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Associação Cultural de Fado

"O Patriarca do Fado"
Terça-feira, 19 de Março de 2024

BERTA CARDOSO

 

 

 

Berta dos Santos Cardoso, nasceu na Rua da Condessa, freguesia do Sacramento em Lisboa, no 21 de Outubro de 1911.
Ficou órfã de pai muito cedo e devido a dificuldades económicas de sua mãe, esteve internada numa instituição oficial,  onde fez os seus estudos, saiu aos 16 anos e foi novamente viver com a mãe e os irmãos.
Berta Cardoso, que não era filha única, teve um irmão de seu nome Américo dos Santos, que andava no Fado  como amador e tocava viola, e assim a influenciou a para cantar o Fado.
Berta Cardoso foi mãe de dois filhos.
Corria o ano de 1927, com 16 anos de idade, estreia-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, que era gerido pelo Armandinho, foi tal  êxito da sua actuação que de imediato ficou contratada, tendo adoptado o nome artístico de Berta Cardoso.
Sendo o Salão Artístico no Parque Mayer, local, onde como se sabe apareceram os Teatros de Revista. Berta Cardoso não passou despercebida e logo em 1929 é a cantadeira contratada para a Revista Ricócó, levada à cena no Teatro Maria Vitória, segue-se “Viva O Jazz” e a “Nau Catrineta”.
Nos intervalos das suas actuações na revista, é das cantadeiras mais solicitada nos recintos de Fado, Solar da Alegria, Salão Jansen, Café Luso, Retiro da Severa, etc.
Integrada num elenco artístico  com a Beatriz Costa,  parte numa digressão ao Brasil onde obteve grandes êxitos.
Infelizmente não havia os meios de comunicação de hoje, pois é indiscutível que Berta Cardoso foi uma das primeiras cantadeiras de Fado a internacionalizar o Fado, assim com a grande Ercília Costa. (1)
Estas actuações internacionais tem mais expressão no Brasil e em todo o continente Africano, em particular nas Colónias Portuguesas. O que levou a que, em 1933 os diversos interveniente no espectáculo Fado, decidiram criar o “Grupo Artístico de Fados”, com Madalena de Melo e a Berta Cardoso, na guitarra o Armandinho e nas violas,  Martinho d’ Assunção Jr. e João da Mata.
Este conjunto de intérpretes de renome,  parte a bordo do navio Niassa para um percurso de espectáculos na África Ocidental e Oriental e também nas ilhas portuguesas. Concretiza-se como a primeira viagem que o Fado faz a África, tornando-se numa digressão muito noticiada pelos jornais, uma vez que os espectáculos se desenrolam ao longo de quase um ano, passando por diversos locais, destacando Angola, Moçambique e Rodésia.
No inicio dos anos trinta grava para a editora Odeon, e mais tarde passa a gravar de para a editora Valentim de Carvalho.
LP - Tia Macheta.jpg
EP-Cruz de Guerra.jpg
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Berta Cardoso fica muito ligada ao Teatro de Revista, onde se apresenta com uma regularidade de cerca de várias peças por ano.
Em 1936 no  Retiro da Severa, ao lado de outros  grandes fadistas da época, Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Alfredo Duarte Marceneiro, Júlio Proença e José Porfírio, são considerados e apresentados como a "Embaixada do Fado do Retiro da Severa",  actuaram em muitos locais,  com relevância as idas  ao Porto, Teatro Sá da Bandeira e no Teatro Variedades, com lotações sempre esgotadas,   a imprensa e a rádio destaca as actuações de Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro.
Em 1939 é contratada novamente por Beatriz Costa, para uma série de espectáculos em  todo o Brasil, com as revistas "Eh, Real", "Oh, meu rico São João", "Dança da Luta" e "Pega-me ao Colo", novamente estes espectáculos tiveram grandes êxitos. Mas,  antes da sua partida, é homenageada pelos seus colegas no Retiro da Severa.

Cartão de Visita.jpg

Foi também neste ano,  que  grava e filma com Alfredo Marceneiro, no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado,  actuações estas   para o filme "O Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro, que  estreou em 1940.

Feitiço do Império1.jpg
Após o regresso do Brasil, em 1940, é convidada para a "Embaixada do Fado do Solar da Alegria", que no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, obtém grandes elogios e lotações esgotadas, também faziam parte deste elenco, Maria Carmen, Júlio Proença e Amália Rodrigues.
Berta Cardoso continua a cantar nos retiros de Fado e no teatro, até cerca de 1960, ano em que decide manter-se só a gravar, e cantar Fado em casas típicas, primeiro n´O Faia, segue-se a Viela e por último o Poeta, em Alfama, onde anteriormente tinha havido uma  casa de fados bem pitoresca,  que se chamava “A Nau Catrineta”.
Em 1943 conclui na Faculdade de Medicina o curso de enfermagem, com a especialização em obstetrícia, mas nunca chegou a exercer.
Desde muito miúdo que convivi com Berta Cardoso na Viela, do Sérgio onde eu para além de ter um pretexto  para estar no Fado, arranjava “uns trocos para alimentar a moto”, era lá fotógrafo, nessa estudava à noite e já trabalhava na GM, meu avô, grande amigo da Berta,  todos os dias aparecia para me lembrar que tinha que ir para casa a partir da meia-noite. Tenho da Berta Cardoso, gratas recordações, as estórias que me contava do meu avô e do meu pai, e lembro ainda,  com saudade, quando ela tinha que cantar várias vezes o Fado “O Homem da Berta”, pois iam chegando mais clientes e admiradores,  e como muitas das vezes ela já tinha cantado o tema, era tal a insistência, que tinha que o voltar a cantar.
Há registos seus na RTP, no ZIP-ZIP, e no programa com o título “As  bodas de ouro de uma Fadista”.
Berta Cardoso foi internada num lar da Santa Casa da Misericórdia, em 1996, local onde veio a falecer a 12 de Julho de 1997.
Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista e lançou um livro sobre a sua figura
Também em  2006 no Restaurante Nini, fazendo eu  parte da APAF, fiz uma pequena palestra sobre a Berta Cardoso,  com um diaporama de minha autoria, que merecu o agrado dos presentes, foi uma sincera homenagem da minha parte.
Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista e a edição de um livro evocativo.

(Nota)    Meu avô Alfredo Marceneiro, poderia ter tido também uma carreira internacional, mas teve sempre o cuidado de não acreditar no profissionalismo no Fado, razão porque sempre se manteve na sua profissão de marceneiro, e como já escrevi só ficou a viver do Fado, a partir de 1946, na sequência das greves no Arsenal do Alfeite, tinha 54 anos pelo registo de nascimento e 57 na realidade. 

©Vitor Duarte Marceneiro

Linhares Barbosa - Berta Cardoso - Alfredo Marceneiro


TEMPOS DE OUTRORA

Repertório de: Berta Cardoso
Letra de: Fernando Teles
Música: Fado Tradicional

Dos Belos tempos de outrora
São Relíquias do passado
Dois impagáveis tesoiros
A guitarra mais o Fado

Era na Lisboa, antiga
Quinta- Feira de Ascensão
Dia da consagração
Porque era dia de espiga

Com farnéis e sem fadiga
Assim que raiava a aurora
Toda a gente campos fora
Procurando a sombra amena

Ai que saudades que pena
Dos belos tempos de outrora
As noites tradicionais
De todos os nossos santos

Eram motivos de tantos
Ranchos, bailes e festivais
Os sírios e arrais
Rabicha, senhor roubado

Atalaia sol doirado
Como tudo isto era lindo
Estas coisas tempo findo
São relíquias do passado

E nas vésperas das toiradas
Nos retiros que alegria
Até a nobreza se via
Pelas mesas abancada

Cantava-se ás desgarrada
Até à vinda dos toiros
Cobriam-se assim de loiros
Entre a fadistagem vária

A Severa e a Cesária

Dois empagáveis tesouros
Fidalgos boémios e artistas
E toureiros elegantes
Tinham por suas amantes
As cantadeiras bairristas
Nesses tempos de fadistas

E do saiote encarnado
Só nos resta por sagrado
Penhor bem tradicional
Dois filhos de Portugal
A guitarra mais o Fado

 Berta Cardoso canta um dos seus grandes êxitos
"TIA MACHETA"
Letra de Linhares Barbosa e Música de Manuel Soares

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.
Viva Lisboa:
publicado por Vítor Marceneiro às 00:00
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Sábado, 13 de Dezembro de 2008

ALFREDO MARCENEIRO E O FADO VERSÍCULO

Esta foto é deveras histórica, pois foi tirada no Faia em 1953,  altura em que Linhares Barbosa escreve para o repertório de Berta Cardoso o "Fado Fracasso," uma letra em versículo. Berta que parcece estar a ouvir atentamente Linhares Barbosa assim como Marceneiro, lendo o poema,  que Berta vai óbviamente cantar na música do Fado Menor, com complemento de Versículo de Alfredo Marceneiro.

BERTA CARDOSO

canta FRACASSO

Letra de Linhares Barbosa

Música de Alfredo Marceneiro

 

 

 

Aliás esta parceria de poeta e compositor, já vinha dos anos 30 com o grande êxito que foi o Fado Pierrot (Letra) que levou Marceneiro a fazer a música a que deu o título de Fado Versículo, desde então para cá muitos poemas tem sido cantado com esta música, por muitos e conceituados interpretes.

Mais um exemplo também com poema de Linhares Barbosa, para o saudoso Manuel de Almeida (que também foi autor e compositor).

MANUEL DE ALMEIDA

canta SE O MUNDO DÁ TANTA VOLTA

Letra de Linhares Barbosa

Música de Alfredo Marceneiro

 

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música: Fado Fracasso e Fado SE o Mundo dá Tantas Voltas
publicado por Vítor Marceneiro às 21:43
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Quinta-feira, 1 de Março de 2007

Berta Cardoso


Cantadeira de mérito inconfundível, era dotada de uma linda voz, chamaram-lhe «a voz de ouro do Fado» quando cantava numa impecável dicção nem uma sílaba das suas cantigas nos escapava, sentia e fazia sentir reflectindo como um espelho a alma do seu povo, tal o sentimento e “garra” que imprimia nos poemas que interpretava, foi por mérito próprio uma das grandes “Cantadeiras de Fado” do seu tempo.
Esta quadra do poeta Silva Tavares, faz uma alusão que não nos pode passar despercebida.
 
A nossa Berta Cardoso
Onde surge faz agrado
Mas não vai só, leva o esposo
E o esposo chama-se Fado
 
O poema de Lisboa do repertório de Berta Cardoso, que abaixo transcrevo, não é talvez dos mais conhecidos do seu repertório, mas quem como eu, a ouviu cantá-lo no velho Fado Corrido, num estilo muito seu, como sempre era muito apreciada e estrondosamente aplaudida.
Esta é uma singela homenagem como venho fazendo a várias figuras do fado, mas para além do que já foi referido neste blog sobre a exposição e homenagem que decorreu no Museu do Fado (ver comentário da APAF em 18 de Fevereiro neste blog), convido-os a visitarem um trabalho de grande dignidade, possuidor de um acervo iconográfico bastante completo sobre Berta Cardoso,da autoria de Ofélia Pereira, em www.bertacardoso.com

 

TEMPOS DE OUTRORA
 
Repertório de: Berta Cardoso
 
Letra de: Fernando Teles
Música: Fado Tradicional
 
Dos Belos tempos de outrora
São Relíquias do passado
Dois impagáveis tesoiros
A guitarra mais o Fado
 
Era na Lisboa, antiga
Quinta- Feira de Ascensão
Dia da consagração
Porque era dia de espiga
Com farnéis e sem fadiga
Assim que raiava a aurora
Toda a gente campos fora
Procurando a sombra amena
Ai que saudades que pena
Dos belos tempos de outrora
 
As noites tradicionais
De todos os nossos santos
Eram motivos de tantos
Ranchos, bailes e festivais
Os sírios e arrais
Rabicha, senhor roubado
Atalaia sol doirado
Como tudo isto era lindo
Estas coisas tempo findo
São relíquias do passado
 
E nas vésperas das toiradas
Nos retiros que alegria
Até a nobreza se via
Pelas mesas abancada
Cantava-se ás desgarrada
Até à vinda dos toiros
Cobriam-se assim de loiros
Entre a fadistagem vária
A Severa e a Cesária
Dois empagáveis tesouros
 
Fidalgos boémios e artistas
E toureiros elegantes
Tinham por suas amantes
As cantadeiras bairristas
Nesses tempos de fadistas
E do saiote encarnado
Só nos resta por sagrado
Penhor bem tradicional
Dois filhos de Portugal
A guitarra mais o Fado
 
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publicado por Vítor Marceneiro às 00:06
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