nada de mais, é neto, tem a papinha feita, pois para espanto desses e de outros mais, é que felizmente não sou analfabeto, e tenho muito orgulho nas minhas origens
Obrigado Avô, Pai e Avó Maria por tudo o que me deram, para bem ou mal puder escrever sobre vós e sobre o Fado.
tema " A Casa da Mariquinhas ", teve tal êxito, que levou outros poetas a se basearem nele compondo outras versões igualmente cantadas por Marceneiro.
O poeta João Linhares Barbosa, escreveu:
O LEILÃO DA MARIQUINHAS
Ninguém sabe dizer nada
Da famosa Mariquinhas
A casa foi leiloada
Venderam-lhe as tabuinhas
Ainda fresca e com gagé
Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené
Fui-lhes falar, já se vê
E perguntei-lhes, de entrada
P´la Mariquinhas coitada?
Respondeu-me o Chico: e vê-la
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada.
E as outras suas amigas?
A Clotilde, a Júlia, a Alda
A Inês, a Berta e a Mafalda?
E as outras mais raparigas?
Aprendiam-lhe as cantigas
As mais ternas, coitadinhas
Formosas como andorinhas
Olhos e peitos em brasa
Que pena tenho da casa
Da formosa Mariquinhas.
Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se
A vizinhança zangou-se
Fez um abaixo assinado,
Diziam que havia fado
Ali até de Madrugada
E a pobre foi intimada,
A sair, foi posta fora
E por more de uma penhora
A casa foi leiloada.
O Chico foi ao leilão
E arrematou a guitarra
O espelho a colcha com barra
O cofre forte e o fogão,
Como não houve cambão
Porque eram coisas mesquinhas
Trouxe um par de chinelinhas
O alvará e as bambinelas
E até das próprias janelas
Venderam-lhe as tabuinhas.
Nesta actuação na TVI - Tardes da Júlia, sou acompanhado na guitarra portuguesa por Luís Ribeiro
e na viola de acompanhamento por Jaime Martins
Foram muitos os temas que Alfredo Marceneiro cantou, mas, de entre todos eles, houve um que teve grande êxito com versos da autoria do grande jornalista e poeta Silva Tavares e que foi, aliás, considerado o "ex-libris" das suas criações,
" A Casa da Mariquinhas".
Todos os que o escutavam, eram unânimes em afirmar que os versos que Silva Tavares escreveu, quando cantados pelo Alfredo, "viam imagens reais". Marceneiro, numa ideia genial, decide demonstrar a todos que, também no seu ofício, é um mestre e na escala de 1/10 constrói em madeira a Casa da Mariquinhas, recriando todos os pormenores que são descritos nos versos do fado.
"CASA DA MARIQUINHAS"
É numa rua bizarra
A casa da Mariquinhas
Tem na sala uma guitarra
Janelas com tabuinhas.
Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo
E não há maior regalo
De vida de raparigas
É doida pelas cantigas
Como no campo a cigarra
Se canta o fado á guitarra
De comovida até chora
A casa alegre onde mora
É numa rua bizarra
Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas
Muitas rendas, muitas fitas
Lenços de cor variada
Pretendida e desejada
Altiva como as rainhas
Ri das muitas, coitadinhas
Que a censuram rudemente
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas
É de aparência singela
Mas muito mal mobilada
No fundo não vale nada
O tudo da casa dela
No vão de cada janela
Sobre coluna, uma jarra
Colchas de chita com barra
Quadros de gosto magano
Em vez de ter um piano
Tem na sala uma guitarra
Para guardar o parco espólio
Um cofre forte comprou
E como o gás acabou
Ilumina-se a petróleo
Limpa as mobílias com óleo
De amêndoa doce e mesquinhas
Passam defronte as vizinhas
Para ver o que lá se passa
Mas ela tem por pirraça
Janelas com Tabuinhas
Alfredo Marceneiro fala dos seus estilos e dos pregões
Alfredo Marceneiro, apesar da fama que já ganhara e da aceitação que tinha como fadista, continuou a trabalhar no seu ofício. Os fados cantava-os por amor à arte, embora nessa época já existissem cantadores que ganhavam dinheiro como "negaças" nos Cafés de Camareiras e nos retiros. "Negaças" eram cantadores de menor nomeada, contratados especialmente para atrair, em despique, outros fadistas de maior fama.
E este era um acicate a que Alfredo não renúncia!
Os locais mais frequentados eram o Caliça das Pedralvas, o Bacalhau, ambos eles ali para os lados de Benfica, e ainda o Perna de Pau na Charneca, o Retiro da Severa (Luna Parque), Terraço da Cervejaria Jansen, Ferro de Engomar, Café Luso na Avenida, Castelo dos Mouros no Parque Mayer, Salão Artístico de Fados, Júlio das Farturas, Olímpia Clube, Boémia na Travessa da Palha, Solar da Alegria, José dos Patacos, etc.
Certo dia no "Cachamorra", Alfredo Marceneiro acompanhado pelo poeta Henrique Rego, de quem entretanto se tornara amigo e que tinha passado a ser o seu poeta preferido, foi desafiado por um grande fadista dessa época, Manuel Maria, para cantarem ao desafio ao som do Fado Corrido, tocado em «marcha». Alfredo aceitou e Manuel Maria cantou primeiro dando um estilo que passou a chamar-se de "Marcha do Manuel Maria" (nos fados clássicos o fadista escolhe o tom, para melhor poder improvisar o seu estilo). Enchendo-se de brios, Alfredo pediu que o acompanhassem no mesmo tom e improvisou de tal maneira que criou, também ele, um novo estilo. Nasceu então uma das suas mais lindas músicas: "MARCHA DE ALFREDO MARCENEIRO".
Deste desafio resultou ainda mais fama para Alfredo Marceneiro, que sempre cantou cultivando um estilo próprio, estilo esse que teve sempre reminiscências de «bailarico». Aliás, nas opiniões do guitarrista Casimiro Ramos e do grande fadista Filipe Pinto, todas as obras musicais do Alfredo têm um sotaque de «bailarico».
Foi com Casimiro Ramos, seu acompanhante á guitarra no Clube Olímpia, que Alfredo Marceneiro cantou um fado com versos de Carlos Conde, criando mais um estilo inédito. Nasceu mais uma das suas sensacionais músicas — "Fado Bailarico".
Outros estilos surgiram, o Fado CUF, o Fado Balada, o Fado Louco, o Fado Versículo Pierrot (improviso no fado menor), os Fados Alexandrinos, Lembro-me de Ti, Bêbado Pintor e o Laranjeira, o Fado Mocita dos Caracóis, o Fado Cravo, o Fado Pajem, o Fado Bailado, o Fado Cabaré. Aliás, Alfredo Marceneiro fazia questão de frisar: "— Nunca canto o mesmo fado da mesma maneira pois, em cada interpretação consoante o tom escolhido improviso e crio um estilo novo". Foi esta particularidade que, decerto, lhe granjeou a sua grande fama que ainda hoje perdura de «o maior estilista».
Como se pode verificar quase todas as suas músicas, Alfredo Marceneiro dá-lhes o mesmo título da letra que ele cantou pela primeira vez. Foi o "criador", como se dizia na época, isto porque havia o brio de cada fadista ter o seu repertório privativo.
Alfredo Marceneiro, teve o 1/326 como seu número de inscrição na SOCIEDADE DE ESCRITORES E AUTORES TEATRAIS PORTUGUESES, como sócio administrado. Eis algunspoemas que cantou e para tal "criou estilos" ou seja as suas músicas.
ALFREDO MARCENEIRO FOI O MAIOR ÍCONE DO FADO, FOI O MAIOR ESTILISTA DE TODOS OS TEMPOS, E AINDA É HOJE SEM MARGEM DE DÚVIDAS, CONSIDERADO O MAIOR CRIADOR DE MÚSICAS DOS FADOS CLÁSSICOS EXISTENTES.
FADOS REGISTADOS
Fado Aida
Fado Alexandrino Eu lembro-me de ti
Fado Alexandrino Bêbado Pintor
Fado Bailado (conhecido também como Estranha Forma de Vida)
Fado Olhos Fatais
Fado Bailarico
Fado Balada
Fado Cabaré
Fado Cravo (conhecido também como Fado Viela)
Fado Cuf
Fado Laranjeira
Fado Louco
Fado Marcha do Marceneiro
Fado Maria Marques (ou Vestido Azul)
Fado Mocita dos Caracóis
Fado Odéon
Fado Pagem
Fado Versículo Pierrot (conhecido também como Fado Menor em Versículo, ou somente Fado Versículo)
Moinhos Desmantelados....
Pelos tempos derroídos....
O futuro não pára e as novas tecnologias avançam. Hoje em dia os moinhos de vento que serviam para o moleiro transformar as semente do trigo ou do centeio, em farinha, para fazer o pão, que era, e ainda é o alimento da grande maioria das populações, apenas há alguns em funcionamento para demonstração turística e/ou didáctica.
Quando na zona Oeste andei a tirar as fotos para este video-clip, verifiquei que alguns ainda se mantém intactos por iniciativa de cidadãos particulares, há casos em que são mesmo habitação permanente, outros como 2ª habitação. Também algumas entidades públicas, em especial as autarquias fazem o possível para manter um ou outro de pé, mas com o tempo, virá o costumado desabafo " de falta de dinheiro para os manter " e assim irão desaparecendo.
Com o aparecimento das fábricas de moagem, estes lindos monumentos campestres que tanta inspiração deram aos poetas, começaram a deixar de ser usados. Os velhos moleiros foram morrendo e não houve seguidores.
Mas este panorama não é recente, já assim era nos anos trinta do século passado, o que se confirma no poema que Henrique Rego escreveu para meu avô, a seu pedido, pela tristeza que lhe dava quando ía à terra de seus pais , no Cadaval, ao ver os moinhos abandonados e em ruínas.
Hoje vêem-se os montes já com largas dezenas de moinhos "Eólicos", que como sabem não moem farinha, geram somente energia eléctrica. Veremos se serão inspiração no futuro para algum poeta! Quem sabe?
" MOINHO DESMANTELADO"
Letra de: Henrique Rêgo
Moinho desmantelado
Pelo tempo derruído
Tu representas a dor
Deste meu peito dorido
Ao dizê-lo sinto pejo
Porque em ti apenas vejo
A miseranda carcaça
Perdeste de todo a graça
Heróica do teu passado
Hoje ao ver-te assim mudado
Minha alma cora e descrê
E quem te viu, e quem te vê
Moinho desmantelado
Moinho pombo da serra
Que triste fim tu tiveste
Alvas farinhas moeste
Para o povo da tua terra
Hoje a dor em ti se encerra
Foste votado ao olvido
Foi-se o constante gemido
Dessas mãos trabalhadoras
Doce amante das lavouras
Pelo tempo derruído
Em fundas melancolias
Ás tristes aves sombrias
Hoje serves de dormida
No teu seio dás guarida
Ao horrendo malfeitor
Tudo em ti causa pavor
É bem triste a tua sorte
Sombria estátua da morte
Tu representas a dor
Oh! meu saudoso moinho
E do meu terno avozinho
Quantas histórias ouvi
Agora tudo perdi
Sou pela dor evadido
Vivo no mundo esquecido
Moinho que crueldade
És o espelho da saudade
Deste meu peito dorido
Letra de : Henrique Rego
Música de Alfredo Marceneiro
" O NATAL DO MOLEIRO "
Que noite de Natal, tristonha agreste
De neve amortalhava-se o caminho
E o vento sibilada do nordeste
Por entre as frinchas da porta do moinho
Sentado na velha mó, já carcomida
Onde incidia a luz d´uma candeia
O moleiro de barba encanecida
Com a mulher comia a parca ceia
Próximo do moinho, ouviu-se em breve
Uma voz e o moleiro abrindo a porta
Viu um velhinho todo envolto em neve
Vergado ao peso d´uma esperança morta
Entrai meu peregrino da desgraça
Disse o moleiro ao pálido ancião
Aqui não há dinheiro, existe a graça
De haver carinho, piedade e pão
Vinde comer agasalhar-se ao lume
Festejar o nascer do Deus Menino
Porque a vida somente se resume
Na escravidão imposta p´lo destino
Então o velhinho com uma voz sonora
Pronunciou levando as mãos ao peito
Abençoado seja a toda a hora
Este moinho que é por Deus eleito
Mas também não posso deixar aqui de lembrar mais uma vez o excelente poema "em versos alexandrino" de João Linhares Barbosa, " Eu Lembro-me de Ti", para o qual Marceneiro fez um estilo/música que é hoje um clássico memorável, que nos fala do moinho o moleiro e a linda moleirinha, que provavelmente acaba por se perder na cidade pois já não era preciso ajuadar os pais no moinho
" LEMBRO-ME DE TI "
Letra de João Linhares Barbosa
Música: Alexandrino “ Lembro-me de Ti” de Alfredo Marceneiro
Eu lembro-me de ti,
Chamavas-te Saudade
Vivias num moinho
Ao cimo do outeiro
Tamanquinha no pé,
Lenço posto á vontade
Nesse tempo eras tu,
A filha do Moleiro
Eu lembro-me de ti,
Passavas para a fonte
Pousando no quadril
O cântaro de barro
Imitavas em graça
A cotovia esonte
E mungias o gado
Até encher o tarro
Eu lembro-me de ti,
E ás vezes a farinha
Vestia-te de branco,
E parecias-me então
Uma Virgem gentil
Que fosse á capelinha
Num dia de manhã
Fazer a Comunhão
Eu lembro-me de ti,
E fico-me aturdido
Ao ver-te pela rua
Em gargalhadas francas
Pretendo confundir
A pele do teu vestido
Com a sedosa lã
Das ovelhinhas brancas
Eu lembro-me de ti,
Ao ver-te no casino
Descarada a fumar
Luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo
O teu busto franzino
Com o avental da cor
Do cântaro de barro
Eu lembro-me de ti,
Quando no torvelinho
Da dança sensual
Passas louca rolando
Eu sonho, eu fantasio
E vejo o teu moinho
Que bailava também
Ao vento assobiando
Eu Lembro-me de ti,
E fico-me a cismar
Que o nome de Luci,
Que tens não é verdade
Que saudade que eu tenho,
E leio no teu olhar
A saudade que tens
De quando eras Saudade
DEPOIS DE TE BEIJAR, A BOCA PURPURINA
UM NOME ALI GRAVEI, O TEU NOME ... MARIA
Alfredo Marceneiro canta Fado Laranjeira
letra de Júlio César Valente e música (Fado Laranjeira) de Alfredo Marceneiro
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"LARANJEIRA FLORIDA"
Letra de: Júlio César Valente
Música: Fado Alexandrino Laranjeira de Alfredo Marceneiro
Em tenra a laranjeira
Ainda pequenina
Onde poisava o melro
Ao declinar do dia
Depois de te beijar
A boca purpurina
Um nome ali gravei
O teu nome Maria
Em volta um coração
também com arte e jeito
Ao circundar teu nome
A minha mão gravou
Esculpi-lhe uma data
E o trabalho feito
Como selo de amor
No tronco lá ficou
Mas no rugoso tronco
Eu vejo com saudade
O símbolo do amor
Que em tempos nos uniu
Cadeia de ilusões
Da nossa mocidade
Que o tempo enferrujou
E que depois partiu
E à linda laranjeira
Altar pregão d´amor
Que tem a cor da esperança
A cor das esmeraldas
Vão as noivas colher
As simbólicas flores
Para tecer num sonho
As virginais grinaldas
Alfredo Marceneiro canta:
OH! ÁGUIA
Poema de Henrique Rego - Musica Armandinho
" OH ÁGUIA "
Letra de Henrique Rego - Música de Armandinho
Oh águia que vais tão alta
Num voar vertiginoso
Por essas serras d´além
Leva-me ao céu, onde tenho
A estrela da minha vida
A alma da minha mãe
Loucos sonhos juvenis
Fervilham na minha mente
Que me fazem ficar chorando
Quando tu águia imponente
Te vejo transpor voando
As serras e os alcantis
Quando te vejo voar
Pelo vasto firmamento
Sobre as campinas desertas
Com profundo sentimento
Tu em meu peito despertas
Sonhos que fazem chorar
Oh velha águia altaneira
Vem aliviar-me, vem
Do mal que me vem o ferir
Vê se ao céu, me transportas
Para de beijos cobrir
A alma de minha mãe
Anabela Braz Pires nasceu em 22 de Setembro de 1976 em Almada.
Desde muito pequena que sempre mostrou aptidão para o canto.
Aos 12 anos, venceu na modalidade infantil, a Grande Noite do Fado de 1989.
Ainda em 1989 foi escolhida para a representar Portugal no Festival da UNICEF – Prémio Danny Kaye, que se realizou na Holanda, tendo obtido 2º. lugar, e ganhou ainda o prémio para a melhor intérprete.
Gravou vários discos para a OVAÇÃO e DISDOSETE. Venceu o FESTIVAL DA CANÇÃO / RTP em 1993, com a canção "A cidade Até Ser Dia".
Gravou temas de vários compositores, como, Clara Pinto Correia, Rui Veloso, Mafalda Veiga, Fernando Girão, Francisco Nicholson, Carlos Nunez, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Manuel Alegre, Ary dos Santos, para além de temas tradicionais de Fado
Anabela, integrou várias peças musicais dirigidas por Filipe La Féria, o musical infantil "Jasmim ou o Sonho do Cinema", o musical "Amália", "Minha Linda Senhora – My Fair Lady"., "Canção de Lisboa", "Música no Coração" estreado em 2006, em que com Lúcia Moniz interpretam, alternadamente, o papel da personagem principal, Maria.
Em 2006 foi convidada por Carlos Guilherme para lançar o álbum "Encontro" com a recriação de grandes sucessos como “Noites da Madeira”, “Flor Sem Tempo”, “Ser Poeta”, “Eu Sei”, “Nostalgia”, “Estrela da Tarde”, “A Rosa Que Te Dei”, “A Minha 5ª Sinfonia”, “Aquela Janela Virada Para o Mar”, “Vocês Sabem Lá”, “Se Os Meus Olhos Falassem”, e “Canção de Madrugar”.
ANABELA canta
Ti Alfredo (Homenagem a Alfredo Marceneiro
Letra de Francisco Nicholson
Música de Braga Santos
O meu filho Alfredo apresentou-me esta montagem em vídeo, perguntando-me se eu gostaria de colocar no blogue?... porque não... O Fado e os fadistas têm sentido de humor, os cartoons da nossa infância já velhinhos, lindo.
Alfredo Marceneiro canta, Cabelo Branco é Saudade.
Natural de Lisboa, foi esposa do cantador Júlio Duarte e cunhada de Alfredo Duarte “Marceneiro”
Dotada duma excelente voz, dava tal sentimento nos versos que cantava, aliada a uma excepcional dicção, que em bem pouco tempo impôs o seu nome do cantadeira de Fado. Estreou-se a cantar o Fado no posto emissor de Abílio Nunes dos Santos, agradou de tal modo, que foi imediatamente contratada para gravar em disco os seguintes fados: «Os pequeninos., «A Pastora», «Fado Aida», «0 teu olhar», «Desgarrada de Amor» (com o cunhado Alfredo Duarte “Marceneiro” e «A morte da Pastora».
Foi autora da música do Fado Os Pequeninos, que teve um grande sucesso. Cantou várias vezes, por especial deferência no Solar da Alegria com o marido Júlio Duarte, (quando da gerência de Alberto Costa), em festas de beneficência, tendo tomado parte também em diversos espectáculos, quase sempre na companhia do marido ou do cunhado.
Da sua curta mas brilhante carreira como cantadeira de Fados, a noite que mais a emocionou foi a da sua despedida, em 20 de Agosto de 1932, que coincidiu com a na festa artística de seu marido, no Café dos Anjos, em que o público lhe tributou uma calorosa e prolongada ovação que muito a sensibilizou.
Leonor Duarte abandonou a sua carreira para se dedicar exclusivamente á educação de suas filhas, Júlia e Aida.
"Os Pequeninos”
Letra de Fernando Teles
Música de Leonor Duarte
Descalços, quase nus, por trágicos caminhos,
Soluçantes de dor, ao sol, à chuva, ao vento,
Os pequeninos vão, como as aves sem ninhos,
Seguindo uma odisseia, atroz de sofrimento.
Em vasos de alabastro, as rosas mais os lírios
Trajam de fina gala e pompas bem vistosas,
E há criancinhas, céus! Que bárbaros martírios,
Na mísera nudez, descalças, andrajosas.
Como bênçãos de paz, há músicas de luz,
Noites lindas d'amor, noites calmas e belas,
Caminham tiritando os pobres seminus.
Sob os beijos de luz. das pálidas estrelas
Disco de Massa 78 rpm
Etiqueta Odeon
refª A 187230 a
Leonor Duarte canta
FADO AIDA
Letra de Carlos Conde
Música de Alfredo Duarte
e
O TEU OLHAR
Letra de Henrique Rego
Música de António Machado
Foi acompanhada por
Guitarra: José Marques
Viola: Georgino
A primeira vez que Alfredo vai ouvir cantar o fado, em recinto adequado, foi na Rua do Poço dos Negros, no Beco dos Carrascos, onde actuavam conhecidos fadistas de então que, por serem gente de trabalho, cantavam por amor à arte. Os acompanhamentos musicais nessa época eram feitos ao piano, com bandolim, ou com guitarras.
Mas foi no «14» do Largo do Rato, antiga casa de jogo e que o dono transformou em «cabaret» quando os jogos de azar foram proibidos, que o jovem Alfredo começou a ser mais conhecido no meio fadista, sendo frequentemente convidado a cantar alguns «fadinhos», cujos versos ele mesmo improvisava. Outros versos que também cantava, letras de qualidade literária e poética muito fracas, eram adquiridos nos quiosques pelo preço de um vintém.
Aqui travou conhecimento com alguns dos poetas populares e grandes fadistas de nomeada daquela época, nomeadamente, o Britinho, estucador, o Soares, do Intendente, o Júlio Proença, estofador, o João Mulato, o Chico Viana, o Jorge, caldeireiro, o Fernando Teles e tantos outros, todos peritos de Fado, que não tardaram em ver no jovem Alfredo um verdadeiro fadista. Como manifestação desse reconhecimento começaram a dar-lhe algumas das suas criações poéticas para que ele as cantasse.
O fado era uma canção de revolta e/ou de amor. Era a história do operário que ficava sem uma perna, sem um braço, ou que era despedido e ficava na miséria, era a história da rapariga que vinha do campo e se perdia nas vielas, era a história do órfão abandonado. Era também a história do amor inflamado pela esperança ou pela desilusão.
É certo que havia letras de fados bastante «lamechas», mas Alfredo tinha a intuição natural de saber escolher de entre os melhores poemas que os poetas da altura escreviam, utilizando sempre o seu dom de bem-dizer e de correctamente dividir as orações gramaticais, o que decerto contribuiu, a par com o seu estilo musical, para a sua enorme popularidade.
As deambulações pelos retiros de Fado continuam e certo dia foi convidado para uma «patuscada» no Carioca da Trindade, mais conhecido por "Coimbra", situado no Largo da Abegoaria, hoje Largo Rafael Bordalo Pinheiro. Alfredo cantou e foi aplaudido com bastante entusiasmo, tendo havido alguém que, quando ele cantou o "Fado Dois Tons", com invulgar sentimento, não resistiu a ir abraçá-lo e, com os olhos rasos de lágrimas, apresentando-se, disse:
— Você não me conhece, mas de hoje em diante faço questão de ser seu amigo, pois comoveu-me profundamente ouvi-lo cantar. Chamo-me Manuel Rêgo, sou poeta, escrevo letras para fado e terei muito gosto em dar-lhe alguns dos meus poemas.
Assim começou uma amizade que durou anos, tendo Manuel Rêgo escrito para Alfredo Duarte alguns poemas para o seu repertório.
Quando Manuel Rêgo adoeceu, logo Alfredo, com outros elementos, lhe organizou uma festa de solidariedade, como homenagem ao poeta e amigo.
E num dia, que nunca mais esqueceu, disseram-lhe que o seu amigo Manuel Rêgo tinha falecido, vítima de uma «galopante». Sucumbido com a notícia, que lhe parecia inacreditável, Alfredo ficou de tal forma sentido que durante dois dias não saiu de casa.
Quando voltou à oficina, decidiu fazer uma cruz em madeira e foi ao cemitério colocá-la na campa onde jazia o amigo. Era uma homenagem singela, mas não a última pois continuou pela vida fora homenageando-o ao cantar os seus versos e, acima de tudo, mantendo-o bem vivo na sua memória, tal como vezes sem conta o referiu.
Eis o exemplo de um de fado, considerado patriótico, mas do género do que se escrevia após a primeira Grande Guerra Mundial.
" ASSOMO DA RAÇA "
Enquanto o Mundo, cobarde,
Precipita com rancor
Numa trágica odisseia,
Na escola, ao cair da tarde
O velhinho professor
Fala aos rapazes da aldeia!
«Sabeis vós o que é a guerra,
«Essa hecatombe terrível
«De que fala todo o Mundo?
«É ver os homens, na terra,
«Em luta medonha, horrível,
«Num ódio torvo e profundo!
«Vai-se p´ra a guerra contente,
«Patriotismo exaltado
«Na fé baixa da vingança!
«Mas, regressa-se descrente,
«Cego, doido ou mutilado,
«Velho, até, se foi criança...
«Contra a guerra e contra tudo
«O que no mundo a consente!
Brada o professor por fim;
Mas o CHICO miúdo,
Uns quatro palmos de gente
Levantou-se e disse assim:
«Seja a Guerra obra do mal,
«Duro flagelo, não nego,
«Diga-se o que se disser...
«Se alguém quiser Portugal
«Fique mutilado ou cego
«Eu tenho de defender!
E o gesto desse rapaz,
Que oito séculos de História
Obrigavam a falar,
Mostrou bem do que é capaz
O Povo de maior Glória,
LIVRE NA TERRA E NO MAR
© Vítor Duarte Marceneiro in “Recordar Alfredo Marceneiro”
O FADO EM DIVULGAÇÂO
Caricatura de "Campus", publicada pela primeira vez com autorização do autor, que é membro da Associação Cultural de Fado "O Patriarca do Fado" e que será usada nos cartões dos sócios.
É PROIBIDA A SUA REPRODUÇÃO
Está protegida pelo "copywrite"
Após aprofundada investigação, posso afirmar, sem sombra de dúvidas que, Alfredo Marceneiro na realidade nasceu a 29 de Fevereiro de 1888, que foi ano bissexto, mas só foi registado a 25 de Fevereiro de 1891
Com base no registo Alfredo Marceneiro, comemora-se 122 anos do seu nascimento, mas em termos reais são na relidade 125 anos.
Se os prosélitos do Fado entenderem devotar uma longa noite à sua bandeira, a de Alfredo Marceneiro, que seja o 25 de Fevereiro pois, sem dúvida, no ano de 1891 nasceu (foi registado) o seu mais louvado príncipe, tão igual ao Povo que com ele se confundiu amavelmente.
Alfredo Marceneiro canta
È TÃO BOM SER PEQUENINO
de Carlos Conde
Comemorou-se no dia 25 de Fevereiro, 121 anos do registo nascimento de Alfredo Marceneiro - 1891 – 1982, mas na realidade ele nasceu a 29 de Fevereiro de 1888, pelo faria hoje dia 29 de Fevereiro 124 anos, factos já devidamente relatados por mim quer em livros, quer neste blogue.
ALFREDO MARCENEIRO
“PATRIARCA DO FADO”
Raro será o português que se não tenha interrogado acerca do fascínio que o Fado exerce sobre si. Verifica-se que o mesmo acontece com os muitos estrangeiros de diversas partes do mundo, com culturas, etnias e credos diferentes dos nossos, que ao assistirem a essa entrega sublime do cantador que nos transmite para além da sonoridade da voz, da expressão facial, do gesticular do corpo, uma melopeia acompanhada por uma parelha de músicos “guitarras e violas”, que nos provoca nostalgia, amor, ódio, ciúme, alegria, que provoca o ritmo acelerado do coração, enquanto na alma desabrocham sentimentos, que extravasam as barreiras linguísticas, e as almas irmanam-se.
O Fado está cheio de símbolos. Os símbolos são gerados pelo povo, sejam políticos ou militares, sejam sábios ou médicos, sejam músicos ou cantores. É o povo o grande juiz: eleva os ídolos quando lhe agradam, os venera quando tal merecem; Mas também é o mesmo povo que os ignora quando são falsos.
No universo da expressão musical, o Fado é um mundo dentro de outro mundo, é um universo de cantigas onde cabem, a dor, a saudade, o entusiasmo, a fé, a esperança... O Fado é uma “seita” com os seus ritos, os seus segredos…
Será talvez uma afirmação sacrílega esta de vos dar como título a este livro:
Alfredo Marceneiro – Patriarca do Fado.
Na “Catedral do Fado” há um sentir que nos leva muitas vezes à lágrima, tal qual “água benta”, como a que tocamos, na saudação de respeito, que nos motiva ao cruzar os umbrais de uma outra qualquer "Catedral"; também no Fado, há um ritual, um estado de alma... que veneramos e respeitamos.
Se alguém entendeu todo este ritual foi decerto Alfredo Duarte, o Marceneiro, por ofício.
Se os prosélitos do Fado entenderem perpetuar a sua bandeira - O Fado genuíno - , que seja relembrando a sua obra, a sua dádiva ao Fado. Alfredo Marceneiro nunca se apelidou, nem deixou que o apelidassem, Rei do Fado, mas foi, sem sombra de dúvidas, o seu mais louvado príncipe, tão igual ao Povo que com ele se confundiu amavelmente.
Alfredo tu foste/és o “ Patriarca do Fado
Vítor Duarte Marceneiro (Direitos reservados)
Video Clip do tema A Casa da Mariquinhas, com imgens com base
na sua própria inspiração, que num rasgo de génio, o levou a construir em madeira
o que a letra do fado descrevia, como se de um projecto de construção se tratasse.
Afirmava com certa "ironia" é que há para aí, quem duvide que eu fui Marceneiro!
Hestória(s) do Fado
Alguns dizem que o Fado é uma alegria melancólica, enquanto outros dizem que é a dor cantada através de uma linguagem universal que atravessa a barreira da língua transportando a todo o lado a emoção da música. Outros ainda há que, a cantar, dizem que o Fado são almas vencidas, noites perdidas, sombras bizarras, … amor ciúme, cinzas e lume, dor e pecado… e tudo existe e tudo isto é Fado. Para nós, e desde que em criança o ouvíamos fosse numa casa de fados ou numa cozinha portuguesa, o Fado é algo coberto por uma reverência quase sagrada que nos levava a aceitar prontamente e com inabalável respeito a ordem de “silêncio que se vai cantar o Fado!” ditada por um qualquer arauto que em qualquer outra situação não colheria um décimo do respeito.
Mas… talvez uma boa aproximação àquilo que parece ser o Fado seja feita contando aquilo que nos parece que o Fado foi. A história do Fado, assim como a própria música, é feita de estórias mais ou menos populares, bucólicas, de um sentimentalismo muito próprio, e com uma propensão para evitar finais felizes em detrimento de um caminho de agruras que, talvez por isso, torna mais belo o belo Fado.
Em tempos de “reconhecimento oficial” e internacional, o Cineclube Aurélio da Paz dos Reis associa-se às várias homenagens que 2012 certamente fará ao Fado, dedicando-lhe um ciclo anual, um ciclo que pretende contar o Fado. Ao longo de todo o ano de 2012, fazendo uso da primeira sexta-feira de cada mês e dos olhos privilegiados do cinema português, o Cineclube de Braga tentará desenrolar as estórias de uma música que se confunde com a história de um país. [Carlos Silva, Cineclube Aurélio da Paz dos Reis]
Alfredo Marceneiro – Três Gerações de Fado
sinopse
Alfredo Marceneiro, que sempre foi relutante a dar a cara para a TV, acede em 1979 às solicitações do seu neto Vítor Duarte, à altura profissional de audiovisuais, para produzir este documentário a cores, que foi exibido em 1980, uma única vez. Um documento em que Alfredo Marceneiro com a sua forma única de se expressar, rodeado pelos seus descendentes, nos explica os seus estilos, as suas criações, o seu Fado. As filmagens decorreram em ambiente de tertúlia com Alfredo Marceneiro que lembra que foi "o primeiro a catar à meia-luz".
Entre Há festa na Mouraria (António Amargo / A.Marceneiro) e Cabelo Branco (H.Rêgo / A.Marceneiro), Ti’Alfredo, como era tratado carinhosamente pelos fadistas, recorda as suas participações nas cegadas e salienta a importância de bem dizer as palavras e respeitar a pontuação. Quanto à forma de cantar, Marceneiro atesta que "cada qual canta à sua maneira e nisso é que está a evidência do fadista". Alfredo Marceneiro revela-nos as suas raízes musicais, o avô materno fadista e tocador no Cadaval, e o pai, tocador de trombone e contrabaixo.
A sessão contará com a presença de um convidado especial. Vítor Duarte Marceneiro, produtor do filme, neto e biógrafo de Alfredo Marceneiro, investigador e divulgador do Fado, ficará connosco à conversa no final da projecção e trará com ele um manancial de objectos e materiais divulgadores do Fado e dos seus intervenientes. Depois de Jorge Moças nos ter acompanhado na conversa em torno da figura da Severa, teremos agora acesso a uma perspectiva muito intíma do neto do aclamado Patriarca do Fado.
ficha técnica
Realizou e montou: Luis Gaspar
Escreveu os textos: Fernando Peres
Gravou: Vítor Duarte
Filmaram: Carlos Gaspar, Leonel Efe
Produção: Vítor Duarte / RTP
Género: Documentário
Duração: 62’20 / cor / M12
Formato: 4:3
Som: Mono
Idioma original: Português Ano de lançamento: 1980
mais informações
Programação do auditório da Casa do Professor: João Catalão
Programação do ciclo: Cineclube Aurélio da Paz dos Reis
Equipa do Cineclube Aurélio da Paz dos Reis:
César Pedro
Programação / Apoio Técnico: Miguel Ramos
Programação: Joana Dias
Programação / Apoio Jurídico: Henrique Cachetas
Produção / Apoio Técnico: Carlos Silva
Produção / Divulgação: Maria João Macedo
Design / Comunicação: João Quintas
Apoio Fiscal Tiago Rito: Sócio Honorário
Grande Noite do Fado no Coliseu em 1998
Comemora-se este ano os 120 anos do nascimento de Alfredo Marceneiro - 1891 - 1982
e 29 anos que faleceu
ALFREDO MARCENEIRO
“PATRIARCA DO FADO”
Raro será o português que se não tenha interrogado acerca do fascínio que o Fado exerce sobre si. Verifica-se que o mesmo acontece com os muitos estrangeiros de diversas partes do mundo, com culturas, etnias e credos diferentes dos nossos, que ao assistirem a essa entrega sublime do cantador que nos transmite para além da sonoridade da voz, da expressão facial, do gesticular do corpo, uma melopeia acompanhada por uma parelha de músicos “guitarras e violas”, que nos provoca nostalgia, amor, ódio, ciúme, alegria, que provoca o ritmo acelerado do coração, enquanto na alma desabrocham sentimentos, que extravasam as barreiras linguísticas, e as almas irmanam-se.
O Fado está cheio de símbolos. Os símbolos são gerados pelo povo, sejam políticos ou militares, sejam sábios ou médicos, sejam músicos ou cantores. É o povo o grande juiz: eleva os ídolos quando lhe agradam, os venera quando tal merecem; Mas também é o mesmo povo que os ignora quando são falsos.
No universo da expressão musical, o Fado é um mundo dentro de outro mundo, é um universo de cantigas onde cabem, a dor, a saudade, o entusiasmo, a fé, a esperança... O Fado é uma “seita” com os seus ritos, os seus segredos…
Será talvez uma afirmação sacrílega esta de vos dar como título a este livro:
Alfredo Marceneiro – Patriarca do Fado.
Na “Catedral do Fado” há um sentir que nos leva muitas vezes à lágrima, tal qual “água benta”, como a que tocamos, na saudação de respeito, que nos motiva ao cruzar os umbrais de uma outra qualquer "Catedral"; também no Fado, há um ritual, um estado de alma... que veneramos e respeitamos.
Se alguém entendeu todo este ritual foi decerto Alfredo Duarte, o Marceneiro, por ofício.
Se os prosélitos do Fado entenderem perpetuar a sua bandeira - O Fado genuíno - , que seja relembrando a sua obra, a sua dádiva ao Fado. Alfredo Marceneiro nunca seapelidou, nem deixou que o apelidassem, Rei do Fado, mas foi, sem sombra de dúvidas, o seu mais louvado príncipe, tão igual ao Povo que com ele se confundiu amavelmente.
Alfredo tu foste/és o “ Patriarca do Fado
Amália com esta frase lapidar, demonstrou a sua veneração por ele:
Alfredo... tu és o Fado