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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Sábado, 7 de Fevereiro de 2015

UM DOS FADOS DOS PORTUGUESES.......

 

 

 

 

As análise da política em Portugal, no primeiro dia do ano serão benéficas? É para  nos dar ânimo para prosseguir!... E depois fica tudo na mesma.

 

 

«Há muitos anos a política em Portugal apresenta este singular estado: Doze ou quinze homens sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder... O poder não sai duns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas à outras, pelo ar, numa explosão de risadas.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião e os dizeres de todos os outros que lá estão, - os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do país, e outras injúrias pequenas, mais particularmente dirigidas aos seus caracteres e às suas famílias.
Os outros, os que não estão no poder são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais - os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, os interesses do país e a pátria.
Mas, cousa notável!
Os cinco que estão no poder, fazem tudo o que podem - intrigam, trabalham, para continuar a ser os esbanjadores da fazenda e a ruína do país, durante o maior tempo possível! E os que não estão no poder movem-se. Conspiram, cansam-se para deixar de ser - o mais depressa que puderem - os verdadeiros liberais e os interesses do país!
Até que enfim caem os cinco do poder, e os outros - os verdadeiros liberais - entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do país, e os que caíram do poder, resignam-se cheios de fel e de amargura - a vir ser os verdadeiros liberais e os interesses do país.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da fazenda e ruína do país...
Não há nenhum que não tenha sido demitido ou obrigado a pedir demissão pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas, - pela imprensa, pela palavra dos oradores, pela acusação da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o país neste caminho em que ele vai, feliz, coberto de luz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, num choito [trote miúdo e sacudido] triunfante!»

 

Felizmente que esta crónica foi escrita no ano de 1871..., sim 1871,  senão teríamos que ficar muito preocupados,  e muito atentos... Qualquer semelhança com a política actual no nosso país, não é, (desculpem!!!) é pura coincidência.

 

 

In : "As Farpas", de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, Junho de 1871

 

 continua...

 

 

 

"JANELA DA VIDA"

  

Para ver quanta fé perdida

E quanta miséria sem par

Há neste orbe, atroz ruim

Pus-me à janela da vida

E alonguei o meu olhar

P´lo vasto Mundo sem fim.

 

 

Pus todo o meu sentimento

Na mágoa que não se aparta

Do que mais nos desconsola;

E assim a cada momento

Vi buçaes comendo à farta

E génios pedindo esmola!

 

Vi muitas vezes a razão

Por muitos posta de rastos

E a mentira em viva chama;

Até por triste irrisão

Vi nulidades nos astros

E vi ciências na lama!...

  

Vi dar aos ladrões valores

E sentimentos perdidos

Nas que passam por honradas

Vi cinismos vencedores

Muitos heróis esquecidos

E vaidades medalhadas

 

 

Vi no torpor mais imundo

Profundas crenças caindo

E maldições ascendendo

Tudo vi neste Mundo

Vi miseráveis subindo

Homens  honrados descendo

 

Esse é rico, e não tem filhos

Que os filhos não dão prazer

A certa gente de bem

Aquele tem duros trilhos

Mas é capaz de morrer

P´los filhinhos que tem

 

 

Esta é rica em frases ledas

Diz-se a mais casta donzela

Mas a honra onde ela vai

Aquela não veste sedas

Mas os garotitos dela

São filhos do mesmo pai

 

Por isso afirmo com ciso

Que p´ra na vida ter sorte

Não basta a fé decidida

P´ra ser feliz é preciso

Ser canalha até à morte

Ou não pensar mais na vida.

 

 

Felizmente que... este poema foi escrito no  Século XX, no final dos anos  vinte e que hoje nada disto se poderia passar!, senão bem estávamos (à rasca - desculpem,  mas a frase é da Hermínia Silva), digo,  com razão para estar preocupados!

 

Video-Clip em que Vítor Duarte canta:

Janela da Vida

Letra de: Carlos Conde

 

 

Nota: Esta página foi publicada primeiramente no dia 1 de Janeiro de 2008.  C

Como o tempo passa .... e tudo está a acontecer.

Ver poema do bisneto de Carlos Conde nos comentários

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Viva Lisboa: Enganado
música: Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão- Carlos Conde
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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