Carlos Baleia nasceu em 1938 no concelho de Sintra mas desde 1953 que passou a viver em Lisboa.
É licenciado pela Faculdade de Letras de Lisboa em Estudos Anglo-Americanos e frequentou durante três anos o Curso de Teatro do antigo Conservatório Nacional.
Foi bolseiro da Embaixada Alemã e estagiou durante seis meses em Stuttgart onde preparou como trabalho final de curso um estudo sobre o teatro radiofónico alemão no após guerra incidente sobre o dramaturgo Gunther Eich.
Como registo da sua actividade teatral de vinte anos ficaram saborosas experiências artísticas tidas a um nível semi-profissional com o grupo Proscénium, representando por todo o País centenas de espectáculos de autores reputados, clássicos da dramaturgia, como Moliére, Shakespeare, Gil Vicente, Arthur Miller, Ariano Suassuna, Durrenmatt, Karl Wittlinger, Lope de Vega e bastantes outros, tendo sido dirigido por encenadores prestigiados do panorama teatral português, nomeadamente Pedro Lemos, do Teatro Nacional D. Maria II, Fernando Gusmão, Costa Ferreira, Paulo Renato e pela encenadora australiana Roberta Elliott num espectáculo representado em inglês para a colónia britânica em Portugal.
Fez também dobragens de filmes e apareceu nos pequenos ecrãs nas noites de teatro da RTP.
Na década de setenta, sem abandonar completamente o teatro pois encenou alguns espectáculos de amadores, teve, contudo, que optar pela sua vida profissional de gestor empresarial da qual se reformou em 1999, retomando de imediato o seu contacto com o palco na condição de intérprete de teatro vicentino e estendendo a sua actividade à dramaturgia tendo escrito diversos textos, entre os quais o drama Locomotiva e a comédia O assalto, ambos publicados em 2001.
Adepto de um conceito de teatro global onde texto e música se associam, acabou por se interessar também pelo campo mais vasto das cantigas como elemento teatral e ainda pelo fenómeno do fado como expressão artística umbilicalmente ligada à cidade de Lisboa, tendo escrito as letras do CD editado em 2002, Lisboa em vários tons, no que foi largamente apoiado pelo conhecido estudioso e intérprete do fado, Daniel Gouveia.
Desde então tem parcerias com diversos compositores musicais em dezenas de letras gravadas por conhecidas vozes do fado e da canção e ainda algumas outras em vias de gravação.
Apesar das conhecidas limitações que impendem sobre a edição de música portuguesa, Carlos Baleia está presentemente envolvido através de trinta letras de sua autoria no projecto discográfico Junto ao rio, à beira-mar, relacionado com traços da nossa alma colectiva, com as nossas viagens interiores, terrestres e marítimas, com a imensidade da lusofonia e com o povo que somos, numa pretendida visita musical no tempo e no espaço que abarcará diversos estilos de canções, com o Fado e Lisboa obviamente presentes.
O tema Lisboa tem, aliás, acompanhado sempre os seus escritos e tem neste momento mais de vinte composições musicadas dedicadas à cidade onde cresceu e que aprendeu a chamar de sua.
( A partir dum texto em prosa de Fernanda de Castro, com o mesmo título, escrito em 1933 para o Guia de Portugal Artístico )
Quadro do Mestre Real Bordalo
Letra: Carlos Baleia
Um bote-navio,
dito cacilheiro,
Traz gente apressada
Que corre no cais
Entre um nevoeiro
De dias iguais.
E em tal madrugada
Todo o movimento
De cara ensonada
Sem ninfas no rio
Tem o argumento
Das coisas banais
Que num ano inteiro
Lisboa-Barreiro
Lhe deixa sinais.
Neste barco me atravesso
Para invadir a cidade
Quando no rio amanheço
Com os raios da claridade.
E a maré deste começo
Da viagem fugidia
Logo terá seu regresso
Quando se acabar o dia.
Tejo de poetas
Canções de sereia
Agora discretas
Nesta lufa-lufa
Que chega em caudais
Inunda o Terreiro
E em passo ligeiro
Se junta aos demais.
Neste barco me atravesso
Para invadir a cidade
Quando no rio amanheço
Com os raios da claridade.
E a maré deste começo
Da viagem fugidia
Logo terá seu regresso
Quando se acabar o dia.