Mulher fadista século XIX
Figura mítica do Fado oitocentista, ignora-se a data de nascimento e morte da cantadeira, e mesmo o seu nome de baptismo completo, apenas se sabendo que seria efectivamente Maria.
Residente no bairro de Alcântara ali trabalhava numa fábrica como engomadeira. Inicialmente companheira de um fadista local, terá acabado por" o trocar por José Cesário Sales, canteiro, homem de algumas psses e talento na sua profissão, filho de Francisco Sales, proprietário de uma importante oficina de cantaria em Lisboa. Desta ligação terá resultado o Maria do Cesário e daí Maria Cesária. Ficando igualmente conhecida como Mulher de Alcântara.
Cantava para toureiros, boleeiros, operários, prostitutas, rufiões, fidalgos e burgueses, à custa do neo-romantismo instituído. Constituíam aqueles uma massa amorfa, que à luz mortiça do petróleo, ou mais tarde à luz branca do gás, escorreram seus deleites nas tabernas dos bairros pobres e castiços de Lisboa, gemendo e batendo o Fado. Fado Corrido, de 1870, foi cantado na presença da Cesária ou por ela própria: Os teus braços são cadeiras Mais duras que o próprio aço: Já me tens presa, cativa Só te falta dar o laço! Não sei qual pena é maior, Qual é mais de lastimar, Se ver um homem morrer, Se ver um homem chorar!
Tão famosa quanto Maria Severa, proferia as palavras com receio e trajava de modo simples, recusando ousadias e vestes originais. Era normalmente acompanhada pelo guitarrista Carreira.
Segundo as crónicas, a qualidade da sua voz era equiparável à qualidade da sua memória, dando Tinop notícia de inúmeros desafios em que terá participado, nomeadamente com uma rival sua, Luzia a Cigana, alguns dos quais durariam dois e três dias de Fados e comezainas.
Terá sido bastante famosa nas décadas de 60 e 70 do século XIX, tendo o guitarrista Ambrósio Fernandes Maia composto um Fado que lhe dedicou, o Fado da Cesária ou Fado de Alcântara.
Cesária foi a figura central da opereta com o mesmo nome, escrita por Lino Ferreira, Silva Tavares e Lapa Lauer e musicada por Filipe Duarte, que subiu à cena no Teatro Apolo em 1926.