A primeira vez que entrei numa sala de cinema, foi para ver o filme, História de uma Cantadeira interpretado por Amália Rodrigues, o filme estava em exibição no Cinema Paris, à Estrela ( o edificio ainda lá está, embora em ruinas), quem me levou foi minha tia Aida, naquele tempo os miúdos desde que acompanhados por um adulto, não pagavam bilhete, mas teriam que ficar sentados ao colo do adulto, se a lotação estivesse esgotada.
Vítor Marceneiro aos 6 anos
Tinha cerca de 6 anos e recordo que fartei-me de chorar, é que minha mãe tinha falecido há relativamente pouco tempo, e aquela "linda senhora do filme", fez-me recordá-la, vendo a foto de minha mãe, poder-se-à entender como para uma criança haviam tais parecenças, minha mãe tinha falecido há pouco menos de um ano, tinha 25 anos de idade e foi a trazão porque fui viver com os meus avós.
Mariete Duarte mãe de Vítor Marceneiro
Passado que foram alguns meses, venho a conhecer a tal "linda senhora!", e pasme-se, ela era uma grande amiga do meu avô, foi numa manhã em que ela após uma das muitas noites de Fado que estiveram juntos, Amália deu-lhe uma boleia para casa, ía sempre cumprimentar a minha avó e acabava também por ficar a comer uma sopa da "Ti Judite, pois é, a tal senhora era a saudosa Amália Rodrigues.
Apontamento retirado do filme
História de uma Cantadeira
Amália canta "O Fado de Cada Um"
Nasceu a 19 de Maio de 1876 e faleceu em Lisboa, a 25 de Maio de 1962. Foi um escritor, médico, político e diplomata, que se distinguiu como um dos mais conhecidos intelectuais portugueses das primeiras décadas do século XX.
Na sua actividade cultural, cultivou os mais variados géneros literários, da poesia ao romance e ao jornalismo, mas foi como dramaturgo que ficou mais conhecido, em particular pela sua peça A Ceia dos Cardeais (1902), uma das mais populares produções teatrais portuguesas de sempre.
Foi eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa (1908), instituição a que presidiu a partir de 1922.
Na política foi deputado, Ministro da Instrução Pública e Ministro dos Negócios Estrangeiros, terminando a sua carreira pública como embaixador de Portugal no Brasil em 1949, ali recebeu o título de Doutor "Honoris Causa" pela Universidade do Brasil, título que em 1954 também lhe foi atribuído pela Universidade de Coimbra.
Considerado retrógrado por alguns intelectuais seus contemporâneos, sendo de destacar o caso de Almada Negreiros, que escrever e publicou, o Manifesto Anti-Dantas, para publicamente o desconsiderar.
Júlio Dantas conseguiu granjear em vida grande prestígio social e literário, prestígio que decaiu após a sua morte.
Alcançou grandes êxitos com as suas peças teatrais, com obras como A Severa (*), A Ceia dos Cardeais (obra que foi traduzida para mais de 20 línguas), Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.
Publicou o seu primeiro artigo em 1893 no jornal Novidades, e o seu primeiro livro de versos em 1897. A maior parte das suas obras de teatro e novelas são sobre o passado histórico, mas as suas melhores obras, Paço de Vieiros (1903) ou O Reposteiro Verde (1921 estão escritas num estilo naturalista.
Nas suas obras defende o culto do heroísmo, da elegância e do amor, situando a trama das suas obras quase invariavelmente no século XVIII, época que escolhia quase sempre como cenário das suas produções, salientando a decadência da vida aristocrática da época.
Na sua vasta obra predomina as obras de teatro, as novelas e os temas históricos. Contudo, as melhores obras de Júlio Dantas, nomeadamente Paço de Vieiros (1903) e o O Reposteiro Verde (1921) têm um claro pendor para o naturalismo. Foi durante décadas um dos autores portugueses mais apreciados no estrangeiro.
A primeira produção de uma das suas peças ocorreu em 1899, no Teatro Dona Amélia (actual Teatro São Luiz) de Lisboa, com a apresentação da peça em quatro actos, O que morreu de amor, pela Companhia Rosas & Brasão.
A Ceia dos Cardeais (1902) foi enormemente popular no seu tempo. Com base na sua obra teatral A Severa, José Leitão de Barros realizou o primeiro filme sonoro português em 1931. A sua peça Os Crucificados aborda, pela primeira vez no teatro português, a temática da homossexualidade.
Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
Foi director do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo ali professor de História da Literatura e director da Secção de Arte Dramática.
Em 1938-1940 presidiu à Comissão Executiva dos Centenários, dirigindo a Exposição do Mundo Português que teve lugar em Lisboa.
Em 1941 foi um dos Embaixadores Especiais enviados ao Brasil para dignificar a cultura de Portugal e em 1949 foi nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. Nessas funções teve papel destacada na elaboração de um acordo ortográfico com o Brasil.
Politicamente foi considerado um oportunista, que é com quem diz, esteve sempre ao lado de quem detinha o poder. (vale a pena ler ou ouvir o Manifesto anti-Dantas de Almada Negreiros)
Quando foi proclamada a República, Júlio Dantas aderiu ao regime e publicou, no diário A Capital, o folhetim "Cruz de Sangue", depois em livro com o título Pátria Portuguesa (1914), fazendo a exaltação do povo e a condenação da nobreza.
Em 1911, desencadeado o conflito entre a Igreja Católica e o Estado Português por causa da Lei da Separação de Afonso Costa, publica a peça A Santa Inquisição (1910), um libelo contra a Inquisição. Com o advento do salazarismo, publicou Frei António das Chagas, um "elogio de quem se sacrifica, se imola pela Pátria".
Terminada a Segunda Guerra Mundial, prevendo a queda do Estado Novo, reformulou introduziu, em 1946, na Antígona, peça de estreia de Mariana Rey Monteiro, uma crítica velada ao velho ditador por meio da personagem de Creonte
Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
Júlio Dantas é lembrado na sua cidade natal, Lagos, por um busto, localizado em Santo Amaro, na área envolvente ao Mercado Novo, dando também o nome à biblioteca pública da cidade. É também patrono da Escola Secundária Júlio Dantas, a principal escola pública de ensino secundário daquela cidade.
Peças de Teatro de que foi autor:
O Que Morreu de Amor (1899)
Viriato Trágico (1900)
A Severa (1901)
Crucificados (1902)
A Ceia dos Cardeais (1902)
Paço de Vieiros (1903),
Um Serão nas Laranjeiras (1904)
Rosas de Todo o Ano (1907)
Auto de El-Rei Seleuco de Camões (1908)
Soror Mariana (1915)
O Reposteiro Verde (1921)
Frei António das Chagas (1947)
(*)A actriz Palmira Torres primeira interprete de " A Severa"
A peça de teatro, A Severa data de 1901, o que explica o entusiasmo do público, nessa época cativo do pitoresco trágico, uma das garras do romantismo. A artista principal foi a actriz Palmira Torres. Palmira Torres
«Como se sabe, Dantas não fugia ao ardor sentimental de uma estória com sabor e cheiro a pecado e a drama, como a de Maria Severa Onofriana (Lisboa, 1820-1846), a que morreu na rua do Capelão à Mouraria, a rua do fado que Dina Teresa consagrou em A Severa, o nosso primeiro filme sonoro (1931), realizado por Leitão de Barros.
Cartaz do Filme de Leitão de Barros e a Actriz Dina Teresa
a primeira interprete do célebre tema de Frederico de Brito "Severa"
A peça A Severa (mais tarde adaptada a romance, à opereta e depois ao cinema, sendo nestes dois casos, ainda mais popularizada pela música de Frederico de Freitas, com uma melodia afadistada que granjeou grande aplauso e que teve um êxito duradouro.
A peça converteu-se em novela, com o andar do tempo, veio a converter-se em opereta, em filme, em zarzuela, em ópera, em bailado, em pintura, em escultura de arte, e até em quadro de revista.
Amália com Assis Pacheco no Monumental em "A Severa"
ver detalhes neste blogue em
http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/190948.html
Para finalizar o tema "A Severa" brilhantemente cantado pela grande fadista Fernanda Maria
CAROS AMIGOS.
PARECE QUE HÁ DÚVIDAS NO QUE RESPEITA AO CUSTO DE INGRESSO, PARA ASSISTIR AOS ESPECTÁCULOS.
PASSO A ESCLARECER...
NÃO HÁ QUALQUER CUSTO, É UM ESPECTÁCULO DE RUA, OS FADISTAS CANTAM DAS JANELAS DA CASA DA AMÁLIA, PARA O PÚBLICO QUE ESTARÁ NA RUA LIVREMENTE E COM A DEVIDA SEGURANÇA.
VAMOS LEMBRAR AMÁLIA, LISBOA O FADO E ACIMA DE TUDO MOSTRAR A FRATERNIDADE QUE NOS UNE... SOMOS UM GRANDE POVO... SOMOS PORTUGA
Nos próximos dias 22, 23 e 24 deste mês de Setembro de 2011, numa iniciativa da Associação dos Comerciantes da Rua de São Bento, com o apoio da Fundação Amália Rodrigues, para além de as lojas estarem nestes dias abertas ao público até às 24 horas, haverá várias actividades e supresas para os visitantes, destacamos 3 grandes noites de Fado, em que os fadistas actuam das janelas da Casa da Amália (hoje Museu Amália Rodrigues e sede da Fundação Amália Rodrigues), na Rua de S. Bento, o público que queira assistir, pode ocupar o espaço na via pública, devidamente demarcado e com toda a segurança, controlada pelas autoridades competentes.
Dia 22 Quinta-Feira
a partir das 21,30 horas
A apresentação e coordenação dos espectáculos estará a cargo
Vítor Duarte Marceneiro
Cantará a jovem promissora Ana Filipa César
e o Violista e cantor de Fados , Miguel Ramos, que em breve
nos apresentará o seu primeiro trabalho em CD.
Os fadista serão acompanhados pelos músicos,
Guitarra Portuguesa: Paulo Silva
Viola de Acompanhamento: André Ramos
Que executarão variações sobre o "Fado Clássico"
Dia 23 Sexta-Feira
a partir das 21,30 horas
Cantará Helena Sarmento, jovem fadista do Porto, que recentemente
lançou o seu primeiro trabalho em CD - FadoAzul, que tem tido uma grande aceitação do público
e o Fadista vencedor de uma Grande Noite de Fado da Casa da Imprensa
João Paulo
Os fadistas serão acompanhados pelos músicos,
Guitarra Portuguesa: Luís Ribeiro
Viola de Acompanhamento: Jaime Martins
Estes músicos que também acompanharam Amália
executam uma "guitarrada inédita" em homenagem a Amália
Dia 24 Sábado
partir das 21,30 horas
Cantará Carolina Tavares, grande interprete fadista, e distinta seguidora
do brilhantismo da sua saudosa mãe, a grande Helena Tavares
Eu próprio Vítor Marceneiro, nesse dia cantarei Fados em tributo a meu avô e à noss queriada Amália
seremos acompanhados pelos músicos,
Guitarra Portuguesa: Luís Ribeiro
Viola de Acompanhamento: Jaime Martins
Estes músicos voltarão a executar uma "guitarrada inédita" em homenagem a Amália
Amália com o guitarrista José Nunes
Amália com o guitarrista José Nunes
Amália canta o Fado "AMÁLIA"
Lisboa foi desde sempre uma cidade de mercadores.
Pelas ruas vendia-se um pouco de tudo. Com os cestos às costas ou a mercadoria no chão o mais pequeno espaço servia para o negócio. Com os descobrimentos este pendor mercantilista acentuou-se.
As naus traziam para o porto de Lisboa todo o tipo de produtos provenientes dos mais exóticos e longínquos recantos, assim no séc. XVI começou a haver a preocupação de arrumar a cidade e colocar os mercadores em locais específicos.
Foi então que surgiu o Mercado da Ribeira Velha. Ficava situado na zona do actual Campo das Cebolas, vendiam-se principalmente bens de primeira necessidade como hortaliças, peixe e fruta.
Em 1766, passados onze anos depois do terramoto que martirizou a cidade de Lisboa, o mercado foi transferido para ocidente do Terreiro do Paço (o local onde se encontra actualmente). Uma transferência inserida no plano de expansão da cidade traçado pelo Marquês de Pombal.
Começou a funcionar em 1771 e foi chamado de Mercado da Ribeira Nova, não era um mercado como hoje os concebemos, era composto por 132 telheiros e cabanas com 256 bancas de venda, passava de um aglomerado minimamente organizado de comerciantes onde se continuava a vender de tudo.
Foi só no séc. XIX, mais concretamente em 1882 que abriram as portas do refeito Mercado da Ribeira Nova. O nome manteve-se mas desapareceram os telheiros e as cabanas. No mesmo espaço nasceu um edifício com uma estrutura em ferro que albergava no interior todas as bancas. A grande novidade era a existência de um corredor central onde o vendedores dispunham de água em abundância, o que permitia expor e conservar as mercadorias com cuidados de higiene inexistentes até então, sendo o projecto da autoria do engenheiro Ressano Garcia e foi aprovado em sessão camarária em 17 de Junho de 1876.
Passado onze anos da inauguração um gigantesco incêndio destruiu quase por completo o já por duas vezes inaugurado Mercado da Ribeira Nova. A nova reconstrução demorou quase 30 anos, de 1902 a 1930, ano em que aparece então a cúpula que (ainda hoje existe). Uma cúpula que suscitou a curiosidade dos Lisboetas, pouco habituados a um mercado a funcionar num edifício deste género. O espanto foi tal que passaram a chamar-lhe a "Mesquita do nabo".
Foi então em 1930 e desta vez definitivamente que o Mercado da Ribeira ganhou a configuração preservada até hoje. A ele ficará para sempre ligado o nome de Frederico Ressano Garcia, com 27 anos o jovem engenheiro venceu um concurso para entrar nos quadros da Câmara Municipal de Lisboa, Dos quatro concorrentes para as duas vagas abertas, Ressano Garcia conseguiu o primeiro lugar e assume o cargo de engenheiro do Município no ano de 1874.
O novo edifício já era muito mais que quatro paredes e oito portões para albergar vendedores. Os cuidados estéticos estiveram presentes no projecto, como é bem visível nos painéis de azulejos que ornamentam o átrio da entrada principal e o primeiro piso. No segundo andar começa a área restrita do mercado, é através de uma escada de pedra em caracol, que se chega á sala redonda com o piso em madeira e decorada com riquíssimos frescos assinados por Gabriel Constanti e datados de 1930.
O segundo andar serve como espécie de convite para se subir mais uns lances de escada, desta vez em ferro, que dão acesso ao local onde está religiosamente guardada uma das mais emblemáticas peças do edifício, o relógio da torre.
Fabricado em França na empresa "Horloges Bodet" era considerado um relógio revolucionário para a época. Mas a importância do relógio não impediu que a máquina estivesse parada quase 20 anos. Só em 1998 a Câmara Municipal de Lisboa decidiu contratar um dos mais prestigiados relojoeiros portugueses, António Franco para inspeccionar o relógio da torre. Em menos de um ano o sistema mecânico foi totalmente restaurado e o mostrador teve de ser feito de novo.
Um mostrador que guarda a assinatura do homem que permitiu que os cacilheiros voltassem a guiar-se pelo relógio da Torre do Mercado "FRANCO-LISBOA".
Outra escada em caracol conduz ao ponto mais alto do mercado. O piso onde está instalado o sino que dá as badaladas às horas e meias horas. Daqui pode observar-se toda a imponência do Tejo e ver atracar os cacilheiros que os ponteiros do relógio voltaram a guiar.
Mais tarde falarei do célebre “cacau da ribeira” onde ao raiar do dia começava a azáfama dos vendedores, e o inicio dos “moinantes” irem para casa.
Que saudades.
Amália Rodrigues
canta Namorico da Rita
de Artur Ribeiro e António Mestre