(1890 -1959)
ARMANDO FERRAZ DE BOAVENTURA
Armando Boaventura (como era conhecido) nasceu em 29 de Agosto de 1890, em Casal de Nil, São Pedro de Vila Frescainha – Barcelos. Filho primogénito de Manuel Inácio de Boaventura, um ilustre matemático, e de Elvira Júlia Beleza da Costa Campelo Ferraz.
Desde muito novo mostrou a sua vocação para os “desenhos” e ”escritos” Depois de completar em Leiria e Coimbra os cursos do Liceu e Magistério Normal e das Escolas Industriais, exerceu o professorado em vários colégios particulares.
Por motivos políticos, exilou-se em Espanha de onde regressou em Novembro de 1921 a Portugal, entrando para o jornalismo.
Depressa o brilho dos seus trabalhos de reportagem e a vivacidade dos seus artigos de comentário aos aspectos da vida nacional que mais solicitavam a atenção da sua mentalidade formada no culto de ideais a que sempre ficou fiel, lhe deram, com o justo renome, posição de relevo na Imprensa Diária do País.
O seu primeiro jornal foi “A ÉPOCA” que o sr. Conselheiro Fernando de Sousa dirigia e em cujas páginas ficou abundantemente documentado o ímpeto inicial do seu talento de jornalista e desenhador de grandes recursos.
Pertenceu, seguidamente, ao corpo redactorial de “O SÉCULO” e esteve, pela primeira vez, durante algum tempo no “DIÁRIO DE NOTICIAS”.
Voltou ao “DIÁRIO DE NOTICIAS” depois de fundar, com outros, o “DIÁRIO DA MANHÔ. Aqui desempenhou funções de chefe da redacção.
Foi, depois, chefe da redacção de “A VIDA RURAL”, publicação da Empresa Nacional de Publicidade, e redactor regionalista do “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”.
Deixou vastas crónicas sobre as regiões do nosso País, crónicas essas quase sempre ilustradas com o seu traço inconfundível de desenhador e caricaturista
Foi também Adido de Imprensa ás embaixadas de Portugal em Madrid e no Rio de Janeiro.
Colaborou em numerosos jornais nacionais, espanhóis, brasileiros e franceses.
Para além de jornalista também foi escritor, desenhador e por vezes também pintor.
Como escritor, foi autor de alguns livros, dos quais se podem destacar:
Madrid Moscovo – Da Ditadura á Queda da Monarquia e á Guerra Civil de Espanha (publicada em 1937) e ainda hoje procurado por estudiosos da Guerra Civil de Espanha.
Sem Rei Nem Roque – Publicado em 1926 sendo uma sátira ao livro Saúde e Fraternidade do Dr. Campos Monteiro.
Os Crimes de Lagarinhos – Publicado em 1929
Para além destes, ainda publicou outros livros e escritos, tais como:
Entre Espanha e Portugal
A Maçonaria Internacional
Reportagens Políticas
Como desenhador deixou vastos desenhos, normalmente realizados para documentar as suas crónicas e reportagens. (Existe uma boa colecção de originais no DIÁRIO DE NOTICIAS)
Como pintor deixou algumas “aguarelas e pinturas”, “algumas perdidas no tempo”, tais como um “D. Quixote” (em casa de familiares) e um “Chaby Pinheiro” (coleccionador particular). Outras foram-se “esfumando” com o tempo
Em missões de reportagem, realizou várias viagens a países da Europa e América.
Realizou também grandes permanências em África, como redactor do DIÁRIO DE NOTICÍAS, tendo realizado algumas entrevistas “históricas” como a feita ao Príncipe do Egipto “Joussouf Kamal” em 1926.
Realizou também outras grandes entrevistas, como à Rainha D. Amélia em Paris no ano de 1939 e a Mussolini em 1925, assim como a entrevista a Hitler.
Entre outras condecorações, foi galardoado pela sua actividade jornalística com o Oficialato da Ordem de Santiago da Espada e, de Cavaleiro do Mérito Civil de Espanha (pelas suas reportagens sobre Espanha).
Armando Boaventura, depois de casar em segundas núpcias, viveu um pequeno período da sua vida em Almada, onde fez reportagens, documentários e desenhos alusivos à época (1952-53).
Armando Boaventura viveu intensamente a sua vida, dedicada à família, aos seus ideais, ao jornalismo, ao desenho, à pintura, ao fado (era um acérrimo frequentador) e... À VIDA.
Armando Boaventura faleceu aos 68 anos, em 3 de Fevereiro de 1959 na cidade de Lisboa.
UM HOMEM RECONHECIDO COMO UM DOS GRANDES JORNALISTAS DO SÉCULO PASSADO
“ Deixa-nos com a saudade imensa dum convívio inesquecível o exemplo admirável duma actividade apaixonadamente vivida ao serviço do jornalismo.
Dedicou-lhe, através de uma carreira notabilíssima que o impôs como um dos mais altos valores da nossa profissão, as qualidades excepcionais duma inteligência viva e atenta, a força da cultura que se exercitava primeiro em tarefas de ensino e nos trabalhos da Imprensa encontrou a mais perfeita expressão de ampla comunicabilidade, os dotes muito invulgares dum temperamento em que as solicitações de acção se ligavam à afirmação plena de um espírito enriquecido pelo gosto literário e pelo sentimento da arte.
Tudo isso deu à sua obra uma acentuação pessoal inconfundível e à sua personalidade o relevo e o prestígio de um dos maiores e mais ilustres vultos da Imprensa Portuguesa do nosso tempo” – DN 04-02-1959
Fernando Boaventura
O actor Chaby Pinheiro caricaturado por Armando Boaventura
Chaby Pinheiro (1873-1933).
Actor de um teatro que alguns críticos classificam como ligeiro, Chaby Pinheiro foi também intérprete de peças que os teatrólogos ortodoxos classificam como mais respeitáveis, da autoria de Henrik Ibsen (1828-1906) e Émile Zola (1840-1902). Tendo estado ligado ao Teatro Nacional D. Maria II, teve imenso sucesso em Portugal e no Brasil, aposentando-se em 1931. Em 1926 tinha assistido à inauguração de um teatro com o seu nome, projectado por Ernesto Korrodi (1870-1944) muitos anos antes, no Sítio da Nazaré.
Da sua influente imagem no teatro português do início do século XX ficaram registos que se podem consultar na imprensa da época, bem como na obra póstuma Memórias de Chaby, publicada por Tomaz Ribeiro Colaço e Raúl dos Santos Braga em 1938.