Mistério de Lisboa
Devo-vos revelar um mistério transcendente
Lisboa surgiu do mar trazida por um tridente
Deus Neptuno a quis plantar virada ao poente
desejando-lhe criar marinheira a sua gente
que ao mundo soube dar, novos mundos por semente.
Versos de: Carlos Alberto Giudicelli (português de raiz a viver no Brasil)
O mar sem fim é português...
O Fado canta a alma portuguesa e são o desafio lusitano ao fatalismo que o destino (fatum, em latim) encerra. É uma canção antiquíssima e muito rara. Quando as naus partiram, os navegadores portugueses procuraram os novos limites da malázia, para provarem á Terra que o Mar não era fronteira, abismo ou cerco, era rua larga e estrada azul, para lá da linha fria do horizonte. E cantavam, como quem reza pela protecção divina do espírito, para que a Terra fosse toda uma.
A música que os acompanhou lá foi o Fado. E esta canção dorida, que força a intimidade com o destino, é uma canção temida, porque reconhece na adversidade o anúncio da grandeza.
Há quem lhe atribua contornos misteriosos — sem conseguir explicar por quer. Desafiando o destino, canta o êxtase e a mágoa dos momentos supremos: a paixão e a morte. Tem o mistério que o destino tem. E a saudade. A mesma que nos versos de Fernando Pessoa estão na origem do sal do mar — aquele de que são feitas as lágrimas dos Portugueses.
Sendo o destino, todos os fados estão certos, todos os caminhos se cruzam, com encontros e desencontros, partidas e regressos, tristezas e alegrias, tragédias e glórias.
Por sobre as ondas que vão repousar no Tejo navegam os textos dos grandes poetas e o sortilégio da nossa saudade. O Fado torna-se então mais português e, assim, cada vez mais universal. Como também escreveu Pessoa: "O mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português". Poderão querer tirar-nos muita coisa, mas o desvendar da espuma será sempre nosso.
João Braga
O certo para mim é que tudo isto é Vida, é Fado....
Já ouvi mais do que uma vez
Ao falarem do passado
Que do pranto português
É que o mar ficou salgado